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- Lá! Aproveite sua liberdade, pirata. Seu mal deu cabo de...

- Wakarimasu ka? - disse Omi diretamente a Blackthorne.

- Ele disse: "Você compreende?"

- Como é  "sim" em japonês?

O Padre Sebastio disse ao samurai:

- Wakarimasu.

Desdenhosamente, Omi afastou-se com um gesto. Todos se curvaram profundamente. Exceto um homem, que se ergueu deliberadamente, sem se curvar.

Com uma velocidade cegante, a espada mortífera descreveu um sibilante arco prateado no ar e a cabeça do homem tombou-lhe de sobre os ombros, e uma fonte de sangue jorrou sobre a terra. O corpo agitou-se algumas vezes até ficar imóvel. Involuntariamente o padre havia recuado um passo. Ninguém mais na rua movera um músculo. Permaneciam de cabeça baixa e imóveis. Blackthorne estava rígido, horrorizado.

Omi pôs o pé descuidadamente sobre o cadáver.

- Ikinasai! - disse, gesticulando para que se fossem.

Os homens à sua frente curvaram-se de novo, até o chão.

Depois ergueram-se e se afastaram, impassíveis. A rua começou a se esvaziar. E as lojas. O Padre Sebastio baixou os olhos para o corpo. Gravemente fez o sinal-da-cruz sobre ele e disse:

- In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti. - Devolveu o olhar do samurai, sem medo agora.

- Ikinasai! - A ponta da espada que surgira de repente continuava no corpo. Após um longo momento o padre voltou-se e afastou-se. Com dignidade. Omi observou-o um instante, depois deu uma olhada a Blackthorne. Este recuou e, quando se viu a uma distância segura, dobrou rapidamente uma esquina e desapareceu.

Omi começou a rir ruidosamente. A rua estava vazia agora.

Quando a risada se esgotou, ele agarrou a espada com ambas as mãos e começou metodicamente a cortar o corpo em pedacinhos.

Blackthorne estava num pequeno barco, o barqueiro remando alegremente em direção ao Erasmus. Não tivera dificuldade em conseguir o barco e podia ver homens no convés principal. Eram todos samurais. Alguns tinham peitoral de aço, mas a maioria usava simples quimonos, como eram chamados os trajes, e as duas espadas. Todos usavam o cabelo do mesmo jeito: o topo da cabeça raspado e o cabelo, atrás e dos lados, reunido num rabo, com óleo, depois dobrado sobre a coroa e habilmente amarrado. Apenas os samurais podiam usar esse estilo e, para eles, era obrigatório. Apenas os samurais podiam usar as duas espadas - sempre a comprida, mortífera, para ser usada com as duas mãos, e a curta, parecida com adaga -, e para eles as espadas eram obrigatórias.

Os samurais alinharam-se ao longo das amuradas do navio dele, observando-o.

Cheio de inquietação, subiu ao passadiço e dirigiu-se para o convés. Um samurai, mais elaboradamente vestido do que os outros, veio-lhe ao encontro e curvou-se. Blackthorne aprendera bem e correspondeu à reverência de maneira idêntica, e todo mundo no convés sorriu cordialmente. Ele ainda sentia o horror da matança repentina na rua, e os sorrisos deles não lhe acalmaram os pressentimentos. Foi até a gaiúta e parou abruptamente. Colada na porta, de lado a lado, havia uma larga faixa de seda vermelha e, ao lado dela, um pequeno sinal numa escrita estranha e coleante. Hesitou, examinou a outra porta, mas também essa estava lacrada com uma faixa semelhante, e havia um sinal igual pregado ao tabique.

Estendeu a mão para remover a seda.

- Hotte oke! - Para deixar a coisa absolutamente clara, o samurai de guarda meneou a cabeça. Já não estava sorrindo.

- Mas este navio é meu e eu... - Blackthorne conteve a própria ansiedade, de olhos nas espadas. Tenho que ir lá para baixo, pensou. Tenho que pegar os portulanos, o meu e o secreto.

Jesus Cristo, se forem encontrados e dados aos padres ou aos japoneses, estamos liquidados. Qualquer tribunal do mundo - afora na Inglaterra e na Neerlândia - nos condenaria como piratas com essa evidência. Meu portulano dá datas, lugares, quantidades de saquês pilhados, o número de mortos nos nossos três desembarques nas Américas e na África espanhola, o número de igrejas saquêadas, e como queimamos cidades e embarcações. E o português?

