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— Eu, ahn, não posso contar-lhe agora, desculpe. Kasigi captou sinais de perigo.

— Por que, meu amigo? Eu lhe asseguro de que pode confiar em mim — disse, procurando tranqüilizá-lo.

— Sim... sim, mas não depende só de mim. Amanhã, em Al Shargaz. Tenha paciência, sim?

— Se é assim tão importante, eu deveria saber já, você não acha? — Mais uma vez Kasigi esperou. Ele conhecia o valor da paciência e do silêncio numa hora dessas. Não havia necessidade de lembrar ao homem a sua dívida para com ele. Ainda não.

Scragger estava se lembrando. Em Bandar Delam, Kasigi salvou o meu pescoço, não há dúvida. A bordo do navio dele, em Siri, ele provou que tem coragem e hoje provou que é um bom amigo, ele não precisava ter tido todo aquele trabalho e agido com tanta rapidez. Para ele não faria diferença esperar mais um dia ou dois.

Ele verificou os instrumentos e o espaço lá fora e não viu nenhum sinal de perigo, Kish apareceria a estibordo dentro de pouco tempo e ele olhou para Kasigi. Kasigi olhava para a frente, com o rosto forte e bonito bastante preocupado. Que merda, meu velho, se você não cumprir o que prometeu, Zataki vai ficar fora de si de raiva. Mas você não pode fazê-lo. Não pode, meu velho, e é duro ver você aí sentado, sem me dizer o quanto eu lhe devo.

— Kish, aqui é HST. Aproximando-me de Kish, firme em trezentos.

— Aqui é Kish. Mantenha-se em trezentos. Há tráfego vindo do leste em três mil.

— Eu os tenho no meu campo visual. — Eram dois caças. Ele os apontou para Kasigi que não os havia localizado. — São F14, provavelmente vindo de Bandar Abbas — disse. Kasigi não respondeu, só balançou a cabeça e isto fez Scragger sentir-se ainda pior. Os minutos se arrastaram.

Então Scragger decidiu, odiando ser forçado a dizer isto:

— Sinto muito, mas você vai ter que esperar até Al Shargaz. Só Andy Gavallan pode ajudá-lo, eu não posso.

— Ele pode ajudar? De que maneira? Qual é o problema? Depois de uma pausa, Scragger disse:

— Se há alguém que pode ajudar, é ele. Vamos deixar as coisas como estão, meu velho.

Kasigi percebeu a sua determinação mas não desistiu, deixando as coisas ficarem como estavam por enquanto, com a cabeça fervilhando com outros sinais de perigo. O fato de Scragger não ter caído na sua armadilha, não tendo revelado o segredo, fez com que ele o respeitasse ainda mais. Mas isto não o desculpa, pensou furioso. Ele disse o suficiente para me pôr de sobreaviso, agora depende de mim descobrir o resto. Então Gavallan é a chave? Para quê?

A cabeça de Kasigi estava prestes a explodir. Eu não prometi àquele louco do Zataki que começaríamos a trabalhar imediatamente? Como é que esses homens têm a coragem de pôr em risco todo o nosso projeto — o nosso Projeto

Nacional. Sem helicópteros, não podemos começar. É uma traição contra o Japão! O que será que eles estão tramando?

Com grande esforço, ele manteve a fisionomia tranqüila.

— Não há dúvida de que procurarei Gavallan o mais cedo possível, e vamos torcer para você chefiar a nossa nova operação, hein?

— Andy Gavallan é quem vai decidir, depende dele.

Não tenha tanta certeza, estava pensando Kasigi, porque aconteça o que acontecer, eu conseguirei os helicópteros imediatamente — os seus, os da Guerney, não me importa quais. Mas pelos meus ancestrais samurais, a Irã-Toda não vai mais ser colocada em perigo! Não vai! E nem eu!

53

TABRIZ — NO PALÁCIO DO KHAN: 10:50H. Azadeh seguiu Ahmed através do quarto mobiliado em estilo ocidental, até perto da cama alta, e agora que estava outra vez no interior daquelas paredes, sentiu a sua pele se arrepiar de medo. Sentada ao lado da cama, estava uma enfermeira vestindo um uniforme branco engomado, com um livro aberto no colo, observando-os com curiosidade através dos óculos. As janelas estavam cobertas com pesadas cortinas de brocado para evitar correntes de ar. As luzes tinham sido diminuídas e o fedor do velho se espalhava pelo quarto.

