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A essa altura, Janeryd já estava falando havia vários minutos.

—  Tudo isso não tem muita importância. Só uma coisa interessa no momento.

— O quê?

— O nome das pessoas com quem o senhor se encontrava. Janeryd interrogou Mikael com o olhar.

— Os homens que cuidavam do Zalachenko extrapolaram, e muito, suas funções. Envolveram-se em uma atividade criminosa grave e vão ser objeto de um inquérito preliminar. Por isso o Fãlldin me mandou aqui. O Fãlldin não sabe os nomes. Quem encontrava com essas pessoas era o senhor.

Janeryd piscou nervosamente e apertou os lábios.

— O senhor esteve com o Evert Gullberg... ele era o chefe. Janeryd concordou com a cabeça.

— Quantas vezes esteve com ele?

— Ele participou de todos os encontros, menos um. Foram uns dez encontros no período em que Fãlldin foi primeiro-ministro.

— E onde aconteciam esses encontros?

— No lobby de um hotel. Em geral, no Sheraton. Uma vez foi no Amaranten, em Kungsholmen, e algumas vezes no pub do Continental.

— E quem mais participava? Janeryd piscou com ar resignado.

— Foi há tanto tempo... Não lembro.

— Tente lembrar.

— Havia um... Clinton. Como o presidente americano.

— E o primeiro nome?

— Fredrik Clinton. Estive com ele quatro ou cinco vezes.

— Certo... mais algum?

— Hans von Rottinger. Eu o conhecia através da minha mãe.

— Da sua mãe?

— É, minha mãe conhecia a família Von Rottinger. Hans von Rottinger era um homem simpático. Antes de vê-lo de repente numa reunião com Gullberg, eu ignorava que ele trabalhava para a Sapo.

— Ele não trabalhava para a Sapo — disse Mikael. Janeryd empalideceu.

— Ele trabalhava para uma coisa chamada Seção de Análise Especial — disse Mikael. — O que lhe disseram sobre esse grupo?

— Nada... quer dizer, eram eles que cuidavam do dissidente.

— Sim. Mas admita que é esquisito eles não constarem no organograma da Sapo.

— E um absurdo...

— Não é? Como vocês marcavam as reuniões? Eram eles que ligavam ou o senhor?

—  Não... a data e o local do encontro seguinte eram decididos na reunião.

— E se o senhor precisasse contatá-los? Para mudar a data do encontro, por exemplo?

— Eu tinha um número de telefone.

— Qual era o número?

— Sinceramente, não lembro.

— Era o número de quem?

— Não sei. Nunca usei.

— Certo. Outra pergunta: quem sucedeu ao senhor?

— Como assim?

— Quando o Fálldin renunciou. Quem ficou no seu lugar?

— Não sei.

— O senhor redigiu algum relatório?

—  Não, era tudo confidencial. Eu não era sequer autorizado a fazer anotações.

— E o senhor nunca instruiu nenhum sucessor?

— Não.

— O que aconteceu então?

— Bem... o Fãlldin renunciou e passou o bastão para Ola Ullsten. Me disseram que teríamos de ficar afastados até as eleições seguintes. Então o Fãlldin foi reeleito e as reuniões foram retomadas. Em seguida, houve as eleições de 1985 e os socialistas ganharam. E suponho que Palme tenha indicado alguém para me suceder. Depois disso, comecei minha carreira diplomática no Ministério das Relações Exteriores. Estive no Egito, depois na Índia.

Mikael prosseguiu com as perguntas por mais alguns minutos, mas estava convencido de que já sabia tudo o que Janeryd tinha para contar. Três nomes.

Fredrik Clinton.

Hans von Rottinger.

E Evert Gullberg — o homem que matara Zalachenko.

O clube Zalachenko.

Agradeceu Janeryd pelas informações e pegou um táxi para voltar à estação. Só quando já estava acomodado no táxi é que enfiou a mão no bolso para desligar o gravador.

Às sete e meia da noite do domingo, já estava de volta ao aeroporto de Estocolmo.

