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Ele se levantou para disfarçar a inquietação, fingindo querer ver melhor a multidão.

— Eles descobriram o que queriam? — perguntou. Mais uma vez Erikki deu de ombros.

— Não sei. Não fui me encontrar com eles. Eu estava... — ele parou e examinou o outro homem. — É importante?

— Não. Não, nem um pouco. Você está com fome? Você e Azadeh estão livres esta noite?

— Desculpe, esta noite não. — Erikki deu uma olhada no relógio. — É melhor eu voltar. Mais uma vez obrigado pela ajuda.

— De nada. O que você estava dizendo a respeito de McIver e Gavallan? Eles têm um plano de mudar as operações aqui?

— Acho que não. Eu deveria encontrá-los às três horas para ir ao aeroporto, mas era mais importante para mim encontrar-me com você e conseguir os passaportes. — Erikki se levantou e estendeu a mão. — Mais uma vez obrigado.

— De nada. — Christian trocou um aperto de mão caloroso com ele. — Vejo-o amanhã.

Agora, na rua, a gritaria cessara substituída por um silêncio pesado. Os dois homens correram para a janela. Toda a atenção se voltara para a rua principal, cujo nome fora Roosevelt. Então eles ouviram a ladainha cada vez mais alta: "Allahhhhh-uuuuu Akbarrrr!"

— Existe uma saída pelos fundos neste prédio? — murmurou Erikki.

— Não, não existe.

A turba que se aproximava tinha mulás e Faixas Verdes nas primeiras filas, a maioria deles armados, bem como a massa de rapazes que os seguiam. Todos gritavam em uníssono, Deus é grande, Deus é grande, e eram muito mais numerosos do que os estudantes que estavam em frente à embaixada, embora estes também estivessem armados.

Imediatamente, os esquerdistas tomaram posições defensivas nas soleiras das portas e no meio do tráfego. Homens, mulheres e crianças, presos nos carros e caminhões, começaram a se espalhar. Os islâmicos estavam se aproximando depressa. À medida que as primeiras filas passavam pelas calçadas e por entre os veículos engarrafados e se aproximavam dos muros iluminados, o ritmo da sua gritaria aumentava, o passo apertava, e todo mundo se colocava em posição. Então, surpreendentemente, os estudantes começaram a recuar. Silenciosamente. Os Faixas Verdes hesitaram, desconcertados.

A retirada foi pacífica e a turba se acalmou. Em pouco tempo os manifestantes se afastaram e agora nenhum deles ameaçava a embaixada. Os mulás e os Faixas Verdes começaram a dirigir o tráfego. Os espectadores, que tinham fugido ou abandonado os seus veículos, respiraram de novo, agradeceram a Deus por sua interferência e voltaram. Imediatamente, as buzinas e os xingamentos recomeçaram, à medida que carros, caminhões e pedestres lutavam por espaço. Os enormes portões de ferro da embaixada não foram abertos, embora abrissem uma pequena porta lateral.

Christian sentiu a garganta seca.

— Eu teria apostado que ia haver uma batalha terrível. Erikki também estava estarrecido.

— É quase como se eles estivessem esperando os Faixas Verdes e soubessem quando e de onde eles viriam. É quase como se fosse um ensaio para algu... Ele parou e chegou mais perto da janela, com o rosto subitamente vermelho. — Olhe! Lá na porta, aquele é Rakoczy.

— Onde? On... Oh, você diz o homem de jaqueta de vôo conversando com o sujeito baixo? — Christian apertou os olhos para enxergar melhor na escuridão lá embaixo. Os dois homens estavam meio na sombra, mas nesse momento eles apertaram-se as mãos e vieram para a luz. Era mesmo Rakoczy. — Você tem certeza que...

Mas Erikki já tinha aberto a porta da frente e estava no meio das escadas. Christian teve apenas um vislumbre dele tirando a sua grande faca pukoh do cinto e escorregando-a para a manga, com metade dela na palma da mão.

— Erikki, não seja idiota — gritou, mas Erikki já tinha desaparecido. Chrisitan correu de volta para a janela e chegou bem a tempo de ver Erikki sair correndo pela porta, abrir caminho no meio da multidão atrás de Rakoczy, que não estava mais à vista.

