— Obrigada, Mac, mas não posso, só vim aqui para jogar squash com uma amiga. Você está ótimo. Prazer em conhecê-lo, sr. Gavallan. — Ela estendeu a mão para ele. — Sinto muito, tenho que correr, dê lembranças a Genny.
— O mesmo, garçom, por favor — disse Gavallan, e tornaram a sentar-se. — Mac, aqui entre nós, essa beldade me deixou fraco.
— Geralmente é o contrário. — McIver riu. — Ela é muito popular, trabalha na embaixada do Kuwait, é libanesa e Jean-Luc está enfeitiçado.
— E não é para menos... — O sorriso de Gavallan murchou. Robert Armstrong estava entrando pela porta do lado oposto, com um iraniano alto, de feições marcadas, de uns cinqüenta anos. Ele viu Gavallan, cumprimentou-o rapidamente e continuou a conversar, dirigindo-se para o andar de cima onde havia outras salas. — Que diabo será que esse homem... — Gavallan parou, lembrando-se de repente de quem ele era. — Robert Armstrong, superintendente-chefe da Scotland Yard em Kowloon, é isto que ele é, ou foi!
— Scotland Yard? Você tem certeza?
— Tenho, Scotland Yard ou Departamento Especial... espere um minuto... ele, sim, está certo, ele era amigo de Ian, foi lá que eu o conheci, na Casa Grande da montanha, não nas corridas, embora eu possa tê-lo visto lá também com Ian. Se me lembro bem, foi na noite em que Quillan Gornt chegou como um convidado indesejável... não consigo me lembrar exatamente, mas acho que era a festa de aniversário de casamento de Ian e Penélope, pouco antes de eu sair de Hong Kong... meu Deus, isto foi há quase 16 anos, não admira que eu não me lembrasse dele.
— Tive a sensação de que ele se lembrou de você no momento em que nos encontramos no aeroporto ontem.
— Eu também. — Eles terminaram os drinques e saíram, ambos estranhamente inquietos.
UNIVERSIDADE DE TEERÃ: 19:32H. O comício de mais de mil estudantes esquerdistas no pátio quadrangular estava barulhento e perigoso, com facções demais, fanáticos demais e armas demais. Estava frio e úmido, ainda não havia escurecido, mas algumas luzes e tochas já brilhavam no lusco-fusco.
Rakoczy estava atrás, misturado no meio da multidão, vestido como os outros, parecendo-se com eles, embora agora o seu disfarce tivesse mudado e ele não fosse mais nem Smith nem Fedor Rakoczy, o muçulmano russo, o simpatizante islâmico-marxista, mas, aqui em Teerã, tivesse virado Dimitri Yazernov, representante soviético no Comitê Central do Tudeh — um papel que ele assumia de vez em quando nos últimos anos. Estava em pé num dos cantos do pátio com cinco dos líderes estudantis do Tudeh, ao vento cortante, com o rifle pendurado no ombro, armado e atento, e esperava pelo primeiro tiro.
— A qualquer momento agora — disse baixinho.
— Dimitri, quem eu pego primeiro? — perguntou um dos líderes, nervoso.
— O mujhadin, aquele filho da mãe, aquele que está ali — disse, calmamente, apontando para um homem de barba negra, muito mais velho do que os outros. — Não tenha pressa, Farmad, e siga o meu comando. Ele é profissional e pertence à OLP.
Os outros o encararam, perplexos.
— Por que ele, se pertence à OLP? — perguntou Farmad. Ele era atarracado, quase disforme, com uma cabeça grande e olhos pequenos e inteligentes. — A OLP tem sido nossa amiga durante todos esses anos, dando-nos treinamento, apoio e armas.
— Porque agora a OLP vai apoiar Khomeini — explicou pacientemente. — Khomeini não convidou Arafat para vir aqui na próxima semana? Ele não deu as instalações da missão israelense para a OLP? A OLP pode fornecer todos os técnicos que Bazargan e Khomeini precisam para substituir os israelenses e os americanos, especialmente nos campos de petróleo. Você não quer ver Khomeini forte, quer?
— Não, mas a OLP tem sido...
— O Irã não é a Palestina. Os palestinos devem ficar na Palestina. Vocês venceram a revolução. Por que entregar a vitória para os estrangeiros?
— Mas a OLP tem sido nossa aliada — insistiu Farmad, e Rakoczy ficou satisfeito de perceber-lhe os defeitos antes que esse homem obtivesse algum poder.
