Выбрать главу

— Mikael, eu não estou brincando.

Quando Erika Berger foi para o Svenska Morgon-Posten no sábado de manhã, estava com um nó no estômago. Sentia que começava a dominar o modo de fazer o jornal e na verdade planejara tirar folga no fim de semana — pela primeira vez desde que entrara no SMP—, porém ter descoberto que suas lembranças mais pessoais e íntimas haviam sumido junto com o relatório sobre Borgsjõ a impedia de relaxar totalmente.

Durante sua noite em claro, passada em boa parte na cozinha com Su-sanne Linder, Erika esperara que Pena Podre atacasse outra vez e que imagens suas, que podiam ser tudo menos lisonjeiras, fossem rapidamente divulgadas. A internet era uma arma perfeita para os canalhas. Meu Deus, um vídeo em que eu apareço trepando com meu marido e outro homem, e eu vou sair nos jornais sensacionalistas do mundo inteiro. Não poderia haver coisa mais íntima.

Durante toda a noite, fora torturada pelo pânico e pela angústia.

Por fim, Susanne Linder a obrigara a ir se deitar.

Levantou-se às oito horas e foi para o SMP. Não conseguia ficar longe por muito tempo. Se havia uma tempestade esperando por ela, queria ser a primeira a enfrentá-la.

Mas na equipe de redação, reduzida por ser sábado, estava tudo normal. As pessoas a cumprimentaram cordialmente quando ela passou pelo pólo central. Lukas Holm não estava trabalhando. Peter Fredriksson chefiava Atualidades.

— Oi, achei que você não vinha trabalhar hoje.

— Eu também. Mas ontem eu não estava bem, e tenho umas pendências. Alguma novidade?

— Não, o noticiário está fraco. O que temos de mais excitante é a divulgação de uma melhora na situação do setor madeireiro na Dalecarlia e um assalto em Norrkõping com um ferido.

— Certo. Vou trabalhar um pouco na primeira página.

Sentou-se, apoiou as muletas na estante de livros e se conectou à internet. Primeiro, abriu os e-mails. Tinha recebido vários, mas nada do Pena Podre. Franziu o cenho. Já haviam se passado dois dias desde o assalto a sua casa e ele ainda não reagira ao que deveria representar um autêntico tesouro de possibilidades. Por quê? Será que está pretendendo mudar de tática? Quer me deixar em suspense?

Como ela não tinha nenhum trabalho especial para fazer, abriu o arquivo da estratégia para o SMP que estava escrevendo. Ficou olhando para a tela por uns quinze minutos, sem nem ver as letras.

Tinha tentado falar com Lars, sem sucesso. Nem sabia se o celular dele funcionava em outro país. Claro que poderia localizá-lo se fizesse um esforço, mas sentia-se completamente apática. Ou melhor, sentia-se desesperada e paralisada.

Tentou ligar para Mikael Blomkvist no intuito de avisar que o dossiê Borgsjõ havia sido roubado. Ele não atendia.

Às dez da manhã, ainda não tinha feito nada de importante e resolveu voltar para casa. Estava estendendo a mão para desligar o computador quando seu ICQ tilintou. Atônita, fitou o menu. Sabia o que era o ICQ, mas raramente entrava em chats e nunca usara aquele programa desde que começara no SMP.

Hesitante, clicou em Responder.

[Oi, Erika.]

[Oi. Quem é?]

[É particular. Você está sozinha?]

Uma armadilha? Pena Podre?

[Estou. Quem é você?]

[A gente se conheceu no apartamento do Super-Blomkvist quando ele voltou de Sandhamn.]

Erika contemplou a tela. Levou alguns segundos até entender. Lisbeth Salander, isso é impossível.

[Você está aí?] [Estou.]

[Sem citar nomes. Você sabe quem eu sou?] [Como posso saber que não é uma armadilha?] [Eu sei como o Milcael adquiriu aquela cicatriz no pescoço.]

Erika engoliu em seco. Apenas quatro pessoas no mundo sabiam como ele adquirira aquela cicatriz. Lisbeth Salander era uma delas.

[Certo. Mas como você está conseguindo falar comigo?] [Eu costumo me sair bem em computação.]

A Lisbeth Salander é fera em computação. Mas queria que alguém me explicasse como ela consegue se comunicar estando em Sahlgrenska e isolada desde abril.

