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O mulá suspirou, apertado contra o infiel pela falta de espaço. Eu me pergunto como um infiel pode rezar, estava pensando. O que será que ele diz para Deus — mesmo sendo uma pessoa do Livro? Como eles são dignos de pena!

NO AEROPORTO DE BANDAR DELAM: 12:32H. O carro da Força Aérea iraniana passou pelos guardas sonolentos do portão, com a bandeira verde de Khomeini esvoaçando, e parou numa nuvem de poeira ao lado do trailer que servia de escritório para Rudi. Dois oficiais elegantemente uniformizados saltaram. Junto com eles, havia três Faixas Verdes.

Rudi Lutz saiu para se encontrar com os oficiais — um major e um capitão. Quando viu o capitão, o seu rosto se iluminou.

— Alô, Hushang. Eu estava imaginando como você estaria... O oficial mais velho interrompeu-o com raiva.

— Eu sou o major Qazani. Serviço Secreto da Força Aérea. O que pretendia um helicóptero iraniano sob o seu controle ao tentar sair do espaço aéreo iraniano, desobedecendo várias vezes as instruções de um interceptador e ignorando totalmente as ordens de terra?

Rudi olhou-o sem compreender.

— Só há um helicóptero meu no ar, e ele está atendendo a uma emergência pedida pelo controle de radar de Abadan.

— Qual é o seu registro?

— EP-HXX. Do que se trata, afinal?

— É isso que eu quero saber. — O major Qazani passou por ele, entrou no trailer e se sentou. Os seus Faixas Verdes ficaram esperando. — Venha! — disse o major, irritado. — Sente-se, capitão Lutz.

Rudi hesitou, depois sentou-se na sua mesa. Alguns buracos de bala na parede deixavam entrar luz atrás deles. Os Faixas Verdes e o outro oficial entraram e fecharam a porta.

— O HXX é um 206 ou um 212? — perguntou o major.

— É um 212. O que...

— Quantos 212 o senhor tem aqui?

— Dois. HXX e HGC. O radar de Abadan deu permissão para o HXX sair para atender a uma emergência em Kowiss ontem, com feridos por causa de um ataque dos fedayins na madrugada de ont...

— Sim, nós soubemos disso. E soubemos que vocês ajudaram os guardas a mandá-los para o inferno que eles merecem, e agradeço muito por isso, O EP-HBC é um 212 registrado pela S-G?

Rudi hesitou.

— Eu não sei dizer assim de pronto, major. Não tenho os registros aqui de todos os nossos 212, mas poderia descobrir, se conseguisse me comunicar com a nossa base em Kowiss. O rádio não está funcionando desde ontem. Agora, por favor, vou ajudar, se puder, mas do que se trata?

O major Qazani acendeu um cigarro, ofereceu um a Rudi, que sacudiu a cabeça.

— Trata-se de um 212, EP-HBC, acreditamos que seja um 212 operado pela S-G, com um número desconhecido de pessoas a bordo, que atravessou a fronteira do Iraque pouco antes do pôr-do-sol na noite passada, sem nenhuma autorização, ignorando, como já disse, ignorando ordens explícitas do radar para pousar.

— Eu não sei nada sobre isso. — A mente de Rudi estava trabalhando depressa. Tinha que ser alguém fugindo, pensou. — Esse pássaro não é nosso. Nós não podemos nem ligar os motores sem licença do controle de Abadan. É o procedimento obrigatório.

— Como você explicaria então o HBC?

— Pode ser um aparelho da Guerney levando embora uma parte do seu pessoal, ou da Bell, ou de qualquer uma das outras companhias de helicópteros. Tem sido difícil, às vezes impossível, registrar um plano de vôo ultimamente. O senhor sabe o quanto, ahn, o quanto o radar tem estado instável nas últimas semanas.

— Instável não é uma boa palavra — disse o capitão Hushang Ab-basi. Ele era um homem esbelto, muito bonito, com um bigode bem aparado e óculos escuros, e usava insígnias no seu uniforme. Durante todo o ano anterior tinha servido em Kharg, onde ele e Rudi vieram a se conhecer. — E se fosse um aparelho da S-G?

— Então haverá uma explicação plausível. — Rudi estava satisfeito por Hushang ter resistido à revolução, especialmente por ele ter sempre criticado francamente o fato dos mulás se meterem no governo. — O senhor tem certeza que era ilegal?

