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— Você esteve fora do ar umas 16 horas. Nós, Nogger e nossos dois mecânicos, ajudamos vocês dois a virem até aqui e depois vocês dois adormeceram. Nós pusemos você e Azadeh na cama como se fossem bebês, Mac e eu. Despimos vocês, limpamos parte da sujeira, carregamos vocês para a cama, não com muita delicadeza, aliás, mas vocês não acordaram, nenhum dos dois.

— Ela está bem? Azadeh?

— Oh, sim. Eu fui olhá-la umas duas vezes, mas ela ainda está dormindo. O que... desculpe, nada de perguntas! Primeiro tomar banho e fazer a barba. Desconfio que a água não está muito quente, mas eu coloquei um aquecedor elétrico no banheiro, não está muito ruim...

Agora Ross observava Pettikin, que estava servindo uísque a McIver e a Gavallan.

— Tem certeza de que não quer, capitão?

— Não, não, obrigado. — Sem perceber, ele sentiu o seu pulso direito e o esfregou. O seu nível de energia estava caindo rapidamente. Gavallan notou o cansaço do homem e viu que não tinha muito tempo.

— Quanto a Erikki. Você não consegue lembrar-se de mais nada para nos dar uma idéia de onde ele possa estar?

— Nada mais do que já contei a vocês. Talvez Azadeh possa ajudar. O nome do soviético era algo como Certaga, o homem com quem Erikki foi obrigado a trabalhar na fronteira. Como eu disse, eles a estavam usando para ameaçá-lo e houve alguma complicação a respeito do pai dela e uma viagem que eles iam fazer juntos. Desculpe, não consigo me lembrar exatamente. O outro homem, o que era amigo de Abdullah Khan, chamava-se Mzytryk, Petr Oleg. — Isso fez Ross lembrar-se da mensagem de Vien Rosemont para o khan, mas ele decidiu que isso não era da conta de Gavallan, nem a matança, nem o fato de ter empurrado o velho na frente do caminhão na colina, nem que um dia ele voltaria à aldeia e arrancaria a cabeça do açougueiro e do calênder que, se não fosse pela graça de Deus ou pelos espíritos da montanha, teriam apedrejado a ela e mutilado a ele. Ele faria isso depois de prestar contas a Armstrong, ou a Talbot ou ao coronel americano, mas antes disso, perguntaria a eles quem havia traído a operação em Meca. Alguém traíra. Por um momento, a lembrança de Rosemont, Tenzing e Gueng o cegaram. Quando seus olhos clarearam, ele viu o relógio na lareira.

— Eu tenho que ir a um edifício perto da embaixada britânica. É muito longe daqui?

— Não, nós podemos levá-lo, se quiser.

— Poderia ser agora? Sinto muito, mas acho que vou apagar de novo se não fizer isso logo.

Gavallan olhou para McIver.

— Mac, vamos sair agora... talvez eu consiga encontrar Talbot. Nós ainda teremos tempo de voltar e falar com Azadeh e com Nogger, se ele estiver aqui.

— Boa idéia.

Gavallan se levantou e vestiu o casaco. Pettikin disse para Ross:

— Vou lhe emprestar um casaco e umas luvas. — Ele viu os olhos dele desviarem-se para o corredor. — Você gostaria que eu acordasse Azadeh?

— Não, obrigado. Eu... eu vou só dar uma olhada nela.

— É a segunda porta à esquerda.

Eles o viram caminhar pelo corredor, com seu andar silencioso como o de um gato, abrir a porta sem fazer barulho e ficar lá em pé por um momento e depois tornar a fechá-la. Ele apanhou o seu rifle e os dois kookris, o dele e o de Gueng. Pensou por um momento e depois colocou o dele sobre a lareira.

— Caso eu não volte, diga a ela que é um presente, um presente para Erikki. Para Erikki e para ela.

47

NO PALÁCIO DO KHAN: 17:19H. O calênder de Abu Mard estava de joelhos, apavorado.

— Não, não, Alteza, eu juro que foi o mulá Mahmud quem nos disse...

— Ele não é um mulá verdadeiro, seu filho de um cão, todo mundo sabe disto! Por Deus, vocês... vocês iam apedrejar a minha filha? — O khan berrou, com o rosto vermelho, respirando com dificuldade — vocês decidiram? vocês decidiram que iam apedrejar a minha filha?

— Foi ele, Alteza — gemeu o calênder —, foi o mulá que decidiu depois de interrogá-la e ela ter admitido ter cometido adultério com o Sabotador...

