Ele a acompanhou até o quarto ao lado, disse ao guarda para vir rendê-lo dentro de três horas e dispensou-o, depois começou a vigília. Meia hora depois, ele foi espiar a enfermeira. Ela dormia profundamente. Ele voltou para o quarto, trancou a porta, respirou profundamente, despenteou os cabelos e correu para a cama, sacudindo o khan.
— Alteza — sussurrou como se estivesse apavorado —, acorde, acorde! O khan despertou de um sono pesado sem saber onde estava nem o que tinha acontecido, nem se estava tendo outro pesadelo.
— O que... o que... Então seus olhos entraram em foco e ele viu Ahmed, parecendo apavorado, o que era muito estranho. Ele levou um choque. — O que...
— Rápido, o senhor tem que se levantar, Pahmudi está lá embaixo — Ahmed falou ofegante —, alguém abriu a porta para eles, o senhor foi traído, alguém o entregou, Hashemi Fazir o entregou a Pahmudi e à Savama como pishkesh, depressa, levante-se, eles dominaram os guardas e estão vindo para levá-lo... — Ele viu o terror nos olhos do khan e continuou depressa: — Eles são muitos! Rápido, o senhor precisa fugir...
Rapidamente, ele retirou o soro e afastou as cobertas, ajudando o homem aterrorizado a se levantar e, de repente, o empurrou de volta para a cama e olhou para a porta.
— Tarde demais — murmurou. — Ouça, eles estão chegando com Pahmudi na frente, eles estão chegando!
Com o peito ardendo, o khan imaginou que estava ouvindo passos, que estava vendo Pahmudi, que estava vendo o seu rosto fino, radiante, e os instrumentos de tortura lá fora, no corredor, sabendo que não haveria misericórdia e que eles o manteriam vivo para arrancar-lhe a vida aos poucos. Enlouquecido, ele gritou para Ahmed: Rápido, ajude-me. Eu posso chegar até a janela, nós podemos fugir por lá se você me ajudar! Em nome de Deus, Ahmed... mas não conseguiu pronunciar as palavras. Tornou a tentar, mas sua boca não se coordenava com o seu cérebro, os músculos do seu pescoço se retesaram com o esforço, suas veias se intumesceram.
Pareceu-lhe uma eternidade o tempo que passou tentando gritar e chamar por Ahmed, que ficou parado vigiando a porta, sem ajudá-lo, com os passos se aproximando cada vez mais.
— Socorro — conseguiu dizer, tentando sair da cama, com as cobertas impedindo-o, sufocando-o, com a dor no peito aumentando cada vez mais, tão monstruosa quanto o barulho.
— Não há escapatória, eles estão aqui. Eu vou ter que deixá-los entrar! No limite do seu terror, ele viu Ahmed dirigir-se para a porta. Com o resto das suas forças, gritou para ele parar, mas só o que saiu foi um gemido estrangulado. Então ele sentiu alguma coisa estalar no seu cérebro. Uma centelha de lucidez atravessou-o. A dor cessou, o barulho cessou. Ele viu Ahmed sorrir. Seus ouvidos captaram o silêncio do corredor e o silêncio do palácio e ele soube que fora realmente traído. Com um último e supremo esforço, ele tentou se atirar sobre Ahmed, com o fogo na sua cabeça iluminando o caminho para dentro do túnel, vermelho, quente e líquido, e lá, no nadir, ele apagou o fogo e possuiu a escuridão.
Ahmed certificou-se de que o khan estava morto, satisfeito por não ter sido obrigado a sufocá-lo com o travesseiro. Rapidamente, tornou a conectar o soro, verificou se não havia nenhum vazamento traiçoeiro nele, arrumou um pouco a cama e então, com muito cuidado, examinou o quarto. Não viu nada que pudesse incriminá-lo. Estava ofegante, com a cabeça latejando e seu alívio era imenso. Verificou tudo mais uma vez, depois foi até a porta, destrancou-a silenciosamente e voltou para perto da cama. O khan estava deitado nos travesseiros, com sangue saindo pelo nariz e pela boca.
— Alteza! — berrou. — Alteza... — então se inclinou e agarrou-o por um momento, depois soltou-o e atravessou o quarto correndo e abriu a porta.
— Enfermeira! — gritou e correu para o outro quarto, acordou a mulher e arrastou-a de volta para o quarto do Khan.
— Oh, meu Deus — ela murmurou, com as pernas bambas de alívio por não ter acontecido quando ela estava sozinha com ele, podendo ser acusada por aquele guarda-costas violento ou por aquelas pessoas malucas, que gritavam e ameaçavam. Bem acordada agora, ela enxugou a testa e ajeitou os cabelos, sentindo-se nua sem a touca. Rapidamente, fez o que tinha que ser feito e fechou os olhos dele, ouvindo os gemidos e lamentos de Ahmed.
