— Vou dar ao Holm um mês para que ele mude de atitude. Senão, tiro ele da chefia de Atualidades.
— Você não pode fazer isso. Seu trabalho não é detonar a organização do trabalho.
Erika se calou e examinou o presidente do conselho administrativo.
— Me desculpe, mas não se esqueça que foi exatamente para isso que você me chamou. Nós, inclusive, assinamos um contrato que me dá carta branca para eu fazer as mudanças que julgar necessárias na redação. Minha missão é renovar o jornal, e só posso fazer isso modificando a organização certos hábitos.
— O Holm dedicou a vida dele ao SMP.
— E. E está com cinqüenta e oito anos e vai se aposentar daqui a seis - não posso me dar ao luxo de mantê-lo aqui como um fardo esse tempo todo Assim que me instalei naquele aquário, minha principal missão na vida passou a ser melhorar a qualidade do SMP e aumentar a tiragem. O Holm pode escolher entre fazer as coisas do meu jeito ou ir fazer outra coisa. Pretendo passar por cima de quem quer que se ponha no meu caminho ou que esteja prejudicando o SMP.
Droga... preciso falar da história da Vitavara. O Borgsjõ vai ser despedido. Borgsjõ sorriu de repente.
— Parece que você também tem mão de ferro.
— É verdade, e nesse caso é uma pena, porque não precisaria ser assim. Meu trabalho é fazer um bom jornal, mas só posso conseguir isso se houver uma diretoria que funcione e colaboradores que gostem do que fazem.
Depois da reunião com Borgsjõ, Erika voltou mancando para o aquário. Sentia-se pouco à vontade. Falara com Borgsjõ durante quarenta e cinco minutos e não dissera nada que lembrasse a Vitavara. Em outras palavras, não fora especialmente franca ou sincera com ele.
Quando Erika Berger ligou o computador, viu que recebera um e-mail de MikBlom@millenium.nu Como sabia muito bem que esse endereço eletrônico não existia na Millennium, não foi difícil deduzir que era um novo sinal de vida do seu ciberassediador. Abriu o e-mail.
[ESTÁ ACHANDO QUE O BORGSJÕ VAI PODER TE SALVAR, SUA PUTINHA NOJENTA? COMO VAI O SEU PÉ?]
Ergueu os olhos e fitou instintivamente a redação. Seu olhar bateu em Holm. Ele olhava para ela. Então ele lhe acenou com a cabeça e sorriu. Esses e-mails são de alguém aqui do SMP.
A reunião na Proteção à Constituição não terminou antes das cinco da tarde. Marcaram outra para a semana seguinte e combinaram que Mikael Rlomkvist deveria procurar Rosa Figuerola caso precisasse entrar em contato com a Sapo antes disso. Mikael pegou a mochila com seu computador e se levantou.
- Como eu faço para encontrar a saída? — perguntou.
- Acho que você não deveria andar sozinho por aqui — disse Edklinth.
- Eu o acompanho — sugeriu Rosa Figuerola. — Espere um pouco,
vou só pegar umas coisas na minha sala.
Saíram juntos pelo parque de Kronoberg na direção da Fridhemsplan.
— O que vai acontecer agora? — perguntou Mikael.
— Vamos ficar em contato — disse Rosa Figuerola.
— Estou começando a gostar desse contato com a Sapo — disse Mikael, sorrindo para ela.
— O que você acha de jantarmos juntos mais à noite?
— No restaurante bósnio de novo?
— Não, não tenho condições de jantar fora toda noite. Pensei numa coisinha simples lá em casa.
Ela parou e sorriu para ele.
— Pra ser sincera, sabe o que eu estou com vontade de fazer agora, neste momento? — disse ela.
— Não.
— Estou com vontade de te levar rapidinho para a minha casa e tirar a sua roupa.
— Isso pode ficar complicado.
— Eu sei. Não tenho propriamente a intenção de comentar com o meu chefe.
— Não faço idéia de como toda essa história vai evoluir. A gente talvez acabe em lados opostos da trincheira.
— Eu assumo o risco. Você vem por vontade própria ou vou ter que algemá-lo?
Ele balançou a cabeça. Ela passou o braço pelo ombro dele e conduziu-o até a Pontonjargatan. Estavam nus trinta segundos depois que a porta do apartamento dela se fechou.
