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— Ótimo. Obrigado. O coronel deixou algum recado?

— Só que estava indo para Julfa hoje conforme tinha combinado com o seu sócio. Isso faz algum sentido para você?

— Não, Alteza — Ahmed mentiu tranqüilamente. Ele olhou de um para o outro mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Hakim disse:

— Nós estaremos no Salão Azul; por favor, avise-nos assim que papai acordar.

Ahmed os viu sair de braços dados pelo corredor, o rapaz alto e bonito, a irmã esguia e atraente. Traidores? Não havia muito tempo para tirar a prova, pensou. Voltou para o quarto do doente e viu a palidez do khan, e suas narinas se rebelaram contra o cheiro. Ficou de cócoras, sem se importar com a enfermeira, e começou a sua vigília.

O que será que o filho de um cão do Fazir queria? perguntou a si mesmo. No sábado à noite, quando Hashemi Fazir e Armstrong tinham voltado de Julfa sem Mzytryk, Fazir pedira para ver o khan. Ahmed estava presente quando o khan os recebeu e disse estar tão espantado quanto eles pelo fato de Mzytryk não estar no helicóptero.

— Voltem amanhã. Se o homem me trouxer uma carta, vocês poderão lê-la — tinha dito o khan.

— Obrigado, mas nós vamos esperar. O Chevrolet não pode estar muito longe.

Então eles esperaram, com o khan nervoso mas sem poder fazer nada, com os homens de Hashemi emboscados em volta do palácio. Uma hora mais tarde o Chevrolet chegara. Ele próprio tinha admitido o motorista enquanto Hashemi e o infiel que falava farsi se escondiam num quarto ao lado.

— Eu tenho uma mensagem particular para Sua Alteza — tinha dito o soviético.

No quarto do khan, o soviético disse:

— Alteza, eu devo lhe entregar isto quando o senhor estiver sozinho.

— Entregue-me agora, Ahmed é o meu conselheiro de toda confiança. Entregue-me! — Relutantemente, o homem obedeceu e Ahmed recordou a vermelhidão que se espalhou pelo rosto do khan assim que ele começou a ler

— Tem alguma resposta? — o soviético perguntou agressivamente. Engasgado de raiva, o khan balançara negativamente a cabeça e mandara o homem embora. Depois entregara a carta a Ahmed. Ela dizia: "Meu amigo, fiquei chocado ao saber da sua doença e estaria com você agora se não fosse obrigado a ficar aqui devido a assuntos urgentes. Tenho más notícias para você: é possível que você e a sua rede de espionagem tenham sido revelados para o Serviço Secreto ou a Savama — você sabia que aquele vira-casaca do Abrim Pahmudi agora chefia esta nova versão da Savak? Se você foi denunciado para

Pahmudi, prepare-se para fugir imediatamente ou em breve será levado pilara a câmara de tortura. Eu alertei o nosso pessoal para ajudá-lo caso seja necessário. Caso eu ache seguro, chegarei na terça-feira ao anoitecer. Boa sorte. O khan não tivera escolha a não ser mostrar a mensagem para os dois homens.

— Isso é verdade? Com relação a Pahmudi?

— Sim. Ele é um velho amigo seu, não? — tinha dito Fazir, provocando-o.

— Não... não é. Saiam daqui!

— Certamente, Alteza. Enquanto isso, o palácio vai ficar sob observação. Não há necessidade de fugir. Por favor, não faça nada para impedir a chegada de Mzytryk na terça-feira, não faça nada para encorajar mais revoltas no Azerbeijão. Quanto a Pahmudi e à Savama, eles não podem fazer nada aqui sem a minha aprovação. Eu sou a lei em Tabriz agora. Obedeça e eu o protegerei, desobedeça e você será o seu pishkesh.

Então os dois homens tinham saído, e o khan explodira de raiva, mais furioso do que Ahmed jamais o vira. O paroxismo se tornou pior e depois cessou subitamente, com o khan caído no chão e Ahmed olhando para ele, pensando que estivesse morto, mas não estava. Estava apenas com uma palidez cadavérica e tremia, com a respiração sufocada.

— Seja como Deus quiser — murmurou Ahmed, sem querer passar de novo por uma situação daquelas.

NO SALÃO AZUL: 11:15H. Quando estavam a sós, Hakim abraçou Azadeh, levantando-a no ar.

