— Pare! — Hussein disse em farsi. — São ordens de Isfahan. Eu lhe mostrei as ordens de que o senhor e sua mulher deviam ser enviados imediatamente...
— Ordens? Um pedaço de papel imundo com uma letra ilegível e assinado por um aiatolá de quem eu nunca ouvi falar?
— Entrem no aparelho, todos dois, ou serão arrastados para lá — disse Hussein indo até ele.
— Quando o aparelho estiver pronto! — Insolentemente, o coronel apanhou um cigarro. — Dê-me fogo — ordenou ao homem que estava mais perto, e quando o homem hesitou, ele berrou: — Você é surdo? Fogo!
O homem sorriu com timidez e pegou um fósforo, e todos em volta mostraram sua aprovação, até o mulá, admirando a coragem em face da morte — e do inferno, pois sem dúvida este homem era um homem do xá e iria para o inferno. É claro que sim! Ele não tinha gritado "Longa vida para o xá" há apenas duas horas, durante a noite, quando nós invadimos e ocupamos o campo e sua bela residência, ajudados por todos os soldados e aviadores da base e por alguns dos oficiais, sendo que o resto dos oficiais estava agora atrás das grades? Deus é Grande! Foi a Vontade de Deus, um milagre que os generais tenham desmoronado como o monte de merda que os mulás diziam que eles eram. O imã estava certo de novo, que Deus o proteja.
Hussein foi até Ayre, que estava rígido, perplexo com o que estava acontecendo, tentando compreender. Marc Dubois estava ao seu lado, igualmente chocado, e o exame do aparelho fora interrompido.
— Salaam — disse o mulá, tentando ser educado. — Vocês não têm nada a temer. O imã ordenou que tudo voltasse ao normal.
— Normal? — repetiu Ayre, com raiva. — Este é o coronel Peshadi, comandante de tanques, herói da força expedicionária iraniana enviada a Oman para sufocar uma rebelião apoiada pelos marxistas e uma invasão do Iêmen do Sul! — Isso acontecera em 1973, quando o sultão de Oman pediu ajuda ao xá. — O coronel Peshadi não recebeu o Zolfaghar, sua medalha mais importante, concedida apenas por heroísmo em combate?
— Sim. Mas agora precisam que o coronel Peshadi responda perguntas relativas a crimes contra o povo iraniano e contra as leis de Deus! Salaam, capitão Dubois, fico satisfeito de que seja o senhor que vai nos levar.
— Eu fui solicitado para uma emergência. Isso não é uma emergência — retrucou Dubois.
— É uma evacuação de emergência. O coronel e sua mulher devem ser evacuados para o quartel-general de Isfahan. — Hussein acrescentou com um sorriso sardônico. — Talvez eles sejam emergências.
— Sinto muito — disse Ayre —, mas os nossos aparelhos estão a serviço da IranOil. Não podemos fazer o que estão pedindo.
— Excelência Esvandiary! — gritou o mulá.
Kuram Esvandiary, ou 'Pé-quente' como era apelidado, tinha cerca de trinta anos, era muito popular com os estrangeiros, muito eficiente e treinado pela S-G. Estivera por dois anos em treinamento no QG da S-G em Aberdeen, com uma bolsa concedida pelo xá. Ele veio lá de trás e, por um momento, nenhum dos homens da S-G reconheceu seu administrador. Normalmente, ele se vestia meticulosamente e andava bem barbeado, mas agora estava com uma barba de três ou quatro dias, e usava roupas grosseiras, com uma braçadeira verde, um chapéu mole e um M16 pendurado no ombro.
— A permissão para a viagem está aqui — disse, entregando a Ayre os formulários habituais. — Eu os assinei e estão carimbados.
— Mas, 'Pé-quente', não está vendo que não é uma verdadeira emergência?
— Meu nome é Esvandiary, sr. Esvandiary — disse sem sorrir e Ayre enrubesceu. — E é uma ordem legítima da IranOil que o tem sob contrato aqui no Irã. — Seu rosto endureceu. — Se o senhor recusar uma ordem legítima, em boas condições de vôo, estará quebrando o contrato. Se fizer isso sem motivo, então teremos o direito de nos apoderar de todos os aparelhos, hangares, peças, casas, equipamentos, além de expulsá-los do Irã, imediatamente.
