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— Humm — disse Fredrik Clinton.

— Onde eles imprimiram das outras vezes?

— Numa gráfica chamada Hallvigs Reklam, em Morgongáva. Eu liguei para lá e perguntei como andava a impressão — fingi que trabalhava na Millennium. O chefe da Hallvigs não quis me dizer nada. Pensei em passar por lá hoje à noite para dar uma olhada.

— Entendi. Georg?

—  Examinei todas as ligações desta semana — disse Georg Nystrõm. — É estranho, mas nenhum funcionário da Millennium fala sobre nada que diga respeito ao julgamento ou ao caso Zalachenko.

— Nada?

—  Nada. Esses assuntos só são mencionados quando um funcionário conversa com pessoas de fora da Millennium. Escute isto aqui, por exemplo É o Mikael Blomkvist recebendo uma ligação de um repórter do Aftonbladet que pergunta se ele tem alguma declaração a fazer sobre o julgamento que está para começar.

Ele pegou um gravador.

— Lamento, mas não tenho nada a dizer.

— Você está envolvido nesse caso desde o começo. Foi você que encontrou a Lisbeth Salander em Gosseberga. E ainda não publicou nem uma palavra a respeito. Quando pretende publicar alguma coisa?

— No momento oportuno. Desde que eu tenha alguma coisa para publicar.

— E é esse o caso?

— Bem, acho que você vai ter de comprar a Millennium para saber. Ele desligou o gravador.

— Verdade que a gente não tinha pensado nisso antes, mas voltei a escutar as gravações meio ao acaso. É o tempo todo assim. Ele quase nunca fala no caso Zalachenko, a não ser de modo bem geral. Nem com a irmã, que é a advogada da Salander.

— Pode ser que ele não tenha nada a dizer.

— Ele se nega sistematicamente a especular sobre o que quer que seja. Parece morar na redação vinte e quatro horas por dia e quase nunca está no seu apartamento da Bellmansgatan. Se está trabalhando assim dia e noite, poderia ter produzido algo melhor do que se vê no próximo número da Millennium.

— E continuamos sem nenhuma chance de colocar escutas na redação?

— Não tem como — disse Jonas Sandberg, intervindo na conversa. — Sempre fica alguém lá de plantão, de dia e de noite. Isso também é revelador.

—- Humm.

— Desde que entramos no apartamento do Blomkvist, sempre fica alguém na redação. O Blomkvist passa por lá o tempo todo e a luz da sala dele está permanentemente acesa. Quando não é ele, é o Cortez ou a Malu Eriksson, ou aquele veado... hã, o Christer Malm.

Clinton cocou o queixo. Refletiu um instante.

— Certo. Quais suas conclusões? Georg Nystrõm hesitou um pouco.

— Bem... a menos que me apresentem outra explicação, acho que eles estão encenando.

Clinton sentiu um arrepio percorrer-lhe a nuca.

— E como é que a gente não percebeu isso antes?

— A gente ficou escutando o que eles diziam, e não o que eles não diziam. Ficamos satisfeitos ao ouvir, ou constatar pelos e-mails, como ficaram perturbados. O Blomkvist percebeu que alguém roubou, dele e da irmã, o relatório Salander de 1991. Mas o que ele poderia fazer, porra?

— Eles não deram queixa? Nystrõm fez que não com a cabeça.

— AGiannini participou dos interrogatórios da Salander. Ela é muito educada, mas não disse nada importante. E a Salander não disse nada de nada.

— Isso é uma vantagem para nós. Quanto mais ela ficar de bico calado, melhor. O que diz o Elkstrõm?

— Estive com ele há duas horas. Ele tinha acabado de receber o relato da Salander.

Apontou a cópia que estava no colo de Clinton.

— O Ekstrõm está preocupado. Para um não iniciado, esse relato tem todo jeito de uma teoria da conspiração insana com toques de pornografia. Mas ela de fato atira bem próximo do alvo. Conta exatamente o que aconteceu quando foi internada na Sankt Stefan, sustenta que o Zalachenko trabalhava para a Sapo e coisas do gênero. Ela diz que deve haver uma pequena seita dentro da Sapo, o que significa que ela suspeita da existência de alguma coisa parecida com a Seção. No geral, é uma descrição muito precisa sobre nós. Mas, como eu disse, ninguém vai acreditar. O Ekstrõm está perturbado pelo que parece ser a defesa que a Giannini vai apresentar na audiência.

