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— Vamos ter que pedir reforços — disse Curt Bolinder. — Com os irmãos Nikoliç não se brinca.

Rosa Figuerola concordou.

— Vamos fazer o seguinte — disse ela. — Eu e a Sonja vamos entrar direto no Samirs Gryta, na esperança de que estejam lá. Curt, você, que conhece os irmãos, fica do lado de fora de olho bem aberto.

— Certo.

— Se estiver tudo tranqüilo, levamos imediatamente o Blomkvist e a Berger para o carro, e para Kungsholmen. Se sentirmos qualquer coisa no ar, ficamos no restaurante e pedimos reforços.

— Certo — disse Sonja Modig.

Rosa Figuerola ainda estava na Hornsgatan quando o rádio do painel começou a chiar.

Todas as unidades. Alerta de tiroteio na Tavastgatan, em Sõdermalm. Tiroteio no restaurante Samirs Gryta.

De repente, Rosa Figuerola sentiu seu estômago se torcer.

Erika Berger viu Mikael Blomkvist esbarrar num homem de uns trinta anos enquanto ia até o banheiro, que ficava perto da entrada. Ela franziu o cenho sem saber direito por quê. Tinha a impressão de que o desconhecido fitava Mikael com uma expressão surpresa. Perguntou-se se não seria algum conhecido dele.

Então viu o homem dar um passo para trás e largar uma sacola no chão. De início, ela não entendeu o que via. Ficou paralisada quando percebeu que ele apontava uma arma automática para Mikael.

Mikael Blomkvist reagiu sem pensar. Segurou o cano com a mão esquerda e apontou-o para o teto. Por um microssegundo, a boca da arma passou diante de seu rosto.

Naquele lugar minúsculo, o crepitar da pistola-metralhadora foi ensurdecedor. Uma chuva de gesso e vidro do lustre pulverizado desabou sobre Mikael enquanto Miro Nikoliç soltava uma rajada de uma dezena de balas. Por um instante, Mikael Blomkvist olhou nos olhos do homem que queria a sua morte.

Então Miro Nikoliç deu um passo para trás. Arrancou a arma das mãos de Mikael, que, pego de surpresa, soltou o cano. Mikael percebeu de repente que sua vida corria perigo. Sem pensar, jogou-se sobre o agressor em vez de se esconder. Mais tarde, saberia que se tivesse agido de outra forma, se tivesse se abaixado ou recuado, teria sido morto no ato. Mais uma vez, conseguiu segurar o cano da arma. Usou todo o seu peso para encurralar o homem contra a parede. Ainda escutou seis ou sete tiros sendo disparados e pressionou desesperadamente a metralhadora tentando apontar o cano para o chão.

Erika Berger se abaixou instintivamente quando veio a segunda rajada de tiros. Caiu e bateu a cabeça numa cadeira. Então se encolheu no chão, ergueu os olhos e viu os três buracos que as balas tinham deixado na parede, no lugar exato em que ela estava sentada no minuto anterior.

Abalada, virou a cabeça e viu Mikael Blomkvist lutando com o homem perto da entrada. Estava caído de joelhos, segurando a metralhadora com as duas mãos e tentando apoderar-se dela. Viu o agressor lutando para se soltar Com o punho, batia sem parar no rosto e na têmpora de Mikael.

Rosa Figuerola freou bruscamente em frente ao Samirs Gryta, abriu a porta do carro com violência e correu para o restaurante. Estava com a Sig Sauer na mão quando notou o carro estacionado bem em frente ao restaurante.

Viu Tomi Nikoliç ao volante e apontou a arma para o rosto dele do outro lado do vidro.

— Polícia. Mostre as mãos! — gritou. Tomi Nikoliç levantou as mãos.

— Saia do carro e deite no chão — ela berrou com a voz cheia de raiva. Virou a cabeça e olhou rapidamente para Curt Bolinder. — O restaurante — disse.

Curt Bolinder e Sonja Modig atravessaram a rua o mais rápido possível.

Sonja Modig pensou em seus filhos. Ia contra todas as normas policiais correr para um prédio de arma na mão sem uma boa retaguarda no local, sem colete à prova de balas e sem uma visão total da situação...

Então ela ouviu o som de um tiro disparado dentro do restaurante.

