— Parece que estão começando a se mexer.
— Certo. Estamos prontos. Silêncio.
— Estão se despedindo na frente da porta. O Jonas está indo para o norte. A Lottie segue o Teleborian para o sul.
Mikael ergueu um dedo e apontou para Jonas, que ia passando na Vasagatan. Rosa Figuerola fez um sinal com a cabeça. Alguns segundos depois, Mikael também viu Henry Cortez. Rosa Figuerola ligou o carro.
__Atravessou a Vasagatan e está indo para a Kungsgatan — disse Henry Cortez pelo celular.
- Mantenha distância, ele não pode te ver.
- Fica frio, as ruas estão cheias de gente.
Silêncio.
— Ele está subindo a Kungsgatan no sentido norte. -— Kungsgatan, norte — disse Mikael.
Rosa Figuerola engatou a marcha e entrou na Vasagatan. Ficaram um instante parados no sinal vermelho.
— Onde é que vocês estão? — perguntou Mikael, quando eles entraram na Kungsgatan.
— Na altura da loja PUB. Ele está indo depressa. Atenção, está pegando a Drottninggatan no sentido norte.
— Drottninggatan, norte — disse Mikael.
— Certo — disse Rosa Figuerola, que fez um retorno proibido para passar pela Klara Norra e entrar rapidamente na Olof Palmes gata e parar em frente ao prédio da SIF. Jonas estava atravessando a Olof Palmes gata e se dirigia para a Sveavãgen. Henry Cortez o seguia do outro lado da rua.
— Ele virou para leste...
— Certo. Estamos vendo vocês dois.
— Está entrando na Hollândaregatan... Alô! Está me ouvindo? Carro. Audi vermelho.
— Carro — disse Mikael, e anotou o número da placa que Cortez informou correndo.
— Ele está estacionado em que direção? — perguntou Rosa Figuerola.
— De frente para o sul — relatou Cortez. — Vai aparecer na frente de vocês na Olof Palmes gata... agora.
Rosa Figuerola já estava em movimento e passou a Drottninggatan. Buzinou e fez sinal para que alguns pedestres que tentavam atravessar o semáforo no vermelho recuassem.
— Obrigado, Henry. Daqui para a frente a gente assume.
O Audi vermelho vinha descendo a Sveavãgen rumo ao sul. Rosa Figuerola o seguiu enquanto pegava o celular e teclava um número com a mão esquerda. .
— Eu queria uma pesquisa sobre o número de uma placa, Audi vermelho — disse ela, e passou o número fornecido por Henry Cortez. — Sim estou ouvindo. Jonas Sandberg, nascido em 1971. O que você disse?... j-[e] singõrsgatan, em Sollentuna. Obrigada.
Mikael anotou os dados obtidos por Rosa Figuerola.
Seguiram o Audi vermelho pela Hamngatan, pela Strandvàgen e em seguida pela Artillerigatan. Jonas Sandberg estacionou a um quarteirão do Museu do Exército. Atravessou a rua e desapareceu pela porta de um prédio estilo 1900.
— Humm — fez Rosa Figuerola, olhando para Mikael com ar entendido.
Ele assentiu com a cabeça. Jonas Sandberg acabava de entrar num edifício situado a apenas poucas ruas do prédio em que o primeiro-ministro emprestara um apartamento para uma reunião privada.
— Bom trabalho — disse Rosa.
Neste exato momento, Lottie Karim ligou contando que o Dr. Peter Teleborian subira a Klaragatan pela escada rolante da estação central e fora para o Palácio da Polícia em Kungsholmen.
— Palácio da Polícia. Às cinco da tarde de um sábado? — surpreendeu-se Mikael.
Rosa Figuerola e Mikael Blomkvist se olharam, céticos. Rosa refletiu concentradamente por alguns segundos. Então pegou o celular e ligou para o inspetor Jan Bublanski.
— Olá. É a Rosa, da Segurança. Nós nos vimos na Norr Malastrand algum tempo atrás.
— O que você quer? — perguntou Bublanski.
— Você tem alguém de plantão neste fim de semana?
— A Sonja Modig — disse Bublanski.
— Eu preciso de um favor. Você sabe se ela está em casa?
— Duvido. Está um dia lindo, e em pleno sábado à tarde...
— Certo. Você poderia tentar contatá-la, ou contatar alguma outra pessoa da investigação que pudesse dar uma olhada no corredor do procurador Richard Ekstrõm? Desconfio que pode estar havendo uma reunião na sala dele agora.