— Droga! — exclamou Clinton.

Ele inclinou a cabeça para a frente e refletiu intensamente durante vários minutos. Por fim, ergueu a cabeça.

— Jonas, vá até Morgongâva hoje à noite e veja se eles estão produzindo alguma coisa. Se estiverem imprimindo a Millennium, quero uma cópia.

— Vou levar o Falun comigo.

—  Ótimo. Georg, quero que você sonde o Ekstrõm agora à tarde. Por enquanto tudo estava indo às mil maravilhas, mas de fato não posso ignorar o que vocês acabam de me dizer.

— Não pode. Clinton ficou mais um instante calado.

— O melhor seria não haver julgamento... — disse afinal.

Ergueu a cabeça e fitou Nystrõm no olho. Nystrõm meneou a cabeça. Sandberg meneou a cabeça. Entendiam-se perfeitamente.

— Nystrõm, verifique quais são as possibilidades.

Jonas Sandberg e o chaveiro Lars Faulsson, mais conhecido como Falun, deixaram o carro um pouco antes da linha de trem e atravessaram Morgongâva a pé. Eram oito e meia da noite. Ainda estava muito claro e era cedo demais para tentarem alguma coisa, mas eles pretendiam fazer o reconhecimento do terreno e ter uma visão geral da área.

— Se tiver alarme eu não me meto — disse Falun.

Sandberg assentiu com a cabeça.

— Então é melhor só dar uma olhada pela janela. Se der para ver alguma coisa, você joga unia pedra, pega o que te interessa e se manda.

— Está certo — disse Sandberg.

— Se você só precisa de um exemplar da revista, a gente pode ver se tem algum carrinho de lixo atrás do prédio. Sempre tem algum papel caído, umas provas, esse tipo de coisa.

A gráfica Hallvigs ficava num prédio baixo de tijolo aparente. Eles se aproximaram vindo do sul, do outro lado da rua. Sandberg estava prestes a atravessar quando Falun segurou seu braço.

— Siga em frente — disse.

— O quê?

— Siga em frente, como se a gente estivesse passeando. Passaram em frente à gráfica e deram uma volta pelo bairro.

— O que foi? — perguntou Sandberg.

— Você precisa ficar de olhos abertos. Este lugar não está só protegido por um alarme. Tinha um carro estacionado ao lado do prédio.

— E havia alguém lá dentro?

— Era um carro da Milton Security. Puta merda! Essa gráfica está sob vigilância pesada.

— Milton Security! — exclamou Fredrik Clinton. Ele acusou o golpe bem no estômago.

— Se não fosse o Falun, eu teria caído direitinho na armadilha — disse Jonas Sandberg.

— Eu falei, eles estão tramando alguma coisa não muito católica — disse Georg Nystrõm. — Não tem sentido uma pequena gráfica de um vilarejo perdido contratar a Milton Security para fazer vigilância permanente.

Clinton meneou a cabeça. Sua boca tinha a forma de um traço rígido. Eram onze da noite e ele precisava descansar.

— Isso significa que a Míllenníum está tramando alguma coisa — disse Sandberg.

— Isso eu já entendi — disse Clinton. — Certo. Vamos examinar a situação. Qual seria o pior cenário? O que eles podem estar sabendo?

Olhou para Nystrõm, estimulando-o a responder.

— Deve ter alguma ligação com o relatório Salander de 1991 — disse Nystrõm. — Eles aumentaram a segurança depois que roubamos as cópias. Devem ter desconfiado que estavam sendo vigiados. Na pior das hipóteses, eles tinham mais uma cópia do relatório.

— Mas o Blomkvist parecia desesperado por ter perdido o relatório.

— Eu sei. Mas ele podia estar enrolando a gente. Não dá para desconsiderar essa possibilidade.

Clinton concordou com a cabeça.

— Vamos partir dessa idéia. Sandberg?

— Temos a vantagem de conhecer a defesa da Salander. Ela conta a verdade tal como a viveu. Reli a pretensa autobiografia dela. Na verdade, até facilita para a gente. Contém acusações de estupro e abuso do Poder Judiciário tão grandes que a história toda vai parecer os delírios de uma mitômana.