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— Deixe-me dar uma olhada, Duke — disse o médico, sem fôlego por causa da corrida, com um estetoscópio pendurado no pescoço. — Estou feliz por você estar de volta. — O dr. Nutt tinha uns cinqüenta anos, era muito corpulento, tinha pouco cabelo e um nariz de beberrão. Ele se ajoelhou ao lado do mulá e começou a examinar o seu peito que estava empapado de sangue.

— É melhor o levarmos para a enfermaria o mais rápido possível. E os outros também.

Starke mandou dois homens que estavam perto carregarem a maca e seguirem o médico. Mais uma vez ele foi obedecido sem discussão pelos homens que trouxera com ele; os outros Faixas Verdes ficaram olhando para ele. Agora havia nove deles, incluindo Wazari e os quatro que tinham ficado.

— O senhor está preso — disse Wazari. Starke olhou para ele.

— Sob que acusação? — perguntou Starke, encarando-o.

— Ordens superiores, capitão. Eu apenas cumpro ordens — respondeu Wazari, hesitante.

— Eu também. Estarei aqui se quiserem conversar comigo, sargento. — Starke sorriu tranqüilizadoramente para Manuela que tinha empalidecido. — Volte para casa, querida. Não há motivo para se preocupar. — Ele se virou e foi para perto da porta lateral para olhar o que acontecia lá dentro.

— Sinto muito, capitão, mas o senhor está preso. Entre no carro. O senhor tem que ir para a base imediatamente.

Quando Starke se virou, deu de cara com o cano de uma arma. Dois Faixas Verdes pularam sobre ele, agarraram-lhe os braços, imobilizando-o. Ayre lançou-se para a frente, mas um dos Faixas Verdes enfiou-lhe um revólver no estômago. Os dois homens começaram a arrastar Starke para o carro. Outros vieram ajudar enquanto ele lutava, amaldiçoando-os. Manuela olhava, em pânico.

Então ouviu-se um berro de raiva e Zataki avançou, arrancou a carabina da mão de Wazari e lançou-a contra a cabeça dele. Só os ótimos reflexos de Wazari, bem treinado em boxe, fizeram com que ele desviasse a cabeça bem a tempo. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Zataki gritou:

— O que é que este cão está fazendo com uma arma? Vocês, seus idiotas, não sabem que o imã ordenou que todos os soldados depusessem as armas?

— Ouça, eu estou autorizado a... — Wazari parou, em pânico. Agora havia uma pistola na sua garganta.

— Você não está autorizado nem mesmo a cagar, até que o komiteh dê licença — disse Zataki. — Você já foi aprovado pelo komiteh!

— Não... não, mas...

— Então, por Deus e pelo Profeta, você é suspeito! — Zataki apertou a pistola contra a garganta de Wazari, depois fez um sinal com a outra mão. — Soltem o piloto e larguem as armas, ou por Deus e pelo Profeta, eu matarei todos vocês. — Quando ele agarrou a arma de Wazari, seus homens já tinham cercado os outros e agora os cobriam por trás. Nervosamente, os dois homens que mantinham Starke imobilizado o soltaram.

— Por que deveríamos obedecê-lo? — perguntou um deles. — Hein? Quem é você para nos dar ordens?

— Eu sou o coronel Zataki, membro do komiteh revolucionário de Bandar Delam, com a graça de Deus. O americano ajudou a nos salvar de um contra-ataque dos fedayins e trouxe o mulá e os outros que precisavam de assistência médica para cá. — Subitamente, sua raiva passou. Ele empurrou Wazari e o sargento se esparramou no chão. — Deixem o piloto em paz! Estão ouvindo? — Apontou e puxou o gatilho e a bala atravessou a gola do casaco de um dos homens que estavam ao lado de Starke. Manuela quase desmaiou e todos se espalharam. — Da próxima vez eu enfio uma bala no meio dos seus olhos! Você — ele rosnou para Wazari —, você está preso. Acho que você é um traidor, portanto vamos investigar. O resto pode ir com Deus, digam ao seu komiteh que eu terei prazer em vê-los. Aqui.

Fez sinal para que fossem embora. Os homens começaram a cochichar e Ayre aproveitou para se aproximar de Manuela e pôr a mão no seu ombro.

— Vá para dentro — murmurou. — Está tudo bem agora. — Viu Starke fazer sinal para eles saírem. Concordou com a cabeça. — Vamos, Duke está dizendo para sairmos.

