Esperou nove minutos até que a mulher com a câmera saísse do prédio. Em vez de subir a ladeira em direção à Tavastgatan, a mulher continuou descendo e dobrou à direita na esquina da Pryssgrãnd. Humm. Se ela estivesse com um carro estacionado na baixada da Pryssgrãnd, Rosa Figuerola não teria como segui-la. Mas se estivesse a pé, só tinha um caminho a fazer — subir a Brànnkyrkagatan por Pustegránd, mais próximo de Slussen.
Rosa Figuerola saiu do carro e se dirigiu para os lados de Slussen na Brànnkyrkagatan. Estava quase chegando a Pustegránd quando a mulher da câmera apareceu diante dela. Bingo! Seguiu-a quando passou em frente ao Hilton, pela Praça de Sõdermalm, defronte ao Museu da Cidade de Slussen. A mulher andava a passos rápidos e decididos, sem olhar para os lados. Rosa Figuerola deu-lhe uns trinta metros de vantagem. Ela entrou no metrô de Slussen e Rosa Figuerola apressou o passo, mas se deteve ao ver que a mulher se dirigia à banca de jornal em vez de passar pelas roletas.
Rosa Figuerola ficou observando a mulher na fila. Tinha cerca de um metro e setenta de altura e, com seu tênis, um jeito mais esportivo. De repente, ao vê-la ali, com os pés firmemente plantados em frente à banca de jornal, Kosa Figuerola teve a sensação de que se tratava de uma policial. A mulher comprou algo que parecia ser uma caixa de pastilhas, em seguida voltou para a Praça de Sõdermalm e entrou à direita na Katarinavãgen.
Rosa Figuerola foi atrás dela. Estava relativamente segura de que a mulher não a notara. Desapareceu na esquina pouco depois do McDonald's com Rosa Figuerola a cerca de quarenta metros atrás dela.
Ao virar a esquina, não viu mais sinal da mulher. Droga! Passou devagar em frente às várias entradas. Então seu olhar bateu numa placa. Milton Security.
Rosa Figuerola meneou a cabeça e retornou a pé para a Bellmansgatan.
Dirigiu até a Gõtgatan, onde ficava a redação da Millennium, e passou a meia hora seguinte percorrendo as ruas nas proximidades da redação. Não viu o carro de Mârtensson. Por volta do meio-dia, voltou para o Palácio da Polícia em Kungsholmen e foi puxar ferro na academia por uma hora.
— Estamos com um problema — disse Henry Cortez.
Malu Eriksson e Mikael Blomkvist levantaram os olhos do manuscrito do futuro livro sobre Zalachenko. Era uma e meia da tarde.
— Sente-se — disse Malu.
— Trata-se da Vitavara S.A., a empresa que fabrica vasos sanitários no Vietnã para vender jx>r mil e setecentas coroas a peça.
— Hum. E qual é o problema? — perguntou Mikael.
— A Vitavara S.A. pertence quase integralmente a uma empresa-mãe, a SveaBygg S.A.
— Ahã. É uma firma grande.
— É. O presidente do conselho administrativo se chama Magnus Borgsjõ. É um profissional em conselhos administrativos. Entre outros, é presidente do conselho administrativo do Svenska Morgon-Posten e detém quase dez por cento do jornal.
Mikael lançou um olhar penetrante para Henry Cortez.
— Tem certeza?
— Tenho. O chefe da Erika Berger é um puta de um safado que explora criancinhas no Vietnã.
— Merda! — fez Malu Eriksson.
O assistente de redação Peter Fredriksson parecia pouco à vontade quando bateu suavemente à porta do aquário de Erika Berger por volta das duas da tarde.
— Sim?
- Bem, é um assunto meio delicado. Mas alguém aqui na redação recebeu um e-mail seu.
— Meu?
— Sim. — Suspiro.
— Do que se trata?
Ele lhe passou umas folhas A4 com e-mails endereçados a Eva Carlsson, uma substituta de vinte e seis anos da editoria de Cultura. O remetente, de acordo com o cabeçalho, era erika.berger@smpost.se
[Minha Eva adorada. Tenho vontade de acariciar e beijar teus seios. Estou ardendo de tesão e mal consigo me controlar. Eu te suplico, corresponda aos meus sentimentos. A gente poderia se encontrar? Erika.]
