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— Há muito combustível lá, quando chegarmos... Deus seja louvado! — Dissera Ali, excitado quando passaram sobre um cume e viram o lago e o dique. — Deus seja louvado!

Lochart repetira o agradecimento e pousara rapidamente. Ao lado da pista de pouso havia um tanque subterrâneo de vinte mil litros e o barracão-hangar. Lá havia algumas ferramentas e bombas de ar para os pneus, e esquis aquáticos e equipamentos de barco.

— Vamos guardar o aparelho — disse Ali. Juntos, empurraram o 212 para o barracão, onde ele entrou com dificuldade, colocando calços nas rodas. Enquanto Lochart ajustava a tranca do rotor, notou três asas voadoras numa prateleira. Estavam cobertas pela poeira e rasgadas.

— De quem são?

— Este costumava ser o local de fim-de-semana do general da Força Aérea Imperial, Hassayn Aryani. Eram dele.

Lochart assoviou. Aryani era o chefe lendário da Força Aérea que, segundo boatos, também fora uma espécie de capitão da Guarda Pretoriana do tempo dos romanos para o xá, seu confidente e casado com uma de suas irmãs. Ele tinha morrido num acidente com uma asa voadora há dois anos.

— Foi aqui que ele morreu?

— Sim. — Ali apontou para o outro lado do lago. — Dizem que ele pegou uma turbulência e caiu naqueles penhascos.

— Dizem? Você não acredita nisto? — perguntou Lochart.

— Não. Tenho certeza de que ele foi assassinado. Na Força Aérea a maioria pensa como eu.

— Você quer dizer que a asa dele foi sabotada?

— Não sei. — Ali deu de ombros. — Talvez sim, talvez não, mas ele era muito cuidadoso e era um piloto bom demais para entrar numa turbulência. Aryani nunca voaria com mau tempo. — Lá embaixo, podiam ouvir vozes e risos e ver os filhos de Valik brincando perto do lago. — Ele usava um barco a motor para levantar vôo. Colocava esquis aquáticos, segurava numa corda comprida, amarrada ao barco que corria pelo lago e quando já estava a grande velocidade, largava os esquis e subia até uns duzentos, trezentos metros, depois descia em espiral até pousar a poucos centímetros daquele flutuador.

— Ele era assim tão bom?

— É, era sim. Era bom demais e por isso é que foi assassinado.

— Por quem?

— Não sei. Se eu soubesse, ele ou eles já estariam mortos há muito tempo.

— Você o conhecia, então? — perguntou Lochart, percebendo o tom de adoração na voz dele.

— Fui seu ajudante-de-ordens, um dos seus ajudantes-de-ordens, durante um ano. Ele foi o homem mais fantástico que conheci... o melhor general, o melhor piloto, o melhor esportista, esquiador, tudo. Se estivesse vivo agora, o xá nunca teria sido enganado por estrangeiros ou enfeitiçado pelo nosso arquiinimigo Carter, o xá nunca teria partido, o Irã não mergulharia no abismo e os generais não nos teriam traído. — O rosto de Ali Abbasi contorceu-se de raiva. — É impossível conceber que pudéssemos ser atraiçoados desse modo, com ele vivo.

— Então quem o matou? Os partidários de Khomeini?

— Não, não há três anos atrás. Ele era notoriamente nacionalista, xiita, embora moderno. Quem? O Tudeh, os fedayins ou qualquer fanático da esquerda, da direita ou do centro que quisesse ver o Irã enfraquecido. — Ali olhou para ele, olhos escuros num rosto esculpido em pedra. — Existem até os que dizem que certas pessoas em altos postos temiam seu poder e sua popularidade crescentes.

Você quer dizer que o xá poderia ter ordenado a sua morte?

— Não. Não, é claro que não, mas ele era uma ameaça para aqueles que desencaminharam o xá. Ele era um farmandeh, um comandante do povo. Era uma ameaça para muita gente: para os interesses britânicos, porque apoiou o primeiro-ministro Mossadegh que nacionalizou a Petróleo Anglo-Iraniana, apoiou o xá e a OPEP quando quadruplicaram o preço do petróleo. Ele era pró-Israel, embora não antiárabe, era, portanto, uma ameaça para a OLP e para Yasir Arafat. Também podia ser considerado uma ameaça aos interesses americanos... para uma ou todas as Sete Irmãs, porque não ligava a mínima para elas nem para ninguém. Ninguém. Pois era, acima de tudo, um patriota.