— Eu tenho certeza que aviões legais possuem autorização, que aviões legais obedecem aos regulamentos aéreos e que aviões legais não empreendem manobras de fuga e correm para a fronteira — disse Hushang.

— E estou quase certo de que vi um emblema da S-G na minha primeira passagem, Rudi.

Os olhos de Rudi se estreitaram. Hushang era um piloto muito bom.

— Era você que estava pilotando o interceptador?

— Eu conduzi a operação de defesa. Fez-se silêncio no trailer.

— O senhor se importa que eu abra uma janela, major? A fumaça — ela me dá dor de cabeça.

— Se o HBC for um helicóptero da S-G, alguém vai ter mais do que uma dor de cabeça — respondeu irritado o major.

Rudi abriu a janela. HBC parece o registro de um dos nossos helicópteros. O que será que está havendo? Parece que estamos sob algum feitiço nos últimos dias: primeiro foi aquele psicopata do Zataki e o assassinato do nosso mecânico, depois o pobre do Kyabi, depois o ataque dos malditos esquerdistas fedayins na madrugada de ontem, quase nos matando e ferindo Jon Tyrer. Cristo, espero que Jon esteja bem! E agora mais encrenca.

Tornou a se sentar, sentindo-se muito cansado.

— O melhor a fazer é perguntar.

— Até onde vocês operam para o norte? — perguntou o major.

— Normalmente? Até Ahwaz. Dezful seria o nosso ponto extre... O telefone interno da base tocou. Ele atendeu e não viu o olhar trocado entre os dois oficiais. — Alô?

Era Fowler Joines, seu mêcanico-chefe.

— Você está bem?

— Sim. Obrigado. Nenhum problema.

— Grite se precisar de ajuda, meu velho, e nós todos iremos correndo.

— O telefone foi desligado.

Ele virou-se para o major, sentindo-se melhor. Desde que enfrentara Zataki, todos os seus homens e pilotos vinham-no tratando como se ele fosse o próprio lorde Gavallan. E desde ontem, quando os fedayins foram derrotados, até mesmo o komiteh de Faixas Verdes vinha se mostrando respeitoso — todos menos o gerente da base, Yemeni, que ainda estava tentando ser durão.

— Dezful é o nosso limite, de mão única. Uma vez nós levamos... — Ele parou. Ia dizer: Uma vez nós levamos o nosso gerente de área para Kermanshah. Mas aí a lembrança do modo brutal e sem sentido pelo qual Kyabi fora assassinado o assaltou e ele tornou a sentir-se mal.

Viu o major e Hashang olhando-o fixamente.

— Sinto muito, eu ia dizer, major, que uma vez nós levamos um grupo até Kermanshah. Podendo reabastecer, como o senhor sabe, nós somos versáteis.

— Sim, capitão Lutz, sim, nós sabemos. — O major apagou o cigarro e acendeu outro. — O primeiro-ministro Bazargan, é claro que com a aprovação do aiatolá Khomeini — acrescentou cautelosamente, sem confiar em Abbasi nem nos Faixas Verdes que talvez pudessem, secretamente, falar inglês —, deu ordens estritas acerca de todos as aeronaves existentes no Irã, especialmente helicópteros. Vamos chamar Kowiss agora.

Foram para a sala de rádio. Imediatamente, Yemeni protestou dizendo que não podia aprovar a chamada, sem permissão do komiteh local, do qual ele tinha nomeado a si mesmo como membro, uma vez que era o único que sabia ler e escrever. Um dos Faixas Verdes foi chamá-los, mas o major ignorou Yemeni e fez o que queria. Kowiss não atendeu ao chamado.

— Seja como Deus quiser. Vai melhorar depois que escurecer, aga — disse o operador de rádio, Jahan, em farsi.

— Sim, obrigado — respondeu o major.

— O que é que o senhor está precisando, aga? — Yemeni disse grosseiramente, odiando a intrusão, com os uniformes do xá fazendo-o ficar frenético. — Eu apanho para o senhor.

— Não preciso de você para nada, filho de um cão — gritou o major, furioso, todo mundo pulou e Yemeni ficou paralisado. — Se você me criar problemas, eu vou arrastá-lo diante do nosso tribunal por interferir com o trabalho do primeiro-ministro e do próprio Khomeini! Saia!