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Rosa Figuerola e Mikael Blomkvist só saíram do quarto às dez da noite enrolados nos lençóis, para ir à cozinha de Rosa preparar uma salada de ma carrão com atum, bacon e outras sobras encontradas na geladeira. Estavam bebendo água. De repente, Rosa começou a gargalhar.

— O que foi?

— Imagino que o Edklinth ficaria meio chocado se nos visse agora. Não acho que ele estava me estimulando a dormir com você quando disse que era para eu ficar em contato.

— Foi você que começou. Eu só podia escolher entre vir algemado ou por vontade própria.

— Eu sei. Mas não foi tão difícil te convencer.

— Você talvez não tenha consciência, embora eu ache que sim, que tudo em você é um convite para o sexo. Você acha que algum homem resistiria?

— Obrigada. Mas não me acho tão sexy. E não vou para a cama com alguém tão rápido.

— Humm.

— Verdade. Não é muito freqüente eu acabar na cama com um homem. Andei mais ou menos namorando um cara na primavera. Mas acabou.

— Por quê?

— Ele até que era bonitinho, mas acabou virando uma queda de braço meio cansativa. Eu era mais forte que ele e ele não agüentou.

— Ah.

— Você é do tipo que vai querer fazer queda de braço comigo?

— Você está querendo saber se eu sou o tipo de homem que se incomoda se você estiver mais em forma e mais malhada do que eu? Não.

—  Seja sincero. Reparei que muitos homens ficam interessados, mas depois começam a entrar numas de desafio e tentam achar um jeito de me dominar. Principalmente quando descobrem que sou tira.

— Não pretendo competir com você. O que eu sei fazer, faço melhor que você. E o que você sabe fazer, faz melhor que eu.

— Ótimo. Está aí uma postura que combina comigo.

— Por que você deu em cima de mim?

— Eu costumo seguir os meus impulsos. E você foi um desses impulsos.

— Certo. Mas você é uma policial da Sapo, o que não é pouca coisa, e por acaso está envolvida numa investigação em que eu sou um dos personagens...

- Você está querendo dizer que eu não fui profissional. Tem razão.

Mão deveria ter feito isso. E estarei encrencada se souberem. Edklinth ficaria furioso.

— Eu é que não vou dedurar.

— Obrigada.

Ficaram calados por um instante.

— Não sei no que isso vai dar. Pelo que entendi, você é um cara cheio de mulheres no currículo. Confere?

— Sim. Infelizmente. E acho que não estou procurando namorada fixa.

— Certo. Estou avisada. Acho que eu também não estou procurando um namorado fixo. Você concorda se a gente ficar na amizade?

— Prefiro assim. Rosa, não vou contar para ninguém que ficamos juntos, mas, se alguma coisa der errado, eu poderia ficar numa saia justa com seus colegas.

— Acho que não. O Edklinth é legal. E estamos muito dispostos a pegar esse clube Zalachenko. Parece uma loucura, se as suas teorias estiverem certas.

— Vamos ver.

— Você também teve um caso com a Lisbeth Salander. Mikael ergueu os olhos e encarou Rosa.

— Ei... eu não sou um diário íntimo que todo mundo pode ler. Ninguém tem nada a ver com a minha relação com a Lisbeth.

— Ela é filha do Zalachenko.

— É. E tem que conviver com isso. Mas ela não é o Zalachenko. Tem uma enorme diferença aí.

— Não foi isso que eu quis dizer. Eu só estava me perguntando sobre o seu envolvimento nessa história.

— A Lisbeth é minha amiga. É razão mais que suficiente.

Susanne Linder, da Milton Security, estava usando jeans, uma jaqueta de couro preta e tênis de corrida. Chegou a Saltsjõbaden por volta das nove da noite, foi inteirada da situação por David Rosin e deu uma volta pela casa com ele. Trazia um laptop, um cassetete da polícia, uma bomba de gás lacrimogêneo, algemas e uma escova de dentes numa mochila militar verde que ela abriu no quarto de hóspedes de Erika Berger. Erika lhe ofereceu um café.

