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— O pedido de resgate chegou no sábado, através de intermediários. Assim que Sua Alteza recobrou a consciência ontem, ele me entregou a mensagem para a senhora e me mandou aqui para apanhá-la.

Ela ouviu a palavra 'apanhar' e compreendeu a sua gravidade, mas Ahmed não demonstrou nada e pôs a mão no bolso.

— Sua Alteza Hakim mandou isto para a senhora. — E entregou-lhe um envelope selado. Ela o abriu, assustando o cachorro. O bilhete era com a letra de Hakim: "Minha querida, Sua Alteza me declarou seu herdeiro e nos reintegrou a ambos, sob certas condições, condições maravilhosas, fáceis de aceitar.

Volte depressa, ele está muito doente, e não tratará do resgate antes de falar com você. Salaam."

Cheia de felicidade, ela saiu correndo, arrumou a mala, escreveu um bilhete para McIver, dizendo a Ali para entregar no dia seguinte. Pensando melhor, apanhou o kookri e saiu. Ahmed não disse nada, apenas foi atrás dela.

TERÇA-FEIRA

27 de fevereiro52

BANDAR DELAM: 8:15H. Kasigi caminhava apressadamente atrás do policial de ar severo pelos corredores apinhados do hospital — o mecânico de rádio, Minoru, ia um pouco atrás. Homens, mulheres e crianças, doentes e feridos, estavam em maças ou cadeiras ou em pé ou simplesmente deitados no chão, esperando que alguém os atendesse, os doentes graves misturados com os não tão graves, alguns urinando, outros comendo e bebendo alimentos trazidos por seus parentes, em grande número — e todos os que podiam, queixando-se em altos brados. Enfermeiras e médicos atarefados entravam e saíam dos quartos, mas todas as mulheres vestiam o chador, exceto umas poucas inglesas, enfermeiras, cuja touca severa era quase o equivalente, sendo portanto aceitável.

No fim, o policial encontrou a porta que procurava e abriu caminho para o interior da enfermaria lotada. Havia camas alinhadas dos dois lados e mais uma fileira no centro, todas ocupadas por pacientes masculinos — seus parentes, de visita, conversavam ou reclamavam, crianças brincavam, e num dos cantos, uma mulher cozinhava num fogão portátil.

Scragger estava com um dos pulsos e um dos tornozelos algemados numa velha cama de ferro. Ele estava deitado num colchão de palha todo vestido e de sapatos, tinha um curativo em volta da cabeça, estava sujo e barbado. Quando ele viu Kasigi e Minoru atrás do policial, sua fisionomia iluminou-se.

— Olá companheiros — disse com a voz rouca.

— Como vai o senhor, capitão? — disse Kasigi, estarrecido com as algemas.

— Se eu pudesse ficar livre estaria bem.

O policial interrompeu agressivamente em farsi, para se mostrar para os espectadores.

— É este o homem que vocês queriam ver?

— Sim, Excelência — Minoru respondeu por Kasigi.

— Então agora já o viram. Vocês podem comunicar ao seu governo ou a quem quiserem que ele recebeu tratamento. Ele será julgado pelo komiteh de trânsito. — Pomposamente, ele se virou para sair.

— Mas o capitão não estava dirigindo — retrucou Kasigi, pacientemente, em inglês, com Minoru traduzindo para ele, tendo passado a maior parte da noite repetindo isso e continuara repetindo durante a manhã, para diversos policiais de vários postos, recebendo sempre versões variadas da mesma resposta: "Se o estrangeiro não estivesse no Irã, o acidente não teria acontecido, é claro que ele é o responsável."

— Não importa que ele não estivesse dirigindo, mesmo assim ele é o responsável! — O policial respondeu zangado, com sua voz ecoando nas paredes. — Quantas vezes será preciso repetir isto? Ele estava encarregado do carro. Ele o requisitou. Se ele não o tivesse requisitado, o acidente nunca teria acontecido, pessoas foram mortas e feridas, é claro que ele é o responsável.

— Mas eu repito que o meu assistente aqui foi testemunha e dará testemunho de que o acidente foi causado pelo outro carro.

— As mentiras ditas diante do komiteh serão tratadas com severidade — disse o homem, ameaçadoramente, já que ele era um dos que estavam no carro de polícia.

