— Pode estar havendo uma guerra — ela tinha dito com uma alegria forçada ao chegar sem ter sido convidada, há meia hora — mas aconteça o que acontecer, os franceses têm que ter um pão decente.
—Vive Ia France e Viva Alitalia — respondera Pettikin, convidando-a com relutância para entrar, sem querer dividir Paula com ninguém. Desde que o interesse de Paula por Nogger Lane terminara, ele tinha entrado no páreo, cheio de esperanças. — Paula chegou esta tarde no vôo da Alitalia, contrabandeou tudo isso arriscando a própria vida, e não está com uma aparência fantástica?
— É o dolce latte, Sayada. Charlie me disse que era o seu favorito — disse Paula, rindo.
— Não é o melhor queijo do mundo? Tudo que é italiano não é o melhor do mundo?
Paula apanhou o saca-rolhas e entregou a ele, com seus olhos esverdeados mandando arrepios pela sua espinha.
— Para você, caro.
— Magnífico! Será que todas as moças da Alitalia são tão gentis, corajosas, lindas, eficientes, doces, cheirosas, afetuosas e, ahn, cinematográficas?
— É claro.
— Venha para a festa, Sayada — ele tinha dito. Quando ela chegou mais perto, ele viu que ela estava com um ar estranho. — Você está bem?
— Oh, sim, não é nada. — Sayada ficou satisfeita pela luz de vela que permitiu que ela disfarçasse. — Eu, ahn, obrigada, eu não vou ficar, eu... só estou com saudades de Jean-Luc, queria descobrir quando ele vai voltar, e achei que vocês gostariam das baguettes.
— Foi ótimo você ter chegado. Há semanas que não comemos um pão decente, obrigado, mas fique de qualquer jeito. Mac foi apanhar o Tom em Doshan Tappeh. Tom deve saber de Jean-Luc. Eles devem estar chegando a qualquer momento.
— Como está Zagros?
Nós tivemos que fechar. — Enquanto ele providenciava os copos e ar rumava a mesa, com Paula ajudando e fazendo quase tudo, ele explicou a elas o motivo e contou-lhes a respeito do ataque terrorista à plataforma Bellissima, da morte de Gianni e, mais tarde, de Jordon, e do ferimento de Scot. — Um horror, mas aconteceu.
— Terrível — disse Paula. — Isto explica por que nós vamos voltar por Shiraz e temos instruções de deixar cinqüenta lugares em aberto. Deve ser para os nossos compatriotas de Zagros.
— Que azar — disse Sayada, imaginando se deveria passar essa informação. Para eles, e ele.
A Voz tinha ligado ontem cedo, perguntando a que horas ela tinha deixado Teymour no sábado.
— Por volta de cinco, cinco e quinze, por quê?
— O maldito prédio pegou fogo pouco antes de escurecer, em algum lugar do terceiro andar, atingindo os outros andares. O prédio inteiro foi destruído, muitas pessoas morreram, e não há nenhum sinal de Teymour nem dos outros. É claro que os bombeiros chegaram tarde demais...
Ela não teve dificuldade em chorar de verdade e deixar a sua agonia transparecer. Mais tarde a Voz tinha ligado de novo
— Você deu os papéis a Teymour?
— Sim... sim, eu dei.
Tinha havido um palavrão abafado.
— Esteja no Clube Francês amanhã de tarde. Deixarei instruções no seu armário. — Mas não havia nenhuma mensagem, então ela apanhara o pão na cozinha e fora para lá. Não havia nenhum outro lugar para ir e ela ainda estava muito assustada.
— Que coisa triste — Paula estava dizendo:
— Sim, mas chega disto — disse Pettikin, censurando-se por ter contado a elas. Isso não é problema delas, pensou. — Vamos comer, beber e nos alegrar.
— Pois amanhã estaremos mortos? — perguntou Sayada.
— Não. — Pettikin levantou o copo e sorriu para Paula. — Pois amanhã estaremos vivos. Saúde! — Ele brindou com ela e depois com Sayada, e pensou, que dupla fantástica, mas Paula é de longe a mais bonita..
