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A lebre irrompeu dos arbustos, correndo à procura de proteção, e nesse instante Toranaga soltou Kogo. Com batidas de asas imensamente potentes, ela se lançou em perseguição, direto como uma seta, passando à frente do animal em pânico. Adiante, cem passos do outro lado da ondulação do terreno, havia um matagal espinhoso, e a lebre disparou em ziguezague, a uma velocidade frenética, rumando para a segurança, Kogo fechando a brecha, cortando as extremidades, investindo sempre mais perto, a alguns pés do solo. Então postou-se acima da presa, atacou, a lebre guinchou, levantou-se nas patas traseiras e voltou em disparada, Kogo ainda em perseguição, chiando de raiva porque errara. A lebre rodopiou de novo numa arremetida final para um abrigo e guinchou quando Kogo atacou outra vez, fincou firme as garras no pescoço e na cabeça da lebre, e se agarrou sem medo, fechando as asas, sem se importar com as frenéticas contorções e volteíos do animal, enquanto sem esforço o milhafre lhe quebrava o pescoço. Um último guincho. Kogo largou a presa e lançou-se ao ar por um instante, sacudiu as penas arrepiadas de volta ao lugar com um estremecimento violento, depois pousou novamente sobre o corpo quente, contorcendo-se, as garras mais uma vez no aperto mortal. Então, e só então, soltou o seu guincho de vitória e sibilou de prazer com a matança. Seus olhos fitavam Toranaga.

Toranaga aproximou-se a trote e desmontou, oferecendo o engodo. Obedientemente o milhafre abandonou a presa e então, como Toranaga habilmente escondera o engodo, pousou sobre a luva esticada. Os dedos do daimio seguraram os pioses e ele pôde sentir o aperto das garras através do couro reforçado com aço do indicador.

— Iiiiih, foi muito bem-feito, minha beleza — disse ele, recompensando-a com um bocado, uma parte da orelha da lebre que um batedor cortara para ele. — Pronto, empanturre-se com isto, mas não demais — você ainda tem trabalho a fazer.

Sorrindo, o batedor levantou a lebre.

— Amo! Deve ter três, quatro vezes o peso dela. O melhor que vimos há semanas, neh?

— Sim. Mande-a para o acampamento, para o Anjin-san. — Toranaga subiu à sela de novo e acenou aos outros que prosseguissem, à caça novamente.

Sim, o abate foi muito bem executado, mas não teve nada da excitação do de um peregrinus. Um milhafre é apenas o que é, uma ave de cozinheiro, um matador, nascido para matar toda e qualquer coisa que se mova. É como você, Anjin-san, neh?

Sim, você é um gavião de asas curtas. Ah... mas Mariko era um peregrinus. Lembrou-se dela muito claramente e sentiu uma vontade imensa de que não tivesse sido necessário que ela fosse a Osaka e para o Vazio. Mas era necessário, disse-se ele pacientemente. Os reféns tinham que ser libertados. Não os meus parentes, mas todos os outros. Agora tenho mais cinqüenta aliados comprometidos secretamente. A sua coragem e a coragem e o auto-sacrifício da Senhora Etsu trouxeram-nos e a todos os Maeda para o meu lado, e, através deles, toda a costa ocidental. lshido tinha que ser atraído para fora do seu covil inexpugnável, os regentes divididos, e Ochiba e Kiyama trazidos, domados, ao meu punho. Você fez tudo isso e mais: deu-me tempo. Apenas o tempo monta armadilhas e produz engodos.

Ah, Mariko-chan, quem teria pensado que um nadínha de mulher como você, filha de Ju-san Kubo, meu velho rival, o arquitraidor Akechi Jinsai, poderia fazer tanto e descarregar uma vingança tamanha, tão lindamente e com tanta dignidade, contra o táicum, inimigo e assassino do seu pai.

Toranaga estava no topo agora.

Acariciou o peregrinus encapuzado sobre o punho uma última vez, depois removeu-lhe o capuz e lançou-o ao céu. Observou-lhe a espiral ascendente, sempre ascendente, procurando uma presa que ele não mais lhe apontaria como isca. A liberdade de Tetsu-ko é o meu presente a você, Mariko-san, disse ele ao espírito dela, observando o falcão circular cada vez mais alto. Para honrar a sua lealdade a mim e a sua devoção filial à nossa regra mais importante: que um filho respeitoso, ou filha, não pode descansar sob o mesmo céu enquanto o assassino de seu pai estiver vivo.

— Ah, muito sábio, senhor — disse o falcoeiro.

— Hein?

