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JAMES CLAVELL

TURBILHÃO

Irã, fevereiro de 1979. Um momento crítico na história do país, o período magnetizante dos vinte e quatro tumultuados dias que se seguiram à partida do xá Reza Pahlevi. A luta de vida ou morte entre facções rivais para assumir o controle do país numa guerra civil em que poucos sabem quem está de que lado... ou por quanto tempo. O que se conhece é o ódio fanático, unânime, pelos estrangeiros — principalmente americanos e ingleses.

Para uma companhia de helicópteros britânica, secretamente controlada pela Casa Nobre de Hong Kong, a questão básica é por quanto tempo seus pilotos — americanos, canadenses, ingleses, franceses, alemães, finlandeses — poderão operar em suas bases espalhadas pelo país. A guerra chega cada vez mais perto deles, mesmo nas áreas mais remotas, isolando-os e a suas mulheres, colocando em risco não apenas o seu equipamento, mas também as suas vidas.

Para os proprietários da companhia, abandonar o Irã significa ao mesmo tempo a ruína financeira e a derrota na luta pelo poder da própria Casa Nobre. Mas o turbilhão em que todos se vêem envolvidos é forte e perigoso — e os força a sair, ao mesmo tempo em que impede sua fuga.

Quinto e emocionante romance de James Clavell dentro da sua mundialmente famosa Saga Asiática, Turbilhão tem a magia e o feitiço da terra fervilhante de Ornar Khayyám, e é tecido de forma tão rica e intrincada quanto os fios de um valioso tapete persa.

Título original norte-americano WHIRLWIND

1986 by James and April Clavell Mapas: Paul J. Pugliese

A Shigatsu

Esta aventura se passa no Irã revolucionário, entre 9 de fevereiro e 4 de março de 1979, muito antes do início da crise dos reféns. Tentei torná-la o mais real possível — mas trata-se de ficção, com personagens imaginários e muitos lugares imaginários. Nenhuma referência a pessoas ou a companhias que fizeram ou que fazem parte do período é intencional. Evidentemente, as sombras dos gigantescos adversários — Sua Alteza Imperial, o xá Muhammad Pahlavi (e seu pai Reza Xá) e o imã Khomeini — que se projetam sobre os meus personagens imaginários, são parte vital desta história, embora os próprios líderes não estejam retratados. Tentei apresentar um retrato preciso, porém ficcional, daquele período, dos diferentes tipos de pessoas que o atravessaram, das diferentes opiniões existentes e que teriam sido expressas, mas nada aqui foi mencionado com intenção desrespeitosa.

Esta é uma história das coisas, não como realmente aconteceram, mas como imaginei que se passaram naqueles 24 dias...

TURBILHÃO é o sexto romance da Saga Asiática, que consiste em:

A.D. 1600................................................... Xógum

A.D. 1841................................................... Tai-Pan

A.D. 1862 .................................................. Gai-jin

A.D. 1945................................................... Changi

A.D. 1963........................................... Casa Nobre

A.D. 1979............................................... Turbilhão

Eles semeiam ventos, E colherão tempestades

Oséias 8:7

LIVRO UM

SEXTA-FEIRA

9 de fevereiro de 19791

NAS MONTANHAS ZAGROS: PÔR-DO-SOL. O sol agora tocava o horizonte e o homem extenuado refreou seu cavalo, contente por ter chegado a hora das orações.

Hussein Kowissi era um iraniano forte de 34 anos, pele clara e olhos e barba muito escuros. Sobre o ombro, trazia um rifle de combate soviético AK47. Ele estava agasalhado contra o frio e usava um turbante branco e roupas escuras, sujas da viagem. Por cima delas, uma grossa jaqueta de pêlo de carneiro, dos nômades kash'kai, e botas muito usadas. Como suas orelhas estavam protegidas, ele não escutou o ruído distante de um helicóptero que se aproximava. Atrás dele, cansado, seu camelo de carga deu um puxão na corda, impaciente por comida e descanso. Distraidamente, praguejou contra ele enquanto desmontava.

