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— Sim. — Elas eram amigas há muitos anos. Primeiro na Suíça, onde tinham se conhecido no colégio, embora Xarazade só tivesse ficado um período, infeliz por estar longe da família e do Irã, depois, mais tarde, na universidade, em Teerã. E agora, há pouco mais de um ano, como ambas tinham se casado com estrangeiros que trabalhavam na mesma companhia, elas se aproximaram ainda mais, como duas irmãs, ajudando-se mutuamente a se adaptar às esquisitices estrangeiras:

— Às vezes eu não consigo entender o Tommy, Azadeh — dissera Xarazade chorando no começo. — Ele gosta de ficar sozinho, sozinho mesmo, só eu e ele, a casa vazia, até mesmo sem os empregados. Ele me disse até que gosta de ficar só, lendo, sem ninguém por perto, sem a família, sem os filhos, sem amigos, sem conversar. Oh, às vezes é horrível.

— Erikki é igualzinho — dissera Azadeh. — Os estrangeiros não são como nós. Eles são muito estranhos. Eu gosto de passar dias com amigos, crianças, família, mas o Erikki não. É bom que Erikki e Tommy trabalhem durante o dia. Você tem mais sorte, o Tommy fica fora duas semanas de cada vez e você pode agir normalmente. Aliás, outra coisa, Xarazade, eu levei meses para me acostumar a dormir numa cama e...

— Eu nunca consegui! Oh, fica tão acima do chão, tão fácil de se cair, sempre com uma enorme depressão do lado deles, de modo que a gente fica muito desconfortável e acorda com dor nas costas. Uma cama é horrível, comparada com almofadas macias em lindos tapetes sobre o chão, tão mais confortável e civilizado.

— Sim, mas Erikki não quer usar almofadas nem tapetes. Ele insiste numa cama. Ele simplesmente não quer mais tentar. Às vezes, é um alívio quando ele está fora.

— Oh, nós agora dormimos direito, Azadeh. Eu acabei com aquela besteira de uma cama ocidental depois do primeiro mês.

— Como você conseguiu?

— Oh, eu suspirava a noite inteira e não deixava o pobrezinho dormir. Depois eu dormia de dia, para poder estar descansada de novo para suspirar a noite inteira. — Xarazade rira, encantada. — Depois de sete noites, o pobrezinho cedeu, dormiu como um bebê por três noites seguidas da maneira correta, e agora ele sempre dorme como uma pessoa civilizada. Até quando está em Zagros! Por que você não experimenta? Eu garanto que você vai conseguir, querida, especialmente se também reclamar um pouco que a cama lhe deu dor nas costas e que é claro que você ainda adora fazer amor mas que ele, por favor, tenha cuidado.

— O meu Erikki é mais esperto do que o seu Tommy — Azadeh riu. — Quando o Erikki experimentou dormir nas almofadas em cima do tapete, foi ele que suspirou a noite inteira e ficou se virando de um lado para o outro e não me deixou dormir. Fiquei tão exausta que depois de três noites passei a gostar da cama. Quando visito minha família, eu durmo civilizadamente, embora quando Erikki está no palácio a gente use uma cama. Sabe querida, há outro problema: eu adoro o meu Erikki, mas às vezes ele é tão grosseiro que eu quase morro. Ele fica repetindo 'sim' e 'não' quando pergunto alguma coisa. Como se pode conversar só com sim e não?

Ela sorriu para si mesma. Sim, é muito difícil viver com ele, mas viver sem ele agora é inimaginável. Todo o seu amor, o seu bom humor, o seu tamanho e a sua força, e sempre fazendo o que eu quero, só que com muita facilidade, de modo que eu tenho pouca chance de afiar as minhas garras.

— Nós duas temos muita sorte, Xarazade, não é verdade?

— Oh, sim, querida. Você pode ficar aqui uma ou duas semanas? Mesmo que Erikki tenha que voltar, você fica, por favor?

— Eu gostaria de ficar. Quando Erikki voltar... talvez eu peça a ele. Xarazade se mexeu dentro d'água, fazendo a espuma subir sobre os seios, soprando-a das mãos.