— Ali tinha um olhar estranho. — O assassinato é uma arte antiga no Irã. Ibn-al-Sabbah não foi um de nós? — Sorriu com os lábios, mas não com os olhos.

— Nós somos diferentes aqui.

— Desculpe, quem é Ibn-al-Sabbah?

— O Velho Homem das Montanhas, Hassan ibn-al-Sabbah, o líder religioso Isma'ili que criou, no século XI, os Assassinos, e o culto ao assassinato político.

— Oh, claro, desculpe, não estava raciocinando. Ele não era amigo de Ornar Khayyãm?

— Algumas lendas dizem que sim. — A expressão de Ali era dura. — Ayrani foi assassinado, por quem, ninguém sabe. Ainda. — Juntos, fecharam a porta do barracão.

— E agora? — perguntou Lochart.

— Agora nós vamos esperar. Depois prosseguimos. — Para o exílio, pensou Ali. Não importa, será apenas temporário e pelo menos eu sei para onde estou indo, não como o xá, pobre homem, que é um proscrito. Eu posso ir para os Estados Unidos.

Só ele e seus pais sabiam que ele tinha um passaporte americano. Como papai foi esperto, ele pensou:

— Nunca se sabe, meu filho, o que Deus nos reserva — dissera seu pai em tom grave. — Eu o aconselho a pedir um passaporte enquanto pode. As dinastias nunca duram, só as famílias. Os xás vêm e vão, devoram-se uns aos outros, e os dois Pahlavi juntos somam apenas 54 anos como Suas Majestades Imperiais. Quem era Reza Khan antes de se coroar Rei dos Reis? Um soldado aventureiro, filho de camponeses analfabetos de Mazandaran, perto do Cáspio.

— Mas, papai, não há dúvida de que Reza Khan foi um homem especial. Sem ele e Muhammad Reza nós ainda seríamos escravos dos ingleses.

— Os Pahlavi foram úteis para nós, meu filho, de muitas maneiras. Más o Rez Xá falhou, ele falhou consigo mesmo e conosco, por acreditar estupidamente que os alemães ganhariam a guerra e por tentar apoiar o Eixo, dando aos ingleses uma desculpa para depô-lo e exilá-lo.

— Mas, papai, o Muhammad Xá não pode falhar! Ele é mais forte do que seu pai jamais o foi. Nossas Forças Armadas causam inveja ao mundo todo. Temos mais aviões que os ingleses, mais tanques que os alemães, mais dinheiro que Creso, a América é nossa aliada, somos a maior potência militar e política do Oriente Médio e Próximo, e os líderes estrangeiros se curvam diante dele... até Brezhnev.

— Sim, mas ainda não sabemos qual é a Vontade de Deus. Consiga o passaporte.

— Mas um passaporte americano pode ser muito perigoso, você sabe como dizem que quase tudo passa pela Savak e chega até o xá! E se ele ficasse sabendo, ou o general Aryani? Isto seria a minha ruína na Força Aérea.

— E por quê? Pois é claro que você lhes diria orgulhosamente que tinha tirado o passaporte e o mantivera em segredo para o dia em que pudesse usá-lo para o bem dos Pahlavi. Hein?

— É claro!

— Abra os olhos para o mundo, meu filho, as promessas dos reis não têm nenhum valor, elas são feitas por conveniência. Se este xá ou o próximo, ou mesmo o seu grande general tivessem que escolher entre a sua vida e alguma coisa de mais valor para eles, o que escolheriam? Não confie em príncipes, nem em generais, nem em políticos, eles o venderão, a você, à sua família, à sua herança por uma pitada de sal para pôr num prato de arroz que nem se darão ao trabalho de provar...

Como isso era verdade! Carter vendeu a nós e também seus generais, depois vendeu o xá e seus generais, e nossos generais fizeram o mesmo conosco. Mas como puderam ser tão estúpidos a ponto de decretar seu próprio fim? Ele se perguntou, estremecendo ao pensar no quanto estivera perto da morte em Isfahan. Devem ter enlouquecido!

— Está frio na sombra — disse Lochart.

— Sim, está. — Ali o olhou e tentou esquecer a ansiedade. Os generais são todos iguais. Meu pai tinha razão. Mesmo estes dois filhos da mãe, Valik e Seladi, eles nos teriam vendido a todos se fosse necessário, e ainda são capazes disso. Precisam de mim porque sou o único que pode pilotar para eles, fora esse pobre idiota que não sabe da encrenca em que está metido.