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E ele respondeu, zangado:

— Você não ouviu o que Meshang disse? Nós não temos dinheiro. O dinheiro acabou, o prédio acabou, ele tem controle total sobre o dinheiro da família, total, e a menos que você obedeça a ele e não a mim, você não receberá mais um tostão. Mas isso não tem importância, eu posso ganhar o suficiente para nós dois! Eu posso! A questão é que temos que deixar Teerã. Por algum tempo.

— Mas eu não tenho documentos, não tenho, Tommy, não posso consegui-los agora e Meshang tem razão quando diz que se eu sair sem documentos eles nunca mais me deixarão voltar, nunca.

Mais lágrimas e mais discussão, sem conseguir fazê-la entender, mais lágrimas até que foram se deitar, tentando dormir sem conseguir, nenhum dos dois.

— Você pode ficar aqui, Tommy. Por que você não pode ficar, Tommy?

— Oh, pelo amor de Deus, Xarazade, Meshang deixou isso bem claro. Eu não sou desejado aqui, os estrangeiros estão fora. Nós iremos para outro lugar. Nigéria ou Aberdeen, qualquer outro lugar. Arrume a mala. Você embarcará no 125 e nós nos encontraremos em Al Shargaz. Você tem um passaporte canadense. Você é canadense!

— Mas eu não posso partir sem documentos — ela gemeu e soluçou, repetindo sempre os mesmos argumentos e derramando mais lágrimas.

Então, na véspera de manhã, com ódio de si mesmo, ele deixara o orgulho de lado e fora ao bazar para falar com Meshang, para tentar fazê-lo ceder — tudo o que ia dizer fora cuidadosamente ensaiado. Mas ele tinha se deparado com um muro que ia até o céu.

— Meu pai tinha interesses na CHI que, evidentemente, passaram para mim.

— Oh, isso é ótimo, isso faz uma grande diferença, Meshang.

— Isso não faz nenhuma diferença. A questão é como você pretende pagar as suas dívidas, pagar à sua ex-mulher e sustentar a minha irmã e o filho dela sem uma grande dose de caridade.

— Um emprego não é caridade, Meshang, não é caridade. Poderia ser muito lucrativo para nós dois. Eu não estou sugerindo uma sociedade, nada disso, eu trabalharia para você. Você não entende do negócio de helicópteros, eu sim, de trás para frente. Eu poderia dirigir a nova sociedade para você, torná-la lucrativa imediatamente. Eu conheço pilotos e sei como operar. Conheço todo o Irã, quase todos os campos de petróleo. Isso resolveria tudo para nós dois. Eu trabalharia como louco para proteger os interesses da família, nós ficaríamos no Irã, Xarazade poderia ter o bebê aqui e...

— O Estado islâmico só vai contratar pilotos iranianos, o ministro Kia me garantiu. Cem por cento.

Subitamente, ele compreendera. O seu mundo desabou.

— Ah, agora estou entendendo, sem exceções, hein? Especialmente eu. E viu Meshang dar de ombros desdenhosamente.

— Eu estou muito ocupado. Para ser franco, você não pode ficar no Irã. Você não tem nenhum futuro no Irã, Xarazade não tem nenhum futuro com você e ela nunca se exilará para sempre, o que vai acontecer se ela partir sem a minha permissão e sem documentos apropriados. Portanto, vocês têm que se divorciar.

— Não.

— Mande Xarazade de volta do apartamento do khan, esta tarde, aliás, mais uma caridade, e saia imediatamente de Teerã. O casamento de vocês não foi muçulmano, logo não vale nada. A cerimônia civil canadense será anulada.

— Xarazade nunca concordará com isso.

— Ah, é? Esteja em minha casa às seis horas da tarde e nós resolveremos isso. Depois que você tiver partido, eu saldarei todas as suas dívidas no Irã, não posso ter dívidas ameaçando o nosso bom nome. Às seis horas em ponto. Bom dia.

Ele não se lembrava de como tinha voltado para o apartamento, depois contara tudo a ela e ela chorara ainda mais e depois tinham ido para a casa dos Bakravan naquela noite e Meshang repetira tudo o que dissera antes, furioso com as súplicas de Xarazade.