— Seu filho de um cão! Vocês ajudaram e protegeram o falso mulá... Mentiroso! Ahmed contou-me o que aconteceu! — O khan se ergueu nos travesseiros, com um guarda atrás dele e Ahmed e outros guardas perto do calênder que estava em frente a ele, Najoud, sua filha mais velha e Aysha, sua jovem esposa sentadas de um dos lados, tentando esconder o terror e o ódio e apavoradas que ele se virasse contra elas. Ajoelhado ao lado da porta, ainda vestido com as roupas sujas de viagem e cheio de horror, estava Hakim, irmão de Azadeh, que acabara de chegar e fora levado até lá sob escolta, em resposta a um chamado do khan, e que ouvira com igual raiva o relato de Ahmed sobre o que acontecera na aldeia.

— Seu filho de um cão! — O khan tornou a gritar, a saliva escorrendo pela boca. — Você deixou... você deixou o cão do Sabotador escapar... você o deixou arrastar a minha filha com ele... você abrigou o Sabotador e depois... depois ousou julgar alguém da minha... MINHA família e ia apedrejá-la... sem pedir a minha... MINHA aprovação?

— Foi o mulá... — o calênder gritou, e ficou repetindo a mesma coisa.

— Façam-no calar a boca!

Ahmed atingiu-o com força num dos ouvidos, deixando-o momentaneamente tonto. Depois colocou-o de novo de joelhos e sibilou:

— Diga mais uma palavra e eu corto a sua língua. O khan estava tentando recuperar o fôlego.

— Aysha, dê-me... dê-me uma daquelas... daquelas pílulas.

Ela correu para obedecer, ainda de joelhos, abriu o frasco, colocou uma pílula na sua boca e limpou-a para ele. O khan manteve a pílula debaixo da língua como o médico recomendara e logo o espasmo passou, a pressão nos ouvidos diminuiu e o quarto parou de balançar. Seus olhos injetados voltaram a se fixar no velho que tremia e gemia incontrolavelmente.

— Seu filho de um cão! Então você ousa morder a mão do seu dono. Você, o seu açougueiro e a sua aldeia fedorenta. Ibrim — o khan disse para um dos guardas. — Leve-o de volta para Abu Mard e faça com que ele seja apedrejado, que os aldeões apedrejem a ele, depois corte fora as mãos do açougueiro.

Ibrim e outro guarda obrigaram o velho a se levantar, fizeram-no calar a boca e abriram a porta, parando quando Hakim disse severamente:

— E depois ponha fogo na aldeia!

O khan olhou para ele, estreitando os olhos.

— Sim, e depois ponha fogo na aldeia — repetiu e manteve os olhos em Hakim que enfrentou seu olhar, procurando ter coragem. A porta se fechou e o silêncio ficou mais pesado, quebrado apenas pela respiração penosa de Abdullah.

— Najoud, Aysha, saiam! — disse.

Najoud hesitou, querendo ficar, querendo ouvir a sentença que seria pronunciada a respeito de Hakim, vibrando por Azadeh ter sido apanhada em adultério devendo portanto, ser punida quando fosse recapturada. Bom, bom, bom. Junto com Azadeh, eles dois desaparecem: Hakim e o Ruivo da Faca.

— Eu estarei aqui ao lado, Alteza — ela disse.

— Você pode ir para os seus aposentos. Aysha, espere no final do corredor. — As duas mulheres saíram. Ahmed fechou a porta, satisfeito, estava tudo correndo conforme o planejado. Os outros dois guardas esperaram em silêncio.

O khan virou-se com dificuldade, fazendo um sinal para eles.

— Esperem lá fora. Ahmed, você fica. — Depois que todos saíram e só eles três estavam no quarto grande e frio, o khan tornou a olhar para Hakim.

— Ponha fogo na aldeia, você disse. Foi uma boa idéia. Mas isso não desculpa a sua traição, nem a da sua irmã.

— Nada desculpa a traição contra um pai, Alteza. Mas nem Azadeh nem eu traímos nem planejamos nada contra o senhor.

— Mentiroso! Você ouviu Ahmed! Ela admitiu ter dormido com o Sabotador, ela o admitiu.

— Ela admitiu 'amá-lo' Alteza, há muitos anos passados. Ela jurou por Deus que nunca cometeu adultério nem traiu o marido. Nunca! Na frente daqueles cães e filhos de cães e pior ainda, daquele mulá da esquerda, o que deveria dizer a filha de um khan? Ela não tentou proteger o seu nome na frente daquela gente maldita?