— Soltar Tetsu-ko, libertá-la. Da última vez que o senhor a soltou, pensei que ela nunca mais voltaria, mas não tinha certeza. Ah, senhor, é o maior falcoeiro do reino, o melhor, para saber, para ter certeza de quando devolvê-la ao céu.

Toranaga permitiu-se fazer uma carranca. O falcoeiro empalideceu, sem compreender por quê, rapidamente ofereceu Kogo de novo e recuou às pressas.

Sim, o momento de Tetsu-ko chegara, pensou Toranaga irritado, mas ainda assim foi um presente simbólico ao espírito de Mariko e à qualidade da sua vingança.

Sim. Mas e quanto a todos os filhos de todos os homens que você matou?

Ah, isso é diferente, aqueles mereceram morrer, todos eles, respondeu ele a si mesmo. Assim, você sempre se acautela contra quem avança até o raio de uma seta — isso é prudência normal. A observação agradou a Toranaga e ele resolveu acrescentá-la ao Legado.

Semicerrou que já não era cima, além de todas as cóleras, elevando-se sem esforço. Então alguma força fora do alcance visual de Toranaga tomou-a, fê-la girar para norte, e ela desapareceu.

— Ah, Tetsu-ko, obrigado. Faça muitas filhas — disse ele, e voltou a atenção para a terra, aqui embaixo.

A aldeia era nítida ao sol se pondo, o Anjin-san ainda estava à sua mesa, samurais treinando, fumaça elevando-se das cozinhas. Do outro lado da baía, vinte ris mais ou menos, ficava Yedo. Quarenta ris a sudoeste, Anjiro. Duzentas e noventa ris a oeste Osaka, e trinta ris ao norte, depois de Osaka, Kyoto.

É lá que deve ser a batalha principal, pensou ele. Perto da capital. Ao norte, contornando Gifu ou Ogaki ou Hashima, transversalmente sobre a Nakasendo, a Grande Estrada Norte. Talvez onde a estrada dobra para o sul, para a capital, perto da pequena aldeia de Sekigahara, nas montanhas. Em algum lugar lá. Oh, eu estaria a salvo durante anos atrás das minhas montanhas, mas esta é a chance pela qual esperei: a jugular de lshido está desprotegida.

Minha investida principal será ao longo da estrada Norte e não pela Tokaido, a estrada costeira, embora daqui até lá eu vá fingir mudar de idéia cinqüenta vezes. Meu irmão cavalgará co migo. Oh, sim, acho que Zataki se convencerá de que lshido o traiu com Kiyama. Meu irmão não é tolo. E manterei meu voto solene de dar-lhe Ochiba. Durante a batalha Kiyama mudará de lado, acho que mudará de lado, e quando o fizer, se fizer, cairá em cima do seu odiado rival, Onoshi. Esse será o sinal para as armas de fogo atacarem, eu enrolarei os flancos dos exércitos deles e vencerei. Oh, sim, vencerei — porque Ochiba, prudentemente, nunca deixará o herdeiro se pôr em campo contra mim. Sabe que, se o fizesse, eu seria forçado a matá-lo, sinto muito.

Toranaga começou a sorrir secretamente. No momento em que tiver vencido, darei a Kiyama todas as terras de Onoshi, e o convidarei a designar Saruji seu herdeiro. No momento em que eu for presidente do novo conselho de regentes, apresentaremos a proposta de Zataki à Senhora Ochiba, que ficará tão enraivecida com a impertinência dele que, para aplacar a primeira dama da terra do herdeiro, os regentes lamentavelmente terão que convidar meu irmão a partir para o Vazio. Quem deverá tomar o seu lugar como regente? Kasigi Omi. Kiyama será a presa de Omi ... sim, isso é sábio, e muito fácil, porque com certeza, nessa altura, Kiyama, senhor de todos os cristãos, estará ostentando a sua religião, que ainda é contra a nossa lei. Os editos de expulsão do táicum ainda são legais, neh? Certamente Omi e os outros dirão: — Voto para que os editos sejam invocados. — E uma vez que Kiyama se tenha ido, nunca mais deverá haver um regente cristão, e pacientemente o nosso arrocho se reforçará sobre o estúpido mas perigoso dogma estrangeiro que é uma ameaça à Terra dos Deuses, que sempre ameaçou a nossa wa... e que portanto deve ser destruído. Nós, regentes, encorajaremos os compatriotas do Anjin-san a tomar o comércio português. Tão logo seja possível, os regentes ordenarão que todo o comércio e todos os estrangeiros se confinem a Nagasaki, a uma parte minúscula de Nagasaki, sob uma guarda muito séria. E fecharemos o país a eles para sempre... a eles, às suas armas e aos seus venenos.