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— Mas como eles vão convencer a Narcotráficos a fazer uma busca na sua casa? Quero dizer, uma denúncia anônima não basta para arrombarem a porta de um jornalista célebre. E, para a coisa funcionar, você tem que se transformar em um suspeito nesses próximos dias.

— Bem, não conhecemos o cronograma deles — disse Mikael. Sentia-se cansado e gostaria que tudo já tivesse acabado. Levantou-se.

— Aonde você vai? — perguntou Rosa Figuerola. — Queria saber onde posso te encontrar nos próximos dias.

— Vou passar na TV4 no início da tarde. E às seis vou comer um cordeiro salteado no Samirs Gryta com a Erika Berger. Vamos preparar uns releases para a imprensa. Mais tarde, imagino que eu vá estar na redação.

Os olhos de Rosa Figuerola se estreitaram um pouco ao ouvir o nome de Erika Berger.

— Quero que você mantenha contato durante o dia. De preferência, que mantenha um contato direto até o julgamento começar.

— Certo. Quem sabe eu não me mudo para a sua casa por alguns dias — disse Mikael de brincadeira, sorrindo.

O semblante de Rosa Figuerola endureceu. Ela olhou rapidamente para Edklinth.

— A Rosa está certa — disse Edklinth. — O melhor seria você ficar meio escondido até tudo isso acabar. Se a Narcotráficos te pegar, fique calado até o início do julgamento.

— Calma — disse Mikael. — Não pretendo entrar em pânico nem pôr nada a perder. Vocês cuidam da sua parte que eu cuido da minha.

A Moça da TV4 mal conseguia disfarçar a excitação diante do material em vídeo que Mikael Blomkvist lhe entregara. Mikael sorriu ao ver seu deleite. Tinham passado uma semana trabalhando como condenados para editar um material sobre a Seção que fosse compreensível para a televisão. Tanto o produtor para o qual ela trabalhava como o chefe de Atualidades da TV4 tinham percebido o tamanho do furo. O programa fora produzido no maior sigilo, e por apenas alguns profissionais. Tinham aceitado a exigência de Mikael de só levar a matéria ao ar na noite do terceiro dia do julgamento. Decidiram lançá-la numa edição especial do noticiário.

Mikael fornecera uma boa quantidade de imagens fixas para que ela pudesse usar, mas em televisão nada melhor que imagens em movimento E aquele vídeo absolutamente nítido que mostrava um policial identificado plantando cocaína no apartamento de Mikael Blomkvist a deixara simplesmente alucinada.

— Isso aqui é televisão de primeira — disse ela. — Na vinheta: A Sapo plantando cocaína no apartamento do jornalista.

— A Sapo não... a Seção — corrigiu Mikael. — Não cometa o erro de confundir uma com a outra.

— Mas o Sandberg trabalha na Sapo — ela protestou.

—  Sim, só que, concretamente, ele deve ser considerado um agente infiltrado. Você deve deixar essa diferença muito clara.

— Certo. Quem está na berlinda é a Seção. E não a Sapo. Mikael, você poderia me explicar como é que você está sempre envolvido em matérias polêmicas? Você tem razão. Isso aqui vai fazer mais barulho do que o caso Wennerstróm.

— Acho que eu tenho algumas habilidades. Parece ironia do destino, mas essa história também começa com um caso Wennerstróm. Quero dizer, com aquele caso de espionagem dos anos 1960.

Às quatro horas, Erika Berger ligou. Estava reunida com a Tidningsutgivarna para comunicar aos dirigentes de imprensa seu ponto de vista sobre as demissões previstas no SMP, operação que provocara um conflito sindical sério depois que ela deixara o jornal. Ela avisou que chegaria atrasada ao Samirs Gryta, provavelmente por volta de seis e meia.

Jonas Sandberg ajudou Fredrik Clinton a passar da cadeira de rodas para a cama da sala de repouso que constituía o centro de comando do QG da Seção na Artillerigatan. Clinton estava voltando da diálise, que tinha se prolongado por toda a tarde. Sentia-se com cem anos e esgotado. Mal dormira nos últimos dias e desejava que aquilo tudo acabasse logo. Nem bem tinha se acomodado na cama quando Georg Nystrõm juntou-se a eles.

Clinton reuniu suas energias.

— Está tudo ajeitado? — perguntou.

