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— Esperem aqui, meus queridos, eu volto num instante. Projetada sobre o lago, apoiada em estacas, havia uma área aberta dos lados para churrasco e bar, sob uma cobertura elegante, com alguns degraus que iam até a água para esquiadores ou para o barco a motor que estava amarrado ali perto.

Lochart estava na beira da água, de mãos para cima.

Ali estava com a automática apontada. As ordens de Seladi tinham sido claras: "Vá para o lago e espere. Ou nós o chamaremos de volta ou mandaremos o piloto buscá-lo. Se o piloto for procurá-lo, mate-o e volte imediatamente."

Ele detestara aquela ordem. Bombardear ou atacar revolucionários ou revoltosos de cima de um helicóptero de combate não era assassinato, mas isto era assassinato. Seu rosto estava pálido, ele nunca tinha matado antes e pediu perdão a Deus, mas uma ordem era uma ordem.

— Sinto muito — disse, quase sem poder falar e começou a puxar o gatilho.

Neste instante, as pernas de Lochart pareceram ceder e ele caiu de lado na água. Automaticamente, Ali seguiu-lhe o movimento, mirou no meio das costas como se estivesse praticando tiro ao alvo, sabendo que nunca poderia errar daquela distância. Fogo!

— Pare!

A fração de segundo em que ele hesitou foi tempo suficiente para que o seu cérebro ouvisse a ordem e a obedecesse de boa vontade. Aliviado, sentiu o dedo aliviar a pressão no gatilho. Valik correu até ele e os dois examinaram a água, escura e profunda. Esperaram. Lochart não apareceu.

— Talvez ele esteja debaixo dos degraus, ou do flutuador — disse Ali, enxugando o suor do rosto e das mãos, e agradecendo a Deus por não ter o sangue do piloto na consciência.

— Sim — Valik também estava suando, mas de medo.

Ele nunca vira aquele olhar no rosto de sua mulher antes, o sorriso que prometia a morte durante a noite. São os seus ancestrais assassinos, pensou. Ela é uma qajar, na sua linhagem estão os qajars que cegavam ou matavam os seus rivais ao trono — ou os filhos dos seus rivais — não é verdade que apenas um dos xás qajar, numa dinastia que durou 146 anos, deixou o trono por morte natural? Valik olhou em volta, viu-a em pé no alto do caminho, e então virou-se para Ali.

— Dê-me a arma.

Tremendo, Valik colocou a arma sobre o chão de madeira e gritou:

— Lochart, deixei uma arma aqui para você. Tudo isso foi um erro. O capitão estava enganado.

— Mas, general...

— Suba no helicóptero — ordenou Valik, em voz alta. — Seladi é um idiota. Nunca deveria ter-lhe dado ordens para matar o pobre homem. Vamos partir para o Kuwait imediatamente e não para Bagdá. Ali, vá ligar o aparelho.

Ali saiu. Quando passou perto de Annoush, ele a olhou com curiosidade, depois continuou depressa. Ela desceu e se juntou a Vaiik.

— Você viu? — Ele perguntou.

— Sim.

Esperaram. Não se ouvia nenhum som, não havia nenhuma onda batendo nos pilares. Estava bonito e tranqüilo, a superfície do lago transparente e parada.

— Eu... eu rezo para que ele esteja escondido em algum lugar — disse ela, sentindo um grande vazio na alma, mas agora estava na hora de fazer as pazes. — Estou contente do sangue dele não estar nas nossas mãos. Seladi é um monstro.

— É melhor voltarmos. — Estavam ocultos do helicóptero e da casa. Ele tirou a sua automática e deu um tiro para o chão. — Para Seladi. Eu, ahn, acho que atingi Lochart quando... quando ele veio à tona. Hein?

— Você é um homem bom e inteligente. — Ela lhe deu o braço e eles voltaram de braços dados. — Sem você, sem a sua coragem e a sua esperteza, nunca teríamos escapado de Isfahan. Mas o exílio? Por...

— Exílio temporário — corrigiu jovialmente, sentindo-se enormemente aliviado por ter passado o momento de tensão entre eles. — Depois tornaremos a voltar para casa.

— Seria maravilhoso — disse, forçando-se a acreditar. Tenho que acreditar, ou então vou ficar maluca. Tenho que acreditar por causa das crianças! — Estou contente por você ter escolhido o Kuwait. Jamais gostei de Bagdá e daqueles iraquianos, arg! — Ainda havia sembras nos seus olhos. — Aquilo que Lochart disse sobre esperar até anoitecer estava errado?

