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Os olhos do padre estavam duros e injetados.

- O chefe da aldeia diz que avisou as autoridades sobre você. Seus pecados deram cabo de você. Onde está o resto da sua tripulação?

- Fomos desviados da rota. Só precisamos de comida, água e tempo para consertar o nosso navio. Depois partiremos. Podemos pagar cada.. .

- Onde está o resto da sua tripulação?

- Não sei. A bordo. Acho que estão a bordo.

O padre interrogou novamente o chefe, que respondeu e gesticulou para a outra extremidade da aldeia, explicando detalhadamente. O padre voltou-se para Blackthorne.

- Aqui os criminosos são crucificados, piloto. Você vai morrer. O daimio está vindo com os samurais. Deus tenha piedade de você.

- O que é "daimio"?

- Um senhor feudal. É o dono desta província toda. Como você chegou aqui?

- E "samurais"?

- Guerreiros, soldados, membros da casta guerreira - disse o padre, com irritação crescente. - De onde veio e quem é você?

- Não reconheço o seu sotaque - disse Blackthorne, para desconcertá-lo. - Você é espanhol?

- Sou português - enfureceu-se o padre, mordendo a isca. - Já lhe disse, sou o Padre Sebastio, de Portugal. Onde você aprendeu um português tão bom, hein?

- Mas Portugal e Espanha são o mesmo país, agora - disse Blackthorne, com escárnio. - Vocês têm o mesmo rei.

- Somos uma nação separada. Somos um povo diferente. Sempre fomos. Hasteamos nossa própria bandeira. Nossas possessões ultramarinas são separadas, sim, separadas. O Rei Filipe concordou com isso quando roubou meu país. - O Padre Sebastio controlou-se com esforço, os dedos tremendo. - Tomou meu país à força de armas há vinte anos! Seus soldados e aquele tirano espanhol gerado pelo Demônio, Duque de Alba, aniquilaram o nosso verdadeiro rei. Que vá! Agora o filho de Filipe reina, mas também não é nosso verdadeiro rei. Brevemente teremos o nosso próprio rei de volta. - E acrescentou, maldoso: - Você sabe que isso é verdade. O que o perverso Alba fez ao seu país, fez ao meu.

- Isso é mentira. Alba foi um flagelo na Neerlândia, mas nunca a conquistou. Ela ainda é livre. Sempre será. Mas em Portugal ele esmagou um pequeno exército e o país todo capitulou. Não há coragem. Vocês podiam expulsar os espanhóis, se quisessem, mas nunca o farão. Não têm cojones. Exceto para queimar inocentes em nome de Deus.

- Que Deus o queime no fogo do inferno por toda a eternidade - vociferou o padre. - Satã vaga pelo mundo, mas será aniquilado. Os hereges serão aniquilados. Você é maldito diante de Deus!

Malgrado seu, Blackthorne sentiu o terror religioso começar a se erguer dentro dele.

- Os padres não têm o ouvido de Deus, nem falam com a sua voz. Somos livres do seu julgo miserável, e vamos permanecer livres!

Fazia só quarenta anos que Maria Tudor, a Sanguinária, fora rainha da Inglaterra e o espanhol Filipe II, o Cruel, seu marido.

Essa filha de Henrique VIII, profundamente religiosa, trouxera de volta à Inglaterra os padres católicos, os inquisidores, os julgamentos de heresia e o domínio do papa estrangeiro, e revogara as restrições do pai e as mudanças históricas da Igreja de Roma na Inglaterra, contra a vontade da maioria. Reinara durante cinco anos, e o reino fora dilacerado pelo ódio, o medo e a carnificina.

Mas havia morrido e Elizabeth se tornara rainha aos vinte e quatro anos. Blackthorne sentia-se pleno de admiração e amor filial quando pensava em Elizabeth. Fazia quarenta anos que ela guerreava contra o mundo. Havia superado e batido papas, o Santo Império Romano, a França e a Espanha, todos juntos.

Excomungada, desprezada, injuriada no exterior, levou-nos para a enseada — a salvo, fortes, independentes.

- Somos livres - disse Blackthorne ao padre. - Vocês estão arruinados. Temos nossas próprias escolas agora, nossos livros, nossa Bíblia, nossa Igreja. Vocês, espanhóis, são todos iguais. Lixo! Vocês, frades, são todos iguais. Adoradores de ídolos!