— Os aliados que se tornam inimigos não têm nenhum valor. Lembre-se do objetivo.
— Eu concordo com o camarada Dimitri — disse um outro, com a voz tensa, os olhos frios e muito duros. — Nós não queremos a OLP dando ordens aqui. Se você não quiser pegá-lo, Farmad, eu o farei. Todos eles, e todos os cães Faixas Verdes também.
— Não se pode confiar na OLP. — disse Rakoczy, continuando a mesma lição, plantando as mesmas sementes. — Olhe como eles vacilaram e mudaram de posição mesmo em casa, num momento dizendo que eram marxistas, no outro que eram muçulmanos, no outro flertando com o arquitraidor Sadat, depois o atacando. Nós temos documentos que provam isso — acrescentou, com a informação truncada encaixando-se perfeitamente —, e documentos que provam que eles planejam assassinar o rei Hussein e tomar a Jordânia, e fazer a paz em separado com Israel e com a América. Eles mantêm encontros secretos com a CIA e com Israel. Eles não são verdadeiramente anti-Israel...
Ah, Israel, ele pensava, enquanto continuava a lição bem preparada, o quanto você é importante para a mãe Rússia, tão bem localizado ali no meio do caldeirão, uma maneira sempre garantida de enfurecer todos os muçulmanos, especialmente os xeques milionários do petróleo, uma forma garantida de jogar todos os muçulmanos contra todos os cristãos, nossos maiores inimigos — seus aliados americanos, ingleses e franceses — e assim restringir o seu poder e mantê-los, e a todo o Ocidente, desequilibrados, enquanto conquistamos prêmios vitais — o Irã este ano, o Afeganistão também, a Nicarágua no próximo ano, depois o Panamá e o resto, sempre com o mesmo plano: apoderar-nos do estreito de Ormuz, do Panamá, de Constantinopla, e do cofre dos tesouros da África do Sul. Ah, Israel, você é o nosso coringa do jogo mundial de Monopólio. Mas nunca para ser descartado ou vendido! Nós não o abandonaremos! Oh, nós deixaremos que você perca muitas batalhas, mas nunca a guerra, permitiremos que você passe fome, mas não que morra, permitiremos que seus compatriotas banqueiros nos financiem e portanto financiem sua própria destruição. Nós o apoiaremos para sangrar a América até a morte, fortaleceremos os nossos inimigos — mas não demais — e assistiremos à sua devastação. Mas não se preocupe, nunca deixaremos que você desapareça. Oh, não! Nunca. Você é valioso demais.
— Os membros da OLP são arrogantes e cheios de si — um estudante alto disse soturnamente —, e nunca são educados, nem têm noção da importância do Irã no mundo e não conhecem nada do nosso passado.
— É verdade! Eles são camponeses e têm agido como parasitas por todo o Oriente Médio e o nosso Golfo, roubando os melhores empregos.
— Sim — um outro concordou. — Eles são piores que os judeus...
Rakoczy riu consigo mesmo. Ele gostava muito do seu trabalho, gostava de trabalhar com estudantes universitários — sempre um campo fértil — gostava de ensinar. Mas é isso o que eu sou, pensou satisfeito, um professor de terrorismo, de poder e de como tomar o poder. Talvez eu seja mais como um agricultor: planto a semente, alimento-a, protejo-a e depois colho os frutos, trabalhando em qualquer hora e em qualquer estação, como devem fazer os agricultores. Alguns anos são bons e alguns são ruins, mas a cada ano eu avanço um pouco, ganho mais experiência, fico conhecendo um pouco melhor a terra, cada vez mais paciente — primavera verão outono inverno — sempre a mesma terra, o Irã, sempre com o mesmo objetivo: na melhor das hipóteses, o Irã se transformar em solo russo, na pior, transformar-se num satélite russo, para proteger a sagrada terra da Rússia. Com o nosso pé no estreito de Ormuz...
Ah, pensou, com fervor religioso, se eu pudesse dar o Irã para a mãe Rússia, minha vida não teria sido vivida em vão.
O Ocidente merece perder, particularmente os americanos. São tão imbecis, tão egocêntricos, mas principalmente tão estúpidos. É inconcebível que este Carter não enxergue o valor de Ormuz em geral e do Irã em particular e a catástrofe que será para o Ocidente a sua perda. Mas os fatos estão aí: para todos os efeitos ele nos deu o Irã.