— É fácil. É só um ataque, não uma tentativa de tomar a embaixada, isso virá mais tarde. Um ataque será uma coisa inesperada, simples de executar. Pode-se prender facilmente o embaixador e todas as outras pessoas durante uma hora mais ou menos, enquanto se saqueia a embaixada. Os americanos não têm capacidade de resistência. Esta é a chave para chegar a eles! Aqui estão as plantas do edifício e o número de fuzileiros e eu estarei lá para ajudar. A ação de vocês será importantíssima. Ela irá para as manchetes mundiais e deixará Khomeini e Bazargan, e principalmente os americanos, numa situação terrivelmente embaraçosa. Não se esqueçam de quem é o verdadeiro inimigo e que agora vocês têm que agir depressa para tirar a iniciativa de Khomeini...
Tinha sido fácil convencê-los. Será fácil criar a oportunidade, ele pensou. E será fácil ir diretamente para o escritório da CIA no porão, e para a sala de rádio, explodir e limpar o cofre e limpá-lo de todos os documentos e livros de códigos, depois subir as escadas dos fundos até o segundo andar, virar à esquerda, ir até o terceiro quarto à esquerda, o quarto do embaixador, e explodir o cofre que fica atrás do quadro pendurado sobre a cama. Súbito, rápido e violento — se não houver nenhuma oposição.
— Dimitri! Olhe!
Rakoczy virou-se rapidamente. Centenas de jovens vinham descendo a rua, com Faixas Verdes e mulás na frente. Imediatamente, Rakoczy urrou:
— Morte a Khomeini! — e deu uma rajada de tiros para o ar. Aqueles tiros inesperados fizeram com que todo mundo ficasse frenético, com gritos e tiros por toda parte, e a multidão começou a se espalhar, tropeçando uns nos outros e gritando.
Antes que pudesse detê-lo, viu Ibrahim mirar nos Faixas Verdes que se aproximavam e atirar. Alguns homens da fila da frente caíram, um urro de raiva explodiu no meio deles e começaram também a atirar naquela direção. Ele mergulhou no chão, praguejando. A torrente de balas não o atingiu, mas pegou Farmad e outros que estavam perto, mas não Ibrahim nem os outros três líderes do Tudeh. Ele gritou e todos se atiraram no chão, enquanto estudantes apavorados abriam fogo com carabinas e pistolas.
Muitos ficaram feridos antes que o grande mujhadin que Rakoczy tinha marcado para ser executado juntasse seus homens e atacasse os guardas islâmicos, fazendo-os recuar. Imediatamente, outros vieram em sua ajuda e o recuo se transformou em fuga, os estudantes soltaram um urro triunfante e o comício se transformou numa batalha.
Rakoczy agarrou Ibrahim, que já ia começar a atirar a esmo.
— Siga-me — ordenou, e foi empurrando Ibrahim e os outros para o abrigo do prédio, depois, quando se certificou de que estavam todos com ele, saiu correndo numa retirada desesperada.
Numa encruzilhada no meio dos jardins cobertos de neve, ele parou um instante para recobrar o fôlego. O vento estava gelado e a noite já tinha caído.
— E Farmad? — perguntou Ibrahim, sem fôlego. — Ele foi ferido!
— Não — respondeu —, ele estava morrendo. Vamos!
Mais uma vez ele disparou pelo jardim, continuou pela rua que ficava perto da faculdade de Ciências, atravessou o estacionamento e só parou quando o ruído do tumulto ficou distante. Sentia uma pontada do lado e quase não conseguia respirar. Quando conseguiu falar, disse:
— Não se preocupem com nada. Voltem para suas casas ou para seus dormitórios. Façam com que todos fiquem preparados para o ataque amanhã ou depois. O comitê dará a ordem. — E se afastou no meio da noite.
NO APARTAMENTO DE LOCHART: 19:30H. Xarazade estava deitada numa banheira de espuma, com a cabeça enfiada num travesseiro à prova d'água, os olhos fechados, com uma toalha em volta da cabeça.
— Oh, Azadeh, minha querida — disse sonolenta, com o suor escorrendo pela testa —, estou tão feliz.
Azadeh também estava na banheira e estava deitada com a cabeça para o outro lado, desfrutando do calor, da intimidade, da água docemente perfumada e do conforto. Seus longos cabelos também estavam envoltos por uma toalha branca e a banheira era grande, funda e confortável. Mas ainda havia círculos escuros sob os seus olhos, e ela não conseguia livrar-se dos terrores da véspera na estrada e no helicóptero. Lá fora, a noite tinha chegado. Tiros soavam ao longe. Nenhuma das duas deu atenção a eles.
