Imediatamente, o seu líder do Tudeh tinha convocado uma reunião, todos eles perplexos com a covardia dos generais:
— Isto só demonstra a péssima influência dos americanos, que os traíram e os enfeitiçaram de tal maneira que eles se castraram e cometeram suicídio, pois é evidente que todos eles têm que morrer, seja pelas nossas mãos ou pelas daquele louco do Khomeini.
Todos estavam decididos mas, ao mesmo tempo, tinham medo da luta que se aproximava contra os fanáticos e os mulás, o ópio do povo, e o próprio Pavoud sentiu-se imensamente aliviado quando o líder disse que eles ainda não deveriam sair para as ruas, mas permanecer escondidos e esperar, esperar até vir uma ordem para a revolta geral.
— Camarada Pavoud, é vital que você mantenha o melhor relacionamento possível com os pilotos estrangeiros da base aérea. Nós vamos precisar deles e dos seus helicópteros; ou vamos precisar impedir o seu uso pelos inimigos do povo. Nossas ordens são para calar a boca e esperar, ter paciência. Quando finalmente recebermos ordem de tomar as ruas contra Khomeini, os nossos camaradas do norte virão através da fronteira com suas legiões... Ele viu Ayre observando-o.
— Eu estou bem, capitão, só estou preocupado com tudo isso, e com a... com a nova era.
— Simplesmente faça tudo o que Esvandiary pedir. — Ayre refletiu por um momento. — Vou até a torre para comunicar ao QG o que aconteceu. Você tem certeza de que está bem?
— Sim, sim, obrigado.
Ayre franziu a testa, depois caminhou pelo corredor e subiu as escadas. A espantosa mudança de Esvandiary, que fora afável durante anos, que fora simpático, sem demonstrar nada do ódio que havia dentro dele contra os ingleses. Pela primeira vez desde que estava no Irã, sentiu o futuro deles ameaçado.
Para sua surpresa, a torre estava vazia. Desde o motim de domingo, tinha havido uma guarda permanente lá. Ao justificar a guarda, o major Changiz tinha dado de ombros, com sangue manchando o uniforme:
— Tenho certeza que vocês compreendem, 'emergência nacional'. Muitos homens leais foram mortos aqui hoje e nós não encontramos nenhum traidor, ainda. Até novas ordens, o senhor só deverá transmitir durante o dia, e só o que for absolutamente necessário. Todos os vôos estão cancelados até decisão posterior.
— Está bem, major. Por falar nisso, onde está nosso operador de rádio, Massil?
— Ah, sim, o palestino. Ele está sendo interrogado.
— Posso perguntar por quê?
— Ligações com a OLP e atividades terroristas.
Ontem ele fora informado de que Massil confessara e que fora executado — sem uma chance de ver as provas nem de vê-lo. Pobre infeliz, Ayre pensou, fechando a porta da torre e ligando o equipamento. Massil foi sempre leal a nós e agradecido pelo emprego, mesmo sendo superqualificado — diploma de engenheiro de comunicações da Universidade do Cairo, primeiro da classe, mas sem ter onde praticar e sem pátria. Maldição! Nós não damos valor aos nossos passaportes. Como seria não ter passaporte e ser, digamos, palestino? Deve ser terrível não saber o que vai acontecer em cada fronteira, onde cada funcionário da Imigração, policial, burocrata ou empregado é um inquisidor em potencial.
Graças a Deus eu nasci britânico e isto nem mesmo a Rainha da Inglaterra pode me tirar, embora o maldito governo trabalhista esteja alterando nossa herança ultramarina. Malditos sejam por cada australiano, canadense, neozelandês, africano, queniano, chinês e centenas de outros cidadãos britânicos que dentro em breve terão que ter um maldito visto para entrar em casa!
— Imbecis — resmungou. — Será que eles não percebem que esses são os filhos e filhas de homens que construíram o Império e morreram por ele, em muitos casos?
Esperou os rádios esquentarem. O zumbido deu-lhe prazer, luzes verdes e vermelhas piscando, e não se sentiu mais afastado do mundo. Espero que Angela e o pequeno Frederick estejam bem. Que droga não ter correio nem telefone e o telex estar mudo. Bem, talvez dentro em breve tudo esteja funcionando de novo.