— Oh, é maravilhoso, maravilhoso, ver você de novo.. — ela disse. Mas ele murmurou:

— Fale baixo, Azadeh, há ouvidos em toda a parte e alguém pode interpretar mal o que dissermos e tornar a contar mentiras.

— Najoud? Que ela seja amaldiçoada para sempre e...

— Psss, querida, ela não pode nos prejudicar agora. Eu sou o herdeiro oficial.

— Oh, conte-me o que aconteceu, conte-me tudo!

Eles se sentaram no longo sofá de almofadas e Hakim começou a talar com rapidez.

— Primeiro sobre Erikki. O resgate é de dez milhões de riais, por ele e o 212 e..

— Papai pode pechinchar e pagar, ele pode pagar com certeza, e depois procurá-los e destruí-los.

— Sim, sim, é claro que pode e ele me disse na frente de Ahmed que assim que você voltasse ele iniciaria as negociações e é verdade que ele me declarou seu herdeiro desde que eu jurasse por Deus que cuidaria do jovem Hassan como cuidaria de você. É claro que eu jurei imediatamente, e disse que você também juraria por Deus fazer o mesmo, que nós dois iríamos jurar que ficaríamos em Tabriz, eu para aprender como sucedê-lo e você para me ajudar, oh, como vamos ser felizes!

— É só isso que temos que fazer? — perguntou, incrédula.

— Sim, sim, é só isso. Ele me declarou seu herdeiro diante de toda a família. Eles pareciam que iam morrer, mas isso não tem importância, papai declarou as condições na frente deles, eu concordei imediatamente, é claro, assim como você vai concordar. Por que não?

— É claro, é claro, qualquer coisa! Deus está velando por nós! — Mais uma vez ela o abraçou, enterrando o rosto no seu ombro, para secar as lágrimas de alegria que estava derramando. Durante toda a viagem de volta de Teerã, uma viagem horrível, com Ahmed mudo, ela tinha pensado, aterrorizada, nas tais condições. Mas e agora? — É inacreditável, Hakim, é como uma mágica! É claro que cuidaremos do pequeno Hassan e você passará o domínio para ele ou os seus sucessores se é isto o que papai deseja. Que Deus nos proteja e proteja também a ele e a Erikki, e Erikki poderá pilotar o quanto quiser, por que não? Oh, vai ser maravilhoso. — Ela secou as lágrimas. — Oh, eu devo estar horrível.

— Você está linda. Agora conte-me o que aconteceu com você. Eu só sei que você foi apanhada na aldeia com... com o Sabotador inglês e que conseguiram escapar.

— Foi um outro milagre, só com a ajuda de Deus, Hakim, mas na hora foi horrível, aquele mulá malvado... eu não me lembro como conseguimos fugir, só do que Johnny, do que Johnny me contou. O meu Johnny, Hakim.

Ele arregalou os olhos.

— O Johnny da Suíça?

— Sim, sim, era ele; era ele o oficial britânico.

— Mas como... isso parece impossível.

— Ele salvou a minha vida, Hakim, há tanto o que contar!

— Quando papai soube do que aconteceu na aldeia ele... você sabe que o mulá foi morto pelos Faixas Verdes, não sabe?

— Eu não me lembro disso, mas Johnny me contou.

— Quando papai soube do que aconteceu na aldeia, ele fez Ahmed arrastar o calênder até aqui, interrogou-o, depois mandou-o de volta, ordenou que ele fosse apedrejado, que as mãos do açougueiro fossem cortadas e que a aldeia fosse incendiada. Incendiar a aldeia foi idéia minha... aqueles cães!

Azadeh estava terrivelmente chocada. Incendiar a aldeia inteira era uma vingança terrível demais.

Mas Hakim não deixou que nada perturbasse a sua euforia.

— Azadeh, papai retirou o guarda que me vigiava e eu posso ir aonde quiser. Eu cheguei até a apanhar um carro e ir a Tabriz hoje, sozinho. Todo mundo me trata como herdeiro, toda a família, até Najoud, embora eu saiba que ela está se roendo de raiva. — Ele contou como tinha sido arrastado de Khoi até lá, pensando que ia ser morto ou mutilado. — Você não se lembra quando eu fui banido, ele me amaldiçoou e jurou que o xá de Abbas sabia como lidar com filhos traidores?

Ela estremeceu, recordando aquele pesadelo, as imprecações e o ódio do pai, tão injusto, uma vez que eles eram inocentes.