— Cristo, eu pensei que você fosse Ali — disse. — Sinto muito, estou bem agora. Não foi nada.
— Ali?
— O piloto, o piloto do HBC, Ali Abbasi, ele ia me matar. — Meio adormecido, Lochart contou-lhe o que tinha acontecido. Então notou que Rudi tinha ficado pálido. — O que foi?
Rudi fez um sinal para fora.
— Aquele é o irmão dele: Hushang Abbasi. Foi ele que derrubou o HBC...
TEERÃ: 16:17H. Os dois homens olhavam ansiosamente para o aparelho de telex no escritório de cobertura da S-G.
— Vamos, pelo amor Deus! — murmurou McIver e tornou a olhar para o relógio. O 125 estava marcado para as cinco e meia. — Nós vamos ter que sair daqui a pouco, Andy, nunca se sabe como estará o tráfego.
Gavallan estava se balançando distraidamente numa velha cadeira que rangia.
— Sim, mas Genny ainda não chegou. Assim que ela chegar nós saiinos. Se acontecer o pior, eu posso ligar para Aberdeen de Al Shargaz.
— Se Johnny Hogg conseguir passar pelo espaço aéreo de Kish e Isfahan, e se a autorização valer em Teerã.
— Desta vez ele vai pousar, estou com o pressentimento de que o nosso mulá Tehrani quer os óculos novos. Só espero que Johnny os tenha conseguido.
— Eu também.
Era a primeira vez que o komiteh permitia que um estrangeiro tornasse a entrar no edifício. A maior parte da manhã fora gasta fazendo a limpeza e tornando a ligar o gerador que, evidentemente, estava sem combustível. Na mesma hora, o telex começou a funcionar:
— Urgente! Por favor confirme se o seu telex está funcionando e informe o sr. McIver que eu tenho um telex Avisyard para o patrão. Ele ainda está em Teerã? O telex era de Elizabeth Chen em Aberdeen. 'Avisyard' era um código da companhia, usado raramente, que significava que uma mensagem que só podia ser lida por McIver e que ele mesmo deveria operar o telex. Teve que fazer quatro tentativas para conseguir receber a mensagem de Aberdeen.
— Contanto que não tenhamos perdido nenhum aparelho — disse Gavallan, fazendo uma prece silenciosa.
— Eu estava pensando a mesma coisa. — McIver relaxou os ombros. — Tem alguma idéia do que poderia merecer um Avisyard?
— Não. — Gavallan escondeu a tristeza, pensando no verdadeiro Avisyard, o Castelo Avisyard, onde tinha passado anos tão felizes com Kathy, que foi quem sugeriu o código. Não pense em Kathy agora, disse a si mesmo. Agora não.
— Eu detesto estas maltidas máquinas de telex, elas estão sempre en-guiçando — disse McIver, com o estômago pegando fogo, principalmente por causa da briga que tivera com Genny na noite anterior, insistindo que ela deveria partir hoje no 125, e também porque ainda não recebera nenhuma notícia de Lochart. Além disso, mais uma vez nenhum empregado iraniano se apresentara para trabalhar, só os pilotos, que tinham chegado naquela manhã. McIver mandara todos embora, exceto Pettikin, a quem colocou de sobreaviso. Nogger Lane aparecera lá por volta de meio-dia, para comunicar que seu vôo com o mulá Tehrani, seis Faixas Verdes e cinco mulheres tinha corrido bem.
— Acho que o nosso amigo mulá quer dar outro passeio amanhã. Ele o espera às cinco e meia em ponto no aeroporto.
— Está bem, Nogger, você vai revezar com Charlie.
— Vamos, Mac, meu velho, eu trabalhei a manhã inteira, acima e além do dever, e Paula ainda está na cidade.
— Eu sei disso muito bem, meu velho, e do jeito que as coisas estão, ela vai ficar aqui a semana inteira! Você vai ajudar o Charlie, vai sentar o seu rabo numa cadeira, atualizar os papéis dos nossos aparelhos e se der mais uma palavra eu mando você para a maldita Nigéria!
Eles esperaram, sabendo que os telex tinham que passar pelas linhas telefônicas.
— Há um bocado de fio entre Aberdeen e Teerã — resmungou McIver.
— Assim que Genny chegar, nós partimos — disse Gavallan. — Eu vou me certificar de que ela esteja a salvo em Al Shargaz, antes de ir para casa. Você fez muito bem em insistir.
— Eu sei disso, você sabe, e o Irã inteiro sabe, mas ela não.
