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— Então o aiatolá mentiu? — A alegria de Kasigi evaporou-se.

— Não. Aquele pobre idiota acreditava no que estava dizendo, mas nada disso vai acontecer. A polícia e a Savak, qualquer que seja o seu novo nome, ainda controlam Abadan e esta área. Os habitantes locais são na maioria árabes, sunitas, não iranianos xiitas. Eu estava querendo dizer que a matança vai começar de novo. — Watanabe explicou a discussão que os dois homens tinham tido em farsi. — Agora vai ser muito pior com cada facção tentando conseguir o poder.

— Estes bárbaros não vão obedecer a Khomeini? Não vão depor as armas?

— Eu estou dizendo que os esquerdistas como Muzadeh vão continuar com a guerra, ajudados e acobertados pelos soviéticos, que estão loucos para tomar o Irã, eles sempre quiseram o Irã, sempre desejarão o Irã. Não por causa do petróleo, mas por causa do estreito de Ormuz. Pois com um pé no estreito, eles tomam conta do mundo ocidental... e do Japão. Pelo que me diz respeito, o Ocidente, a América e o resto do mundo podem apodrecer, mas nós seremos obrigados a entrar em guerra se o estreito for proibido para os nossos navios.

— Concordo. É claro que eu concordo. — Kasigi também estava irritado. — Nós todos sabemos disto. É claro que isso significa guerra, enquanto formos dependentes com relação ao petróleo.

— Sim — Watanabe sorriu melancolicamente. — Dez anos, não mais do que isso.

— Sim.

Os dois homens estavam a par do enorme esforço nacional em projetos de pesquisa, conhecidos e secretos, para desenvolver as fontes alternativas de energia que tornariam o Japão auto-suficiente — o Projeto Nacional. As fontes* o sol e o mar.

— Dez anos, sim, só mais dez anos. — Kasigi estava confiante. — Se tivermos dez anos de paz e de acesso livre ao mercado americano, então teremos a nossa fonte alternativa e então seremos os donos do mundo. Mas enquanto isso — acrescentou, com a raiva aumentando —, durante os próximos dez anos teremos que nos submeter a bárbaros e bandidos de toda a espécie.

— Khrushchev não disse que não tinham que fazer nada a respeito do Irã porque "o Irã é uma maçã podre que vai cair nas nossas mãos"? — Watanabe estava furioso. — Eu garanto que aqueles comedores de merda estão sacudindo a árvore com toda a força.

— Nós os derrotamos uma vez — Kasigi disse sombriamente, lembrando-se da guerra naval de 1904, de que seu avô tinha participado. — Poderemos derrotá-los de novo. Aquele homem... Muzadeh? Talvez ele seja apenas progressista e antimulá; nem todos eles são partidários fanáticos de Khomeini

Eu concordo, Kasigi-san. Mas alguns são igualmente fanáticos pelo seu Deus Lenin-Marx e igualmente estúpidos. Aposto como Muzadeh é um desses pseudo-intelectuais, antigo aluno de uma universidade francesa, cujos estudos foram pagos com bolsas de estudo dadas pelo xá, que foi adotado, treinado e adulado por professores de esquerda na França. Passei dois anos na Sorbonne fazendo um curso de pós-graduação. Eu conheço esses intelectuais, esses cretinos e alguns dos professores. Eles tentaram me catequisar uma vez... Um tiroteio lá fora o interrompeu. Por um momento, os dois homens ficaram imóveis, depois correram para a janela. Lá embaixo, o aiatolá e Muzadeh estavam parados nos degraus da frente. Abaixo deles, no pátio, um homem os ameaçava com um rifle automático, sozinho no meio de um semi-círculo de outros homens armados, os outros estavam espalhados, perto dos caminhões, alguns gritando e todos hostis. Scragger estava ali perto e viram-no procurar um lugar melhor para se proteger. O aiatolá levantou os braços e falou com eles. Watanabe não podia ouvir o que o homem estava dizendo. Cuidadosamente, abriu a janela e espiou para fora.

— Ele está dizendo: "Em Nome de Deus, entreguem suas armas, o imã o ordenou. Todos vocês ouviram a transmissão da mensagem dele. Vou repetir, obedeçam-no e entreguem suas armas".

