Ele não viu o carro de polícia sair correndo de uma rua lateral, derrapar na superfície escorregadia e bater na traseira deles. Muhammad não poderia ter evitado o acidente, e a velocidade do carro de polícia, mais a do deles, fez com que deslizassem pela rua, batessem numa barraca e atropelassem a multidão, matando uma velha, decapitando outra, ferindo muitos ao cair com as rodas dentro da vala, fazendo com que o carro virasse e batesse de encontro ao muro, com um estrondo.
Instintivamente, Scragger cobrira o rosto com as mãos, mas o choque final fez com que sua cabeça batesse na lateral do carro, deixando-o momentaneamente desacordado, só não tendo se machucado seriamente por causa do cinto de segurança. O motorista fora projetado pelo pára-brisa e estava agora com metade do corpo para fora do carro, bastante ferido. Atrás, o assento protegera Minoru e ele foi o primeiro a se recuperar, com o rádio ainda no colo. No meio dos gritos e do pandemônio, ele abriu a porta e saltou, passando despercebido no meio de pedestres e feridos, sem notarem que ele era um passageiro, uma vez que os japoneses da Irã-Toda eram comuns nas ruas.
Naquele momento, os ocupantes do carro da polícia que estava atravessado no meio da rua com a frente amassada chegaram correndo. A polícia abriu caminho até a caminhonete, deu uma olhada no motorista, abriu a porta do outro lado e tirou Scragger lá de dentro.
Gritos zangados de "Americano!" e mais gritos e barulho, Scragger ainda estava tonto.
— Obrigado... eu... eu estou bem... — mas eles o seguraram com firmeza, gritando com ele.
— Pelo amor de Deus — gaguejou — eu não estava dirigindo... que diabo está... — Em volta dele, um tumulto de farsi, pânico e raiva e um dos policiais o algemou e depois o arrastaram para o outro carro, o enfiaram no assento de trás e entraram, ainda xingando-o. O motorista deu a partida.
Do outro lado da rua, Minoru tentava inutilmente abrir caminho no meio da multidão para ajudar Scragger. Ele parou, cabisbaixo, enquanto o carro se afastava pela rua.
PERTO DE DOSHAN TAPPEH: 15:30H. McIver dirigia pela estrada vazia que costeava a cerca de arame farpado do campo de aviação militar. Os pára-choques estavam tortos e havia muito mais mossas do que antes. Um dos faróis estava rachado e preso com fita adesiva, a lâmpada de uma das lanternas estava faltando, mas o motor ainda funcionava bem e os pneus de neve rodavam com segurança. Havia neve dos lados da estrada. Não havia sol, o tempo estava nublado, com as nuvens cobrindo tudo, exceto a base das montanhas ao norte. Estava frio e ele estava atrasado.
Do lado de dentro do pára-brisa havia um grande cartão verde e, ao vê-lo, o grupo de Faixas Verdes e os guardas da Força Aérea parados perto do portão fizeram-no entrar, depois tornaram a se juntar em volta de uma fogueira para se manterem aquecidos. Ele se dirigiu para o hangar da S-G. Tom Lochart saiu de uma porta lateral para se encontrar com ele.
— Oi, Mac — disse, entrando rapidamente no carro. Ele estava usando o seu uniforme de piloto e carregava a sua maleta de vôo, tendo acabado de chegar de Kowiss. — Como está Xarazade?
— Sinto ter demorado tanto, o trânsito estava horrível.
— Você a viu?
— Não, ainda não, sinto muito. — Ele viu a tensão imediata de Lochart. — Fui lá outra vez hoje cedo. Um empregado atendeu a porta mas não pareceu entender o que eu estava dizendo. Vou levar você até lá assim que puder. — Ele reduziu e virou no portão. — Como foi em Zagros?
— Um horror, vou lhe contar tudo num segundo — Lochart disse apressadamente. — Antes de sairmos, temos que nos apresentar ao comandante da base.
— Ah, é? Por quê? — McIver freou.