— Há uma base aérea a poucas milhas daqui. Nós poderíamos ter sido vistos pelo radar, Annoush, ou por observadores nas montanhas. Nisso Seladi tem razão. A base vai mandar uma patrulha atrás de nós. — Eles chegaram ao topo. As crianças esperavam por eles na porta da cabine e todo mundo já embarcara. Apertaram o passo. — O Kuwait é muito mais seguro. Eu já tinha resolvido ignorar aquele idiota do Seladi. Não se pode confiar nele.

Em poucos minutos estavam no ar, rumando para o norte margeando as montanhas, costeando os penhascos, mantendo-se perto do chão para evitar o perigo da base aérea. AH Abbasi era um bom piloto e conhecia bem a região. Uma vez passada a cadeia de montanhas, desceram sobre o vale e viraram para oeste, esgueirando-se por um desfiladeiro para evitar o perímetro externo do campo de aviação, com a fronteira iraquiana a uns oitenta quilômetros à frente. Os cumes das montanhas estavam cobertos de neve bem como parte das encostas, embora o chão de alguns vales estivesse verde, no meio do deserto de rochas. Passaram sobre uma aldeia inesperada e desconhecida, depois desviaram-se quase que para o sul, mais uma vez seguindo o rio, correndo paralelamente à fronteira que ficava à direita. O vôo devia durar apenas duas horas, dependendo dos ventos, e os ventos eram favoráveis.

Os que estavam na cabine perto das janelas observavam satisfeitos a paisagem que passava depressa, as crianças nos melhores lugares, o major segurando Jalal, Valik com a filha no colo, ao lado de Annoush. Todos estavam contentes, alguns rezavam silenciosamente. Não faltava muito para o pôr-do-sol e este seria bonito, com as nuvens coloridas de vermelho — céu vermelho à noite, felicidade para os pastores — Annoush cantou para Setar em em inglês — e, lá na frente, os motores funcionavam bem, com todos os mostradores no verde.

Ali estava contente de estar pilotando, contente por não ter matado Lochart, que tinha ficado diante dele, sem dizer nada, sem implorar por sua vida e sem rezar, apenas lá, em pé, com as mãos levantadas, esperando. Tenho certeza de que ele está a salvo sob os pilares, graças a Deus...

Deu uma olhada rápida no mapa, refrescando a memória. Mas não precisava olhar, tinha passado muitos anos ali, voando pelos despenhadeiros. Em breve sairia das montanhas e desceria para as planícies pantanosas do Tigre e do Eufrates, ficando perto do chão, costeando Dezful, depois Ahwaz e Khor-ramshahr, depois atravessaria o estuário do Shatt-al-Arab e a fronteira, chegando ao Kuwait e à liberdade.

Na sua frente estava a elevação com o cume saliente que estava esperando, e ele subiu, saindo de um vale para entrar em outro, possuído pela alegria de voar. Então a frase "HBC, suba para trezentos metros e reduza a velocidade" encheu os seus fones e o seu cérebro. Ele não estava no ar nem há seis minutos.

A ordem fora dada em farsi e foi repetida em inglês e depois em farsi e mais uma vez em inglês, e durante todo o tempo em que escutava ele tinha mantido o aparelho baixo, tentando desesperadamente fazer a cabeça funcionar.

— Helicóptero HBC, você está ilegal, saia do vale e reduza a velocidade. Ali Abbasi olhou para cima, examinando o céu, mas não viu nenhum avião. O chão do vale passava vertiginosamente. À sua frente havia outra cadeia de montanhas e depois haveria uma sucessão de vales e montanhas que levavam até às planícies. A fronteira do Iraque ficava a oeste, a uns sessenta quilômetros de distância — vinte minutos.

— Helicóptero HBC, pela última vez, você está ilegal, saia do vale e reduza a velocidade!

Seu cérebro gritou: Você tem três opções: obedeça e morra, tente escapar ou desça e espere cair a noite e tente voar assim que o dia começar a clarear. Se você sobreviver aos foguetes e balas.

Na sua frente, à esquerda, ele viu as árvores e a paisagem descendo, com os lados do vale precipitando-se numa garganta, então lançou-se para lá, decidindo-se pela fuga. Agora sua mente trabalhava bem. Arrancou os fones e se colocou nas mãos de Deus, sentindo-se melhor por causa disto. Diminuiu a velocidade ao se aproximar do final da garganta, desviou-se de algumas árvores e se enfiou em outro vale pequeno, reduzindo ainda mais a velocidade, acompanhando cautelosamente o leito do rio. Surgiram mais árvores e arbustos e o helicóptero se esgueirou entre eles.