Ele ficou olhando para a carta, depois recostou-se na poltrona por um momento, ouvindo, distraído, uma história que Paula estava contando sobre o vôo para Teerã. Então ele apertou o botão. Não se iluda, Andy, eu sabia que você iria apertá-lo desde o primeiro momento — foi por isto que eu disse: Certo, desde que eu possa cancelar a operação se achar que é arriscada demais e a minha decisão é definitiva. Eu acho que você deve apertar o botão até o fim. Você não tem outra alternativa se quiser sobreviver.
O vinho estava muito bom. Ele terminou o copo, depois abriu a carta de Genny. Eram apenas notícias de casa e das crianças, todos com saúde e felizes, mas ele a conhecia bem demais para não ver nas entrelinhas a sua preocupação: "Não se preocupe, Duncan, e não se esforce demais. E não pense que estou planejando uma casinha cheia de flores na Inglaterra. Eu estou aqui praticando a dança do ventre, então é melhor você se apressar. Amor, Gen."
McIver sorriu para si mesmo, se levantou e se serviu de mais vinho, sentindo-se mais calmo agora. Brindou com Pettikin:
— Um brinde às mulheres. Vinho fantástico, Paula. Andy mandou-lhe um abraço... — Na mesma hora ela sorriu, estendeu a mão e tocou nele e ele sentiu um arrepio percorrer-lhe o braço. O que será que ela tem? perguntou a si mesmo, perturbado, e disse rapidamente para Sayada: — Ele mandaria um para você também se soubesse que você estava aqui. — Uma das velas na lareira estava derretendo. — Deixe que eu apanho. Algum recado?
— Tem um recado de Talbot. Ele está fazendo tudo o que pode para encontrar Erikki. Duke ficou preso em Bandar Delam por causa de uma tempestade, mas deve voltar a Kowiss amanhã.
— E Azadeh?
— Ela está melhor hoje. Paula e eu a acompanhamos até em casa. Ela está bem, Mac. É melhor você comer alguma coisa, não há nada para jantar.
— Que tal jantarmos no Clube Francês? A comida ainda está passável — disse Sayada.
— Eu adoraria — Paula disse animadamente e Pettikin praguejou. — Que idéia maravilhosa, Sayada! Charlie?
— Ótimo, Mac?
— Claro, se for por minha conta e se vocês não se importarem de voltar cedo. — McIver segurou o copo contra a luz, admirando a cor do vinho. — Charlie, quero que você leve o 212 para Kowiss bem cedinho, Nogger vai levar o Alouette. Você pode ficar ajudando Duke uns dois dias. Vou mandar Shoesmith num 206 para buscá-lo no sábado. Está bem?
— Claro — disse Pettikin, imaginando o motivo da mudança nos planos que eram que McIver, Nogger e ele próprio embarcassem no vôo de quarta-feira, e dois outros pilotos iriam para Kowiss amanhã. Por quê? Deve ter sido a carta de Andy. Turbilhão? Será que Mac vai cancelar?
NAS FAVELAS DE JALEH: 18:50H. O velho carro parou no beco. Um homem saltou e olhou em volta. O beco estava deserto, muros altos, uma vala de um dos lados que já estava coberta de neve e lixo há muito tempo. Do outro lado de onde o carro tinha parado, fracamente iluminada pela luz do farol, havia uma praça arruinada. O homem deu uma batida no teto. Os faróis foram apagados. O motorista saltou e foi ajudar o outro homem, que tinha aberto a mala. Juntos eles carregaram o corpo, enrolado num cobertor escuro, através da praça.
— Espere um pouco — o motorista disse em russo. Ele apanhou a lanterna e acendeu-a por um instante. O círculo de luz mostrou a abertura no muro que ele estava procurando.
— Ótimo — disse o outro, e eles a atravessaram, depois tornaram a parar para se localizarem.
Agora eles estavam num cemitério velho, quase abandonado. Eles foram iluminando túmulo por túmulo — algumas das inscrições em russo, algumas em letras romanas — até encontrar o túmulo aberto, recém-cavado. Havia uma pá enfiada no monte de terra.
Eles foram até a beirada. O homem mais alto, o motorista, disse:
— Pronto?