— Eles não disseram. Deixaram um recado com o empregado que quando você chegasse aqui hoje deveria falar com o comandante da base. Algum problema?
— Não que eu saiba. — McIver fez a volta. O que será agora? pensou, controlando a sua ansiedade.
— Pode ser por causa do HBC?
— Esperemos que não.
— O que aconteceu com Lulu? Você deu uma batida?
— Não, foram uns vândalos na rua — disse McIver, com a cabeça no HBC.
— Eles estão cada vez piores. Alguma notícia de Erikki?
— Nada. Ele simplesmente desapareceu. Azadeh passa o dia sentada ao lado do telefone, no escritório.
— Ela ainda está com você?
— Não, ela voltou para o apartamento dela no sábado. — McIver estava indo para os prédios que ficavam do outro lado da pista. — Conte-me sobre Zagros... — Ele escutou sem fazer comentários até que Lochart tivesse terminado. — Terrível, simplesmente terrível!
— Sim, mas Nitchak Khan não deu o sinal para nos derrubarem. Se tivesse dado, teria conseguido. Seria muito difícil desmentir aquela história de terroristas. De qualquer maneira, quando chegamos a Kowiss, Duke e Andy tinham tido um pega com 'Pé-quente'. — Contou-lhe sobre isso. — Mas o ardil parece estar funcionando: ontem, Duke e Pop levaram o 212 para Rudi e esta manhã o EcoTangoLimaLima chegou para apanhar o corpo de Jordon.
— Terrível. Eu me sinto muito responsável pelo velho Effer.
— Acho que todos nós. — Lá na frente eles podiam ver o prédio do QG com sentinelas do lado de fora. — Nós todos carregamos o caixão até o helicóptero, o jovem Freddy tocou uma canção fúnebre na gaita, não havia muito mais a fazer. Curiosamente, o coronel Changiz enviou uma guarda de honra da Força Aérea e nos deu um caixão decente. Os iranianos são muito estranhos. Eles pareciam genuinamente compungidos. — Lochart estava falando automaticamente, doente de ansiedade por causa da demora. Tivera que esperar em Kowiss, depois voara até aqui com a ATC perturbando-o, depois não havia nenhum meio de transporte e tivera que esperar interminavelmente por McIver e agora mais um atraso. O que aconteceu com Xarazade?
Eles estavam perto do prédio que abrigava a suíte do comandante da base e o refeitório dos oficiais, onde tinham passado tantos momentos agradáveis no passado. Doshan Tappeh fora uma base de elite — o xá mantinha parte da sua frota de jatos particulares lá e o seu Fokker Friendship. Agora as paredes do prédio de dois andares estavam furadas de balas e destruídas aqui e ali por bombas, a maioria das janelas estava quebrada, algumas cobertas por tábuas. Lá fora, alguns Faixas Verdes e aviadores desleixados estavam postados como sentinelas.
— Que a paz esteja com vocês! Excelência McIver e Lochart estão aqui para falar com o comandante do campo. — Lochart disse em farsi. Um dos Faixas Verdes fez sinal para eles entrarem. — Por favor, onde fica o escritório?
— Lá dentro.
Eles subiram os degraus em direção à porta principal, o ar estava pesado com cheiro de fumaça, pólvora e esgoto. Ao chegarem ao último degrau, a porta principal se abriu e apareceu um mulá com alguns Faixas Verdes, arrastando dois jovens oficiais da Força Aérea com as mãos amarradas e os uniformes sujos e rasgados. Lochart ficou de boca aberta, reconhecendo um deles.
— Karim! — exclamou e McIver também reconheceu o rapaz. Karim Peshadi, o adorado primo de Xarazade, o homem a quem ele havia pedido para tentar retirar a autorização do HBC da torre.
— Tom! Em nome de Deus, diga-lhes que eu não sou nem espião nem traidor — Karim gritou em inglês. — Tom, diga a eles!
— Excelência — Lochart disse em farsi para o mulá —, deve haver algum engano. Este homem é o capitão Peshadi, um leal partidário do aiatolá, um...