— Muito bem, iremos imediatamente para o seu escritório.
Eles foram até lá e apanharam a última quantia que Kasigi tinha oferecido — 250 mil riais — cerca de três mil dólares — mas sem recibo, só com um acordo verbal de que Scragger poderia sair. Sem confiar no homem, Kasigi entregou-lhe a metade no escritório e pôs o resto num envelope que guardou no bolso. Eles voltaram para o hospital. Lá, ele esperou no carro enquanto Minoru e o homem entravam. A espera pareceu interminável, mas finalmente Minoru e Scragger saíram e ele entregou o envelope ao policial. O homem amaldiçoou todos os estrangeiros e se retirou furioso.
— Bem — disse Kasigi e sorriu para Scragger. Eles apertaram-se as mãos, com Scragger agradecendo calorosamente, pedindo desculpas por todo o trabalho, os dois homens xingando o destino, depois abençoando-o, e entrando rapidamente no carro. O motorista iraniano saiu com o carro e entrou no trânsito, xingou um carro que o ultrapassou e quase bateu nele, tocando a buzina.
— Diga-lhe para ir mais devagar, Minoru — disse Kasigi. Minoru obedeceu e o motorista balançou a cabeça, sorriu e obedeceu. Mas isso só durou alguns segundos.
— O senhor está bem, capitão?
— Oh, sim. Estou com uma tremenda dor de cabeça, mas estou bem. O pior foi a vontade de urinar.
— O quê?
— Os filhos da mãe me deixaram algemado à cama e não permitiram que eu fosse ao banheiro. Eu não podia urinar na cama nem nas calças, e só hoje de manhã é que uma enfermeira me trouxe uma garrafa. Cristo, eu pensei que a minha bexiga fosse estourar. — Scragger esfregou os olhos, fatigado. — Não há problema, meu velho. Fico-lhe devendo uma. Mais o resgate! De quanto foi?
— Nada. Não foi nada. Nós temos um fundo para essas eventualidades.
— Isso não é problema, Andy Gavallan vai pagar. Oh, isso me faz lembrar, ele disse que conheceu o seu patrão há alguns anos: Toda, Hiro Toda.
— Ah so desu ka! — Kasigi estava genuinamente surpreso. — Gavallan tem helicópteros no Japão?
— Oh, não. Foi quando ele era comerciante na China, perto de Hong Kong, quando ele estava trabalhando para a Struan's. — Este nome acendeu um sinal vermelho para Kasigi, que disfarçou. — Já ouviu falar?
— Sim, uma grande companhia. A Toda tem, ou teve, negócios com a Struan's — Kasigi disse suavemente, mas guardou a informação para futuras considerações. Não fora Linbar Struan quem cancelara unilateralmente cinco contratos de aluguel de navios há dois anos, o que quase nos arruinou? Talvez Gavallan pudesse ser um instrumento para recuperá-los, de um modo ou de outro. — Sinto muito por você ter passado por tudo isso.
— Não foi culpa sua, cara. Mas Andy gostaria de pagar o resgate. Quanto foi que eles pediram?
— Foi muito modesto. Por favor, é um presente. Você salvou o meu navio.
Depois de uma pausa, Scragger disse:
— Então eu lhe devo dois favores, meu velho.
— Nós escolhemos o motorista. A culpa foi nossa.
— Onde está ele, onde está Muhammad?
— Sinto muito, ele morreu. Scragger praguejou.
— A culpa não foi dele, não foi mesmo.
— Sim, sim, eu sei. Nós indenizamos a sua família e faremos o mesmo com as vítimas. — Kasigi estava tentando perceber até que ponto Scragger estava abalado, desejando muito saber quando ele estaria apto para pilotar, e muito irritado com o atraso de um dia. Era imperativo que ele voltasse para Al Shargaz o mais cedo possível, e depois para o Japão. O seu trabalho aqui estava terminado. O engenheiro-chefe Watanabe estava agora totalmente do seu lado, as cópias dos seus relatórios anteriores fortaleceriam a sua posição e ajudá-lo-iam enormemente, e à Hiro Toda, a recuperar a possibilidade de persuadir o governo a declarar a Irã-Toda um Projeto Nacional.
Não a possibilidade, a certeza! Ele pensou, mais confiante do que nunca. Nós seremos salvos da bancarrota, derrotaremos os nossos inimigos, Mitsuwari e Gyokotomo, recuperaremos o nosso prestígio e teremos lucro, muito lucro! Além disso, tinha havido aquele golpe de sorte, Kasigi permitiu-se um sorriso cínico, a explosiva cópia do relatório particular do falecido engenheiro-chefe Kasusaka para a Gyokotomo, datado e assinado, que Watanabe tinha 'achado' milagrosamente numa pasta esquecida enquanto ele estava em Al Shargaz. Terei que ter muito cuidado ao usá-lo, muito cuidado mesmo, mas isso faz com que seja ainda mais importante que eu volte logo para casa.
As ruas estavam entupidas de tráfego. Lá no alto, o céu ainda estava encoberto, mas a tempestade tinha passado e ele sabia que o tempo estava adequado para voar. Ah, eu gostaria de ter o meu próprio avião, ele pensou. Digamos um Lear Jet. A recompensa por todo o trabalho que eu tive aqui deveria ser substancial.
Ele se deixou embalar docemente, desfrutando da sensação de realização e poder.
— Parece que vamos conseguir iniciar a obra muito em breve, capitão.
— Ah, é?
— Sim. O chefe do novo khomeiniomeh nos garantiu sua cooperação. Parece que ele conhece um dos seus pilotos, um capitão Starke. O nome dele é Zataki.
Scragger olhou-o rapidamente.
— Ele é o cara que o Duke, Duke Starke, salvou dos esquerdistas e levou para Kowiss. Se eu fosse você, companheiro, teria cuidado com ele. — E contou a Kasigi o quanto o homem era instável. — Ele é um louco.
— Ele não me deu essa impressão, de jeito nenhum. É curioso... os iranianos são muito curiosos. Mas o mais importante é como o senhor está se sentindo.
— Eu estou ótimo agora — Scragger exagerou. O dia e a noite de ontem tinham sido péssimos, com toda aquela gritaria, algemado na cama, sem conseguir se fazer entender, cercado de gente hostil, vigiando de todo o lado. Perdido. E com medo. A dor aumentando. O tempo terrivelmente lento, a esperança diminuindo, certo de que Minoru estava ferido ou morto junto com o motorista de modo que ninguém saberia onde ele estava nem o que tinha acontecido.
— Nada que uma boa xícara de chá não cure. Se você quiser partir imediatamente, eu estou bem. Basta um banho rápido, uma barba e uma xícara de chá e alguma coisa para comer e nós estaremos a caminho.
— Excelente. Então vamos partir assim que o senhor estiver pronto. Minoru já instalou o rádio e o checou.
Durante todo o caminho até a refinaria e durante o vôo de volta a Lengeh, Kasigi esteve de muito bom humor. Perto de Khang, eles acharam que tinham localizado o enorme tubarão-martelo que Scragger tinha mencionado antes. Eles voaram baixo e perto da costa, com as nuvens ainda baixas e pesadas, com alguns nimbos aqui e ali e alguns relâmpagos ameaçadores, mas a viagem não foi má, apenas jogou um pouco. O controle de radar e as autorizações foram eficientes e imediatas, o que aumentou os temores de Scragger. Só faltam dois dias para a operação Turbilhão sem contar com hoje, era o pensamento que ocupava a sua mente. Perder um dia torna tudo ainda mais difícil, pensou, ansioso. O que será que aconteceu desde que eu viajei?
Bem depois de Khan, ele parou para reabastecer e descansar. O seu estômago ainda doía muito e ele notou um pouco de sangue na urina. Nada de muito preocupante, disse a si mesmo. É claro que tinha que haver uma pequena hemorragia depois de um acidente daqueles. Eu tive mesmo uma bruta sorte!
Eles estavam numa duna de areia, terminando de comer — arroz frio com pedaços de peixe e picles. Scragger comeu um bom pedaço de pão iraniano que apanhara na cozinha impecável e um monte de yakitori de galinha com molho de soja, que adorava. Kasigi tomava uma cerveja japonesa que Scragger recusara:
— Obrigado, mas beber e pilotar são coisas que não combinam. Kasigi comeu com parcimônia, Scragger com rapidez e apetite.
— Grude bom esse. Assim que estiver pronto, acho melhor partirmos.
— Já terminei. — Em pouco tempo, eles estavam novamente no ar.
— Vai dar tempo de me levar até Al Shargaz ou Dubai ainda hoje?
— Não se formos para Lengeh. — Scragger ajustou os fones de ouvido. — Sabe de uma coisa?, Quando falarmos com o Controle de Tráfego de Kish, eu vou perguntar se podemos desviar o aparelho para Bahrain. Lá, você poderia apanhar um avião local ou internacional. Vamos precisar reabastecer em Lavan, mas se eles concordarem com o pedido, aprovarão. Como eu disse, devo-lhe dois favores.