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Lisbeth falou que estava tudo bem e que só precisava de um maço de cigarros. O pedido foi gentil, mas firmemente recusado. Porém teve direito a um pacote de chiclete de nicotina. Quando a enfermeira tornou a fechar a porta, Lisbeth avistou o vigia da Securitas a postos em sua cadeira no corredor. Lisbeth esperou até escutar os passos se distanciando para pegar o computador de mão.

Ligou-o e tentou se conectar.

A sensação foi próxima de um choque quando o computador, de repente, indicou que tinha encontrado uma conexão. Uma conexão. Não é possível.

Ela pulou da cama tão depressa que sentiu uma explosão de dor no quadril machucado. Lançou um olhar abobalhado pelo quarto. Como? Deu uma volta devagar, examinando os mínimos recantos... Não, não há nenhum celular neste quarto. No entanto, estava conseguindo se conectar à rede. Então, um sorriso enviesado se espalhou em seu rosto. A conexão era necessariamente sem fio e estava sendo feita através de um celular com Bluetooth, que operava facilmente num raio de dez a doze metros. Seu olhar se dirigiu para a grade de ventilação no alto da parede.

O Super-Blomkvist havia plantado um telefone bem do lado do seu quarto. Era a única explicação possível.

Mas por que não trazer simplesmente o telefone para dentro do quarto... A bateria. Claro!

O seu Palm precisava ser recarregado mais ou menos a cada três dias. Um celular, que ela forçaria até o limite ao navegar, iria consumir rapidamente a bateria. Blomkvist, ou melhor, a pessoa que ele recrutara e que estava ali fora, devia carregar regularmente a bateria.

Em compensação, ele lhe fornecera, é claro, o carregador do Palm. Ela Precisava tê-lo à mão. Era mais fácil esconder e utilizar um objeto em vez de dois. O Super-Blomkvist, afinal, não era tão burro assim.

Lisbeth primeiro se perguntou onde poderia esconder o computador Precisava de um esconderijo. Além da tomada elétrica ao lado da porta, havia outra no painel atrás da cama, onde ficavam ligados a luz de cabeceira e o relógio digital. Como o rádio tinha sido tirado da cabeceira, havia ali uma cavidade. Ela sorriu. Tanto o carregador como o computador de bolso cabiam dentro dela. Podia usar a tomada do criado-mudo para deixar o computador carregando durante o dia.

Lisbeth Salander estava feliz. Seu coração batia disparado quando, pela primeira vez depois de dois meses, ligou o computador de mão e entrou na internet.

Navegar com um computador de mão Palm, uma tela minúscula e uma canetinha não era tão simples como surfar com um PowerBoolc e um monitor de dezessete polegadas. Mas ela estava conectada. Da sua cama no Sahlgrenska, podia alcançar o mundo inteiro.

Para começar, entrou num site que anunciava fotos relativamente desinteressantes de um fotógrafo amador chamado Bill Bates, em Jobsville, Pensilvânia. Um dia, Lisbeth tinha verificado e chegado à conclusão que Jobsville não existia. Ainda assim, Bates tinha tirado mais de duzentas fotos daquela localidade e as pusera em seu site em forma de pequenas abas. Foi passando pelas fotos até chegar ao número 167 e clicou na lente de aumento. A foto mostrava a igreja de Jobsville. Posicionou o cursor no topo do campanário e clicou. Imediatamente surgiu uma janela pedindo seu login e sua senha. Pegou a canetinha e escreveu Remarkable no campo do login e A(89) Cx#magnolia no da senha.

Abriu-se uma janela: [ERROR — You have the wrong password] e um botão [O.K. — Tryagain]. Lisbeth sabia que se clicasse em [O.K. — Try again] e tentasse outra senha, iria dar na mesma janela — podia tentar ano após ano ao infinito. Em vez disso, clicou na letra O da palavra [ERROR].

A tela ficou preta. Em seguida, abriu-se uma porta de animação e apareceu uma figura parecida com Lara Croft. Materializou-se um balão com os dizeres [WHO GOES THERE?].