Georg Nystrõm fez um gesto de assentimento com a cabeça.

— Acabo de encontrar com os irmãos Nikoliç — disse. — Vai custar cinqüenta mil.

— Podemos pagar — disse Clinton. Puta merda, se eu ainda fosse jovem.

Ele virou a cabeça e examinou alternadamente Georg Nystrõm e Jonas Sandberg.

— Sem escrúpulos? — ele perguntou. Ambos balançaram a cabeça.

— Quando? — perguntou Clinton.

— Nas próximas vinte e quatro horas — disse Nystrõm. — Está difícil descobrir onde o Blomkvist se meteu, mas na pior das hipóteses eles vão agir na frente da redação.

Clinton aquiesceu.

— Talvez tenhamos uma brecha já no fim da tarde, daqui a umas duas horas — disse Jonas Sandberg.

— Ah, é?

—  A Erika Berger ligou há pouco tempo. Eles vão jantar no Samirs Gryta. E um restaurante que fica para os lados da Bellmansgatan.

— Berger... — disse Clinton, escandindo as sílabas.

— Só espero que ela... — disse Georg Nystrõm.

— Não seria necessariamente ruim — interrompeu Jonas Sandberg.

— Então, resumindo: Blomkvist constitui a maior ameaça para nós e é provável que ele publique alguma coisa no próximo número da Millennium. Já que não podemos impedir a publicação, temos que acabar com a credibilidade dele. Se ele for morto no que parece ser um acerto de contas e depois a polícia encontrar droga e dinheiro no apartamento dele, o inquérito vai tirar certas conclusões.

Clinton concordou com a cabeça.

— Acontece que Erika Berger é amante do Blomkvist — disse Sandberg, destacando bem as palavras. — É casada e infiel. Se ela também morrer de forma violenta, isso levará a mais um monte de especulações.

Clinton e Nystrõm trocaram um olhar. Sandberg era um gênio em criar cortinas de fumaça. Ele aprendia depressa. Mas tanto Clinton como Nystrõm tiveram um instante de dúvida. Sandberg sempre tinha aquele jeito despreocupado quando se tratava de decidir sobre a vida e a morte. Isso não era bom O assassinato era uma decisão extrema que não podia ser tomada só porque a oportunidade surgia. Não era uma solução pronta, e sim uma saída a se recorrer apenas quando não houvesse alternativa.

Clinton balançou a cabeça.

Danos colaterais, pensou. De repente, sentiu-se enojado com o encaminhamento de todo aquele caso.

Depois de uma vida inteira a serviço da nação, aqui estamos nós como meros assassinos. Zalachenko fora necessário. Bjõrck fora... lamentável, mas Gullberg estava certo. Bjõrck teria cedido. Blomkvist era... provavelmente necessário. Mas Erika Berger não passava de uma testemunha inocente.

Deu uma olhada de esguelha em Jonas Sandberg. Esperava que o rapaz não evoluísse para a psicopatia.

— E os irmãos Nikoliç, o que eles estão sabendo?

— Nada. Quero dizer, sobre a gente. Eu fui o único que estive com eles, usei outra identidade e eles não têm como chegar até mim. Eles acham que o assassinato está ligado ao tráfico de mulheres.

— E depois do assassinato, o que os irmãos Nikoliç vão fazer?

— Vão deixar a Suécia imediatamente — disse Nystrõm. — Como aconteceu depois do Bjõrck. Se a investigação da polícia não der em nada, eles vão poder voltar, discretamente, algumas semanas mais tarde.

— E o plano?

— Modelo siciliano. Eles vão simplesmente se aproximar do Blomkvist, descarregar a arma nele e dar no pé.

— Arma?

— Eles têm uma automática. Não sei o tipo.

— Espero que não espirrem sangue pelo restaurante todo...

— Não se preocupe. Eles são do tipo tranqüilo e sabem o que têm de fazer. Mas se a Berger estiver sentada na mesma mesa que o Blomkvist...

Danos colaterais.

— Escutem — disse Clinton. — E importante que o Wadensjõõ não saiba do nosso envolvimento nisso. Principalmente se a Erika Berger acabar sendo uma das vítimas. Ele já está a ponto de rebentar de tão tenso. Tenho a impressão de que vamos precisar aposentá-lo quando isso tudo acabar.