— Mulheres — disse Gavallan, diplomaticamente. — Há mais alguma coisa que eu possa fazer?
— Acho que não. Espremer os dois sócios restantes ajudou um bocado.
Gavallan tinha conseguido localizá-los, Muhammad Siamaki e Turiz Bakhtiar — um sobrenome bastante comum no Irã para aqueles que descendiam da rica, poderosa e numerosa tribo dos Bakhtiar, da qual o ex-primeiro-ministro era um dos chefes. Gavallan tinha conseguido tirar cinco milhões de riais em dinheiro deles — um pouco mais de sessenta mil dólares, uma miséria perto do que os sócios estavam devendo. Com promessas de mais algum dinheiro toda semana, em troca da promessa, e de uma nota, escrita a mão, de que eles seriam reembolsados "fora do país, caso fosse necessário, e de que poderiam viajar no 125 caso fosse necessário".
— Está bem, mas onde está Valik? Como posso comunicar-me com ele? — Gavallan tinha perguntado, fingindo não saber nada a respeito da sua fuga.
— Nós já dissemos a você: ele está de férias com a família — respondera Siamaki, rude e arrogante como sempre. — Ele vai entrar em contato com você em Londres ou em Aberdeen. Existe a questão dos nossos fundos nas Bahamas.
— Os nossos fundos comuns, caro sócio, e existe a questão dos quase quatro milhões de dólares que temos para receber por serviços já prestados, além dos pagamentos pelo aluguel dos nossos aparelhos, já bastante atrasados.
— Se os bancos estivessem abertos, você receberia o dinheiro. Não é nossa culpa que os aliados pestilentos do xá o tenham arruinado e arruinado o Irã. A culpa dessas catástrofes não é nossa. Quanto ao dinheiro que estamos devendo, nós não pagamos no passado?
— Sim. Geralmente com um atraso de seis meses, mas eu concordo, caros amigos, que no fim nós sempre conseguíamos arrancar a nossa parte. Mas se todos os negócios feitos em regime de joint venture estão suspensos, como o mulá Tehrani me disse, como vamos operar de agora em diante?
— Alguns negócios, não todos. A sua informação é exagerada e incorreta, Gavallan. Nós fomos avisados para voltar ao normal o mais cedo possível. As tripulações podem partir assim que os seus substitutos estiverem em segurança aqui. Os campos de petróleo devem voltar a operar a todo o vapor. Não haverá nenhum problema. Mas para evitar qualquer problema, mais uma vez nós negociamos a sociedade. Amanhã, o meu ilustre primo, o ministro das finanças Ali Kia, vai entrar para o conselho...
— Espere um minuto! Eu tenho que aprovar de antemão qualquer mudança no conselho.
— Você tinha esse poder, mas o conselho votou pela mudança desta regra. Se você quiser ir contra o conselho, pode levantar esta questão na próxima reunião em Londres. Mas nestas circunstâncias a mudança é necessária e razoável. O ministro Kia assegurou-nos que estaremos isentos. — E claro que os honorários e as porcentagens do ministro Kia sairão da parte de vocês...
Gavallan tentou não olhar para a máquina de telex mas teve muita dificuldade, enquanto tentava imaginar uma maneira de escapar da armadilha.
— Uma hora as coisas parecem estar bem, na outra está tudo ruim de novo.
— Sim. Sim, Andy, eu concordo. Talbot foi o ponto crucial de hoje. Nessa manhã, bem cedo, eles tinham tido um breve encontro com Talbot.
— Oh, sim, meu velho, as joint ventures são definitivamente persona non grata, sinto muito — ele dissera secamente. — Uma 'decisão superior' decretou a suspensão de todas as joint ventures, até novas instruções, embora que instruções e de quem, eles não tenham revelado. Ou quem tomou esta decisão superior. Nós achamos que o decreto olímpico veio do velho e querido komiteh, sejam eles quem forem! Por outro lado, meu velho, o aiatolá e o primeiro-ministro Bazargan disseram que todas as dívidas com estrangeiros serão honradas. É claro que Khomeini passa por cima de Bazargan e dá outras instruções, Bazargan dá instruções que o Komiteh Revolucionário modifica, os komitehs locais consideram a sua própria versão da lei como sendo uma verdade indiscutível, e nem um único garoto sujo entregou a sua arma até agora. As cadeias estão se enchendo lindamente, cabeças estão rolando e, fora a guilhotina, tudo isto me soa tediosamente familiar, meu velho, e sugere que nós todos deveríamos nos retirar para Margate até tudo isso acabar.