Houve mais gritos zangados, com homens ameaçando uns aos outros. Na confusão, ele viu Scragger se esgueirar e desaparecer atrás de um edifício. Watanabe se debruçou mais, tentando ouvir melhor.

— O homem que os está ameaçando com a arma, não consigo ver se ele está usando uma braçadeira ou não... ah, não está, então deve serfedayin ou tudeh... — Fez-se um grande silêncio no pátio. Imperceptivelmente, os homens começaram a procurar posições melhores, todos armados, cada um vigiando o seu vizinho, todos com os nervos à flor da pele. O homem que ameaçava os dois levantou a arma e berrou para o aiatolá:

— Mande seus homens largarem as armas!

Muzadeh deu um passo à frente, sem querer um confronto ali, sabendo que estava em desvantagem.

— Pare com isto Hassan! Você vai...

— Nós não lutamos, e nem os nossos irmãos morreram para entregarmos as nossas armas e o poder para os mulás!

— O governo tem poder! O governo! — Muzadeh aumentou ainda mais o tom da voz. — Todos podem ficar com suas armas agora, mas deverão entregá-las no meu escritório, já que eu represento o novo governo e o...

— Você não representa — gritou o aiatolá. — Em primeiro lugar, em Nome de Deus, todos os guardas não-islâmicos vão colocar as suas armas no chão e partir em paz. Em segundo lugar, o governo está subordinado ao komiteh revolucionário que está ligado diretamente ao imã, e este homem Muzadeh ainda não foi confirmado, portanto não tem nenhuma autoridade! Obedeçam ou serão desarmados!

— Eu sou o governo aqui. — Não é não!

— Allah-u Akbarrr! — alguém gritou e puxou o gatilho e Hassan, o jovem que estava no centro, foi atingido nas costas e dançou a dança da morte. Imediatamente, outras armas foram disparadas e os homens correram para se abrigar ou se voltaram contra o vizinho. A batalha foi curta e terrível. Muitos morreram, mas os homens de Muzadeh estavam em minoria. Os Faixas Verdes foram impiedosos. Alguns tinham agarrado Muzadeh e agora o mantinham de joelhos no chão, implorando piedade.

Sobre os degraus estava o aiatolá. Uma rajada de balas o atingira no peito e no estômago e agora ele estava caído nos braços de um homem, com o sangue manchando suas vestes. Um filete de sangue escorreu pela sua barba.

— Deus é Grande... Deus é Grande... — murmurou, e depois deu um gemido rouco de dor.

— Mestre — disse o homem que o estava segurando, com lágrimas correndo pelo rosto —, diga a Deus que nós tentamos protegê-lo, diga ao Profeta.

— Deus... é... Grande — murmurou.

— E quanto a Muzadeh? — perguntou alguém. — O que vamos fazer com ele?

— Faça o trabalho de Deus. Mate-o... mate-o como devem matar todos os inimigos do islã. Não existe nenhum outro deus além de Deus...

A ordem foi obedecida imediatamente. Cruelmente. O aiatolá morreu sorrindo, com o Nome de Deus nos lábios. Os outros soluçavam abertamente — invejando-lhe o paraíso.

24

NA BASE DA FORÇA AÉREA DE KOWISS: 14:32H. Manuela Starke estava na cozinha do bangalô fazendo chili. Música country enchia o pequeno aposento, vinda de um toca-fitas de pilha, colocado no parapeito da janela. No fogão a gás butano havia um panelão cheio de caldo e de alguns dos ingredientes, e quando começou a ferver, ela diminuiu o fogo e deu uma olhada no relógio para calcular o tempo. Bem na hora, pensou. Vamos comer por volta das sete e as velas vão embelezar a mesa!

Havia cebolas e outras coisas para picar e carne de cabra para moer e ela continuou a trabalhar alegremente, cantarolando distraída ou dando uns passos de dança ao som da música. A cozinha era pequena e difícil para se trabalhar, ao contrário da enorme cozinha da velha e linda hacienda espanhola que sua família possuía há quase um século, onde ela, seu irmão e sua irmã foram criados. Mas ela não se importava de estar apertada nem de cozinhar sem os utensílios apropriados. Estava satisfeita de ter alguma coisa para fazer para não pensar em quando tornaria a ver seu marido.