David Rosin, consultor de segurança da Milton Security, esperava Eric Berger quando ela chegou em casa por volta das sete da noite. Ela estava com uma dor terrível no pé e foi se arrastando até a cozinha, onde se deixou cair na primeira cadeira que encontrou. Ele tinha feito um café e serviu-lhe uma xícara.
— Obrigada. O café está incluído nos serviços da Milton?
Ele sorriu educadamente. David Rosin era um homem rechonchudo de uns cinqüenta anos de idade.
— Obrigado por ter me emprestado a cozinha durante o dia todo.
— Era o mínimo que eu podia fazer. Como vão as coisas?
— Nossos técnicos vieram instalar um alarme decente. Daqui a pouco eu mostro como funciona. Também passei um pente-fino na sua casa, do porão ao sótão, e examinei as redondezas. Na seqüência desta operação, eu vou conversar sobre a sua situação com os meus colegas da Milton, e daqui a alguns dias teremos uma análise pronta para discutir com a senhora. Enquanto isso, há algumas coisinhas que precisaríamos ver.
— Estou escutando.
— Em primeiro lugar, temos uns papéis para assinar. Mais tarde vamos redigir o contrato definitivo, dependendo de que serviços a senhora vai querer, mas tenho aqui um formulário pelo qual a senhora incumbe a Milton de instalar o alarme que já instalamos hoje. É um contrato-padrão recíproco, pelo qual nós da Milton estabelecemos algumas exigências e, em troca, nos comprometemos a algumas coisas, entre elas o sigilo profissional, esse tipo de coisa.
— Vocês fazem exigências?
— Sim. Um alarme é um alarme e não significa muito se houver um louco furioso armado com uma metralhadora na sua sala. Para ter certeza de que ele será útil, a senhora e o seu marido terão de considerar alguns pontos e aceitar algumas medidas. Vamos analisar esses pontos juntos.
— Vamos lá.
— Não posso antecipar a análise definitiva, mas por enquanto vejo a situação da seguinte maneira. A senhora e o seu marido moram numa casa. Atrás da casa há uma praia e algumas casas grandes na vizinhança. Até onde percebi, os vizinhos não têm uma visão de sua casa, que fica relativamente isolada.
— Exato.
- Isso significa que um intruso tem boas condições de se aproximar da sua casa sem ser visto.
— Os vizinhos da direita viajam a maior parte do ano, e à esquerda mora um casal idoso que costuma dormir cedo.
— Exato. Além disso, as casas dão uma para a outra pela lateral, onde há poucas janelas. Caso um intruso penetre no seu terreno, e ele só precisa de cinco segundos para vir da estrada até os fundos, não há como ninguém perceber. Os fundos estão cercados por uma sebe alta, uma garagem e outra construção isolada.
— É o ateliê do meu marido.
— Pelo que entendi, ele é artista.
— Isso. E o que mais?
— O intruso que quebrou a janela e pichou a fachada pôde fazer isso com toda a tranqüilidade. Ele apenas se arriscou a que o barulho de vidro quebrado fosse ouvido e alguém reagisse, mas como a casa forma um L, o barulho é abafado pela fachada.
— Puxa.
— Outro ponto é que vocês têm uma casa grande, de duzentos e cinqüenta metros quadrados, sem contar o sótão e o porão. São onze cômodos distribuídos em dois pisos.
— Essa casa é monstruosa. E a casa de infância do Lars, que ele herdou dos pais.
— Pode-se também entrar na casa de várias maneiras. Pela porta da frente, pelo terraço dos fundos, pela varanda do andar de cima e pela garagem. Além disso, há janelas no térreo e seis janelas no porão sem proteção nenhuma. Por fim, pode-se entrar usando também a escada de incêndio nos fundos da casa, passando pela lucarna do sótão, que está fechada com um simples trinco.
— De fato, as portas desta casa não são muito herméticas. O que precisamos fazer?
— O alarme que instalamos hoje é apenas provisório. Vamos voltar na semana que vem e fazer uma instalação em regra, com alarme em todas as janelas do térreo e do porão. Será uma proteção contra arrombamento, para quando vocês viajarem.