— Todos a bordo!
Vigiados cuidadosamente por Nitchak Khan e pelo Faixa Verde, os restantes subiram a bordo, Ayre pilotava o Alouette, Claus Schwartenegger o 206, todos os lugares estavam ocupados, os tanques cheios, os compartimentos de bagagem cheios, os deslizadores externos carregados de lâminas de rotor avulsas. O 212 de Lochart estava entulhado até em cima:
— Quando chegarmos em Kowiss já teremos gasto um bocado de combustível, então estaremos dentro da lei. De qualquer maneira, vamos descer o tempo todo — dissera a todos os pilotos ao falar com eles mais cedo.
Agora ele estava sozinho, em pé na neve de Zagros Três, todo mundo já tinha embarcado e as portas estavam fechadas.
— Decolem! — ordenou, com a tensão aumentando. Ele tinha dito a Nitchak Khan que decidira coordenar a decolagem.
Nitchak Khan e o Faixa Verde aproximaram-se de Lochart.
— O jovem piloto, aquele que foi ferido, onde está ele?
— Quem? Oh, Scot? Se ele não está aqui, está em Shiraz, calênder — disse Lochart e viu a raiva surgir na cara do velho e a boca do Faixa Verde se escancarar. — Por quê?
— Isso não é possível — discordou o Faixa Verde.
— Eu não o vi a bordo, ele deve ter ido num vôo mais cedo... — Lochart teve que levantar a voz acima do ruído dos jatos, todos os motores agora estavam funcionando com força máxima — ...num vôo mais cedo, quando nós estávamos nas plataformas Rosa e Maria, calênder. Por quê?
— Isso não é possível, calênder — repetiu o Faixa Verde, assustado, enquanto o velho virava-se para ele. — Eu estava vigiando cuidadosamente.
Lochart se abaixou para evitar as hélices e foi até a janela do piloto do 212 de Jean-Luc, entregando-lhe um grosso envelope branco.
— Tome, Jean-Luc. Bonne chance — disse. — Decole! — Por um instante ele viu o esboço de um sorriso antes de correr para se proteger. Jean-Luc acelerou ao máximo para decolar rapidamente e o aparelho subiu e se afastou, com o vento das hélices sacudindo as suas roupas e as dos aldeões, os jatos abafando o que Nitchak Khan estava gritando.
Ao mesmo tempo — também como havia sido combinado antes — Ayre e Schwartenegger aceleraram, afastando-se um do outro antes de subir devagar em direção às árvores. Lochart ficou de dedos cruzados e então o furioso Faixa Verde o agarrou pela manga e o fez virar-se.
— Você mentiu — o homem estava gritando — você mentiu para o calênder. O jovem piloto não partiu mais cedo! Eu o teria visto, eu estava observando cuidadosamente. Diga ao calênder que você mentiu!
Repentinamente, Lochart arrancou a manga da mão do rapaz, sabendo que cada segundo significava mais alguns metros de altitude, mais alguns metros em direção à salvação.
— Por que eu mentiria? Se o jovem piloto não está em Shiraz, então ele ainda está aqui. Revistem o campo, revistem o meu aparelho! — E saiu andando em direção ao seu 212 e ficou em pé ao lado da porta aberta, vendo com o canto dos olhos o 212 de Jean-Luc agora sobre a linha das árvores, Ayre tão sobrecarregado que mal podia voar, e o 206 ainda subindo. — Em nome de Deus, vamos procurar — disse, atraindo a atenção deles para si e para longe dos helicópteros que se afastavam, desejando que eles não revistassem o avião, mas o próprio campo. — Como um homem poderia se esconder aqui? Impossível. Que tal o escritório ou os trailers talvez ele esteja escondido...
O Faixa Verde tirou a arma do ombro e apontou para ele.
— Diga ao calênder que você mentiu, senão vai morrer!
Quase sem nenhum esforço, Nitchak Khan arrancou a arma da mão do rapaz e a atirou na neve.
— Eu sou a lei em Zagros, não você! Volte para a aldeia! — Cheio de medo, o Faixa Verde obedeceu na mesma hora.