— Uma reunião?
— Não dá tempo de explicar. Eu precisava saber se ele está com alguém neste exato momento. E, se estiver, com quem.
— Você está me pedindo para espionar um procurador, e que é o meu chefe?
Rosa Figuerola fez uma careta. Então deu de ombros.
— Estou — respondeu.
— Está bem — disse ele ao desligar.
Sonja Modig encontrava-se mais perto do Palácio da Polícia do que Bublanski temia. Ela e o marido estavam tomando café na varanda da casa de uma amiga na Vasastan. Fazia uma semana que estavam sem os filhos, que os pais de Sonja tinham levado em uma viagem de férias, e ela e o marido tinham planejado fazer algo bem convencional, como comer alguma coisa num restaurante antes de irem ao cinema.
Bublanski explicou o que queria.
— E que desculpa eu vou dar para aparecer na sala do Ekstrõm?
— Eu tinha prometido entregar para ele ontem, antes de ir embora, uma atualização do caso Niedermann, mas me esqueci. A pasta está na minha sala.
— Certo — disse Sonja Modig.
Ela olhou para o marido e para sua amiga.
— Preciso dar um pulo no palácio. Vou pegar o carro e, se eu tiver sorte, estou de volta daqui uma hora.
Seu marido suspirou. Sua amiga suspirou.
— Afinal, estou de plantão — justificou Sonja Modig.
Ela estacionou na Bergsgatan, subiu até a sala de Bublanski e pegou as três folhas A4 que constituíam o parco resultado das investigações para encontrar Ronald Niedermann, o assassino de um policial. Nada de espetacular, pensou.
Foi até a escadaria e subiu um andar. Parou na frente da porta de acesso ao corredor. O Palácio da Polícia estava praticamente deserto naquele final de tarde de um lindo dia. Não procurou dissimular nada. Apenas caminhou bem devagar. Deteve-se diante da porta fechada de Ekstrõm. Ouviu o som de vozes e mordeu o lábio.
De repente, a coragem a abandonou e ela se sentiu muito tola. Em uma situação normal, teria batido, aberto a porta e exclamado: Ah, oi, você ainda está aí, e teria entrado. Naquele momento, no entanto, parecia impossível agir dessa forma.
Olhou ao redor.
Por que Bublanski tinha ligado para ela? Que reunião era aquela?
Dirigiu-se à salinha de reuniões em frente à sala de Ekstrõm, planejada para umas dez pessoas. Muitas vezes estivera ali para ouvir comunicados.
Entrou na sala e fechou a porta sem fazer barulho. As persianas estavam abaixadas, e as cortinas da janela de vidro que dava para o corredor, fechadas. A sala estava imersa na penumbra. Pegou uma cadeira, sentou-se e afastou uma das cortinas para obter uma fresta pequena que lhe permitisse observar o corredor.
Sentia-se pouco à vontade. Se alguém abrisse a porta, seria muito difícil explicar o que estava fazendo ali. Pegou o celular para ver as horas. Quase seis. Colocou o aparelho no modo silencioso, recostou-se na cadeira e ficou observando a porta fechada da sala de Ekstrõm.
Às sete da noite, Praga chamou Lisbeth Salander.
[Pronto. Já sou o administrador do SJVÍP.] [Onde?]
Ele baixou um endereço http.
[Em 24 horas não vai dar. Mesmo que a gente consiga todos os e-mails dos 18 homens, vai levar dias para piratear os computadores pessoais deles. A maioria provavelmente nem está conectada num sábado à noite.]
[Pragua, concentre-se nos computadores pessoais e eu cuido dos computadores do SJVÍP.]
[É o que eu tinha pensado. Seu computador de mão é meio limitado. Quer que eu foque alguém em especial?]
[Não. Qualquer um serve.]
[Certo.]
[Praga.]
[Sim.]
[Se a gente não achar nada até amanhã, quero que você continue.]
[Certo.]
[Nesse caso, eu vou pagar.]
[Que nada. Na verdade, estou me divertindo.]
Ela saiu do ICQ e entrou no endereço http em que Praga havia baixado todos os direitos de administração do SMP. Para começar, verificou se Peter Fleming estava conectado e se se encontrava na redação. Não estava. Lisbeth então usou seu login para entrar no servidor do correio eletrônico do SMP. Conseguiu acesso a um longo histórico, inclusive a e-mails deletados desde muito tempo das contas de usuários particulares.