Os olhos do khan estavam fechados, seu rosto pálido e a respiração difícil; seu braço estava ligado a um frasco de soro pendurado ao lado da cama. Semi-adormecida numa cadeira ali perto, estava Aysha, pequena e encolhida, com o cabelo despenteado e o rosto molhado de lágrimas. Azadeh sorriu para ela, com pena; depois disse para a enfermeira, com uma voz que não era a sua:

— Como está Sua Alteza?

— Bem. Mas não pode agitar-se nem ser perturbado — respondeu a enfermeira, num turco hesitante. Azadeh olhou para ela e viu que era européia, tinha cerca de cinqüenta anos, cabelos pintados de castanho e uma cruz vermelha na manga.

— Oh, a senhora é inglesa ou francesa?

— Escocesa — respondeu a mulher, em inglês, francamente aliviada, com um ligeiro sotaque. Ela falou baixo, observando o khan. — Sou a irmã Bain, do Hospital de Tabriz, e o paciente está indo bem dentro do quadro, considerando-se que não obedece às ordens. E quem é você, por favor?

— Sou a filha dele, Azadeh. Acabei de chegar de Teerã. Ele mandou me buscar. Nós... nós viajamos a noite inteira.

— Ah, sim? — disse, surpresa de que um homem tão feio pudesse ter gerado uma filha tão linda. — Se me permitir uma sugestão, mocinha, seria melhor deixá-lo dormir. Assim que ele acordar, eu digo que você está aqui e mando chamá-la. É melhor que ele durma.

Ahmed perguntou, irritado:

— Por favor, onde está o guarda de Sua Alteza?

— Não há necessidade de homens armados num quarto de doente. Eu o mandei embora.

— Haverá sempre um guarda aqui, a menos que o khan o mande sair ou eu o mande sair. Zangado, Ahmed virou as costas e saiu.

— É só um costume, irmã — disse Azadeh.

— Sim, muito bem. Mas este é outro costume que não faz nenhuma falta. Azadeh tornou a olhar para o pai, mal o reconhecendo, tentando controlar o terror que tomou conta dela. Mesmo neste estado, pensou, mesmo neste estado ele ainda pode destruir a todos nós. A Hakim e a mim — ele ainda tem o seu cão de guarda, Ahmed.

— Por favor, diga a verdade, como está ele?

As rugas do rosto da enfermeira tornaram-se ainda mais pronunciadas.

— Estamos fazendo todo o possível.

— Seria melhor para ele estar em Teerã?

— Sim, se ele vier a ter outro ataque, sim, seria melhor. — Irmã Bain tirou o pulso dele enquanto falava. — Mas agora eu não acharia conveniente removê-lo, de jeito nenhum, por enquanto não. — Ela fez uma anotação numa ficha e depois olhou para Aysha. — Você podia dizer à senhora que não há necessidade dela ficar aqui, ela deveria descansar, pobre criança.

— Desculpe, mas eu não posso interferir. Desculpe, mas isto também é um costume. É provável... é provável que ele tenha outro ataque?

— Nunca se sabe, mocinha, isto está nas mãos de Deus. Nós esperamos o melhor. — Elas viraram a cabeça quando a porta se abriu. Hakim estava lá, sorrindo. Os olhos de Azadeh se iluminaram e ela disse para a enfermeira:

— Por favor, chame-me assim que Sua Alteza acordar — depois saiu depressa do quarto e fechou a porta, e o abraçou. — Oh, Hakim, querido, já faz tanto tempo — disse sem fôlego. — Oh, é mesmo verdade?

— Sim, sim, é, mas como... — Hakim parou ao ouvir passos. Ahmed e um guarda surgiram no corredor e vieram até eles. — Estou contente que você esteja de volta, Ahmed — ele disse educadamente. — Sua Alteza também vai ficar muito contente.

— Obrigado, Alteza. Aconteceu alguma coisa durante a minha ausência?

— Não, a não ser que o coronel Fazir esteve aqui hoje de manhã para falar com papai.

Ahmed ficou gelado.

— Ele teve permissão para entrar?

— Não. Você deixou instruções para que ninguém fosse admitido sem a permissão de Sua Alteza; ele estava dormindo na hora e tem estado dormindo quase o dia inteiro. Eu tenho verificado de hora em hora e a enfermeira diz que ele continua na mesma.