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— Como você disse, é um nome comum. Este homem mencionou alguma outra pessoa, Excelência Paknouri?

— Pode ter mencionado. Que Deus nos proteja! Mas quem são eles, este Komiteh Revolucionário? Ali Kia, o senhor deve saber.

— Muitos nomes têm sido mencionados — disse Kia, com imponência, disfarçando a inquietação que sentia cada vez que se mencionava o Komiteh Revolucionário. Como todo mundo, dentro e fora do governo, pensou aborrecido, não tenho nenhuma informação verdadeira sobre a sua composição ou quando ou onde ele se reúne, só que surgiu no momento em que Khomeini voltou ao Irã, há menos de duas semanas e, desde ontem, quando Bakhtiar fugiu, vem agindo como se fosse a própria lei, governando em nome de Khomeini e com a sua autoridade, indicando precipitadamente novos juízes, a maioria sem treinamento legal de espécie alguma, autorizando prisões, tribunais revolucionários e execuções imediatas, totalmente fora da lei e da jurisprudência normais. E contra a nossa Constituição! Que todas as suas casas se incendeiem e que eles vão para o inferno que merecem!

— Hoje mesmo de manhã o meu amigo Mehdi — começou confiante, depois parou, fingindo notar pela primeira vez os empregados que ainda estavam amontoados na porta, e fez um sinal imperioso para que eles se afastassem. Quando, com relutância, a porta foi fechada, ele baixou a voz, passando adiante o boato como se fosse uma informação particular: — Hoje de manhã, ahn, com a nossa bênção, Mehdi foi ao aiatolá e ameaçou renunciar a menos que o Komiteh Revolucionário parasse de passar por cima dele e da sua autoridade, e assim os colocou no devido lugar daqui por diante.

— Graças a Deus! — disse Paknouri, muito aliviado. — Nós não vencemos a revolução para deixar que novas ilegalidades substituíssem a Savak, a dominação estrangeira e o xá!

— É claro que não! Graças a Deus, agora o novo governo está nas melhores mãos. Mas por favor, Excelência Paknouri, por favor, continue com a sua história.

— Não há muito mais o que contar, Ali — disse Paknouri, mais calmo e com mais coragem agora, cercado por amigos tão poderosos. — Eu, ahn, eu desci imediatamente para ver aqueles intrusos e disse a eles que aquilo era um erro estúpido, mas aquele cabeça dura, ignorante, bosta de cão apenas sacudiu o papel na minha cara, disse que eu estava preso e que deveria acompanhá-los. Eu disse a eles que esperassem... disse que esperassem e fui apanhar alguns papéis, mas minha esposa... minha esposa me disse para não confiar neles, que talvez eles fossem do Tudeh ou mujhadins ou fedayins, eu concordei com ela e decidi que seria melhor vir aqui consultar vocês e os outros. — Ele afastou da memória os fatos reais, que ele tinha fugido, assim que ouvira o líder anunciar, em nome do Komiteh Revolucionário e de Uwari, que Paknouri, o agiota, seria submetido ao julgamento divino por crimes contra Deus.

— Meu pobre amigo — disse Bakravan. — Meu pobre amigo, como você deve ter sofrido! Não se importe, você agora está seguro. Fique aqui esta noite. Ali, logo depois da primeira prece amanhã, vá ao gabinete do primeiro-ministro e certifique-se de que este assunto seja resolvido e esses idiotas punidos. Nós todos sabemos que Emir Paknouri é um patriota, que ele e todos os ourives apoiaram a revolução e que são essenciais para este empréstimo. — Cansado, fechou os ouvidos a todas as banalidades que Ali Kia estava dizendo.