Sayada estava pensando: Charlie está apaixonado por esta sereia que vai se aproveitar dele quanto quiser e depois cuspir os restos sem hesitação, mas por que será que eles — os meus novos senhores, sejam eles quem forem — por que será que eles querem saber sobre Jean-Luc e Tom e querem que eu seja amante de Armstrong, e como eles sabem a respeito do meu filho, que Deus os amaldiçoe.
Paula estava pensando: Eu odeio esta merda de cidade onde todo mundo está tão deprimido e melancólico como esta pobre mulher que obviamente está com o problema de sempre, amoroso, quando existe Roma, sol, Itália, e uma vida doce para gozar, vinho, risos e amor para desfrutar, crianças para gerar com um marido para adorar mas só enquanto o demônio se comportar — por que será que todos os homens são uns safados e por que será que eu gosto deste homem, Charlie, que é e não é velho demais, é e não é pobre demais, é e não é masculino demais...
— Alora — ela disse, com o vinho tornando os seus lábios mais suculentos — Charlie, amore, nós precisamos nos encontrar em Roma. Teerã é tão... tão depressão, scusa, deprimente.
— Não quando você está por perto — ele disse. Sayada os viu sorrir um para o outro e os invejou.
— Acho que voltarei mais tarde — disse, levantando-se. Antes que Pettikin pudesse dizer alguma coisa, uma chave girou na fechadura e McIver entrou.
— Oh, olá — disse, tentando esquecer o cansaço. — Oi, Paula, oi, Sayada. Que surpresa agradável. — Então ele notou a mesa. — O que é isso, Natal? — Ele tirou o casacão e as luvas.
— Foi Paula quem trouxe, e Sayada trouxe pão. Onde está Tom? — perguntou Pettikin, sentindo imediatamente que havia alguma coisa errada.
— Eu o deixei na casa dos Bakravan, perto do bazar.
— Como vai ela? — perguntou Sayada. — Eu não a vejo desde... desde o dia da marcha, primeiro de março.
— Eu não sei, garota, apenas deixei-o lá e vim para casa. — McIver aceitou um copo de vinho, devolvendo o olhar de Pettikin. — O tráfego estava horrível. Eu levei uma hora para chegar aqui. Saúde! Paula, você é um colírio para os olhos. Você vai passar a noite aqui?
— Se não for incomodar? Eu vou sair cedo amanhã de manhã, não vou precisar de condução, caro, um dos membros da tripulação me deixou aqui e vem me buscar amanhã. Genny disse que eu podia usar o quarto de hóspedes. Ela achou que ele poderia estar precisando de uma faxina, mas ele me parece limpo. — Paula se levantou e os dois homens, involuntariamente, foram imediatamente atraídos pela sensualidade dos seus movimentos. Sayada xingou-a, com inveja, imaginando por que seria, o uniforme não era, com certeza, pois era muito severo embora lindamente cortado, sabendo que ela própria era muito mais bonita, muito mais bem vestida, mas não da mesma raça. Vaca!
Paula apanhou a bolsa e tirou duas cartas que entregou a McIver.
— Uma de Genny e uma de Andy.
— Obrigado, muito obrigado — agradeceu McIver.
— Eu estava saindo, Mac — disse Sayada. — Só queria perguntar quando é que Jean-Luc vai voltar.
— Provavelmente na quarta-feira. Ele está transportando um 212 para Al Shargaz. Ele deve chegar lá hoje e voltar na quarta-feira. — McIver olhou para as cartas. — Não precisa ir embora, Sayada... dêem-me licença um minuto.
Ele se sentou na poltrona ao lado do aquecedor que estava funcionando a meio vapor e acendeu um abajur. A luz tirou muito do romantismo da sala. A carta de Gavallan dizia: "Oi, Mac, escrevo às pressas, cortesia da mais linda de todas! Estou esperando por Scot. Depois parto para Londres esta noite, se ele estiver bem, mas voltarei dentro de dois dias, três no máximo. Consegui tirar Duke de Kowiss e o mandei falar com Rudi, caso Scrag se atrase — ele deve estar de volta na terça-feira. Kowiss está muito confuso — eu tive uma briga feia com 'Pé-quente' — e Zagros também. Acabei de falar com Masson e é isso mesmo. Então estou dando o sinal verde para o plano. Está dado. Vejo você na quarta-feira. Dê um abraço em Paula por mim e Genny manda dizer que você não ouse fazer isso!"