Mikael Blomkvist conseguira enfiar o dedo médio entre o gatilho e o protetor do gatilho, quando Miro Nikoliç recomeçou a atirar. Ouviu um vidro se quebrando atrás dele. Sentiu uma dor atroz quando o atirador acionou o gatilho várias vezes seguidas, prensando seu dedo; mas enquanto o dedo estivesse ali os tiros não podiam ser disparados. Os socos choviam na lateral de seu rosto e ele de repente se sentiu com quarenta e cinco anos e realmente com um péssimo condicionamento físico.

Eu não vou conseguir. Isto precisa acabar.

Foi seu primeiro pensamento racional desde que vira o homem com a metralhadora.

Cerrou os dentes e enfiou ainda mais o dedo atrás do gatilho.

Então, inclinando-se e pressionando o piso com os pés, jogou o ombro no corpo do matador. Soltou a mão direita da metralhadora e ergueu o cotovelo para se proteger dos golpes. Miro Mikoliç começou a bater em sua axila e nas costelas. Por um segundo, ficaram mais uma vez face a face.

No momento seguinte, Mikael sentiu que afastavam o matador dali Sentiu uma última dor fulgurante no dedo e avistou a figura imensa de Curt Bolinder. Bolinder levantou Miro Nikoliç literalmente pela pele do pescoço e bateu sua cabeça contra a parede. Miro Nikoliç desabou feito um pacote flácido.

— Deitado — ouviu Sonja Modig gritar. — Polícia. Fique deitado! Virou a cabeça e a viu de pé, pernas afastadas e segurando a arma com ambas as mãos, enquanto tentava formar uma idéia da caótica situação. Por fim, ergueu a arma para o teto e voltou o olhar para Mikael Blomkvist.

— Você está ferido? — perguntou.

Mikael olhou para ela, destruído. O nariz e as sobrancelhas sangravam.

— Acho que um dedo quebrou — disse ele, e sentou-se no chão.

Rosa Figuerola recebeu ajuda da Brigada de Sõdermalm menos de um minuto depois de ter feito Tomi Nikoliç se deitar na calçada. Ela se identificou e deixou que os policiais fardados cuidassem do prisioneiro, correndo ela própria para o restaurante. Ao chegar à porta parou, tentando avaliar a situação.

Mikael Blomkvist e Erika Berger estavam sentados no chão. Mikael tinha sangue no rosto e parecia em estado de choque. Rosa soltou um suspiro de alívio. Ele estava vivo. Então franziu a testa quando viu Erika Berger passar o braço pelos ombros dele.

Sonja Modig estava agachada, examinando a mão de Blomkvist. Curt Bolinder punha as algemas em Miro Nikoliç, que parecia ter sido atropelado por um trem expresso. Avistou, no chão, um policial militar do Exército sueco.

Ergueu os olhos e viu os funcionários do restaurante chocados, clientes apavorados e um cenário de louças quebradas, cadeiras e mesas viradas e outros estragos causados pelos inúmeros tiros. Sentiu cheiro de pólvora. Mas não via nenhum morto ou ferido no local. Os policiais da viatura de apoio entraram' empunhando armas. Ela estendeu a mão e tocou no ombro de Curt Bolinder. Ele se levantou.

— Você disse que Miro Nikoliç estava sendo procurado?

— Isso mesmo. Violências agravadas, há cerca de um ano. Uma briga em Hallunda.

— Certo. Nós vamos fazer o seguinte. Eu vou sumir rapidinho com o Blomkvist e a Berger. Você fica. Versão oficiaclass="underline" você e a Sonja Modig vieram jantar aqui juntos, você reconheceu o Nikoliç do tempo que passou na Brigada Antigangue. Tentou interpelá-lo, ele puxou a arma e começou a atirar feito doido. Você o prendeu.

Curt Bolinder pareceu surpreso.

— Não vai colar... há testemunhas.

— As testemunhas vão dizer que umas pessoas brigaram e deram uns tiros. O importante é a minha história colar até saírem os jornais de amanhã à tarde. Portanto, a versão é que os irmãos Nikoliç foram presos por acaso porque você os reconheceu.

Curt Bolinder contemplou o caos ao seu redor. Então concordou rapidamente com a cabeça.

Rosa Figuerola abriu caminho na rua em meio à multidão de policiais e acomodou Mikael Blomkvist e Erika Berger no banco de trás do seu carro. Virou-se para o comandante e falou com ele em voz baixa por uns trinta segundos. Fez um sinal na direção do carro em que estavam Mikael e Erika. O comandante pareceu perturbado, mas acabou assentindo com a cabeça. Ela dirigiu até Zinkensdamm, estacionou e virou-se para trás.