— Você ainda tem reservas, Rudi? Em Lengeh as coisas estão ficando pretas, exceto para de Plessey e seu vinho.
— Eu consegui um pouco num cargueiro que está atracado no porto — Rudi respondeu de dentro da pequena cozinha, onde estava pondo a chaleira no fogo. — Emergência, um marinheiro com a cabeça e o rosto arrebentados. O capitão disse que tinha sido uma queda, mas parecia mais uma boa briga. Nada de surpreendente, aliás, o navio está ancorado há três meses. Mein Gott Scrag, você viu o engarrafamento no porto quando chegou? Deve haver mais de cem navios esperando para descarregar, ou para apanhar petróleo.
— Está acontecendo a mesma coisa em Kharg e ao longo de toda a costa, Rudi. Está tudo cheio. Os ancoradouros estão cheios até em cima de caixotes, sacos e sabe Deus o que mais, tudo apodrecendo no sol ou na chuva. Mas chega de falar sobre isso; o que você está fazendo aqui, Rudi?
— Eu trouxe um 212 de Kowiss ontem. Se não fosse pelo tempo, eu teria partido de madrugada. Estou contente de não tê-lo feito.
Scragger percebeu a cautela na voz dele e olhou em volta. Pelo que pudesse ver, não havia ninguém ouvindo.
— Algum problema? — Ele viu Starke sacudir a cabeça. Rudi ligou o gravador. Wagner. Scragger detestava Wagner. — O que há?
— Estou sendo apenas precavido. Estas malditas paredes são finas demais, e eu peguei um dos empregados espionando. Eu acho que a maioria deles são espiões. E temos um novo administrador na base, Numir. Numir o Horrível, nós o chamamos. Ele está de folga hoje, senão você estaria explicando por que está aqui em triplicata. — Rudi baixou mais o tom de voz. — Temos que falar sobre os turbilhões. Mas o que você está fazendo aqui, Scrag? Por que não se comunicou conosco?
— Cheguei na Irã-Toda ontem, trazendo um cara chamado Kasigi, que é o grande comprador do petróleo de Siri e um dos chefões da Irã-Toda. O velho
Georges de Plessey arrumou isto. Vou ficar só hoje, amanhã cedo eu devo partir. Andy me pediu para vê-lo e sondá-lo assim que eu pudesse. Não consegui me comunicar com você pelo UHF. Pode ter sido por causa da tempestade, eu cheguei bem na hora. Não consegui autorização para voar até aqui, então arranquei um fio do aparelho por via das dúvidas e 'precisei urgentemente de um conserto'. Duke, Andy falou-lhe a respeito do que conversamos em Al Shargaz?
— Sim, sim, falou. E é melhor você saber que há mais uma complicação. Disseram a Andy que vamos ficar sem poder voar esperando a nacionalização e que só temos cinco dias... só cinco dias para agir. Se formos executar a operação, tem que ser no máximo até sexta-feira.
— Jesus Cristo! — Scragger sentiu um aperto no peito. — Duke, não há nenhuma possibilidade de me preparar até sexta-feira.
— Andy disse que só tiraremos os 212.
— Hein?
Starke explicou o que tinha acontecido em Kowiss e o que esperava que fosse acontecer "caso Andy dê sinal verde."
— Nada de "caso ele dê". Andy tem que dar. A questão é: vamos arriscar os nossos pescoços?
Starke riu.
— Você já arriscou o seu. Eu disse que estava dentro se todo o mundo estivesse. Com dois 212 é possível para mim, e agora que... bem, agora que o nosso pássaro terá outra vez um registro britânico assim que estivermos fora, isso torna as coisas legais.
— Torna uma ova — disse Rudi. — Não tem nada de legal. Eu disse isso a você ontem à noite e Pop Kelly concordou. Scrag, como...
— Pop está aqui?
— Claro — disse Starke. — Ele veio comigo. — E explicou o motivo e depois acrescentou: — 'Pé-quente' aprovou o 'empréstimo', nós pusemos dois caras no 125 e o resto deve sair na quinta-feira, mas não tenho tanta certeza. O coronel Changiz disse que no futuro todo o movimento de pessoal deve ser aprovado por ele, não apenas por 'Pé-quente'.
— Como é que você vai voltar?
— Eu vou num 206. — Starke olhou pela janela, para a chuva. — Maldito aguaceiro!
— Deverá passar até de noite, Duke — Scragger disse com segurança.
— Como é que você vai retirar os seus homens, Scrag? Hein? — perguntou Rudi.
