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— Quem é você, Excelência? — perguntou o mulá, um homem de olhos escuros, baixo e atarracado. — Americano?

— Meu nome é Lochart, Excelência, canadense, piloto da IranOil, e este é o chefe da nossa companhia que fica do outro lado do campo, capitão McIver, um...

— Como é que você conhece esse traidor?

— Excelência, estou certo de que há algum engano, ele não pode ser um traidor, eu o conheço porque ele é primo da minha esposa e fi...

— Sua esposa é iraniana?

— Sim, Exce...

— Você é muçulmano?

— Não, Excel...

— Então é melhor se divorciar e salvar a alma dela da perdição. Seja como Deus quiser. Não há engano algum a respeito desses traidores. Cuide da sua vida, Excelência. — O mulá fez um sinal para os Faixas Verdes. Imediatamente, eles desceram os degraus, arrastando os dois oficiais que gritavam e protestavam a sua inocência, depois ele se voltou para a porta da frente.

— Excelência — Lochart gritou atrás dele, alcançando-o. — Por favor, em nome do único Deus, eu sei que aquele rapaz é leal ao imã, é um bom muçulmano, um patriota, eu sei com certeza que ele foi um dos que lutaram contra os Imortais aqui em Doshan Tappeh, ele ajudou a revo...

— Pare! — Os olhos do mulá ficaram ainda mais duros. — Esse problema não é da sua conta, estrangeiro. Nós não somos mais governados por estrangeiros, nem por leis estrangeiras, nem por um xá dominado por estrangeiros. Você não é iraniano, nem juiz, nem legislador. Aqueles homens foram julgados e condenados.

— Eu imploro pela sua paciência, Excelência, deve haver algum erro, deve... — Lochart se virou ao ouvir uma sucessão de tiros de rifle ali perto. As sentinelas estavam olhando para algumas barracas e prédios do outro lado da estrada. Então os Faixas Verdes reapareceram, vindos de trás de uma das barracas, pondo as armas no ombro. Eles tornaram a subir os degraus. O mulá fez sinal para que eles entrassem.

— A lei é a lei — disse o mulá, observando Lochart. — A heresia tem que ser exterminada. Já que você conhece a família dele, pode dizer-lhes para pedir perdão a Deus por ter abrigado uma tal criatura.

— E ele foi considerado culpado de que crime?

— Não foi 'considerado' culpado, Excelência — disse o mulá, com raiva na voz. — Karim Peshadi admitiu publicamente ter roubado um caminhão e ter deixado a base sem permissão, admitiu publicamente ter participado de demonstrações proibidas, declarou publicamente ser contra o nosso Estado absolutista islâmico, se opôs publicamente à abolição do Ato do Matrimônio, contrário aos princípios islâmicos, defendeu publicamente atos contrários à lei islâmica, foi apanhado em ações suspeitas de sabotagem, negou publicamente o total absolutismo do Corão, desafiou publicamente o direito do imã de ser faqira, aquele que está acima da lei e que é o árbitro final da lei. — Ele puxou as suas vestes mais para junto do corpo por causa do frio. — Que a paz esteja com você. — E tornou a entrar no prédio.

Por um momento, Lochart não conseguiu falar. Então ele explicou a McIver o que tinha sido dito.

— Suspeito de atos de sabotagem, Tom? Ele foi apanhado na torre?

— Que importância tem isso? — disse Lochart, com amargura. — Karim está morto. Por crimes contra Deus.

— Não, meu rapaz — McIver disse bondosamente —, não contra Deus, contra a versão deles da verdade expressa em nome do Deus que eles nunca irão conhecer. — Ele endireitou os ombros e entrou no prédio. No fim, acabaram encontrando o comandante da base e foram recebidos.

Atrás da mesa estava um major. O mulá sentava-se a seu lado. A única decoração da pequena sala desarrumada era uma grande fotografia de Khomeini.

— Eu sou o major Betami, sr. McIver — o homem disse secamente em inglês. — Este é o mulá Tehrani. — Depois ele olhou para Lochart e mudou para farsi. — Como Sua Excelência Tehrani não fala inglês, você traduzirá para mim. O seu nome, por favor.