— Não são mentiras, aga. Existem outras testemunhas — disse Kasigi, endurecendo a voz, embora não tivesse outras testemunhas. — Eu insisto que este homem seja solto. Ele trabalha para o meu governo, que investiu bilhões de dólares no pólo petroquímico da Irã-Toda em benefício do Irã e, particularmente, de todo o povo de Bandar Delam. A menos que ele seja solto imediatamente, imediatamente, eu mandarei que todos os japoneses saiam daqui e interromperei todo o trabalho! — A sua raiva aumentou, pois na verdade ele não tinha autoridade nem iria dar uma ordem dessas. — Vou parar tudo!

— Pelo Profeta, nós não estamos mais sujeitos à chantagem estrangeira - o homem gritou e se virou para sair. — O senhor vai ter que discutir isto

Com o komiteh.

— A menos que ele seja libertado imediatamente, todo o trabalho vai parar e não haverá mais empregos. Nenhum! — Enquanto Minoru traduzia, Kasigi notou uma diferença no silêncio e no ar das pessoas que estavam em volta deles. E até o próprio policial, consciente de que todos os olhos estavam pregados nele e sentindo a súbita hostilidade. Um jovem ali perto, usando uma faixa verde no pijama, disse agressivamente:

— Você quer pôr em risco os nossos empregos, hein? Quem é você? Como vamos saber que você não é um homem do xá? Você já foi liberado pelo komiteh!

— É claro que sim! Em nome do Único Deus, eu sou a favor do imã há anos! — o policial respondeu zangado, mas uma onda de medo o percorreu. — Eu ajudei a revolução, todo mundo sabe disso. Você — ele apontou para Kasigi, maldizendo-o por estar causando todo esse problema — siga-me! E abriu caminho no meio dos espectadores.

— Eu voltarei, capitão Scragger, não se preocupe — Kasigi e Minoru saíram atrás do policial.

O policial conduziu-os por uma escada e por um corredor, depois desceu mais um lance de escadas, tudo apinhado de gente. O nervosismo de Kasigi aumentou na medida em que eles desciam. Agora o homem estava abrindo uma porta com um cartaz em farsi pregado nela.

Kasigi começou a suar frio. Eles estavam no necrotério. Mesas de mármore cheias de corpos cobertos por lençóis sujos. Muitos deles. Cheiro de produtos químicos, sangue, formol e excrementos.

— Aqui está! — O policial disse e puxou um lençol, descobrindo o corpo decapitado de uma mulher. Sua cabeça estava colocada perto do tronco, com os olhos abertos. — O seu carro causou a morte dela, e quanto a ela e a sua família? — Kasigi notou o 'seu' e sentiu um arrepio gelado. — E aqui! — Ele afastou um outro lençol. Uma mulher com o rosto irreconhecível. — E então?

— Nós... nós sentimos muito, é claro... é claro que sentimos muito pelo fato de ter havido feridos, sentimos profundamente, mas isto é carma, Insha'Allah, não é culpa nossa nem do piloto que está lá em cima. — Kasigi teve dificuldade em controlar a náusea. — Sentimos profundamente.

Minoru traduziu, o policial estava recostado insolentemente na mesa. Então ele respondeu e os olhos do jovem japonês se arregalaram.

— Ele está dizendo, ele está dizendo que a fiança para soltar o sr. Scragger imediatamente é de um milhão de riais. Imediatamente. O que o komiteh decidir não é da conta dele.

Um milhão de riais eram cerca de 12 mil dólares.

— Isto não é possível, mas nós poderíamos pagar cem mil riais dentro de uma hora.

— Um milhão! O homem gritou. Ele agarrou a cabeça da mulher pelos cabelos e levantou-a na frente de Kasigi, que teve que fazer força para ficar firme.

— E quanto aos filhos dela que estão condenados a serem órfãos para sempre? Eles não merecem uma compensação?

— Não... não há esta quantidade de dinheiro na fábrica, sinto muito. O policial praguejou e continuou a insistir, mas então a porta se abriu e alguns auxiliares entraram empurrando um carrinho com outro corpo, olhando-os com curiosidade. Abruptamente, o policial disse: