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Treze pessoas participavam da reunião. Do Ministério Público, Ragnhild Gustavsson trouxera seus dois colaboradores mais próximos. Da Proteção à Constituição, estava presente a chefe das investigações, Rosa Figuerola, com seus colegas Stefan Bladh e Niklas Berglund. O diretor da Proteção à Constituição, Torsten Edklinth, participara como observador.

Ragnhild Gustavsson decidira, contudo, que um caso daquela importância não poderia, por uma questão de credibilidade, se limitar à Sapo. Motivo pelo qual chamara o inspetor Jan Bublanski e sua equipe, Sonja Modig, Jerker Holmberg e Curt Bolinder, da polícia comum. Eles vinham trabalhando no caso Salander desde a Páscoa e conheciam perfeitamente a história. Além disso, solicitara a presença da procuradora Agneta Járvas e do inspetor Marcus Ackerman, de Gõteborg. A investigação sobre a Seção tinha uma ligação direta com o inquérito sobre o assassinato de Alexander Zalachenko.

Quando Rosa Figuerola mencionou que o ex-primeiro-ministro Thorbjõrn Fãlldin deveria eventualmente ser chamado para testemunhar, Jerker Holmberg e Sonja Modig se mexeram na cadeira, incomodados.

Durante cinco horas, eles examinaram, um por um, nomes de pessoas identificadas como ativas na Seção, o que os fez concluir que a lei estava sendo infringida e que seria preciso efetuar algumas prisões. Sete pessoas ao todo, foram identificadas e relacionadas com o apartamento da Artillerigatan. Outras nove pessoas identificadas estariam ligadas à Seção, mas nunca apareciam na Artillerigatan. Trabalhavam sobretudo na Sapo, em Kungsholmen, porém já tinham se encontrado com um ou outro membro ativo da Seção.

— No momento, é impossível dizer até onde se estende essa conspiração. Não sabemos em que circunstâncias essas pessoas se encontram com Wadensjõõ ou com outro membro qualquer. Podem ser informantes ou podem ter sido levadas a acreditar que estão trabalhando para investigações internas ou algo assim. Fica, portanto, a dúvida sobre o envolvimento delas, e essa dúvida só será resolvida quando pudermos ouvi-las. São, além disso, pessoas que só notamos durante as semanas de vigilância; pode haver outras pessoas implicadas que ainda não conhecemos.

— Mas o secretário-geral e o chefe do orçamento...

—  Não podemos afirmar com segurança que eles trabalham para a Seção.

Eram seis horas da tarde de segunda-feira quando Ragnhild Gustavsson resolveu fazer um intervalo de uma hora para que todos pudessem comer alguma coisa antes de voltarem à reunião.

Quando todos estavam se levantando e começando a se movimentar, Jesper Thoms, o colaborador de Rosa Figuerola na unidade de intervenção da Proteção à Constituição, pediu atenção para comunicar o que surgira de novo nas últimas horas de investigação.

— O Clinton esteve na diálise boa parte do dia e voltou para a Artillerigatan por volta das três horas. O único que fez alguma coisa diferente foi o Georg Nystrõm, só que não temos bem certeza do que foi.

— Ah, é? — disse Rosa Figuerola.

— Hoje, à uma e meia da tarde, o Nystrõm foi até a estação central se encontrar com dois sujeitos. Eles foram a pé até o hotel Sheraton e tomaram um café no bar. A conversa durou pouco mais de vinte minutos, e em seguida o Nystrõm voltou para a Artillerigatan.

— Humm. E quem eram esses sujeitos?

— Não sabemos. São umas caras novas. Dois homens na faixa dos trinta anos, com jeito de quem vem do Leste europeu. Infelizmente, nosso investigador os perdeu de vista quando pegaram o metrô.

— Ah, é? — disse Rosa Figuerola, cansada.

— Tiramos umas fotos deles — disse Jesper Thoms, passando-lhe uma seqüência de fotografias.

Ela examinou aqueles rostos, que via pela primeira vez.

— Certo, obrigada — disse, e, deixando as fotos em cima da mesa de reuniões, levantou-se para ir buscar alguma coisa para comer.

Curt Bolinder, que estava a seu lado, baixou os olhos para as fotos.

— Puta merda! — disse ele. — Os irmãos Nikoliç estão metidos nisso? Rosa Figuerola se deteve.