Ligou o botão de transmissão, esperando que McIver ou alguém estivesse na escuta. Então notou que, por hábito, junto com o UHF e o HF, tinha ligado o radar. E se debruçou para desligá-lo. Nesse momento, um pequeno sinal apareceu na margem externa — na linha de trinta quilômetros a noroeste, quase oculto no meio da pesada cortina de montanhas. Perplexo, ele o estudou. A experiência mostrou-lhe logo que era um helicóptero. Certificou-se de que estava ligado em todas as freqüências e quando tornou a olhar, viu o sinal desaparecer. Esperou, mas o sinal não tornou a aparecer. Ou ele desceu ou foi abatido, ou está se mantendo fora do alcance do radar, pensou.
Os segundos se arrastaram. Nenhuma mudança, só as linhas passando. Ainda nenhum sinal.
Seus dedos ligaram o botão de transmissão do UHF, e ele trouxe o microfone mais para perto, então hesitou, mudou de idéia e desligou-o. Não há necessidade de alertar os operadores da torre da base, se houver alguém de serviço lá, pensou. Franziu a testa para a tela. Com um lápis vermelho macio marcou a possível rota de aproximação a oitenta nós. Os minutos se passaram. Podia ter mudado para uma varredura a curta distância, mas não o fez, caso o sinal não estivesse se aproximando, mas sim, e isso era altamente irregular, estivesse se esgueirando por aquela área.
Agora ele deve estar a uns oito ou dez quilômetros, pensou. Apanhou o binóculo e começou a examinar o céu, de norte para oeste até o sul. Seus ouvidos ouviram passos leves na escada. Com o coração disparando, desligou o radar. A tela começava a ficar branca quando a porta se abriu.
— Capitão Ayre? — perguntou o aviador, vestido com um uniforme bem arrumado, um rosto persa, forte, bem barbeado, de vinte e tantos anos, e uma carabina do exército americano nas mãos.
— Sim, sou eu.
— Eu sou o sargento Wazari, o novo controlador de tráfego aéreo. — O homem encostou a carabina na parede, estendeu a mão e cumprimentou Ayre. — Olá, eu recebi um treinamento de três anos na Força Aérea americana e sou controlador militar. Cheguei a trabalhar seis meses no aeroporto Van Nuys. — Seus olhos tinham examinado todo o equipamento. — Isto aqui é bem completo.
— Sim, ahn, sim, obrigado. — Ayre se atrapalhou com o binóculo e finalmente se livrou dele. — O que, ahn, acontece no aeroporto Van Nuys?
— É uma pequena pista em San Fernando Valley, em Los Angeles, mas é o terceiro aeroporto mais movimentado dos Estados Unidos e deixa qualquer um maluco! — Wazari sorriu. — O tráfego é amador, a maioria dos caras são alunos que ainda não aprenderam a distinguir entre o próprio rabo e uma hélice, você tem que lidar com uns vinte ao mesmo tempo, oito no mínimo, todos querendo bancar o ás da aviação. — Ele riu. — É um grande lugar para se aprender controle de tráfego, mas depois de seis meses você está biruta.
— Este lugar aqui é bem tranqüilo. Mesmo em épocas normais. Nós, ahn, nós não temos vôos para fora, como você sabe. Acho que você não vai ter muito o que fazer. — Ayre forçou um sorriso, controlando-se para não examinar o céu.
— Claro. Eu só queria dar uma olhada já que vamos começar bem cedo amanhã. — Tirou do bolso do uniforme um papel e entregou-o a Ayre. — Temos três vôos marcados para as plataformas locais, começando às oito horas, certo? — Sem pensar, ele apanhou um pano e limpou a tela do radar, arrumando também a mesa. O lápis vermelho voltou para o estojo.
— Estes vôos foram autorizados por Esvandiary? — E Ayre tornou a examinar a lista.
— Quem é ele? Ayre lhe disse.
— Bem, capitão — disse o sargento sorrindo —, o major Changiz ordenou-os pessoalmente, então pode apostar que eles estão confirmados.