Os aldeões esperavam e observavam. O rosto de Nitchak Khan estava tenso e seus olhos iam de um helicóptero para outro. Eles estavam longe agora, mas não fora do alcance dos homens que ele tinha postado em volta da base — para atirar apenas se ele desse o sinal, só ele. Um dos helicópteros menores estava inclinado, subindo ainda o mais depressa possível, fazendo um grande círculo. Para vigiar-nos, pensou Nitchak Khan, para ver o que vai acontecer. Seja como Deus quiser.
— É perigoso derrubar as máquinas voadoras — dissera sua mulher. — Isso nos trará azar.
— Os terroristas farão isto, não nós. O jovem piloto nos viu e o piloto-chefe que fala farsi sabe. Eles não devem escapar. Os terroristas não têm piedade, eles não se importam com a lei e a ordem, e como provar que eles nãoexistem? Essas montanhas não estão cheias de bandidos? Nós não perseguimos esses terroristas o mais que pudemos? O que poderíamos ter feito para evitar a tragédia? Nada.
E agora, diante dele, estava o último dos infiéis, o seu principal inimigo, aquele que o enganara e mentira, conseguindo fazer o outro demônio partir escondido. Pelo menos este não vai escapar, ele pensou. Só havia um pedacinho de sol sobre o horizonte. Enquanto ele olhava, o sol desapareceu.
— Que a paz esteja com você, piloto.
— E com você também, calênder, que Deus o proteja — disse Lochart, secamente. — Aquele envelope que eu dei ao piloto francês. Você viu quando eu o entreguei?
— Sim, sim, eu vi.
— Aquela era uma carta endereçada ao Komiteh Revolucionário em Shiraz, com uma cópia para o calênder iraniano em Dubai, do outro lado do grande mar, assinada pelo jovem piloto, testemunhada por mim, contando exatamente o que aconteceu na praça da aldeia, quem o fez, a quem, quem foi morto, o número de homens amarrados no caminhão dos Faixas Verdes antes deste cair na ravina dos Camelos Quebrados, o assassinato de Nasiri, o seu...
— Mentiras, só mentiras! Pelo Profeta, o que significa esta palavra. Assassinato? Assassinato? Isso é para bandidos. O homem morreu. Foi a Vontade de Deus — disse teimosamente o velho, consciente dos aldeões com os olhos fixos em Lochart. — Ele era um partidário conhecido do satânico xá a quem você vai encontrar, com certeza, muito em breve, no inferno.
— Talvez sim, talvez não. Talvez o meu empregado leal que foi covardemente assassinado aqui por cães covardes já tenha falado com o Único Deus e o Único Deus saiba quem está dizendo a verdade.
— Ele não era muçulmano, ele não serviu ao Islã e...
— Mas ele era cristão e os cristãos servem ao Único Deus e o meu companheiro foi morto numa emboscada feita por covardes, filhos de um cão, que só tiveram coragem de atirar de tocaia, certamente comedores de merda e homens da Mão Esquerda e amaldiçoados! É verdade que ele foi assassinado como o outro cristão lá na plataforma. Por Deus e pelo Profeta de Deus, a morte deles será vingada!
Nitchak Khan deu de ombros.
— Terroristas — ele repetiu, amedrontado —, os terroristas fizeram isso, é claro que foram os terroristas! Quanto à carta, é tudo mentira, mentira, o piloto era mentiroso, nós todos sabemos o que houve na aldeia. Tudo o que ele disse é mentira.
— Mais uma razão para que a carta não seja entregue. — Lochart estava escolhendo as palavras com muito cuidado. — Portanto, por favor, proteja-me dos 'terroristas' enquanto eu me afasto. Só eu posso evitar que a carta seja entregue. — Seu coração batia desordenadamente enquanto ele observava o velho apanhar um cigarro, pesando os prós e os contras, e acender o cigarro com o isqueiro de Jordon e ele tornou a imaginar como poderia vingar-se da morte de Jordon, uma parte ainda não resolvida do plano que até agora tinha funcionado perfeitamente: ele tinha afastado o atento Nitchak Khan dali, Scot Gavallan se escondera no caixão e embarcara no 212 de Jean-Luc, o corpo de Jordon fora colocado no caixote que servia para carregar caudas de rotorese levado para o seu 212, depois a carta e os três helicópteros decolando juntos, tudo perfeitamente planejado.
E agora estava na hora de terminar. Ayre, no Alouette, estava circulando lá em cima, fora de alcance.