O ar era rarefeito naquela altura, quase 2.500 metros, e frio, muito frio, com uma neve espessa no chão que o vento transformava em montículos, tornando o caminho escorregadio e traiçoeiro. Abaixo, a trilha pouco conhecida enroscava-se em direção a vales distantes, até Isfahan, onde ele estivera. À sua frente, o caminho subia em curvas perigosas, através dos penhascos, até outros vales, em direção ao golfo Pérsico e à cidade de Kowiss onde ele nascera, onde vivia agora e de onde tirara o seu nome ao se tornar um mulá.

Ele não se importava nem com o perigo nem com o frio. O perigo parecia-lhe tão puro quanto o ar.

É quase como se eu fosse outra vez um nômade, pensou, com meu avô conduzindo-nos como nos velhos tempos quando todas as nossas tribos kash'kai podiam vagar da pastagem de inverno para a pastagem de verão, um cavalo e uma pistola para cada homem e rebanhos de sobra, nossos rebanhos de cabras e ovelhas e uma multidão de camelos, nossas mulheres sem véu, nossas tribos vivendo livres como, por dezenas de séculos, nossos antepassados haviam feito, sem estarem sujeitos a mais nada além da Vontade de Deus. Os velhos tempos que terminaram há menos de sessenta anos, disse a si mesmo, com o ódio subindo por Reza Khan, o soldado arrivista que usurpou o trono com a ajuda dos desprezíveis ingleses, que se proclamou Reza Xá, o primeiro dos xás Pahlavi, e depois, com o apoio do seu regimento cossaco, nos sujeitou e tentou esmagar-nos.

Por obra de Deus, no devido tempo, Reza Xá foi humilhado e exilado por seus traiçoeiros senhores ingleses e morreu esquecido; por obra de Deus, Muhammad Xá foi obrigado a fugir poucos dias atrás; por obra de Deus, Khomeini voltou para conduzir a Sua revolução; pela Vontade de Deus, amanhã ou depois eu serei martirizado. É desejo de Deus que nós sejamos varridos pela sua tempestade e que agora haja um ajuste de contas final com todos os lacaios do xá e com todos os estrangeiros.

O helicóptero agora estava mais perto, mas ele ainda não o escutava, o assobio do vento ajudando a abafar o ruído. Foi com satisfação que apanhou seu tapete de orar e o estendeu na neve, com as costas doendo dos vergões causados pelo chicote, depois apanhou um punhado de neve. Ritualmente, lavou as mãos e o rosto, preparando-se para a quarta oração do dia, depois virou de frente para sudoeste, na direção da Cidade Sagrada de Meca, que ficava a 1.600 quilômetros de distância na Arábia Saudita, e voltou seu pensamento para Deus.

— Allah-u Akbar, Allah-u Akbar. La illah illa Allah..

Enquanto repetia o Shahada, ele se prostrou, deixando-se envolver pelas palavras em árabe: Deus é Grande, Deus é Grande. Dou meu testemunho de que não há nenhum outro Deus além de Deus e de que Maomé é o Seu Profeta. Deus é Grande, Deus é Grande. Dou meu testemunho de que não há nenhum outro Deus além de Deus e de que Maomé é o Seu Profeta..

O vento ficou mais forte e mais frio. Então, através dos seus protetores de orelha, ele captou o ruído do motor. O ruído foi ficando cada vez mais forte, penetrou em sua cabeça, acabou com sua paz e arruinou sua concentração. Abriu os olhos, com raiva. O helicóptero estava apenas uns cinqüenta metros acima do chão, vindo diretamente em sua direção.

A princípio, achou que poderia ser uma aeronave do Exército e temeu que o estivessem procurando. Aí, reconheceu as cores britânicas, vermelho, branco e azul, e as marcas familiares do nítido S-G em volta do leão vermelho da Escócia na fuselagem — a mesma companhia de helicópteros que operava na base aérea de Kowiss e por todo o Irã — então o medo o abandonou, mas não a raiva. Ele o observou, odiando o que representava. Seu curso passava quase exatamente acima dele, mas não oferecia perigo — duvidava que aqueles lá em cima fossem notá-lo, ali ao abrigo de um arbusto — mas mesmo assim se ressentiu, com todo o seu ser, da intrusão na sua paz e do transtorno de suas preces. E à medida que crescia o barulho ensurdecedor, sua raiva aumentava.