— Não seja ridícula, Xarazade! Pare de se lamentar, isso é para o seu próprio bem, para o bem do seu filho e da família. Se você partir com um passa porte canadense e sem documentos iranianos, você nunca terá permissão para voltar. Morar em Aberdeen? Que Deus a proteja, você morreria de frio no fim de um mês e o seu filho também. A babá Jari não irá com você, e nem ele poderia pagar por ela; ela não é louca, não vai abandonar o Irã e a família dela para sempre. Você nunca mais tornará a ver-nos, pense nisso... pense no seu filho... — E repetiu isto várias vezes até que Xarazade ficou fora de si e Tommy também.

— Tommy.

Isto o despertou do seu devaneio.

— Sim? — perguntou, percebendo o velho tom de voz que ela estava usando.

— Você vai me deixar para sempre? — perguntou em farsi.

— Eu não posso ficar no Irã — ele respondeu, em paz agora, com a doçura dela apaziguando-o. — Quando fecharmos a companhia aqui, não haverá emprego para mim, eu não tenho dinheiro, e mesmo que o prédio não tivesse pegado fogo... bem, eu nunca fui de pedir esmolas. — Seus olhos não tinham ódio. — Meshang tem razão sobre uma porção de coisas. A vida comigo não seria grande coisa e você tem razão em ficar, sem documentos seria mesmo perigoso partir e você tem que pensar na criança, eu sei disso. E há também... não, deixe-me terminar disse docemente, não permitindo que ela falasse... — há também o HBC. — Isto o fez lembrar-se do primo dela, Karim. Mais uma coisa terrível que ela teria que saber. Pobre Xarazade...

— Você está me deixando para sempre?

— Estou partindo hoje para Kowiss. Ficarei lá alguns dias e depois irei para Al Shargaz. Vou ficar lá um mês, esperando. Isto vai lhe dar tempo para refletir, para decidir o que quer fazer. Para entrar em contato comigo, basta enviar uma carta ou telex aos cuidados do aeroporto de Al Shargaz. Se você quiser ir se encontrar comigo, a embaixada canadense providenciará tudo imediatamente, já tratei disso... e é claro que ficarei em contato com você.

— Através de Mac?

— Através dele ou de alguma outra forma.

— Você vai se divorciar de mim?

— Não, nunca. Se você quiser o divórcio ou... deixe-me colocar de outra forma, se você achar que isso é necessário para proteger o nosso filho ou por qualquer outro motivo, então eu farei o que você quiser.

Eles ficaram em silêncio e ela o observou, com uma expressão estranha nos seus enormes olhos escuros, parecendo mais madura do que antes e, no entanto, muito mais jovem e mais frágil, com a camisola transparente envolvendo sua pele dourada, os cabelos soltos cobrindo os ombros e os seios.

Lochart sentiu-se totalmente impotente, morrendo por dentro, querendo ficar mas sabendo que não havia mais razão para isso. Já foi dito tudo e agora depende dela. Se eu fosse ela, não hesitaria, pediria o divórcio, aliás, nunca me teria casado. Ele disse em farsi:

— Cuide-se bem, meu amor.

— E você também, meu amor.

Ele apanhou a jaqueta e saiu. Logo depois, ela ouviu a porta da frente bater. Durante um longo tempo, ficou olhando para a porta por onde ele tinha saído, depois, pensativa, serviu-se de café e começou a tomá-lo, quente, forte, doce e reanimador

Seja como Deus quiser, disse a si mesma, sentindo-se em paz. Ou ele volta ou não volta. Ou Meshang acaba cedendo ou não. De qualquer maneira, eu preciso ser forte e comer por dois e ter bons pensamentos enquanto carrego o meu filho. Ela tirou a casca de um ovo. Estava perfeitamente cozido e delicioso.

NO APARTAMENTO DE McIVER: 11:50H. Pettikin entrou na sala carregando uma mala e ficou surpreso ao ver o criado, Ali Babá, limpando o aparador.

— Eu não o ouvi entrar. Pensei ter-lhe dado o dia de folga — disse irritado, pousando a mala no chão.

— Oh, sim, aga, mas há muito o que fazer aqui, o apartamento está imundo e a cozinha... — E revirou os olhos eloqüentemente.

— Sim, sim, é verdade, mas você pode começar amanhã. — Pettikin viu-o lançar um olhar para a mala e praguejou. Logo depois do café, ele mandara Ali Babá tirar o dia de folga com instruções de voltar à meia-noite, o que normalmente significava que ele não voltaria até a manhã seguinte. — Agora trate de ir.