Eva Carlsson não respondera a essa abordagem, o que resultará em mais dois e-mails nos dias seguintes.
[Eva, minha amada adorada. Eu te suplico, não me rejeite. Estou louca de desejo. Quero você nua. Quero, custe o que custar. Você vai ficar bem comigo. Não vai se arrepender. Vou beijar cada centímetro da sua pele nua, seus seios magníficos e sua doce gruta. Erika.]
[Eva. Por que não me responde? Não tenha medo de mim. Não me rejeite. Você não é nenhuma sonsa. Sabe do que eu estou falando. Quero fazer amor com você e você será ricamente recompensada. Se for boazinha comigo, serei boazinha com você. Você pediu para estender seu contrato de substituta. Está em meu poder atendê-la, e inclusive transformá-lo num contrato permanente. Venha encontrar-se comigo às 21 horas no meu carro, na garagem. Sua Erika.]
— Ah, sim — disse Erika Berger. — E agora ela está se perguntando se sou mesmo eu quem está mandando essas propostas obscenas.
— Não é bem isso... quer dizer... hã.
— Peter, não fale escondido atrás da barba.
— Ela talvez tenha mais ou menos acreditado no primeiro e-mail pelo menos ficou bastante surpresa. Mas depois ela entendeu que era um loucura total, nada a ver com seu estilo, e aí...
— E aí?
— Bem, ela acha constrangedor e não sabe direito o que fazer. Devo dizer que ela tem muita admiração por você, gosta de você... quero dizer, corno chefe. Então ela veio se aconselhar comigo.
— Entendo. E o que você disse a ela?
— Disse que alguém falsificou o seu endereço para assediá-la. Ou assediar vocês duas. E prometi que ia falar com você.
— Obrigada. Você poderia pedir para ela vir falar comigo daqui a uns dez minutos?
Erika aproveitou esse tempo para escrever um e-mail realmente seu.
[Vejo-me na obrigação de informar a todos que uma de nossas colegas recebeu mensagens eletrônicas aparentemente enviadas por mim. Esses e-mails contêm alusões sexuais extremamente grosseiras. Quanto a mim, recebi mensagens de conteúdo chulo de um remetente que se diz "centralred" no SMP. Como sabem, esse endereço não existe no SMP.
Consultei o diretor de tecnologia, e ele me afirmou ser muito fácil forjar um endereço de remetente falso. Não sei como se faz, mas aparentemente existem sites na internet que oferecem esses serviços. Chego à triste conclusão de que existe um doente entre nós que se compraz com esse tipo de coisa.
Gostaria de saber se outros funcionários receberam e-mails estranhos. Caso positivo, gostaria que entrassem imediatamente em contato com o assistente de redação Peter Fredriksson. Se essa coisa vergonhosa persistir, teremos de pensar em registrar queixa na polícia.
Erika Berger, redatora-chefe.]
Imprimiu uma cópia do e-mail e em seguida clicou em Enviar, para que a mensagem fosse para todos os funcionários do SMP. Nisso, Eva Carlsson bateu à porta.
— Bom dia, sente-se — disse Erika. — Soube que você recebeu e-mails em meu nome.
- Ora, não pensei um segundo sequer que pudessem ser mesmo seus.
- Em todo caso, no instante em que você entrou aqui você estava recebendo um e-mail meu. Um e-mail que eu de fato escrevi e que mandei para todos os funcionários.
Mostrou para Eva Carlsson a cópia impressa.
- Certo. Compreendo — disse Eva Carlsson.
- Lamento que tenham usado você como alvo nessa campanha desagradável.
__Você não tem culpa se um maluco inventa esse tipo de coisa.
- Eu só queria estar segura de que você não guarda nenhuma suspeita em relação a mim nessa história.
— Jamais pensei que isso tivesse partido de você.
— Perfeito, obrigada — disse Erika, e sorriu.
Rosa Figuerola passou a tarde levantando informações. Primeiro, pediu uma foto de Lars Faulsson, para conferir se era a mesma pessoa que ela vira em companhia de Góran Mártensson. Depois, digitou o nome dele no cadastro das fichas policiais e obteve imediatamente um resultado.