— Eu gostaria que Erikki voltasse — disse Azadeh.
— Ele não vai demorar, ainda há muito tempo, querida. O jantar não será antes das nove, temos quase duas horas para nos aprontarmos. — Xarazade abriu os olhos e pôs a mão na coxa esguia de Azadeh, feliz em tocá-la. — Não se preocupe, querida Azadeh, ele vai voltar logo, o seu gigante de cabelos vermelhos. E não se esqueça de que vou passar a noite com os meus pais, assim vocês poderão andar nus por aí a noite inteira! Desfrute do nosso banho, alegre-se e desmaie quando ele voltar. — Elas riram juntas.
— Está tudo maravilhoso agora, você está em segurança, nós todos estamos seguros, o Irã está salvo. Com a ajuda de Deus o imã venceu e o Irã está livre e salvo.
— Eu gostaria de poder acreditar nisso, gostaria de poder acreditar como você acredita — disse Azadeh. — Não consigo explicar o quanto aquelas pessoas lá na estrada eram horríveis. Era como se eu estivesse sendo sufocada pelo ódio delas. Por que elas odiariam, a mim e ao Erikki? O que fizemos contra elas? Nada, e no entanto elas nos odiavam.
— Não pense mais nisso, querida. — Xarazade abafou um bocejo.
— Os esquerdistas são todos loucos, dizendo-se muçulmanos e ao mesmo tempo marxistas. Eles são contra Deus e portanto amaldiçoados. Os camponeses? Eles são ignorantes, como você sabe muito bem, e simplórios na maioria. Não se preocupe. Isso ficou para trás, agora tudo vai melhorar, você vai ver.
— Eu espero, oh, como espero que você tenha razão. Eu não quero que melhore, só quero que volte a ser como era, como sempre foi.
— Oh, voltará — Xarazade sentia-se tão bem, a água estava tão agradável, tão macia, como um útero. Ah, ela pensou, só faltam três dias para que eu tenha certeza e então Tommy diz a papai que é claro que ele deseja filhos e então, no dia seguinte, o grande dia, eu vou ter certeza, embora já tenha certeza agora. Não fui sempre tão regular? Então poderei dar a Tommy o meu presente de Deus e ele ficará muito orgulhoso. — O imã faz o trabalho de Deus. Como pode deixar de ser bom?
— Eu não sei, Xarazade, mas na nossa história os mulás nunca foram dignos de confiança. Eram apenas parasitas dos camponeses.
— Ah, mas agora é diferente — disse Xarazade, sem querer realmente discutir questões assim tão sérias. — Agora nós temos um líder de verdade. Agora ele tem o Irã sob controle pela primeira vez. Ele não é o mais piedoso dos homens, o que mais conhece o Islã e a lei? Ele não faz o trabalho de Deus? Ele não conseguiu o impossível, expulsando o xá e sua terrível corrupção, impedindo os generais de darem um golpe aliados aos americanos? Papai diz que nós estamos mais seguros agora do que jamais estivemos.
— Estamos mesmo? — Azadeh lembrou-se de Rakoczy no helicóptero e do que ele dissera acerca de Khomeini e do retrocesso na história, e ela sabia que muitas vezes ele falara a verdade, e ela o atacara, odiando-o, desejando que ele estivesse morto, pois é claro que ele era um daqueles que usariam os imbecis dos mulás para escravizar todo mundo. — Você quer ser governada por leis islâmicas do tempo do Profeta, de quase mil e quinhentos anos? Ser forçada a usar o chador, perder seu direito de votar, tão duro de conseguir, de trabalhar, de ser tratada como igual?
— Eu não quero votar nem trabalhar nem ser igual. Como pode uma mulher ser igual a um homem? Eu só quero ser uma boa esposa para Tommy, e no Irã, eu prefiro usar o chador na rua. — Delicadamente, Xarazade disfarçou outro bocejo, sonolento por causa do calor. — Insha'Allah, Azadeh querida. É claro que tudo será como antes, mas papai diz que vai ser melhor porque agora nós somos donos de nós mesmos, da nossa terra, do nosso petróleo, de tudo o que existe na terra. Não haverá nenhum general nem político estrangeiro para nos arruinar, e com o malvado xá fora daqui, nós todos viveremos felizes para sempre, você com o seu Erikki, eu com Tommy e muitos e muitos filhos. Como poderia ser diferente? Deus está com o imã e o imã está conosco. Nós temos muita sorte. — Ela sorriu e abraçou afetuosamente a perna da amiga. — Estou tão contente em ter você aqui, Azadeh. Faz tanto tempo que você não vinha a Teerã!