— Você não pode fazer isto.
— Eu agora sou o representante da IranOil aqui — disse Esvandiary, secamente. — A IranOil pertence ao governo. O komiteh revolucionário, sob a liderança do imã Khomeini, que a paz esteja com ele, é o governo. Leia o seu contrato com a IranOil... e também o contrato entre a S-G e a Irã Helicópteros. Vocês vão fazer o vôo ou se recusam a fazê-lo?
— E quanto... — E Ayre controlou a raiva. — Quanto ao primeiro-ministro Bakhtiar e o gov...
— Bakhtiar? — Esvandiary e o mulá olharam-no espantados. — Você ainda não soube? Ele renunciou e fugiu, os generais capitularam ontem de manhã, o imã e o komiteh revolucionário são o governo do Irã agora.
Ayre e Dubois e os estrangeiros que estavam perto ficaram sem fala. O mulá disse alguma coisa em farsi que eles não compreenderam. Os homens riram.
— Capitularam? — foi tudo o que Ayre conseguiu dizer.
— Foi a Vontade de Deus que os generais caíssem em si — disse Hussein, com os olhos brilhando. — Todo o Estado-Maior foi preso. Todos eles. Assim como todos os inimigos do islã serão presos agora. Nós também pegamos Nasiri, já ouviu falar nele? — perguntou exultante o mulá. Nasiri era o odiado chefe da Savak, que o xá tinha mandado prender há poucas semanas atrás e que estava na prisão aguardando julgamento. — Nasiri foi julgado, considerado culpado de crimes contra a humanidade e executado, junto com outros três generais, Rahimi, o chefe da lei marcial de Teerã, Naji, governador-geral de Isfahan, e o comandante dos paraquedistas, Khosrowdad. Vocês estão perdendo tempo. Vão fazer o vôo ou não?
Ayre mal era capaz de pensar. Se o que eles dizem é verdade, então Peshadi e sua mulher estão praticamente mortos. É tudo tão rápido, tão impossível.
— Nós... é claro que faremos um vôo legal. O que vocês querem exatamente?
— Transportar Sua Excelência o mulá Hussein Kowissi para Isfahan, imediatamente. Com o seu pessoal. Imediatamente — disse Esvandiary, impaciente. — Com o prisioneiro e sua esposa.
— Eles... O coronel Peshadi e sua mulher não estão citados na licença. Ainda mais impacientemente, Esvandiary arrancou-lhe o papel das mãos e escreveu alguma coisa nele:
— Agora estão! — Fez um sinal para onde Manuela estava, um pouco mais atrás, com o cabelo enfiado dentro de um chapéu, usando um macacão. Ele a notara assim que ela chegou, atraente como sempre, perturbadora como sempre. — Eu deveria prendê-la por invasão — disse com voz rouca. — Ela não tem o direito de estar nesta base. Não há alojamento para casais, nem estes são permitidos, de acordo com as regras da base e da S-G.
Perto do 212, o coronel Peshadi gritou, zangado, em inglês:
— Vocês vão voar hoje ou não? Estamos ficando com frio. Depressa, Ayre. Quero passar o mínimo de tempo possível com esses vermes.
Esvandiary e o mulá enrubesceram. Ayre respondeu, sentindo-se melhor com a coragem do homem:
— Sim, senhor. Sinto muito. OK, Marc?
— Sim. — Dubois voltou-se para Esvandiary: — Onde está minha permissão militar?
— Anexa à licença. Vale também para sua volta amanhã. — Esvandiary acrescentou em farsi para o mulá: — Sugiro que o senhor embarque, Excelência.
O mulá se adiantou. Os guardas fizeram sinal para Peshadi e sua mulher subirem a bordo. Com as cabeças erguidas, eles subiram os degraus com firmeza. Homens armados entraram no aparelho atrás deles e o mulá sentou-se na frente, ao lado de Dubois.
— Um momento! — disse Ayre, já passado o choque. — Não vamos transportar homens armados. É contra os regulamentos... os seus e os nossos. Esvandiary gritou uma ordem, e fez um sinal na direção de Manuela. Imediatamente, quatro homens armados a cercaram. Outros se aproximaram de Ayre.