— Sim. — Eles deixaram o corpo cair no buraco. O motorista iluminou-o com a lanterna. — Endireite-o.
— Ele não vai ligar a mínima — disse o outro homem e apanhou a pá. Era um homem muito forte e de ombros largos e começou a encher o túmulo. O motorista acendeu um cigarro, atirando o fósforo, com raiva, dentro do túmulo.
— Talvez você devesse dizer uma oração por ele. O outro riu.
— Marx-Lenin não aprovariam. Nem o velho Stalin.
— Aquele filho da puta... que ele apodreça!
— Olhe o que ele fez pela mãe Rússia! Ele construiu um império, o maior do mundo, coagiu os britânicos, enganou os americanos, formou o maior e melhor exército, marinha e aeronáutica e tornou a KGB assim tão poderosa.
— Com cada rublo que possuíamos e vinte milhões de vidas. Vidas de russos.
— Dispensáveis! A escória, idiotas, a ralé, havia muito mais gente no lugar de onde eles vieram. — O homem estava suando agora e entregou a pá para o outro. — O que há com você, afinal?, você já estava enfezado desde cedo.
— Estou só cansado. Desculpe.
— Todo mundo está cansado. Você precisa de alguns dias de descanso. Candidate-se a ir para Al Shargaz. Eu tive três dias ótimos lá, não queria mais voltar. Eu pedi para ser transferido de uma vez para lá. Temos uma operação grande lá agora, crescendo todo dia, os israelenses também intensificaram as suas operações, assim como a CIA. O que foi que aconteceu desde que eu parti?
— O Azerbeijão está esquentando. Há boatos de que o velho Abdullah Khan está morto ou morrendo.
— A Seção 16/a?
— Não, ataque de coração. O resto está normal. Você se divertiu mesmo? O outro riu.
— Tem uma secretária da Intourist lá que é muito hospitaleira. — Ele coçou o saco ao se lembrar. — Quem é esse desgraçado, afinal?
— O nome dele não estava relacionado — disse o motorista.
— Nunca está. Então quem era ele?
— Um agente chamado Yazernov, Dimitri Yazernov.
— Não significa nada para mim. E para você?
— Ele era um agente na área da universidade; eu trabalhei com ele por algum tempo, há um ano atrás. Esperto, gênero culto, cheio de baboseiras ideológicas. Parece que ele foi apanhado pelo Serviço Secreto e seriamente interrogado.
— Filhos da mãe! Eles o mataram, não foi?
— Não. — O homem mais alto parou de trabalhar por um momento e olhou em volta. Não havia nenhuma chance deles estarem sendo ouvidos e embora ele não acreditasse em fantasmas nem em Deus nem em nada, só no Partido e na KGB, a cabeça do partido, ele não estava gostando daquele lugar. Ele baixou a voz. — Quando ele foi recuperado, há quase uma semana, ele estava mal, inconsciente, nunca deveria ter sido removido, não no seu estado. A Savama o tirou das mãos do Serviço Secreto. O diretor acha que a Savama também trabalhou nele antes de devolvê-lo. — Ele se apoiou na pá por um momento. — A Savama o devolveu com o recado que achavam que ele tinha revelado tudo através do terceiro nível. O diretor disse para descobrir depressa quem era ele, se ele tinha outras certidões secretas, ou se era um espião interno ou um disfarce para alguém mais alto, e que diabos ele tinha contado a eles, quem ele era, afinal. Ele não consta das nossas fichas como sendo outra coisa além de um agente da área universitária. — Ele enxugou o suor da testa e começou a trabalhar de novo. — Eu ouvi dizer que o grupo esperou um tempão que ele recobrasse a consciência, então hoje eles desistiram e tentaram acordá-lo.
— Um erro? Alguém exagerou na dose?
— Quem sabe? O pobre infeliz está morto.
— Esta é uma das coisas que me assusta — disse o outro, estremecendo. — Receber uma dose forte demais. Não há nada que você possa fazer a respeito. Ele não chegou a acordar? Não disse nada?
— Não. Nadinha. A merda é ele ter sido apanhado. Foi culpa dele. O filho da mãe estava trabalhando por conta própria.
O outro praguejou.