— Não... por favor, Freddy, eu... eu estou bem, juro. — Ela forçou um sorriso e continuou a rezar para que o homem com a pistola conseguisse dominar os outros e que tudo aquilo terminasse. Por favor, meu Deus, faça com que isso termine.

Todos ficaram observando em silêncio enquanto Zataki esperava, com a pistola na mão, o sargento ao chão, perto dos seus pés, aqueles que eram contra ele olhando-o fixamente, e Starke em pé no meio deles, sem saber se Zataki venceria. Zataki examinou o tambor da arma.

— Vão com Deus, todos vocês — disse de novo, com mais dureza desta vez, enfurecendo-se. — Vocês estão surdos?

Relutantemente, eles saíram. O sargento se levantou, lívido, e ajeitou o uniforme. Ayre viu que ele tentava, bravamente, esconder o terror.

— Você fique ali até eu dizer que pode se mexer. — Zataki olhou para Starke, que observava Manuela. — Piloto, temos que acabar de descarregar o aparelho. Depois os meus homens precisam comer.

— Sim. E obrigado.

— De nada. Essas pessoas não sabiam, eles não têm culpa. — Mais uma vez ele olhou para Manuela, com os olhos escuros examinando-a. — Sua mulher, piloto?

— Minha esposa — respondeu Starke.

— Minha esposa está morta, morreu no incêndio de Abadan com meus dois filhos. Foi a Vontade de Deus.

— Às vezes a Vontade de Deus é insuportável.

— A Vontade de Deus é a Vontade de Deus. Vamos terminar de descarregar.

— Sim. — Starke subiu para a cabine, com o perigo afastado apenas por enquanto, uma vez que Zataki era tão volátil quanto nitroglicerina. Dois feridos ainda estavam amarrados nos assentos bem como duas maças. Ele se ajoelhou ao lado de um deles. — Como está, meu velho? — perguntou baixinho, em inglês.

Jon Tyrer abriu os olhos e piscou, com uma bandagem suja de sangue em volta da cabeça.

— Bem... sim, bem. O que... o que aconteceu?

— Você está enxergando?

Tyrer pareceu surpreso. Olhou para Starke, depois esfregou os olhos e a testa. Para alívio de Starke, ele disse:

— Claro, só que você está um pouco fora de foco e minha cabeça está doendo um bocado, mas posso vê-lo bem. É claro que posso vê-lo, Duke. O que foi que aconteceu?

— Durante o contra-ataque fedayim, hoje de madrugada, você foi apanhado por um fogo cruzado, uma bala pegou sua cabeça de raspão e você começou a correr em círculos como uma galinha degolada, gritando: "Não consigo enxergar... Não consigo enxergar..." Aí você desmaiou e ficou inconsciente até agora.

— Até agora? Maldição! — O americano espiou pela porta da cabine. — Onde estamos?

— Em Kowiss, achei melhor trazer você e os outros para cá depressa.

— Eu não me lembro de nada. Nada. Fedayins! Pelo amor de Deus, Duke, eu não me lembro nem de ter sido trazido para bordo.

— Fique quieto, meu velho. Eu explico mais tarde. — Ele se virou e chamou: — Freddy, arranje alguém para carregar Jon Tyrer para o médico

— acrescentando em farsi, para Zataki, que olhava da porta: — Excelência Zataki, por favor, arranje gente para carregar seus homens para a enfermaria.

— Fez uma pausa. — Meu lugar-tenente, capitão Ayre, vai providenciar comida para todo mundo. O senhor gostaria de comer comigo? Na minha casa?

Zataki deu um sorriso estranho e sacudiu a cabeça.

— Obrigado, piloto — disse em inglês. — Vou comer com os meus homens. Esta noite nós precisamos conversar. O senhor e eu.

— Quando quiser. — Starke saltou para o chão. Os homens começaram a levar todos os feridos. Ele apontou para o bangalô. — Aquela é minha casa, o senhor é bem-vindo lá, Excelência.

Zataki agradeceu e foi embora, empurrando o sargento Wazari na frente. Ayre e Manuela juntaram-se a Starke. Ela tomou-lhe a mão.

— Quando ele puxou o gatilho, eu pensei... — Ela sorriu de leve e mudou para farsi. — Ah, meu amado, como o dia ficou belo agora que você está em segurança ao meu lado.