— Lochart, capitão Lochart.

— Sentem-se por favor, vocês dois. Sua Excelência disse que você é casado com uma iraniana. Qual era o nome dela de solteira?

Os olhos de Lochart ficaram duros.

— A minha vida particular só interessa a mim, Excelência.

— Não você sendo um piloto de helicóptero estrangeiro no meio da nossa revolução islâmica contra a dominação estrangeira — disse o major, zangado. — Nem sendo uma pessoa que conhece traidores do país. O senhor tem algo a esconder, capitão?

— Não, não, é claro que não.

— Então, por favor, responda à pergunta.

— O senhor é da polícia? Com que autoridade...

— Eu sou um membro do komiteh de Doshan Tappeh — disse o mulá — O senhor prefere ser intimado oficialmente? Agora? Neste minuto?

— Eu prefiro não ser interrogado a respeito da minha vida privada.

— Se o senhor não tem nada a esconder, pode responder à pergunta. Por favor, escolha.

— Bakravan. — Lochart viu que os dois homens tinham identificado o nome. Seu estômago ficou ainda mais embrulhado.

— Jared Bakravan, o agiota do bazar? Uma de suas filhas?

— Sim.

— O nome dela, por favor.

Lochart controlou a raiva, aumentada ainda mais pelo assassinato de Karim. Foi um assassinato, ele teve vontade de gritar, não importa o que vocês digam.

— Sua Excelência Xarazade. McIver estava observando atentamente.

— Do que se trata, Tom?

— Nada. Nada, eu explico depois.

O major tomou nota num pedaço de papel.

— Qual é o seu relacionamento com o traidor Karim Peshadi?

— Eu o conheço há cerca de dois anos, ele foi um dos meus alunos no curso de pilotos. Ele é primo da minha esposa... era primo da minha esposa. E eu só posso repetir que é inconcebível que ele fosse um traidor do Irã ou do Islã.

O major fez outra anotação no bloco, com a pena rangendo.

— Onde o senhor está morando, capitão?

— Eu... eu não tenho certeza. Eu estava na casa dos Bakravan, perto do bazar. O nosso... nosso apartamento foi confiscado.

O silêncio cresceu na sala, tornando-a claustrofóbica. O major terminou de escrever, depois apanhou uma folha cheia de anotações e olhou diretamente para McIver.

— Primeiro, nenhum helicóptero estrangeiro pode entrar ou sair do espaço aéreo de Teerã sem autorização do QG da Força Aérea.

Lochart traduziu e McIver balançou a cabeça. Isso não era nenhuma novidade, exceto que o komiteh do Aeroporto Internacional de Teerã tinha acabado de dar instruções oficiais por escrito, em nome do todo-poderoso Komiteh Revolucionário, de que só o komiteh podia autorizar e conceder tais autorizações. McIver tinha conseguido permissão para mandar o 212 que faltava e um dos seus Alouettes para Kowiss "em empréstimo temporário" bem a tempo, ele pensou com amargura, concentrando-se no major, mas imaginando quai teria sido a discussão em farsi com Lochart.

— Segundo: nós queremos uma lista completa de todos os helicópteros sob sua responsabilidade, em que lugar do Irã eles se encontram, os números dos motores e a quantidade e o tipo de peças que vocês estão carregando em cada helicóptero.

Lochart viu McIver arregalar os olhos, mas sua mente estava presa em Xarazade e na razão pela qual eles queriam saber onde ele morava e qual era o seu relacionamento com Karim, mal ouvindo as palavras que estava traduzindo.

— O capitão McIver diz que: "Muito bem. Isso vai demorar um pouco por causa das comunicações, mas eu vou conseguir o mais cedo possível.

— Eu gostaria de ter isso amanhã.

— Se eu conseguir até lá, Excelência, fique certo de que o senhor a terá. O senhor a terá o mais cedo possível.

— Terceiro: todos os seus helicópteros na área de Teerã serão reunidos aqui a partir de amanhã, e de agora em diante o senhor os operará daqui.

— Eu irei certamente informar aos meus superiores da IranOil a respeito da sua solicitação, major. Imediatamente.