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— Parei de trabalhar neste instante e vou me deitar. Só queria dar um alô.

— Homens que ligam só para dar um alô têm algo na cabeça. Ele riu.

— Blomkvist, pode vir dormir aqui se quiser.

— Não vou ser uma companhia divertida.

— Eu me acostumo.

Ele pegou um táxi para a Pontonjárgatan.

Erika Berger passou o domingo na cama com Lars Beckman, ora conversando, ora cochilando. A tarde, vestiram-se e fizeram um longo passeio até o pontão do barco a vapor e deram uma volta em torno do vilarejo.

— O SMP foi um erro — disse Erika Berger quando chegaram em casa.

—  Não diga isso. Está difícil agora, mas você sabia que ia ser assim. Quando você pegar o ritmo, as coisas se ajeitam.

— O problema não é o trabalho. Com isso eu lido numa boa. É a atitude.

— Humm.

— Não me sinto bem lá. Mas não posso pedir demissão depois de poucas semanas.

Sentou-se, triste, à mesa da cozinha e ficou olhando para o vazio, sem animo. Lars Beckman nunca tinha visto sua mulher tão resignada.

O inspetor Hans Faste encontrou com Lisbeth Salander pela primeira vez ao meio-dia e meia de domingo, quando uma policial de Gõteborg a acompanhou até a sala de Marcus Ackerman.

— Foi uma trabalheira danada conseguir te pegar — disse Hans Faste.

Lisbeth Salander examinou-o demoradamente, então concluiu que era um abobado e que não pretendia gastar mais que poucos segundos pensando na existência dele.

— A inspetora Gunilla Wãring vai com vocês até Estocolmo — disse Ackerman.

— Ah, é? — disse Faste. — Bem, então vamos indo. E que tem um bocado de gente querendo falar com você, Salander.

Ackerman disse até-logo a Lisbeth Salander. Ela o ignorou.

Ficara resolvido que seria mais prático realizar a transferência da prisioneira para Estocolmo numa viatura policial. Gunilla Waring foi dirigindo. No começo, Hans Faste, sentado no banco do passageiro, à frente, foi com a cabeça virada para trás, tentando falar com Lisbeth Salander. A altura de Alingsâs, começou a ficar com torcicolo e desistiu.

Lisbeth Salander contemplava a paisagem pela janela. A impressão era de que Faste não existia no seu mundo.

O Teleborian está certo. Essa aí é completamente retardada, pensou Faste. Em Estocolmo a gente resolve isso.

De vez em quando ele dava uma espiada em Lisbeth Salander, tentando formar uma opinião sobre a mulher que ele perseguira durante tanto tempo. E o próprio Hans Faste tinha suas dúvidas ao ver a fragilidade daquela garota. Lembrou-se de que ela era lésbica e, portanto, não era uma mulher de verdade.

Em compensação, era possível que a história do satanismo fosse exagero. A garota não parecia ser muito satânica.

Por ironia, dava-se conta de que teria preferido, de longe, prendê-la pelos três assassinatos de que a acusavam no início, mas a realidade se impusera à investigação. Até uma garota magricela pode manejar uma pistola. Atualmente, ela estava detida por golpes e ferimentos agravados contra o supremo dirigente do MC Svavelsjõ, e disso ela era culpada sem sombra de dúvida; que também havia provas técnicas caso ela pretendesse negar.

Rosa Figuerola acordou Mikael Blomkvist por volta da uma da tarde. Ela ficara na sacada terminando seu livro sobre os deuses da Antigüidade, enquanto escutava os roncos de Mikael no quarto. Um momento tranqüilo.

Quando entrou no quarto e olhou para ele, percebeu que havia muitos anos não se sentia tão atraída por um homem.

Era uma sensação agradável, mas preocupante. Mikael Blomkvist não parecia ser um elemento estável em sua existência.

Depois que ele acordou, desceram até Norr Málarstrand para tomar um café- Em seguida, ela o arrastou de volta para sua casa e fizeram amor pelo resto da tarde. Ele foi embora lá pelas sete da noite. Ela sentiu sua falta assim que ele deu um beijo em seu rosto e fechou a porta ao sair.