Erika Berger contemplou, pensativa, a foto na tela. Ergueu os olhos e observou a redação semi-vazia do lado de lá do aquário. Aparentemente, ninguém demonstrava o menor interesse por ela, nem aberto nem dissimulado. Tampouco tinha motivo para achar que alguém da redação lhe desejasse algum mal.

O e-mail chegara um minuto antes. O remetente era redax@aftonbladet.com

Por que justamente Aftonbladet? Mais um endereço fajuto.

A mensagem de hoje não continha texto. Só uma imagem JPEG que ela abriu no Photoshop.

Era uma foto pornográfica de uma mulher nua com seios imensos e uma coleira de cachorro no pescoço. Estava de quatro e se deixando sodomizar.

O rosto da mulher tinha sido modificado. O retoque não estava muito bom, o que decerto nem era o objetivo. O rosto de Erika Berger havia sido colado no lugar do rosto original. A foto era a que lhe servia de assinatura na Millennium e podia ser baixada na internet.

Embaixo da foto, duas palavras tinham sido escritas com a ferramenta Aerógrafo do Photoshop.

Puta nojenta.

Era a nona mensagem anônima que ela recebia chamando-a de "puta nojenta" e parecia ter sido enviada por um grande grupo de comunicação sueco. Ela estava claramente sendo vítima de um ciberassédio.

As escutas telefônicas eram mais difíceis de instalar do que a vigilância de computadores. Trinity não tivera nenhuma dificuldade em localizar o cabo do telefone fixo do procurador Ekstrõm; o problema era que Ekstrõm nunca usava esse telefone, ou só usava raramente, para fazer ligações de trabalho. Trinity nem se esforçou para grampear o telefone de Ekstrõm no Palácio da Polícia de Kungsholmen. Para isso precisaria ter acesso à rede de cabos sueca, o que Trinity não tinha.

Em compensação, Trinity e Bob the Dog passaram praticamente a semana inteira rastreando o celular de Ekstrõm em meio aos ruídos de fundo de quase duzentos mil outros celulares num raio de um quilômetro em torno do Palácio da Polícia.

Trinity e Bob the Dog utilizaram uma técnica chamada Random Frequency Tracking System, a RFTS. Era uma técnica conhecida, desenvolvida pela americana National Security Agency, a NSA, e integrada a um número indeterminado de satélites que vigiavam, de modo pontual, focos de crise particularmente interessantes e capitais que ocorriam no mundo todo.

A NSA dispunha de imensos recursos e usava uma espécie de rede para captar uma quantidade grande de ligações por celular efetuadas simultaneamente num dado perímetro. Cada ligação era individualizada e passada digitalmente para programas criados com o objetivo de reagir a determinados termos, por exemplo, "terrorista" ou "kalachnikov". Se o termo era localizado, o computador enviava automaticamente um sinal, um operador entrava, escutava a conversa e decidia se ela tinha ou não algum interesse.

A coisa complicava quando era preciso identificar um celular específico. Cada celular tem sua assinatura exclusiva — como uma impressão digital —, que é o seu número telefônico. Com aparelhos extremamente sensíveis, a NSA conseguia focalizar determinada área, para distinguir e escutar chamadas feitas por celulares. A técnica era simples, mas não cem por cento segura. As ligações geradas eram especialmente difíceis de identificar, ao passo que as ligações recebidas eram mais fáceis, pois iniciavam com a própria impressão digital destinada ao aparelho chamado para que ele captasse o sinal.

A diferença entre as ambições de Trinity e da NSA em matéria de escuta telefônica era de ordem financeira. A NSA dispunha de um orçamento anual de vários bilhões de dólares, cerca de doze mil agentes em tempo integral e acesso a uma tecnologia de ponta incontestável em computação e telefonia. Trinity, por sua vez, dispunha de uma caminhonete contendo o equivalente a trinta quilos de equipamento eletrônico, boa parte dele feita em casa por Bob the Dog. Graças à sua vigilância global através de satélite, a NSA podia apontar suas antenas extremamente sensíveis para qualquer edifício de qualquer lugar do mundo. Trinity possuía uma única antena fabricada por Bob the Dog, com um alcance efetivo de cerca de quinhentos metros.