— Se forem apenas os meus dois 212, isso torna as coisas mais fáceis. Muito mais fáceis. — Scragger viu Rudi beber um bocado de cerveja bem gelada, as gotículas brilhando na lata, e a sua sede aumentou. — Sexta-feira será um bom dia para uma fuga porque os iranianos estarão rezando ou algo semelhante.
— Não tenho tanta certeza disto, Scrag — disse Rudi. — Eles continuam o operar o radar na sexta-feira, e forçosamente saberão que há algo errado com os meus quatro pássaros atravessando o golfo, imagine com os seus três e os dois de Duke. Abadan está um bocado sensível em relação a helicópteros, especialmente depois do HBC.
— Houve mais alguma investigação a respeito dele, Rudi?
— Sim, na semana passada Abbasi esteve aqui, ele é o piloto que explodiu o aparelho. As mesmas perguntas, nada mais.
— Ele sabe que o irmão dele era o piloto do HBC?
— Ainda não, Scrag.
— Tom Lochart teve um bocado de sorte, um bocado de sorte.
— Nós todos tivemos um bocado de sorte. Até agora — disse Starke. — Exceto Erikki. — E contou a Scragger o pouco que sabia.
— Cristo, o que mais? Como vamos executar a operação Turbilhão com ele ainda no Irã?
— Nós não podemos, Scrag. É o que eu acho — disse Rudi. — Nós não podemos deixá-lo aqui.
— Está certo, mas talvez... — Starke tomou um gole de café, um pouco enjoado por causa da ansiedade que estava sentindo. — Talvez Andy não aperte o botão. Enquanto isso, nós esperamos que Erikki escape ou seja libertado antes de sexta-feira. Aí Andy vai poder apertar o botão. Merda, se dependesse de mim, só de mim, vê lá se eu me arriscaria numa operação como Turbilhão.
— Nem eu — disse Rudi, igualmente nervoso.
— Se fossem os seus aviões, a sua companhia e o seu futuro, eu aposto que você faria. Eu sei que eu o faria. — Scragger sorriu. — Eu sou a favor do Turbilhão. Tenho que ser, cara, nenhuma companhia me empregaria na minha idade, então eu tenho que manter Dirty Dunc e Andy Gav no negócio se quiser continuar voando. — A chaleira começou a apitar. Ele se levantou. — Eu estou dentro, Rudi. E você? Você está dentro ou fora?
— Eu, eu estou dentro se vocês dois estiverem, e se for viável, mas não gosto disso nem um pouco e estou lhe dizendo francamente que só retirarei os meus quatro se eu realmente achar que temos uma chance. Nós conversamos com os outros pilotos na noite passada, Scrag. Marc Dubois e Pop Kelly disseram que tentariam, Block e Forsythe disseram não, obrigado, então nós temos três pilotos para quatro 212. Eu pedi a Andy para me mandar um voluntário. — Rudi mostrou a sua inquietação. — Mas reissen mit scheissenl Eu vou ter, de qualquer maneira, quatro para levantar vôo, todos ao mesmo tempo, quando somos obrigados a ter autorização prévia, com Faixas Verdes por toda a base, o nosso operador de rádio, Jahan, não é nenhum idiota, e ainda temos Numi, o Horrível. — E franziu a testa.
— Você não vai ter nenhum problema, meu velho — disse Scrag, brincando. — Diga-lhes que vocês vão prestar uma homenagem à vitória de Khomeini voando sobre Abadan.
— Vá à merda, Scrag! — A música terminou e Rudi virou a fita. Então o seu rosto ficou sério. — Mas eu concordo com você que Andy vai mesmo apertar o botão na sexta-feira. Quanto a mim, eu acho que se um de nós desistir, todos desistem, de acordo?
Scragger quebrou o silêncio.
— Se Andy disser vai, eu vou. Tenho que ir.
PORTO DE BANDAR DELAM: 15:17H. A caminhonete de Scragger saiu de uma rua principal no meio da cidade barulhenta e entrou numa rua secundária, atravessou-a e depois virou na praça em frente a uma mesquita, com Muhammad dirigindo como sempre, com a mão constantemente enfiada na buzina. A chuva tinha diminuído bastante, mas o dia ainda estava horrível. No banco de trás, Minoru cochilava, abraçado ao aparelho de rádio substituto. Scragger estava olhando distraidamente para a frente, tinha tanta coisa para pensar, planos, códigos, e Erikki? Que azar desgraçado! Mas se há alguém que possa dar um jeito é ele. Juro por Deus que o velho Erikki vai achar uma saída. Digamos que ele não consiga ou que o velho Andy não dê o sinal verde, o que você vai fazer para arranjar trabalho? Vou pensar nisso na semana que vem.