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— Sim. Alguma coisa.

— Ah. Então o senhor também compreende. Conheci Ju-san Kubo muito bem.

— O quê? Refere-se a Akechi Jinsai?

— Oh, desculpe, sim. É esse o nome pelo qual ele é conhecido agora. Mariko-sama não lhe contou?

— Não.

— O táicum ironicamente o apelidou assim: Ju-san Kubo, Xógum dos Treze Dias. A rebelião dele — ao condenar seus homens ao grande seppuku — durou apenas treze dias. Era um homem excelente, mas odiava-nos, não porque éramos cristãos, mas porque éramos estrangeiros. Freqüentemente me perguntei se Mariko não se tornou cristã apenas para aprender os nossos procedimentos, a fim de nos destruir. Ele dizia freqüentemente que eu tinha envenenado Goroda contra ele.

— Envenenou?

— Não.

— Como era ele?

— Um homem baixo, calvo, muito orgulhoso, um excelente general e um poeta de grande notoriedade. Muito triste terminar daquele jeito, todos os Akechi. E agora a última deles. Pobre Mariko... mas o que ela fez salvou Toranaga, se Deus assim o desejar. — Os dedos de Alvito tocaram o rosário. Após um momento, disse: — Além disso, piloto, antes de partir quero me desculpar por... bem, estou contente que o padre-inspetor estivesse lá para salvá-lo.

— Desculpa-se pelo meu navio também?

— Não pelo Erasmus, porque não tive nada a ver com isso. Peço desculpas apenas por aqueles homens, Pesaro e o capitão-mor. Estou contente que o seu navio tenha sido destruído.

— Shikata ga nai, padre. Logo terei outro.

— Que tipo de embarcação tentará construir?

— Uma que seja grande e forte o suficiente.

— Para atacar o Navio Negro?

— Para navegar de volta à Inglaterra e me defender de qualquer um.

— Será um desperdício, todo esse esforço.

— Haverá outro "ato de Deus"?

— Sim. Ou sabotagem.

— Se houver e o meu navio falhar, construo outro, e se esse falhar, outro. Vou construir um navio e quando voltar à Inglaterra vou pedir, emprestar, comprar ou roubar um privateer e então voltarei para cá.

— Sim. Eu sei. É por isso que nunca partirá. O senhor sabe demais, Anjin-san. Disse-lhe isso antes e digo de novo, mas sem maldade. Realmente. É um bravo homem, um excelente adversário, digno de respeito, e eu o respeito, e deveria haver paz entre nós. Vamos nos ver muito um ao outro ao longo dos anos — se algum de nós sobreviver à guerra.

— Vamos nos ver?

— Sim. O senhor está muito bom em japonês. Logo será o intérprete pessoal de Toranaga. Não deveríamos discutir, o senhor e eu. Receio que nossos destinos estejam interligados. Mariko-san também lhe disse isso? A mim disse.

— Não. Ela nunca disse. O que mais ela lhe disse?

— Rogou-me que fosse seu amigo, que o protegesse se pudesse. Anjin-san, não vim aqui para espicaçá-lo, ou para discutir, mas para pedir paz antes de partir.

— Aonde vai?

— Primeiro a Nagasaki, de navio, saindo de Mishima. Há negociações comerciais a concluir. Depois para onde quer que Toranaga vá, onde quer que seja a batalha.

— Eles o deixarão comerciar livremente, apesar da guerra? — Oh, sim. Eles precisam de nós, vença quem vencer. Com certeza podemos ser razoáveis e fazer a paz, o senhor e eu. Peço por causa de Mariko-sama.

Blackthorne não disse nada por um instante. — Uma vez tivemos uma trégua, porque ela quis. Ofereço-lhe isso. Uma trégua, não uma paz — desde que o senhor concorde em não chegar a mais de cinqüenta milhas do ponto onde estiver o meu estaleiro. — Concordo, piloto, claro que concordo, mas o senhor não tem nada a recear de mim. Uma trégua, então, em memória dela. — Alvito estendeu a mão. — Obrigado.

Blackthorne apertou a mão com firmeza. Então Alvito disse: — O funeral dela será logo em Nagasaki. Deve ser na catedral. O padre-inspetor dirá o serviço pessoalmente. Parte de suas cinzas serão sepultadas lá.

— Ela gostaria disso. — Blackthorne observou os destroços do navio um momento, depois olhou de novo para Alvito. — Uma coisa que eu ... eu não mencionei a Toranaga: pouco antes de ela morrer eu a abençoei como um padre faria, e dei-lhe os últimos ritos do melhor modo que pude. Não havia mais ninguém e ela era católica. Não creio que me tenha ouvido, não sei se estava consciente. E repeti na cremação. Isso... isso seria a mesma coisa? Seria aceitável? Tentei fazê-lo diante de Deus, não o meu, nem o seu, mas Deus.