[Certo.]

[Posso confiar em você?]

[Em que sentido?]

[Esta conversa tem que ficar entre nós.]

Ela não quer que a polícia saiba que ela tem acesso à internet. Claro. Por isso é que ela está batendo papo com a redatora-chefe de um dos maiores jornais da Suécia.

[Não tem problema. O que você quer?] [Ressarcir.] [Como assim?] [A Millennium me apoiou.] [Fizemos o nosso trabalho.] [Ao contrário de outros veículos.]

[Você não é culpada das acusações que estão lhe fazendo.] [Tem um canalha assediando você.]

O coração de Erika disparou. Hesitou por um bom tempo.

[O que você sabe?]

[Vídeo roubado. Arrombamento.] [Sim. Você pode fazer alguma coisa?]

Erika Berger custou a acreditar que ela mesma tinha feito aquela pergunta. Era uma loucura absoluta. Lisbeth Salander estava hospitalizada em Sahlgrenska e já estava mais que saturada de problemas. Era a pessoa menos provável para Erika pedir ajuda.

[Não sei. Deixe eu tentar.] [Como?]

[Pergunta. Você acha que esse cretino é do SMP?] [Não tenho como provar.] [Por que você acha que ele é do SMP?]

Erika ponderou por algum tempo antes de responder.

[É uma sensação. Começou quando eu entrei no SMP. Outras pessoas do jornal também receberam e-mails desagradáveis do Pena Podre como se tivessem sido mandados por mim.]

[Pena Podre?]

[E assim que eu chamo esse canalha.]

[Certo. Por que o Pena Podre estaria mirando em você e não em outra pessoa?]

[Não sei.]

[Há alguma coisa que indique que é pessoal?]

[Como assim?]

[Quantos funcionários tem no SMP?]

[Cerca de 230, incluindo a editora.]

[Quantos você conhece pessoalmente?]

[Não sei dizer ao certo. Conheci vários jornalistas e colaboradores ao longo dos anos, em diferentes situações.]

[Você já se indispôs com algum deles?]

[Não. Nada especial.]

[Alguém pode estar querendo se vingar?]

[Se vingar? Do quê?]

[A vingança é um motivo poderoso.]

Erika olhou para a tela tentando entender a que Lisbeth Salander estaria referindo.

[Você está aí?]

[Estou. Por que você falou em vingança?]

[Eu li a lista do Rosin com todos os incidentes que você associa ao Pena Podre.]

Por que é que eu não estou surpresa?

[Certo???]

[Ele não tem jeito de assediador.]

[O que você quer dizer?]

[Um assediador é alguém dominado pela obsessão sexual. Esse parece que está imitando o tipo assediador. Chave de fenda na bunda... imagina, isso é pura paródia.]

[Ah, é?]

[Já vi assediadores de verdade. São muito mais perversos, vulgares e grotescos. Expressam amor e ódio ao mesmo tempo. Essa história não está batendo direito.]

[Você acha que não está suficientemente vulgar.]

[Não. O e-mail para a Eva Carlsson não tem nada a ver. Isso é alguém querendo te perturbar.]

[Sei. Eu não estava vendo as coisas por esse ângulo.]

[Não é um maníaco sexual. E algo contra você, pessoal.]

[Bem, e o que você sugere?]

[Você confia em mim?]

[Talvez.]

[Preciso acessar a rede do SMP.]

[Ei, calma lá!]

[Não demora, eu vou ser transferida e vou ficar sem internet.]

Erika hesitou por uns dez segundos. Entregar o SMP a... a quem? A uma verdadeira maluca? Claro, Lisbeth era inocente dos assassinatos de que fora acusada, porém, definitivamente, não era uma pessoa normal.

Mas o que ela tinha a perder?

[Como?]

[Preciso instalar um programa no seu computador.]

[A gente tem firewall.]

[Você vai me ajudar. Entre na internet.]

[Isso eu já estou.]

[Explorer?]

[Sim.]

[Vou escrever um endereço. Copie e cole no Explorer.]

[Pronto.]

[Você está vendo uma lista com uma quantidade de programas. Clique em Asphyxia Server e carregue.]

Erika seguiu as instruções.

[Pronto.]

[Inicie o Asphyxia. Clique em Instalar e escolha o Explorer.]