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Nem Teleborian nem Faulsson, porém — e muito menos Faulsson —, eram empregados da Sapo. No entanto, pelas missões que lhes confiavam, tinham algum vínculo com... com quê?

A conspiração estava intimamente ligada ao falecido Alexander Zalachenko, agente russo desertor do GRO e que, de acordo com as fontes, chegara à Suécia no dia das eleições de 1976. E do qual ninguém nunca ouvira falar. Como era possível?

Edklinth tentou imaginar o que poderia ter acontecido caso ele estivesse entre os executivos dirigentes da Sapo em 1976, quando Zalachenko havia desertado. Como ele teria se comportado? Discrição absoluta. Evidentemente. A deserção só podia ser do conhecimento de um pequeno círculo exclusivo, para evitar o risco de a informação chegar até os russos e... Que tipo de pequeno círculo?

Uma seção de intervenção?

Uma seção de intervenção desconhecida?

Se tudo tivesse sido feito dentro das normas, Zalachenko teria sido entregue à contra-espionagem. No melhor dos casos, o serviço de informação militar teria cuidado dele. Só que eles não tinham nem recursos nem competência para realizar esse tipo de intervenção. Então tinha sido a Sapo.

E a contra-espionagem jamais tivera esses recursos e competência. A chave era Bjõrck; ele obviamente tinha sido um dos que administraram Zalachenko. Mas Bjõrck nunca tivera nenhuma ligação com a contra-espionagem Bjõrck era um mistério. Oficialmente, desde os anos 1970 ele tinha um cargo na Brigada dos Estrangeiros, mas na prática ninguém o vira no departamento antes dos anos 1990, quando foi repentinamente nomeado chefe-adjunto.

Bjõrck, no entanto, era a principal fonte de informações de Blomkvist. Como Blomkvist conseguira que Bjõrck lhe revelasse tamanhas bombas em potencial? A ele, um jornalista?

As prostitutas. Bjõrck freqüentava prostitutas adolescentes e a Millennium pretendia denunciá-lo. Blomkvist devia ter chantageado Bjõrck.

Em seguida, Lisbeth Salander entrara na história.

O falecido Dr. Nils Bjurman trabalhara na Brigada dos Estrangeiros na mesma época que o falecido Bjõrck. Eles é que receberam Zalachenko. Mas o que tinham feito com ele?

Alguém havia, necessariamente, tomado as decisões. Com um desertor daquele gabarito, a ordem tinha que ter vindo do alto.

Do governo. Devia haver uma ligação. Ou seria impensável.

Impensável?

O mal-estar fazia Edklinth suar frio. Em termos oficiais, aquilo tudo era compreensível. Um desertor da importância de Zalachenko precisava ser tratado com o maior sigilo. Ele próprio teria decidido assim. E era isso que o governo Falldin devia ter decidido. Fazia sentido.

Em compensação, o que acontecera em 1991 não era nem um pouco normal. Bjõrck contratara Peter Teleborian para mandar internar Lisbeth Salander numa clínica de psiquiatria infantil, com o pretexto de que ela era psiquicamente perturbada. Isso constituía um crime. Um crime tão gigantesco que Edklinth tornou a suar frio.

Alguém tomara essas decisões. Nesse caso, não podia ter sido o governo... Ingvar Carlsson fora primeiro-ministro, seguido por Carl Bildt. Mas nenhum político se atreveria a considerar uma decisão que ia tão totalmente contra qualquer lei e qualquer justiça, e que resultaria num escândalo catastrófico caso fosse descoberta.

Se o governo estava envolvido nesse caso, a Suécia não era melhor que a pior ditadura do mundo.

E isso não era possível.

Depois, vieram os fatos de 12 de abril em Sahlgrenska. Zalachenko muito oportunamente morto por um justiceiro doente mental, enquanto um assalto ocorria no apartamento de Mikael Blomkvist, e Annika Giannini sofria una agressão. Em ambos os casos, o estranho relatório de 1991 de Bunnar Biõrck fora roubado. Essa era uma informação passada por Dragan Armanskij ern caráter confidencial. Porque nenhuma queixa havia sido registrada.