O padre ergueu o crucifixo e segurou-o entre si e Blackthorne como um escudo.

- Oh, Deus, proteja-nos deste mal! Não sou espanhol, já lhe disse! Sou português. E não sou frade. Sou irmão da Sociedade de Jesus!

- Ah, um deles, um jesuíta!

- Sim. Que Deus tenha piedade da sua alma! - O Padre Sebastio disse rispidamente alguma coisa em japonês e os homens lançaram-se na direção de Blackthorne. Este se apoiou contra o muro e atingiu um homem com força, mas os outros caíram-lhe em cima como um enxame e ele se sentiu sufocar.

- Nanigoto da?

Abruptamente a escaramuça cessou.

O jovem estava a dez passos de distância. Usava calções, tamancos e um quimono leve, e trazia duas espadas embainhadas presas ao cinto. Uma parecia uma adaga. A outra, uma espada para ser manejada com as duas mãos, mortífera, era comprida e ligeiramente curva. O homem tinha a mão direita casualmente sobre o punho dela.

- Nanigoto da? - perguntou rudemente, e como ninguém respondesse instantaneamente: - NANIGOTO DA?

Os japoneses caíram de joelhos, cabeça inclinada até o pó.

Somente o padre permaneceu em pé. Fez uma mesura e começou a explicar vacilante, mas o homem, desdenhoso, ignorou-o rudemente e apontou para o chefe:

- Mura!

Mura, o chefe da aldeia, manteve a cabeça baixa e começou a explicar rapidamente. Apontou várias vezes para Blackthorne, uma para o navio e duas para o padre. Agora não havia movimento algum na rua. Todas as pessoas visíveis estavam ajoelhadas o de cabeça bem baixa. O chefe terminou.

Arrogantemente o homem armado fez algumas perguntas, a que o outro respondeu com deferência e presteza. Então o soldado disse algo ao chefe, acenou com desprezo declarado para o padre, depois para Blackthorne, e o homem grisalho traduziu para o padre, que enrubesceu.

O homem que era uma cabeça mais baixo e muito mais jovem do que Blackthorne, com um belo rosto ligeiramente marcado de varíola, fixou o olhar no estrangeiro:

- Onushi ittai doko kara kitanda? Doko no kuni no monoda?

Disse o padre, nervosamente:

- Kasigi Omi-san pergunta  de onde você vem e qual é a sua nacionalidade.

- O Sr. Omisan é o daimio? - perguntou Blackthorne, com medo das espadas, malgrado seu.

- Não. É um samurai, o - encarregado da aldeia. O sobrenome dele é Kasigi. Omi é o nome. Aqui eles sempre põem o sobrenome na frente. "San" significa "honorável", e se acrescenta a todos os nomes como polidez. Você faria melhor aprendendo a ser polido e tratando de encontrar bons modos rapidamente. Aqui não se tolera falta de modos. — Sua voz tornou-se cortante. — Responda logo, vamos!

- Amsterdã. Sou inglês.

O choque do Padre Sebastio foi evidente. Disse "inglês, Inglaterra" ao samurai e iniciou uma explicação, mas Omi, impaciente, interrompeu-o abruptamente e vociferou uma torrente de palavras.

- Omi-san pergunta se você é o comandante. O chefe da aldeia diz que só alguns de vocês, hereges, estão vivos, e a maioria está doente. Há um capitão-mor?

- Sou o comandante - respondeu Blackthorne, ainda que, na verdade, agora que estavam em terra, o capitão-mor estivesse no comando. - Estou no comando - acrescentou, sabendo que o Capitão-Mor Spillbergen não podia comandar nada, em terra ou em curso, mesmo quando estava apto e bem.

Outra enxurrada de palavras do samurai.

- Omi-san diz que, como você é o comandante, tem permissão para andar pela aldeia livremente, por onde quiser, até que o senhor dele chegue. O senhor dele, o daimio, decidirá a sua sorte. Até lá você tem permissão para viver como hóspede na casa do chefe da aldeia e para ir e vir como lhe convier. Mas não deve sair da aldeia. Seus homens estão confinados na casa onde se encontram e não estão autorizados a deixá-la. Compreendeu?

- Sim. Onde está a minha tripulação?

O Padre Sebastio apontou vagamente para um amontoado de casas perto de um desembarcadouro, obviamente desolado com a decisão e a impaciência de Omi.