Esse é a nossa sentença de morte, pois naturalmente foi roubado.

No mínimo fora comprado de um traidor português, e pela lei deles qualquer estrangeiro apanhado de posse de qualquer dos portulanos deles, para não mencionar um que desvendasse o estreito de Magalhães, devia ser morto imediatamente. E se o portulano fosse encontrado a bordo de um navio inimigo, o navio devia ser queimado e todos a bordo executados sem piedade.

- Nanno yoo da? - disse um dos samurais.

- Você fala português? - perguntou Blackthorne nessa língua.

O homem resmungou:

- Wakarimasen.

Um outro se aproximou e respeitosamente falou ao chefe, que assentiu concordando.

- Portugueis amigu - disse o samurai em português com um sotaque pesado. Abriu o alto do quimono e mostrou o pequeno crucifixo de madeira que lhe pendia ao pescoço.

- Cristão! - Apontou para si mesmo e sorriu. - Cristão.

- Apontou para Blackthorne: - Cristão, ka?

Blackthorne hesitou, assentiu:

- Cristão.

- Portugueis?

- Inglês.

O homem tagarelou com o chefe, depois ambos deram de ombros e olharam para ele:

- Portugueis?

Blackthorne balançou a cabeça, não querendo discordar deles em nada.

- Meus amigos? Onde?

O samurai apontou na direção da extremidade leste da aldeia.

- Amigos.

- Este é o meu navio. Quero ir lá embaixo. - Disse isso de várias maneiras e com sinais, e eles compreenderam.

- Ah, so desu! Kinjiru! - disseram enfaticamente, indicando os avisos, e sorriram.

Estava absolutamente claro que ele não era autorizado a descer. "Kinjiru" deve significar "proibido", pensou Blackthorne irritado. Bem, que vá para o inferno! Agarrou o trinco da porta e abriu-a parcialmente.

- KINJIRU!

Fizeram-no voltar-se com um empurrão para encará-los. Suas espadas estavam meio desembainhadas. Imóveis os dois homens esperaram que ele mudasse de idéia. Alguns outros, no convés, observavam impassíveis.

Blackthorne sabia que não tinha opção a não ser recuar, de modo que sacudiu os ombros e afastou-se para examinar as amarras e o navio o melhor que podia. As velas esfarrapadas estavam arriadas e amarradas. Mas as cordas eram diferentes de quaisquer outras que, já tivesse visto, de modo que presumiu que tivessem sido os japoneses que haviam posto a embarcação em segurança.

Começou a descer o passadiço e parou. Suou frio quando viu todos a fitá-lo malevolamente e pensou: Jesus Cristo, como pude ser tão estúpido! Curvou-se polidamente e imediatamente a hostilidade desvaneceu-se e todos se curvaram, novamente sorridentes.

Mas ele ainda sentia o suor escorrendo-lhe pela espinha e odiou tudo o que se relacionava ao Japão, desejou estar com a sua tripulação, de volta a bordo, armado, e ao largo.

- Pelo Senhor Jesus, acho que você está errado, piloto - disse Vinck. Seu sorriso desdentado era largo e obsceno. - Se a gente conseguir suportar a lavagem que eles chamam de comida, este é o melhor lugar onde já estive. Tive duas mulheres em três dias e elas são como coelhos. Fazem qualquer coisa desde que a gente lhes mostre como.

- Tem razão. Mas não se pode fazer nada sem carne ou conhaque. Nem por muito tempo. Estou esgotado, e só pude dar uma - disse Maetsukker, contraindo o rosto estreito. - Esses bastardos amarelos não vão compreender que precisamos de carne, cerveja e pão. E conhaque ou vinho.

- Isso é o pior! Senhor Jesus, meu reino por um grogue!

- Baccus van Nekk estava cheio de melancolia. Aproximou-se, parou junto de Blackthorne e examinou-o atentamente. Era muito míope e perdera o último par de óculos na tempestade. Mas mesmo com eles, sempre parava tão perto das pessoas quanto possível. Era chefe dos mercadores, tesoureiros e representante da Companhia das Índias Orientais Holandesas, que havia levantado o dinheiro para a viagem. - Estamos em terra, a salvo, e ainda não bebi nada! Nem uma linda gota! Terrível. Você conseguiu alguma bebida, piloto?