Por volta das oito horas da noite de domingo, Susanne Linder tocou a campainha da casa de Erika Berger. Não ia dormir lá, pois Lars Beckman estava de volta, e a visita, portanto, não tinha nada de profissional. As poucas noites que passara com Erika as aproximaram bastante em suas longas conversas na cozinha. Descobriu que gostava de Erika Berger e a via como uma mulher desesperada que todos os dias ia para o trabalho vestindo uma máscara, como se estivesse tudo bem. Mas a verdade é que Erika era uma pilha de angústia ambulante.

Susanne Linder desconfiava que a angústia não se devia apenas ao Pena Podre. Mas ela não era assistente social, e a vida e os problemas de Erika Berger não lhe diziam respeito. Assim, foi até a casa dos Berger apenas para dar um alô e perguntar se estava tudo bem. Encontrou Erika e o marido na cozinha, imersos numa atmosfera surda e pesada. Pareciam ter passado o domingo conversando sobre coisas sérias.

Lars Beckman fez um café. Não fazia muito tempo que Susanne Linder estava com eles quando o celular de Erika tocou.

Naquele dia, Erika Berger atendera todas as ligações com uma sensação de naufrágio iminente.

— Berger.

— Oi, Ricky.

Mikael Blomkvist. Droga. Ainda não contei para ele que o dossiê Borgsjô sumiu.

— Oi, Micke.

— A Salander foi transferida hoje à tarde para a casa de detenção de Gõteborg e deve ser levada para Estocolmo amanhã.

— Sei.

— Ela me passou um... recado para você.

— Ah, é?

— Meio misterioso.

— O que é?

— Ela mandou dizer que o Pena Podre é o Peter Fredriksson.

Erika Berger ficou calada por uns dez segundos, enquanto os pensamentos pipocavam em seu cérebro. Impossível. O Peter não é assim. A Salander deve ter se enganado.

— Mais alguma coisa?

— Não. Esse é o recado. Você sabe do que se trata?

— Sei.

— Ricky, afinal, o que você e a Lisbeth andam tramando? Ela ligou para você para dar o toque sobre o Teleborian e...

— Obrigada, Micke. Depois a gente conversa.

Ela desligou o celular e fitou Susanne Linder com olhos apavorados.

— Conta — disse Susanne Linder.

Susanne Linder experimentava sentimentos contraditórios. Erika Berger acabava de receber um recado avisando que seu assistente de redação, Peter Fredriksson, era o Pena Podre. Suas palavras tinham jorrado como um rio quando ela começara a falar. Então, Susanne Linder lhe perguntara como ela sabia que Fredriksson era o sujeito que a vinha assediando.

Então, Erika Berger se calara. Susanne observou seus olhos e percebeu que alguma coisa mudara na atitude da redatora-chefe. De repente, Erika Berger parecia incomodada.

— Eu não posso dizer...

— Como assim?

— Susanne, eu sei que o Pena Podre é o Fredriksson. Mas não posso dizer como consegui essa informação. O que eu faço?

— Você tem que me dizer se quiser*que eu te ajude.

— Eu... eu não posso. Você não entende.

Erika Berger se levantou e foi até a janela da cozinha, dando as costas nara Susanne Linder. Por fim, se virou.

— Vou à casa desse canalha falar com ele.

— Nem pensar. Você não vai a lugar nenhum, muito menos na casa de um sujeito que, tudo leva a crer, sente um ódio violento de você.

Erika Berger pareceu hesitar.

— Sente-se. Me conte o que aconteceu. Era o Mikael Blomkvist no telefone, não era?

Erika meneou a cabeça.

— Eu... hoje eu pedi que um hacker desse uma olhada nos computadores pessoais dos funcionários.

— Ahã. E com essa você provavelmente incorreu num crime de informática agravado. E não quer dizer quem é o hacker.

— Eu prometi não falar... Não são as mesmas pessoas. Um caso em que o Mikael está trabalhando.

— O Blomkvist está sabendo sobre o Pena Podre?

— Não, ele só me repassou o recado.

Susanne Linder inclinou a cabeça e observou Erika Berger. De repente, uma cadeia de associações foi se criando em sua mente.

Erika Berger. Mikael Blomkvist. Millenium. Policiais suspeitos invadiram o apartamento do Blomkvist e instalaram microfones. Eu vigiei os vigias dele. O Blomkvist está trabalhando como um doido numa matéria sobre a Lisbeth Salander.