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Trinity fizera o curso de técnico em telefonia porque já sabia como funcionava a rede telefônica. Logo constatara como tudo estava desesperadoramente obsoleto e se tornara consultor de segurança para instalação de alarmes e supervisão de sistemas contra roubo. Para alguns clientes cuidadosamente selecionados, ele também podia oferecer serviços exclusivos, como vigilância e escuta telefônica.

Era um dos fundadores da Hacker Republic, da qual Wasp era uma das cidadãs.

Eram sete e meia da noite de domingo quando Trinity e Bob the Dog entraram no subúrbio de Estocolmo. Estavam passando por Kungens kurva, em Skárholmen, quando Trinity pegou o celular e discou um número que havia decorado.

— Praga — disse Trinity.

— Onde vocês estão?

— Você pediu para eu ligar quando a gente passasse pela Ikea.

Praga explicou como chegar ao albergue da juventude de Lângholmen, onde fizera uma reserva para seus colegas ingleses. Embora Praga quase nunca saísse de seu apartamento, combinaram de se encontrar lá às dez horas do dia seguinte.

Depois de refletir um instante, Praga resolveu fazer um esforço imenso e encarou a louça suja, a faxina e a ventilação do local para receber seus convidados.

III. BISC CRASH 27 DE MAIO A 6 DE JUNHO

O historiador Diodoro da Sicília, do século I antes de Cristo (que alguns historiadores consideram uma fonte pouco confiável), conta sobre as amazonas da Líbia, que naquela época abrangia do Norte da África ao Oeste do Egito. Esse império de amazonas era uma ginecocracia, ou seja, somente às mulheres era permitido exercer funções oficiais, inclusive as militares. Reza a lenda que o país era governado por uma rainha, Myrina, que com trinta mil mulheres na infantaria e três mil cavaleiras atravessou o Egito, a Síria, até o mar Egeu, submetendo uma série de exércitos masculinos pelo caminho. Quando a rainha Myrina foi enfim derrotada, seu exército se dispersou.

O exército de Myrina, porém, deixou marcas na região. As mulheres da Anatólia pegaram em armas para debelar uma invasão do Cáucaso depois que os soldados homens foram aniquilados num imenso genocídio. Essas mulheres eram treinadas em todo tipo de armas, incluindo o arco, a espada, o machado de guerra e a lança. Copiaram dos gregos as cotas de malha de bronze e as armaduras.

Recusavam o casamento, que consideravam uma sujeição. Para fins de procriação, eram decretados feriados, durante os quais elas praticavam o coito com homens anônimos escolhidos ao acaso nas aldeias das redondezas. Só tinha o direito de abandonar a virgindade a mulher que houvesse matado um homem em combate.

16.  SEXTA-FEIRA 11 DE MAIO TERÇA-FEIRA 31 DE MAIO

Mikael Blomkvist deixou a redação da Millennium às dez e meia da noite de sexta-feira. Desceu até o térreo, mas, em vez de sair para a rua, virou à esquerda no hall de entrada, atravessou o porão, subiu até o pátio interno e saiu na Hõkens gata, passando pelo prédio vizinho. Cruzou com um grupo de jovens que saíam da Mosebacke, mas ninguém prestou atenção nele. Se por acaso alguém o estivesse vigiando ia achar que ele estava passando a noite na redação, como de costume. Ele estabelecera esse esquema em abril. Na verdade, era Christer Malm que ficava à noite de plantão na redação.

Por uns quinze minutos, passeou pelas ruazinhas e vielas dos arredores de Mosebacke, antes de rumar para o número 9 da Fiskargatan. Entrou depois de digitar o código de acesso e subiu a pé até o apartamento lá do alto, usando as chaves de Lisbeth Salander para abrir a porta. Desligou o alarme. Ainda se sentia perturbado quando entrava naquele apartamento de vinte e um cômodos, dos quais apenas três estavam mobiliados.

Preparou café e sanduíches antes de entrar no escritório de Lisbeth e ligar o PowerBook.