— Ninguém poderia ter feito nada, aga. Poderia acontecer a qualquer momento. Ele estava sofrendo muito, a sua hora tinha chegado, foi melhor assim, melhor do que viver como um vegetal.
— Sim... sim, acho que sim. — As lágrimas de Ahmed eram verdadeiras, lágrimas de alívio. — Insha'Allah. Insha'Allah!
— O que foi que aconteceu?
— Eu... eu estava cochilando e ele... ele engasgou e começou a sangrar pelo nariz e pela boca. — Ahmed enxugou as lágrimas, deixando a voz falsear.
— Eu o agarrei na hora em que ele estava caindo da cama e então... então eu não sei... ele desmaiou... e eu fui chamá-la correndo.
— Não se preocupe, aga, não havia nada a fazer. Às vezes é súbito e rápido, às vezes não. É melhor quando é rápido, é uma bênção. — Ela suspirou e ajeitou o uniforme, satisfeita por poder sair daquele lugar. — Ele, ahn, ele precisa ser limpo antes de chamarmos os outros.
— Sim. Por favor, deixe-me ajudar, eu quero ajudar.
Ahmed ajudou-a a limpar o sangue e a torná-lo apresentável e o tempo todo estava fazendo planos: Najoud e Mahmud banidos antes do meio-dia, o resto do castigo daqui a um ano e um dia; depois descobrir se Fazir agarrou Petr Oleg; em seguida, certificar-se de que a garganta do mensageiro do pedido de resgate tinha sido cortada naquela tarde, conforme ele ordenara em nome do khan.
Imbecil, disse para o cadáver, imbecil em pensar que eu pagaria o resgate para trazer o piloto de volta para levá-lo para Teerã e salvar a sua vida. Por que salvar uma vida por mais um mês ou uns dias? É perigoso ficar doente e impotente por causa da doença, as mentes ficam embotadas, oh, sim, o médico me disse o que deveria esperar, que a sua cabeça pioraria cada vez mais, que o senhor ficaria cada vez mais vingativo, cada vez mais perigoso, podendo até virar-se contra mim! Mas agora, agora a sucessão está assegurada, eu posso dominar o garoto e, com a ajuda de Deus, me casar com Azadeh. Ou então mandá-la para o norte — o buraco dela é igual a outro qualquer.
A enfermeira observava Ahmed de vez em quando, suas mãos fortes e hábeis, sua delicadeza, sentindo-se pela primeira vez satisfeita com a presença dele e sem medo, vendo-o pentear a barba do morto. As pessoas são tão estranhas, pensou. Ele deve ter gostado muito desse velho malvado.
QUARTA-FEIRA
28 de fevereiro
TEERÃ: 6:55H. McIver continuou a separar as pastas e os papéis que tirara do cofre grande do escritório, colocando na maleta só os que eram de extrema importância. Estava fazendo isso desde às cinco e meia da manhã e agora sua cabeça e suas costas doíam e a maleta estava quase cheia. Eu deveria levar tanta coisa mais, pensou, trabalhando o mais depressa que podia. Dentro de uma hora, talvez menos, a turma de empregados iranianos chegaria e ele teria que parar.
Que pestes, pensou irritado, nunca estavam aqui quando precisávamos deles, mas agora, nestes últimos dias, não consigo me livrar deles, são como uma praga: "Oh, não, Excelência, por favor, deixe-me trancar o escritório para o senhor, permita-me este privilégio"... ou então: "Oh, não, Excelência, eu abro o escritório para o senhor, eu insisto, isto não é trabalho para Vossa Excelência". Talvez eu esteja ficando paranóico, mas é como se fossem todos espiões, com instruções para nos vigiar, os sócios estão mais intrometidos do que nunca. Quase como se houvesse alguém atrás de nós.
E no entanto, até agora — deixa eu bater na madeira — está tudo funcionando perfeitamente. Ao meio-dia, mais ou menos, nós partimos; Rudi já está preparado para sexta-feira, com todo o pessoal extra e um carregamento de peças que saiu de Bandar Delam por terra e foi para Abadan, onde um Trident da BA conseguiu pousar, com autorização do amigo do Duke, Zataki, para retirar operários britânicos; em Kowiss, nesta altura, Duke já deve ter escondido o combustível de reserva, e todos os rapazes têm licença para partir amanhã no 125 — deixa eu bater de novo na madeira — três caminhões carregados de peças já foram para Bunshire para serem embarcados em navio para Al Shargaz; 'Pé-quente', o coronel Changiz e aquele maldito mulá, Hussein, ainda estão se comportando direito — tenho que bater na madeira mais umas cinqüenta vezes; em Lengeh, Scrag não deve estar tendo problemas, há muitos navios disponíveis para as suas peças e não há mais nada a fazer a não ser esperar pelo dia D, não, pelo dia T.