— Não, Anjin-san. Somos ensinados que não seria a mesma coisa. Mas dois dias antes de morrer ela pediu e recebeu absolvição do padre-inspetor, e foi santificada.

— Então ... então ela sabia o tempo todo que tinha que morrer... acontecesse o que acontecesse, ela era um sacrifício. — Sim, Deus a abençoe e estime!

— Obrigado por me dizer — disse Blackthorne. — Eu... eu estive sempre preocupado que a minha intercessão não servisse, embora eu ... Obrigado por me dizer.

— Sayonara, Anjin-san — disse Alvito, oferecendo a mão de novo.

— Sayonara, Tsukku-san. Por favor, acenda uma vela para ela ... por mim.

— Farei isso.

Blackthorne apertou a mão e ficou olhando o padre se afastar, alto e forte, um adversário digno. Seremos sempre inimigos, pensou. Ambos sabemos disso, com trégua ou sem trégua. O que você diria se soubesse do plano de Toranaga e do meu plano? Nada além do que já ameaçou, neh? Bom. Compreendemos um ao outro. Uma trégua não fará mal algum. Mas não vamos nos ver tanto assim, Tsukku-san. Enquanto o meu navio estiver sendo construído, tomarei o seu lugar como intérprete com Toranaga e os regentes, e logo você estará fora das negociações de comércio, mesmo enquanto os navios portugueses ainda carregarem a seda. E tudo isso também mudará. Minha frota será apenas o começo. Em dez anos o Leão da Inglaterra dominará estes mares. Mas primeiro The Lady, depois o resto ...

Contente, Blackthorne voltou para junto de Naga e estabeleceu planos para o dia seguinte, depois subiu a vertente até a sua casa temporária, perto da de Toranaga. Lá comeu arroz e peixe cru desfiado que um dos seus cozinheiros preparara para ele, e achou delicioso. Pegou um segundo prato e começou a rir.

— Senhor?

— Nada. — Mas mentalmente estava vendo Mariko e ouvindo-a dizer: — Oh, Anjin-san, um dia talvez até consigamos que o senhor goste de peixe cru, e então o senhor estará a caminho do nirvana, o Lugar da Paz Perfeita.

Ah, Mariko, pensou ele, estou muito contente com a absolvição verdadeira. E agradeço-lhe.

Agradece o quê, Anjin-san? ouviu-a dizer. A vida, Mariko, minha querida. Você ...

Muitas vezes, durante o dia e a noite, ele conversava com ela mentalmente, revivendo partes da vida deles juntos e contando-lhe sobre hoje, sentindo-lhe a presença muito próxima, sempre tão próxima que uma ou duas vezes ele olhara por sobre o ombro, esperando vê-Ia em pé, ali. Fiz isso esta manhã, Mariko, mas em vez de você era Buntaro, com Tsukku-san ao lado, ambos me fitando. Eu tinha a minha espada, mas ele estava com o grande arco nas mãos. Iiiiih, meu amor, precisei de toda a minha coragem para me aproximar e cumprimentá-los formalmente. Você estava assistindo? Teria tido orgulho de mim, tão calmo e samurai e petrificado. Ele disse rigidamente, falando por intermédio do Tsukku-san: — A Senhora Kiritsubo e a Senhora Sazuko me informaram de como o senhor protegeu a honra de minha esposa e a delas. Como o senhor a salvou da vergonha. E a elas. Agradeço-lhe, Anjin-san. Por favor, desculpe-me pelo meu desprezível desequilíbrio de antes. Peço desculpas e agradeço. — Então se curvou para mim e foi embora, e eu tive muita vontade de que você estivesse aqui — para saber que está tudo protegido e ninguém jamais saberá.

Muitas vezes Blackthorne olhara por sobre o ombro, esperando vê-Ia ali, mas ela nunca estava e nunca estaria, e isso não o perturbava. Ela estava com ele para sempre, e ele sabia que a amaria nos bons tempos e nos tempos trágicos, mesmo no inverno da sua vida. Ela estava sempre presente nos seus sonhos. E agora esses sonhos eram bons, muito bons, e misturados com ela estavam esboços, planos, a escultura da figura de proa e velas e como fazer a quilha e como construir o navio, e depois, que alegria, a forma final de The Lady a toda vela, enfunada por um impetuoso vento sudoeste, subindo canal acima, o freio entre os dentes, adriças rangendo, botalós estirados numa manobra de bombordo e depois: "Todas as velas, ho! Joanetes, velas mestras, sobrejoanetes!" soltando-se das cordas, dando-lhe cada polegada, o canhoneio das velas com o navio tomando outra posição e "Conservem o rumo!", cada partícula de lona respondendo ao seu grito, e depois, finalmente, encorpada, uma dama de beleza inestimável virando a bombordo perto de Beachy Head para Londres ...