Mas Erikki não o perdera de vista. Rakoczy estava a uns cinqüenta metros de distância e ele tinha acabado de vê-lo virando para o sul na Roosevelt antes de desaparecer. Quando Erikki chegou na esquina, viu o soviético lá adiante, andando depressa, mas não demais, com muitos pedestres entre eles, o tráfego lento e muito barulhento. Desviando-se de um grupo de caminhões, Rakoczy desceu o meio-fio, esperou que um velho e amassado Volkswagen passasse e olhou em volta. E viu Erikki. Teria sido quase impossível deixar de vê-lo. Ele era quase trinta centímetros mais alto do que todo mundo. Sem hesitação, Rakoczy saiu correndo, ziguezagueando no meio da multidão e tomou uma rua lateral, correndo muito depressa. Erikki o viu sair correndo e foi atrás dele. Os pedestres xingaram os dois, um velho foi derrubado no chão imundo quando Rakoczy abriu caminho para entrar em outra rua.

A rua lateral era estreita, cheia de lixo, sem iluminação e sem nenhuma loja aberta àquela hora, apenas uns poucos pedestres cansados caminhavam para casa, com milhares de portas e arcos desembocando em pardieiros ou em escadas que levavam a outros pardieiros, tudo cheirando a urina, lixo e comida podre.

Rakoczy estava a pouco mais de quarenta metros à frente. Ele virou num beco, esbarrando nos bancos de rua onde famílias dormiam — e davam urros de raiva ao serem acordadas —, mudou de direção e voou de uma passagem para outra, entrou num beco, já completamente perdido, depois em outro e outro. Apavorado, ele parou, vendo que estava num beco sem saída. Ele fez menção de pegar sua automática, então notou uma passagem bem à sua frente e correu para ela.

As paredes ficavam tão próximas umas das outras que ele podia tocar nelas enquanto corria, com a respiração ofegante, penetrando cada vez mais naqueles formigueiros sinuosos. À sua frente, uma velha estava despejando a sujeira da noite no meio da podridão e ele a derrubou, enquanto outros se encostavam nas paredes para sair da sua frente. Agora Erikki estava apenas uns vinte metros atrás, fortalecido pelo ódio, e ele pulou por cima da velha que ainda estava esparramada no chão, e redobrou seus esforços, diminuindo a distância. Virando a esquina, o seu adversário parou e empurrou um velho banco de rua para o meio do caminho. Antes que Erikki pudesse evitar, chocou-se com ele e caiu, meio tonto. Com um berro de raiva, ele se levantou, cambaleou por um momento, pulou por cima do banco e saiu correndo de novo, com a faca na mão, dobrando a esquina.

Mas o beco estava vazio. Erikki parou. Ele respirava com dificuldade e estava banhado em suor. Era difícil enxergar embora a sua visão noturna fosse muito boa. Então ele notou um pequeno arco. Cautelosamente, ele o atravessou, com a faca preparada. A passagem dava para um pátio aberto, cheio de lixo, onde havia uma carcaça enferrujada de um carro. Muitas portas e aberturas davam para este pequeno espaço, algumas conduzindo a escadas precárias e andares superiores. Estava silencioso — um silêncio sinistro. Ele podia sentir olhos observando-o. Ratos saíram do meio do lixo e desapareceram sob uma pilha de entulho.

Num dos lados, havia um outro arco. Sobre ele havia uma antiga inscrição em farsi que ele não soube ler. Do outro lado do arco, a escuridão parecia ainda mais profunda. Essa entrada escura terminava numa porta aberta. A porta era de madeira e ferro e estava com metade das dobradiças quebradas. Do outro lado, parecia haver um cômodo. Quando ele chegou mais perto, viu uma vela acesa.

— O que você quer?

A voz masculina veio da escuridão e a nuca de Erikki ficou eriçada. A voz tinha falado em inglês — não era a de Rakoczy — com um sotaque estrangeiro, e uma rouquidão estranha.

— Quem... quem é você? — Ele perguntou nervoso, com os sentidos alerta na escuridão, imaginando se era Rakoczy fingindo ser outra pessoa.

— O que você quer?

— Eu... eu quero... eu estou seguindo um homem — ele disse, sem saber em que direção falar, com sua voz ecoando estranhamente no teto alto e que ele não podia ver.