Desde meados de abril, quando o relatório de Bjórck havia sido roubado. Mikael percebera que estava sendo vigiado, ele montara seu quartel-general particular no apartamento de Lisbeth. Transferira para lá toda a documentação importante. Passava várias noites por semana no apartamento, dormia na cama de Lisbeth e trabalhava no computador dela. Lisbeth apagara todos os dados antes de ir para Gosseberga acertar as contas com Zalachenko. Mikael achava que ela provavelmente não tivera a intenção de voltar. Ele usara os HDS de Lisbeth para pôr a máquina em funcionamento outra vez.

Desde abril ele não usava seu próprio computador com ADSL. Usava a conexão de Lisbeth, abria o ICQ e se comunicava com o número que ela criara para ele e lhe passara através do grupo Yahoo [Tavola-Biruta].

[Oi, Sally.]

[Fala.]

[Mexi nos dois capítulos sobre os quais discutimos durante esta semana. Você pode encontrar a nova versão no Yahoo. E com você, em que pé estão as coisas?]

[Terminei dezessete páginas. Estou postando agora no Tavola-Biruta.]

Pling.

[O.k. Peguei. Deixe eu dar uma lida, depois a gente conversa.]

[Tenho mais uma coisa. 1

[O quê

?

[Criei um grupo Yahoo chamado Os-Cavaleiros.] Mikael sorriu.

[O.k. Os Cavaleiros da Távola Biruta.]

[Senha yacaracal2.]

[O.k.]

[Quatro membros. Eu, você, Praga e Trinity.]

[Seus misteriosos amigos da internet.]

[Estou me protegendo.]

[O.k.]

[O Praga pegou informações do computador do procurador Ekstrõm. A gente já tinha pirateado a máquina em abril.]

[O.k.]

[Se eu perder meu computador de bolso, ele te manterá informado.]

[Certo. Obrigado.]

Mikael se desconectou do ICQ e entrou no novo grupo Yahoo [Os-Cavaleiros]- A única coisa que encontrou foi um link de Praga para um endereço http anônimo, composto de apenas oito algarismos. Copiou o endereço no Explorer, deu Enter e entrou imediatamente num site de 16 gb em algum lugar da internet, e que constituía o disco rígido do procurador Richard Ekstrõm.

Praga aparentemente facilitara as coisas para si mesmo copiando todo o disco rígido de Ekstrõm. Mikael passou uma hora selecionando o conteúdo. Rejeitou arquivos de sistema, programas e uma imensa quantidade de inquéritos preliminares que pareciam remontar a vários anos. Por fim, baixou quatro arquivos. Três tinham os nomes [INQPRELIM/SALANDER], [LIXEIRA/SA-LANDER] e [INQPRELIM/NIEDERMANN]. O quarto era uma cópia dos e-mails recebidos pelo procurador Ekstrõm até as catorze horas do dia anterior.

— Obrigado, Praga! — disse Mikael Blomkvist em voz alta, no apartamento vazio.

Passou três horas lendo o inquérito preliminar de Ekstrõm e sua estratégia para o processo de Lisbeth Salander. Como era de se esperar, muita coisa girava em torno de seu estado mental. Ekstrõm pedia um exame psiquiátrico aprofundado e enviara um bom número de e-mails mandando que fosse transferida para a casa de detenção de Kronoberg o quanto antes.

Mikael constatou que as investigações de Ekstrõm para encontrar Niedermann pareciam estar marcando passo. Bublanski era quem comandava as buscas. Ele conseguira juntar uma documentação técnica acusando Niedermann do assassinato de Dag Svensson e de Mia Bergman, assim como do assassinato do Dr. Bjurman. O próprio Mikael Blomkvist contribuíra com boa parte daquelas provas nos três longos interrogatórios a que fora submetido em abril, e seria obrigado a testemunhar caso Niedermann fosse preso. O DNA identificado em alguns pingos de suor e dois fios de cabelo colhidos no apartamento de Bjurman puderam finalmente ser associados com o DNA colhido no quarto de Niedermann em Gosseberga. Uma grande quantidade do mesmo DNA também havia sido encontrada no corpo do consultor financeiro do MC Svavelsjõ, Viktor Gõransson.