Ela clicou no balão e escreveu a palavra Wasp. A resposta foi imediata: [PROVE IT — OR ELSE...] enquanto a Lara Croft animada soltava a trava de segurança de uma pistola. Lisbeth sabia que a ameaça não era de todo fictícia. Se escrevesse a senha errada três vezes seguidas, a página se apagaria nome Wasp seria riscado da lista dos membros. Escreveu com bastante cuidado a senha MonkeyBusiness.

A tela mudou novamente de forma e exibiu um fundo azul com o texto:

[Welcome to Hacker Republic, citizen Wasp. It is 56 days since your last visit. There are 10 citizens online. Do you want to (a) Browse the Fórum (b) Send a Message (c) Search the Archive (d) Talk (e) Get laid?]

Ela clicou em [(d) Talk], passou para o menu [Who's online?} e obteve uma lista com os nomes Andy, Bambi, Dakota, Jabba, BuckRogers, Mandrake, Pred, Slip, Sisterjen, Six Of One e Trinity.

[Hi, gang], escreveu Wasp.

[Wasp. That really U?], escreveu SixOfOne imediatamente.

[Look who's home.]

[Onde você andava?], perguntou Trinity.

[Praga falou que você estava com problemas], escreveu Dakota.

Lisbeth não tinha certeza, mas achava que Dakota era uma mulher. Os outros membros on-line, inclusive Sisterjen, eram homens. A Hacker Republic tinha ao todo (da última vez que ela se conectara) sessenta e dois membros, dos quais quatro eram mulheres.

[Olá, Trinity], escreveu Lisbeth. [Olá, todo mundo.]

[Por que você só dá olá para Trin? A gente não está atacado pela peste], escreveu Dakota.

[A gente já saiu junto], escreveu Trinity. [Wasp só freqüenta pessoas inteligentes.]

Ele imediatamente recebeu cinco vá se...

Dos sessenta e dois membros, Wasp se encontrara com dois na vida real. Um deles era Praga, que excepcionalmente não estava on-line. Trinity era o outro. Era inglês, residente em Londres. Dois anos antes, ela estivera com ele por algumas horas, quando ele a ajudara, e ao Mikael, na caçada a Harriet Vanger, instalando uma escuta telefônica clandestina no pacato subúrbio de St. Albans. Lisbeth estava se atrapalhando com a pouco prática canetinha eletrônica e lamentava não dispor de um teclado.

[Você ainda está aí?], perguntou Mandrake.

Ela marcou as letras, uma por uma.

[Sorry. Estou com um Palm. E meio lerdo.]

[O que houve com o seu computador?], perguntou Pred.

[O meu computador vai bem. Eu é que estou com problemas.]

[Conte aqui para o seu irmão mais velho], escreveu Slip.

[O Estado me mantém prisioneira.]

[O quê? Por quê?] A resposta veio, de imediato, de três membros.

Lisbeth resumiu sua situação em cinco linhas, que foram recebidas pelo que parecia ser um murmúrio de preocupação.

[Como você está?], perguntou Trinity.

[Estou com um buraco na cabeça.]

[Não estou vendo nenhuma diferença], constatou Bambi.

[Wasp sempre teve vento na cabeça], disse Sisterjen, antes de engatar uma série de fantasias pejorativas sobre as capacidades intelectuais de Wasp.

Lisbeth sorriu. A conversa foi retomada com uma réplica de Dakota.

[Esperem. Estamos diante de um ataque a um cidadão da Hacker Republic. Qual será nossa resposta?]

[Ataque nuclear sobre Estocolmo?], sugeriu SixOfOne.

[Não, seria um exagero], disse Wasp.

[Uma bomba em miniatura?]

[Vá se catar, SixOO.]

[Agente poderia apagar Estocolmo], sugeriu Mandrake.

[Um vírus que apaga o governo?]

Os cidadãos da Hacker Republic não costumavam espalhar vírus. Pelo contrário — eram hackers e, conseqüentemente, ferozes adversários dos idiotas que lançam vírus com o único objetivo de sabotar a rede e fazer naufragar computadores. Eram viciados em informação e queriam manter a rede funcionando para poder pirateá-la.