— Mac disse que eles viriam direto do aeroporto para cá, se estivessem atrasados. Genny vem direto do apartamento, mas não antes das nove. Eu também convidei Paula, a garota italiana, mas não para Nogger, para Charlie. — Ela riu. — Charlie quase desmaia quando ela o olha.

— Charlie Pettikin? Oh, mas isso é maravilhoso. Então temos que ajudá-lo. Nós devemos tanto a ele! Vamos ajudá-lo a enfeitiçar a italiana sexy.

— Ótimo! Vamos planejar como dar Paula a ele.

— Como amante ou como esposa?

— Amante. Bem... deixe-me pensar. Quantos anos ela tem? Deve ter no mínimo 27. Você acha que ela daria uma boa esposa para ele? Ele devia ter uma esposa. Todas as garotas que Tommy e eu mostramos discretamente para ele, apenas ele sorri e sacode o ombro. Eu trouxe até a minha prima em terceiro grau que tem 15 anos, achando que isso iria tentá-lo, mas que nada. Oh, que ótimo, agora nós temos algo para planejar. Temos bastante tempo para planejar, e para nos vestirmos e nos aprontarmos. E eu tenho uns vestidos lindos para você escolher.

— É tão estranho, Xarazade, não ter nada. Nada. Nem dinheiro, nem documentos... — Por um momento, Azadeh viu-se de volta ao Land Rover, perto do bloqueio da estrada, e diante dela estava o mujhadin gordo que roubara seus documentos, com sua metralhadora atirando enquanto Erikki o jogava de encontro ao outro carro, esmagando-o como a uma barata, com sangue e porcaria saindo-lhe da boca. — Não ter nada — disse, tentando não lembrar —, nem mesmo um batom.

— Não faz mal, eu tenho tudo isso aos montes. E Tommy vai ficar tão contente em ter você e Erikki aqui. Ele não gosta que eu fique sozinha. Pobre querida, não se preocupe. Agora você está em segurança.

Eu não me sinto nada segura, pensou Azadeh, odiando o medo, que era completamente desconhecido para ela e que, mesmo agora, parecia tirar o calor da água. Não me sinto segura desde que deixamos Rakoczy em terra e mesmo então durara apenas um momento, o êxtase de escapar daquele demônio: eu, Erikki e Charlie ilesos. Mesmo a alegria de achar um carro com gasolina na pequena pista não me livrou do medo. Detesto sentir medo.

Ela se enfiou mais na banheira, depois estendeu o braço e abriu a torneira de água quente, fazendo a água circular.

— Está tão bom aqui — murmurou Xarazade, sentindo a espuma densa e a sensualidade do contato com a água. — Estou muito contente que você queira ficar.

Na noite anterior, quando Azadeh, Erikki e Charlie chegaram ao apartamento de McIver, já estava escuro. Tinham encontrado Gavallan lá, de modo que não havia lugar para eles. Azadeh estava assustada demais para ficar no apartamento do pai, mesmo estando junto com Erikki. Então perguntara a Xarazade se podiam ficar com ela até Lochart voltar. Xarazade ficara encantada, feliz por ter companhia. Tudo começara a ficar bem de novo, mas, durante o jantar, ouviram-se tiros por perto, que a fizeram saltar.

— Não precisa se preocupar, Azadeh — dissera McIver. — São só uns arruaceiros, provavelmente comemorando. Você não ouviu Khomeini ordenar que depusessem todas as armas? — Todo mundo concordara e Xarazade afirmara:

— O imã será obedecido. — Sempre se referindo a Khomeini como 'imã', associando-o, assim, aos 12 imãs dos xiitas, os descendentes diretos de Maomé, o Profeta, quase uma divindade, certamente um sacrilégio: — Mas o que o imã conseguiu foi quase um milagre, não foi? — Xarazade tinha dito isso com sua cativante inocência. — Não há dúvida de que nossa liberdade é uma dádiva de Deus.

Depois estava tão bom na cama com Erikki, mas ele estava estranho e preocupado, não como o Erikki que ela conhecia.

— O que há de errado, o quê?

— Nada, Azadeh, nada. Amanhã eu vou pensar num plano. Não houve tempo esta noite para conversar com Mac ou Gavallan. Amanhã vamos planejar. Agora durma, querida.