Ele estudou Paknouri, vendo-lhe o rosto ainda pálido e o cabelo molhado de suor. Pobre sujeito, que choque ele deve ter tido. É lastimável. Com toda a sua riqueza e o seu nome ilustre — ligado aos Qajars através de Annoush, esposa do primo Valik — é uma pena que todo o meu trabalho por Xarazade tenha dado em nada. É uma lástima que eles não tenham tido filhos e assim unido as nossas famílias. Bastava um único filho, pois então, certamente, nunca teria havido o divórcio e os meus problemas não teriam aumentado, com esse estrangeiro, Lochart. Por mais que esse estrangeiro tente aprender os nossos costumes, ele nunca vai conseguir. E como é caro sustentá-lo para manter a reputação da família! Preciso tornar a falar com o primo Valik e pedir-lhe mais uma vez para que Lochart receba um dinheiro extra. Valik e os seus gananciosos sócios da CHI podem muito bem fazer isso por mim, com os milhões que ganham, a maior parte em moeda estrangeira! O que custaria a eles? Nada! O custo seria repassado a Gavallan e à S-G. Os sócios me devem mil favores, a mim que durante anos lhes ensinei como conseguir tanto poder e tanta riqueza com tão pouco esforço!

— Pague a Lochart você mesmo, Excelência Jared — Valik respondera rudemente da última vez em que tinha falado com ele. — Essa responsabilidade é sua. Você participa de tudo o que nós ganhamos. E o que representa uma quantia tão insignificante para o meu primo favorito e o mais rico lojista de Teerã?

— Mas devia ser uma despesa partilhada. Nós podemos usá-lo quando

tivermos cem por cento de controle. Com o novo plano para o futuro da CHI, a sociedade vai ficar mais rica do que nunca e...

— Eu vou consultar os outros sócios imediatamente. É claro que a decisão será deles e não minha...

Mentiroso, pensou o velho, tomando o seu chá, mas eu também teria dito o mesmo. E abafou um bocejo, cansado e com fome. Uma soneca antes do jantar me faria bem.

— Sinto muito, Excelências, mas tenho negócios urgentes para tratar. Paknouri, velho amigo, estou contente de que esteja tudo resolvido. Fique aqui esta noite, Meshang vai arranjar colchões e almofadas, e não se preocupe! Ali, meu amigo, venha comigo até o portão do bazar. Você tem condução? — Ele perguntou por perguntar, sabendo que a primeira regalia de um assessor seria um carro com motorista e gasolina à vontade.

— Sim, obrigado. O primeiro-ministro insistiu para que eu tivesse um carro. Pela importância do nosso ministério, suponho.

— Seja como Deus quiser! — disse Bakravan.

Satisfeitos, eles saíram da sala, desceram as escadas estreitas e entraram no pequeno corredor que levava à loja. Mas os sorrisos desapareceram e suas bocas se encheram de bílis.

Lá, esperando, estavam os mesmos cinco Faixas Verdes, encostados nas mesas e cadeiras, todos armados com carabinas do exército americano, todos na casa dos vinte, com ou sem barba, com as roupas pobres e gastas, alguns com sapatos furados, alguns sem meias. O líder pautava os dentes silenciosamente, os outros estavam fumando, deixando a cinza cair descuidadamente nos valiosos tapetes kash 'kai de Bakravan. Um desses jovens tossia muito enquanto fumava, com a respiração chiada.

Bakravan sentiu uma fraqueza nos joelhos. Todos os seus empregados estavam paralisados, encostados numa das paredes. Todo mundo. Até o seu servidor favorito. Lá fora, na rua, tudo estava muito quieto, não havia ninguém por perto. Até os agiotas das lojas em frente pareciam ter desaparecido.

— Salaam, aga, que a bênção de Deus esteja com o senhor — disse educadamente, com a voz soando estranha. — O que posso fazer pelo senhor?

O líder não prestou nenhuma atenção nele, apenas manteve os olhos fixos em Paknouri, com seu rosto bonito mas marcado pela moléstia parasitária transmitida pelos mosquitos e quase endêmica no Irã. Tinha pouco mais de vinte anos, cabelos e olhos escuros e mãos marcadas pelo trabalho, que brincavam com a carabina. Seu nome era Yusuf Senvar — Yusuf, o pedreiro.

O silêncio cresceu e Paknouri não pôde mais suportar a tensão.

— É tudo um engano — gritou. — Vocês estão cometendo um erro!

— Você pensou que poderia escapar da vingança de Deus fugindo? — A voz de Yusuf era macia, quase gentil, embora com um sotaque rude de camponês que Bakravan não conseguiu localizar.

— Que vingança de Deus? — gritou Paknouri. — Eu não fiz nada de errado, nada.

— Nada? Você não trabalhou para os estrangeiros, associando-se a eles durante anos, ajudando-os a roubar a riqueza da nossa nação?