— Quem?

— Esses dois aqui são uns verdadeiros bandidos — disse Curt Bolinder. — Tomi e Miro Nikoliç.

— Você conhece?

— Conheço. São dois irmãos, eles vêm de Huddinge. Sérvios. Já vigiamos os dois em várias ocasiões, quando eles tinham seus vinte anos, na época eu estava na Brigada Antigangue. O mais perigoso dos dois é o Miro Nikoliç. Aliás, faz um ano que está sendo procurado por violências agravadas. Eu pensei que eles tivessem voltado para a Sérvia e virado políticos ou coisa do gênero.

— Políticos?

— É. Eles estiveram na Iugoslávia na primeira metade dos anos 1990 para dar uma mãozinha na faxina étnica. Trabalhavam para o chefão da máfia, o Arkan, que mantinha uma espécie de milícia fascista particular. Eles tinham a fama de ser shooters.

— Shooters?

— Matadores de aluguel. Circulavam entre Belgrado e Estocolmo. O tio deles tem um restaurante em Norrmalm, onde eles oficialmente trabalhavam de vez em quando. Tivemos várias indicações de que teriam participado de pelo menos dois assassinatos, ligados a acertos de conta internos, naquela guerra dos cigarros dos iugoslavos, mas nunca conseguimos prendê-los por motivo nenhum.

Rosa Figuerola, calada, olhou para as fotos da investigação. Então ficou lívida. Fitou Torsten Edklinth.

— O Blomkvist! — ela exclamou, em pânico. — Eles não vão se contentar em detonar a reputação dele. Vão matá-lo e deixar que a polícia encontre a cocaína durante o inquérito e tire suas próprias conclusões.

Edklinth encarou-a fixamente.

— Ele ia se encontrar com a Erika Berger no Samirs Gryta — disse Rosa Figuerola. Ela tocou no ombro de Curt Bolinder. — Você está armado?

— Estou...

— Venha comigo.

Rosa Figuerola saiu correndo da sala de reuniões. Sua sala ficava três portas adiante no corredor. Destrancou a porta e pegou sua arma de serviço na gaveta da mesa. Desrespeitando o regulamento, deixou a porta de sua sala escancarada enquanto corria para os elevadores. Curt Bolinder ficou um segundo indeciso.

— Vá — disse Bublanski. — Sonja... vá com eles.

Mikael Blomkvist chegou ao Samirs Gryta às 18h20. Erika Berger acabava de sentar-se a uma mesa vazia ao lado do bar, perto da entrada. Ele beijou-a no rosto. Pediram uma boa cerveja e um salteado de cordeiro cada um, e a cerveja logo foi servida.

— Como estava a Moça da TV4? — perguntou Erika Berger.

— Vistosa como sempre. Erika Berger riu.

— Se você não se cuidar, ela vai acabar virando uma obsessão. Já pensou, uma mulher resistindo ao charme de Blomkvist?

—  Um monte de mulheres resistiu nesses anos todos — disse Mikael Blomkvist. — Como foi seu dia?

— Um desperdício. Mas aceitei participar de um debate sobre o SMP no Clube dos Articulistas. Foi minha última contribuição para essa história.

— Maravilha.

— Você não sabe como é sensacional estar de volta à Mülennium — disse ela.

—  E você nem imagina como é maravilhoso ter você de volta. Ainda estou todo emocionado.

— Ir para o trabalho voltou a ser uma coisa legal.

— Humm.

— Estou feliz.

— E eu preciso ir ao banheiro — disse Mikael levantando-se.

Deu alguns passos e por pouco não esbarrou num homem de uns trinta anos que acabava de entrar no restaurante. Mikael notou que ele tinha a aparência de alguém do Leste europeu e que o encarava. Então viu a metralhadora.

Estavam passando por Riddarholmen quando Torsten Edklinth ligou avisando que nem Mikael Blomkvist nem Erika Berger estavam atendendo o celular. Decerto tinham desligado seus aparelhos para jantar em paz.

Rosa Figuerola soltou um palavrão e atravessou a praça de Sõdermalm a quase oitenta quilômetros por hora, a mão grudada na buzina. Quando fez violentamente a curva da Hornsgatan, Curt Bolinder precisou se segurar na porta. Ele tinha puxado sua arma e conferia se estava carregada. Sonja Modig fazia o mesmo no banco de trás.