E, simultaneamente, Gunnar Bjõrck resolvera se enforcar. Logo ele que, entre tantos outros, Edklinth teria gostado de enfrentar numa conversa séria, olhos nos olhos.

Torsten Edklinth não acreditava no acaso quando este assumia tais dimensões. O inspetor criminal Jan Bublanski não acreditava num acaso assim. Mikael Blomkvist não acreditava. Edklinth pegou novamente a caneta.

Evert Gullberg, setenta e oito anos. Especialista em assuntos fiscais???

Quem era esse maldito Evert Gullberg?

Pensou em ligar para o diretor da Sapo, mas desistiu, pelo simples fato de que ignorava até que escalão remontava a conspiração. Ou seja, ele não sabia em quem confiar.

Tendo eliminado a hipótese de procurar alguém da Sapo, considerou por um momento procurar a polícia comum. Jan Bublanski conduzia as investigações sobre Ronald Niedermann e certamente teria interesse em alguma informação anexa. Mas, do ponto de vista político, isso era impossível.

Sentiu um fardo enorme pesar sobre seus ombros.

No fim das contas, só lhe restava uma saída constitucionalmente correta e que talvez representasse uma proteção caso, no futuro, caísse em desgraça política. Precisava dirigir-se ao chefe a fim de obter apoio político para seus atos.

Olhou a hora. Quase quatro da tarde. Pegou o telefone e ligou para o ministro da Justiça, que conhecia havia muitos anos e com quem estivera em inúmeras palestras no ministério. Conseguiu tê-lo na linha em menos de cinco minutos.

— Olá, Torsten — disse o ministro da Justiça. — Quanto tempo! A que se deve esta chamada?

— Para ser franco, acho que estou ligando para conferir qual a minha credibilidade junto a você.

— Credibilidade? Que pergunta. Sua credibilidade comigo é muito grande. Por que essa pergunta esquisita?

— Porque depois dela vem um pedido sério e fora do comum... Preciso me encontrar com você e com o primeiro-ministro, e com urgência.

— Só isso?

— Para poder explicar, gostaria que estivéssemos bem confortáveis e a sós. Estou com um caso tão espantoso aqui na minha mesa que queria informar você e o primeiro-ministro a respeito.

— Parece sério.

— É sério.

— Tem alguma coisa a ver com terrorismo ou ameaças...

— Não. E ainda mais sério. Com esta ligação para você, estou arriscando a minha reputação e a minha carreira. Eu não teria esse tipo de conversa se não julgasse que a situação é extremamente grave.

— Compreendo. Por isso a pergunta sobre sua credibilidade... Você queria se encontrar com o primeiro-ministro quando?

— Ainda hoje à noite, se possível.

— Você está me deixando preocupado.

— Receio que você tenha todos os motivos para ficar preocupado.

— O encontro deve durar quanto tempo? Edklinth refletiu.

— Acho que vou precisar de uma hora para resumir todos os detalhes.

— Eu ligo para você daqui a pouco.

O ministro da Justiça ligou quinze minutos depois dizendo que o primeiro-ministro tinha a possibilidade de receber Torsten Edklinth em sua residência naquela noite, às nove e meia. Edklinth estava com as mãos úmidas quando desligou. Bem, puxa vida, não é impossível que amanhã de manhã minha carreira esteja encerrada.

Pegou o telefone e ligou para Rosa Figuerola.

— Oi, Rosa. Apresente-se às vinte e uma horas para o serviço. Traje adequado obrigatório.

— Estou sempre com um traje adequado — disse Rosa Figuerola.

O primeiro-ministro contemplava o diretor da Proteção à Constituição com um olhar que só poderia ser qualificado de cético. Edklinth podia imaginar engrenagens rodando a toda a velocidade por trás dos óculos do homem.

O primeiro-ministro desviou o olhar para Rosa Figuerola, que não abrira boca durante a uma hora de explanação. Viu uma mulher muito alta e musculosa que retribuía seu olhar com uma polidez repleta de expectativa.

Então voltou-se para o ministro da Justiça, que empalidecera ligeiramente durante a explanação.

Por fim, o primeiro-ministro respirou fundo, tirou os óculos e deixou seu olhar se perder ao longe.