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Tantas coisas maravilhosas a fazer, depois que eu tiver vencido, se eu vencer, quando eu vencer. Somos um povo muito previsível.

Será uma idade áurea. Ochiba e o herdeiro majestosamente instalarão a corte em Osaka, e de vez em quando nós nos curvaremos diante deles e continuaremos a governar em seu nome, do lado de fora do Castelo de Osaka. Dentro de três anos mais ou menos, o Filho do Céu me convidará a dissolver o conselho e a me tornar xógum pelo resto da minoridade do meu sobrinho. Os regentes me pressionarão a aceitar e, relutantemente, aceitarei. Depois de um ano ou dois, sem cerimônia, renunciarei em favor de Sudara, conservarei o poder como sempre, e ficarei de olhos firmes no Castelo de Osaka. Continuarei a esperar pacientemente e um dia aqueles usurpadores lá dentro cometerão um engano e desaparecerão, e de algum modo o Castelo de Osaka desaparecerá, apenas outro sonho dentro de um sonho, e o verdadeiro prêmio do grande jogo que começou assim que eu pude pensar, que se tornou possível no momento em que o táicum morreu, o verdadeiro prêmio será conquistado: o xogunato.

É por isso que venho lutando e planejando a vida toda. Eu, sozinho, sou o herdeiro do reino. Serei xógum. E darei início a uma dinastia.

É tudo possível agora, por causa de Mariko-san e do bárbaro estrangeiro, que veio do mar oriental.

Mariko-san, era seu karma morrer gloriosamente e viver para sempre. Anjin-san, meu amigo, é seu karma não deixar nunca esta terra. O meu é ser xógum.

Kogo, o milhafre, esvoaçou sobre o seu pulso e se acomodou, observando-o. Toranaga sorriu para a ave. Não escolhi ser o que sou. É o meu karma.

Naquele ano, ao amanhecer do vigésimo primeiro dia do décimo mês, o Mês sem Deuses, os exércitos principais se chocaram. Foi nas montanhas perto de Sekigahara, cortando a estrada Norte, o tempo péssimo — neblina, depois granizo. Pelo fim da tarde Toranaga havia vencido a batalha e o massacre começou. Quarenta mil cabeças rolaram.

Três dias depois Ishido foi capturado vivo. Toranaga cordialmente lembrou-o da profecia e mandou-o a ferros para Osaka, para exibição pública, ordenando aos etas que plantassem firmemente os pés do Senhor General Ishido na terra, deixando apenas a cabeça do lado de fora, e que convidassem os passantes a serrar o pescoço mais famoso do reino com uma serra de bambu. Ishido durou três dias e morreu muito velho.

O AUTOR E SUA OBRA

James Clavell nasceu em Sydney, Austrália, em 1924, mas educou-se na Inglaterra. Seguindo a tradição militar da família, ingressou na Artilharia Real inglesa com apenas dezesseis anos e, a serviço do Exército, passou quatro anos no Extremo Oriente (Birmânia, Sri Lanka, índia, Malásia, Cingapura, Sumatra, Bornéu, Java) e depois na África.

Ao fim da guerra, James Clavell alcançava a patente de capitão e retomava os estudos na Universidade de Birmingham, que freqüentou em 1946 e 1947. Trabalhou como vendedor em Londres, antes de ingressar como produtor de programas na British Broadcasting Co. (BBC).

Entretanto, seu grande período de criação começa em 1953, quando se transfere para os Estados Unidos, naturalizando-se cidadão americano. A partir de então, alterna expressivos trabalhos tanto na literatura como no cinema, a tal ponto que se torna difícil classificá-lo separadamente numa ou noutra atividade.

Escreveu, para vários diretores, os roteiros dos filmes "A mosca da cabeça branca" ("The fly", 1958), "Watusi" (1958), "Fugindo do inferno" ("The great escape", 1963), "Inferno nos céus" ("633 Squadron", 1964) e "O mundo marcha para o fim" ("Satan Bug", 1964), onde ficaram evidentes suas qualidades de ficcionista e narrador. É também o caso do filme produzido em 1962 pela Columbia e dirigido por Bryan Forbes, com base em seu romance "King rat" ("O rei de um inferno").

Firmando posição e renome no meio cinematográfico, James Clavell escreveu, produziu e dirigiu cinco filmes, sendo o mais conhecido "Ao mestre com carinho" ("To sir, with love"), protagonizado por Sidney Poitier.

Independentemente de sua atividade no cinema, consagrou-se como grande escritor com "Tai Pan", o romance do Oriente, que também estava para ser filmado pela Metro, quando o projeto foi cancelado devido a uma crise na empresa. Esse livro foi citado durante muito tempo na lista dos best sellers do suplemento literário do "New York Times". O mesmo aconteceu com seu elogiadíssimo "Xógum", onde mais uma vez retorna ao cenário oriental que tão bem conheceu.

{1} Peça do vestuário renascentista semelhante a um suporte atlético que se colocava por cima da calça. (N. do T.)

{2} Dança rápida, geralmente executada por uma só pessoa, que se dançava ao som de um antigo instrumento de sopro, com o mesmo nome. (N. do T.)

{3} Referência ao flautista de Hamelin, de Robert Browning. (N. do T.)