— Obrigada. A senhora talvez me veja como uma visita e ache que tem obrigação de me agradar de todas as maneiras possíveis. Na verdade, não tenho nada de visita. Sou um mal necessário que apareceu de repente na sua vida, mesmo que seja só por uns dias. Trabalhei seis anos como policial e quatro na Milton Security. Tenho diploma de guarda-costas.

— Ahã.

— Existe uma ameaça contra a senhora e estou aqui como sua guardiã, para que a senhora possa dormir tranqüila, trabalhar, ler um livro, fazer o que tiver vontade. Se precisar conversar, estou pronta para escutá-la. Se não, eu trouxe um livro para me fazer companhia.

— Ótimo.

— O que eu quero dizer é que a senhora pode seguir com a sua vida sem se sentir no dever de me dar atenção. Senão, logo vai começar a me sentir como uma intrusa no seu dia a dia. O melhor seria me considerar uma colega ocasional.

— A verdade é que não estou acostumada com este tipo de situação. Já recebi ameaças na época em que era diretora da Millennium, mas tinha a ver com meu trabalho. Agora trata-se de uma pessoa superdesagradável que...

— Que pegou no seu pé.

— É, por aí.

— Se tivermos mesmo que montar uma proteção pessoal, isso vai lhe custar os olhos da cara e teríamos que conversar com o Dragan Armanskij. Só valeria a pena se a ameaça fosse muito clara e específica. Faço isso apenas para ganhar um dinheirinho extra. Cobro quinhentas coroas por noite para dormir aqui até o final da semana, em vez de dormir na minha casa. Não é caro, é muito menos do que eu pediria se pegasse esse serviço por intermédio da Milton. Está bem para a senhora?

— Está muito bem.

— Se acontecer o que quer que seja, quero que se tranque no quarto e deixe o agito por minha conta. A senhora só precisa acionar o alarme anti-agressão.

— Entendo.

— Estou falando sério. Não quero a senhora me atrapalhando se houver confusão.

Erika Berger foi se deitar por volta das onze horas. Ouviu o estalido da fechadura quando fechou a porta do quarto. Despiu-se, pensativa, e deitou-se na cama.

Embora sua convidada a tivesse encorajado a não lhe dar atenção, passara duas horas com Susanne Linder à mesa da cozinha. Descobrira que elas se entendiam bem e que a conversa fluía sem dificuldade. Tinham falado sobre psicologia e essa tendência que leva alguns homens a perseguir mulheres. Susanne Linder afirmara que não estava nem aí para a lenga-lenga psicológica. Disse que era importante deter os malucos, que gostava muitíssimo do seu trabalho na Milton Security e que sua missão era, em boa parte, servir de medida preventiva contra os doidos.

— Por que você saiu da polícia? — perguntou Erika Berger.

— Pergunte antes por que me tornei policial.

— Certo. Por que você se tornou policial?

— Porque, quando eu tinha dezessete anos, uma amiga íntima minha foi agredida e estuprada por três marginais dentro de um carro. Eu me tornei policial porque tinha uma imagem romântica da polícia, achava que ela existia para impedir esse tipo de crime.

— Sim...

— Não consegui impedir coisíssima nenhuma. Como policial, eu sempre chegava ao local depois que o crime já tinha sido cometido. Não agüentei ser a idiota que faz perguntas idiotas na viatura da polícia. E logo descobri que certos crimes nunca são solucionados. Você é um bom exemplo. Você tentou avisar a polícia do que aconteceu?

— Tentei.

— E a polícia veio correndo para cá?

— Não exatamente. Sugeriram que eu fizesse um B. O. na delegacia mais próxima.

— Bem, então você entende. Agora trabalho para o Armanskij e entro em cena antes de o crime ser cometido.

— Ameaças contra mulheres?

— Trabalho em várias direções. Análise de segurança, proteção pessoal vigilância etc. Mas muitas vezes se trata de pessoas que receberam ameaças e gosto muito mais disso que da polícia.

— Humm.

— Mas reconheço que também existe um inconveniente.