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A operação levou três minutos.

[Pronto. Certo. Agora você tem que reiniciar o computador. Vamos perder o contato por um momento.]

[Certo.]

[Quando nos reconectarmos, vou transferir o seu disco rígido para um servidor da internet.]

[Certo.]

[Pode reiniciar. Até daqui a pouco.]

Erika Berger olhou fascinada para a tela enquanto seu computador reiniciava devagar. Perguntava-se se estava totalmente bem da cabeça. Então seu ICQ tilintou.

[Olá de novo.]

[Olá.]

[Vai ser mais rápido se você fizer. Conecte-se à internet e copie o endereço que vou lhe passar por e-mail.]

[Certo.]

[Você vai ver uma pergunta. Clique em Start.]

[Certo.]

[Agora estão pedindo que você dê um nome ao disco rígido. Ponha SMP-2.]

[Certo.]

[Pode ir buscar um café. Vai demorar um tempinho.]

Rosa Figuerola acordou, no sábado, por volta das oito da manhã, quase duas horas depois de seu horário habitual. Sentou-se na cama e contemplou Mikael Blomkvist. Ele roncava. Bem, ninguém é perfeito.

Perguntou-se aonde aquela história com Mikael Blomkvist iria levá-la. Ele não era do tipo fiel, com quem se podia investir num relacionamento a longo prazo — isso ela logo viu ao analisar a biografia dele. Por outro lado, ela não tinha realmente certeza de estar buscando um relacionamento estável, com noivo, geladeira e crianças. Depois de uma dúzia de tentativas fracassadas desde a adolescência, achava cada vez mais que o mito do relacionamento estável era superestimado. Seu relacionamento mais duradouro se mantivera por dois anos, com um colega de Uppsala.

Ela tampouco era o tipo de mulher que se envolvia em aventuras sexuais de uma só noite, mesmo achando que muitas pessoas se esqueciam do valor inestimável do sexo como um remédio para praticamente tudo. E o sexo com Mikael Blomkvist era muito legal. Mais que legal, aliás. Ele era um cara bacana. Dava vontade de repetir.

Aventura de férias? Namorico? Estaria apaixonada?

Foi até o banheiro, passou uma água no rosto, escovou os dentes, enfiou um short e uma camiseta de corrida e saiu do apartamento pé ante pé. Fez um alongamento e trotou quarenta e cinco minutos em volta do hospital de Râlambshov, via Fredhàll, retornando por Smedsudden. Voltou para casa às nove horas e viu que Blomkvist ainda dormia. Inclinou-se e mordiscou-lhe a orelha até ele abrir uns olhos enevoados.

— Bom dia, meu querido. Estou precisando de alguém para esfregar as minhas costas.

Ele a olhou fixamente e resmungou alguma coisa.

— O que você disse?

— Você não precisa tomar banho. Já está hiper molhada.

— Eu fui correr. Você deveria ir comigo.

— Se eu tentar acompanhar o seu ritmo, você vai ter que chamar uma ambulância. Parada cardíaca na Norr Málastrand.

— Não diga bobagem. Vamos lá. Você precisa acordar.

Ele esfregou-lhe as costas e ensaboou seus ombros. E quadris. E barriga. E seios. Momentos depois, Rosa Figuerola perdera totalmente o interesse pelo banho e o arrastou de volta para a cama. Só saíram por volta das onze horas, para tomar um café no Norr Malastrand.

— Você tem tudo para virar um mau hábito — disse Rosa. — Faz só alguns dias que a gente se conhece.

— Tenho um tesão louco por você. Mas acho que isso você já sabe. Ela fez que sim com a cabeça.

— Por quê?

— Ah, eu não sei dizer. Nunca entendi por que uma mulher de repente me atrai enquanto outra não me interessa nem um pouco.

Ela sorriu, pensativa.

— Hoje eu não trabalho — disse.

— E eu sim. Tenho um monte de coisas para fazer antes do início do julgamento, e passei as três últimas noites na sua casa em vez de trabalhar.

— Que pena.

Ele se levantou e deu-lhe um beijo no rosto. Ela o segurou pela manga da camisa.

— Blomkvist, tenho muita vontade de continuar vendo você.

— Eu também — disse ele. — Mas vai haver altos e baixos até que a gente consiga levar essa, história para um final feliz.

Ele desapareceu na direção de Hantverkargatan.

Erika Berger retornara com seu café e observava a tela. Não havia acontecido nada durante quarenta e cinco minutos, a não ser o protetor de tela entrando de tempos em tempos. Por fim seu ICQ tilintou novamente.

[Pronto. Tem um monte de porcaria no seu disco rígido, inclusive dois vírus.] [Sinto muito. E o que vem agora?] [Quem é o administrador da rede do SMP?]

[Não sei. Provavelmente o Peter Fleming, que é o diretor de tecnologia.] [Certo.]

[O que eu devo fazer?] [Nada. Volte para casa.] [Assim, simplesmente?]

[Eu dou notícias.]

[Tenho que deixar o computador ligado?]

Mas Lisbeth Salander já tinha saído do ICQ. Erika Berger olhou para a tela, frustrada. Por fim, desligou o computador e saiu, buscando uma cafeteria onde pudesse refletir sem ser interrompida.

20. SÁBADO 4 DE JUNHO

Mikael Blomkvist desceu do ônibus em Slussen, pegou o elevador Katarina para subir até Mosebacke e em seguida rumou para o número 9 da Fiskargatan, subindo até o apartamento. Tinha comprado pão, leite e queijo no mercadinho em frente ao Conselho Geral e, antes de mais nada, guardou as compras na geladeira. Depois ligou o computador de Lisbeth Salander.

Após pensar um instante, ligou também seu Ericsson TIO azul. Deixou para lá o celular normal, já que, de todo modo, não queria falar com ninguém que não estivesse relacionado com o caso Zalachenko. Verificou que recebera seis chamadas nas últimas vinte e quatro horas, três de Henry Cortez, duas de Malu Eriksson e uma de Erika Berger.

Ligou primeiro para Henry Cortez, que estava num café da Vasastan e tinha umas coisinhas para lhe mostrar, mas nada urgente.

Malu Eriksson tinha ligado só para dar notícias.

Em seguida ligou para Erika Berger, mas estava ocupado.

Entrou no grupo Yahoo [Tavola-Biruta] e encontrou a versão final da biografia de Lisbeth Salander. Balançou a cabeça, sorrindo, imprimiu o documento e iniciou imediatamente a leitura.

Lisbeth Salander teclava no seu Palm Tungsten T3. Passara uma hora explorando a rede do SMP através da conta de usuário de Erika Berger. Nem entrara na conta de Peter Fleming, pois não precisava dos direitos de usuário. 0 que a interessava era ter acesso à administração do SMP e daí aos arquivos dos funcionários. E Erika Berger tinha esse direito de acesso.

Lamentava amargamente que Mikael Blomkvist não tivesse tido a gentileza de lhe repassar seu PowerBook, com um teclado de verdade e uma tela de dezessete polegadas, em vez do computador de mão. Fez o download de uma lista de todos que trabalhavam no SMP e se pôs ao trabalho. Eram duzentas e vinte e três pessoas, das quais oitenta e duas eram mulheres.

Para começar, eliminou todas as mulheres. Não que as mulheres estivessem isentas da loucura, mas as estatísticas demonstravam que a esmagadora maioria das pessoas que assediavam mulheres era homem. Restavam cento e quarenta e uma pessoas.

As estatísticas também indicavam que os Penas Podres eram, em sua maioria, adolescentes ou pessoas de meia-idade. Como não havia nenhum adolescente empregado no SMP, ela traçou uma curva de idade e eliminou todos os que tinham mais de cinqüenta e cinco anos e menos de vinte e cinco. Restavam cento e três pessoas.

Refletiu por um momento. Não dispunha de muito tempo. Talvez menos de vinte e quatro horas. Tomou rapidamente uma decisão. De uma ceifada só, eliminou todos os funcionários da distribuição, publicidade, imagem, manutenção e suporte técnico. Com isso, concentrou-se no grupo "jornalistas e equipe de redação" e obteve uma lista com quarenta e oito homens entre vinte e seis e cinqüenta e quatro anos.

Escutou o tilintar de um molho de chaves, desligou imediatamente o computador e o colocou debaixo do cobertor, entre suas coxas. Seu último almoço de sábado em Sahlgrenska acabava de chegar. Resignada, contemplou o refogado de repolho. Sabia que, depois do almoço, poderia trabalhar durante algum tempo sem ser interrompida. Enfiou o Palm na cavidade atrás do criado-mudo e armou-se de paciência enquanto duas africanas passavam o aspirador de pó e arrumavam sua cama.