— Sim, aga, o senhor vai sair de férias ou de licença?
— Não, eu, ahn, vou passar uns dias com um dos pilotos, portanto trate de limpar o meu quarto amanhã. Oh, sim, é melhor você me dar a sua chave, eu não sei onde deixei a minha. — Pettikin estendeu a mão, danado por não ter pensado nisso antes. Com uma estranha relutância, Ali Babá entregou-lhe a chave. — O capitão McIver quer ficar sozinho aqui, ele tem um trabalho para fazer e não quer ser incomodado. Vejo-o em breve, até logo!
— Mas, aga...
— Até logo! — Ele viu se Ali Babá estava levando o casaco, abriu a porta e quase o empurrou para fora, tornando a fechá-la. Nervosamente, deu uma olhada no relógio. Quase meio-dia e nada de McIver, e eles já deveriam estar no aeroporto. Foi até o quarto, apanhou a outra mala, já arrumada, que estava no armário, depois voltou e colocou-a ao lado da outra, perto da porta.
Duas malas pequenas e um saco, pensou. Não é muita coisa depois de todos esses anos aqui no Irã. Não importa, eu prefiro viajar com pouca bagagem e talvez desta vez possa ter sorte e ganhar mais dinheiro ou começar algum negócio, e ainda há Paula. Como é que eu vou poder tornar a casar? Casar? Você está louco? O máximo que você pode conseguir é um caso. Sim, mas bem que eu gostaria de me casar com ela e...
O telefone tocou e ele deu um pulo, de tão desabituado que estava com o barulho. Atendeu com o coração batendo.
— Alô.
— Charlie? Sou eu, Mac, graças a Deus que este maldito aparelho está funcionando. Resolvi arriscar. Estou atrasado.
— Está com algum problema?
— Não sei, Charlie, mas vou ter que ir ver Ali Kia. O filho da mãe mandou seu maldito assistente e um Faixa Verde para me apanharem.
— Que diabo ele quer com você? — Lá fora, por toda a cidade, os muezins começavam a chamar os fiéis para a oração de meio-dia, perturbando-o.
— Não sei. O encontro é daqui a meia hora. É melhor você ir para o aeroporto e eu chegarei lá assim que puder. Faça com que Johnny Hogg atrase a partida.
— Certo, Mac. E quanto à sua bagagem, está no escritório?
— Eu a tirei daí hoje cedo, enquanto Ali Babá estava roncando, e ela está na mala da Lulu. Charlie, na cozinha tem um dos panos bordados por Genny, "abaixo a torta de carne". Enfie-o na sua mala para mim, sim? Ela me mataria se eu o deixasse. Se tiver tempo, irei até aí para ver se está tudo em ordem.
— Quer que eu feche o gás ou desligue a eletricidade?
— Cristo, não sei. Deixe assim mesmo, está bem?
— Está bem. Tem certeza de que não quer que eu espere? — perguntou, com as vozes metálicas dos muezins falando pelos alto-falantes aumentando a sua inquietação. — Eu não me importo de esperar. Talvez seja melhor, Mac.
— Não, você vai indo. Eu estarei lá assim que puder. Até logo.
— Até logo. — Pettikin franziu as sobrancelhas, depois, conseguindo o sinal de discar, ligou para o escritório deles no aeroporto. Para seu espanto, a ligação foi completada.
— Helicópteros Iranianos, alô?
Ele reconheceu a voz do gerente de cargas.
— Bom dia, Adwani, aqui é o capitão Pettikin. O 125 já chegou?
— Ah, capitão, sim, deve pousar dentro de poucos minutos.
— O capitão Lane está aí?
— Sim, um momento...
Pettikin esperou, imaginando o que Kia poderia querer.
— Alô, Charlie, aqui é Nogger. Você tem amigos importantes?
— Não, o telefone simplesmente voltou a funcionar. Pode falar em particular?
— Não. Não é possível. O que está havendo?
— Eu ainda estou no apartamento. Mac está atrasado. Ele vai ter que se encontrar com Ali Kia. Estou saindo para o aeroporto agora e ele vai para aí diretamente do escritório de Kia. Você está pronto para carregar?
— Sim, Charlie, estamos enviando os motores para conserto conforme o capitão McIver mandou. Estamos seguindo todas as instruções.
— Ótimo. Os dois mecânicos estão aí?
— Sim. Essas duas peças também estão prontas para serem embarcadas.
— Ótimo. Nenhum problema?
— Até agora não, meu chapa.
— Até já então. — Pettikin desligou. Colocou o pano bordado na mala e deu uma última olhada no apartamento, sentindo-se um pouco triste. Bons e maus tempos, mas a melhor época foi quando Paula ficou hospedada aqui. Pela janela, ele notou fumaça sobre Jaleh e agora que as vozes dos muezins tinham-se calado, ele escutou os costumeiros tiros a distância.
— Para o diabo com todos eles — resmungou. Ele se levantou e saiu com a bagagem, trancando cuidadosamente a porta. Quando saiu da garagem, viu Ali Babá se esconder numa entrada do outro lado da rua. Havia dois outros homens desconhecidos com ele. Que diabo aquele safado estará fazendo? pensou inquieto.
NO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES: 13:07H. A enorme sala estava gelada apesar da lareira acesa, e o ministro Kia usava um sobretudo de astracã, caríssimo, com um chapéu combinando e estava zangado.
— Eu repito, preciso de transporte para Kowiss amanhã e quero que o senhor me acompanhe.
— Amanhã eu não posso, sinto muito — disse McIver, disfarçando o nervosismo. — Eu ficaria feliz em encontrar-me com o senhor na semana que vem. Digamos na segunda-feira...
— Estou espantado que depois de toda a 'cooperação' que lhe prestei eu ainda tenha que argumentar. Amanhã, capitão, ou... ou eu cancelarei todas as autorizações para o nosso 125. Aliás, eu o prenderei no solo hoje e o deixarei aqui aguardando investigações.
McIver estava em pé diante da enorme escrivaninha, e Kia estava sentado atrás dela, numa cadeira imensa que o fazia parecer um anão.
— Não poderia ser hoje, Excelência? Nós temos um Alouette para levar para Kowiss. O capitão Lochart está...
— Amanhã. Hoje não. — Kia ficou ainda mais zangado. — Estou mandando como diretor do Conselho: o senhor irá comigo, nós partiremos às dez horas. Está entendendo?
McIver balançou a cabeça, tentando imaginar uma maneira de se livrar da armadilha. Então um plano começou a se esboçar na sua mente.
— Onde o senhor quer se encontrar comigo?
— Onde está o helicóptero?
— Em Doshan Tappeh. Nós vamos precisar de uma autorização. Infelizmente há um major Delami lá, e também um mulá. E eles são muito difíceis, e eu não sei como poderemos conseguir.
Kia fechou ainda mais a cara.
— O primeiro-ministro deu novas ordens com relação a mulás e a interferências com o governo legal e o imã concorda totalmente. É melhor que eles se comportem. Eu o verei amanhã às dez horas e...
Nesse momento, houve uma grande explosão do lado de fora. Eles correram para a janela mas só conseguiram ver uma nuvem de fumaça subindo para o céu na outra esquina.
— Parece ser outro carro-bomba — disse McIver, desanimado. Nos últimos dias, tinha havido várias tentativas de assassinato e ataques de carros-bomba por parte de extremistas de esquerda, a maioria contra aiatolás que exerciam postos importantes no governo.
— Terroristas imundos, que Deus os amaldiçoe e aos seus pais! — Kia estava francamente assustado, o que agradou a McIver.
— É o preço da fama, ministro — disse, com a voz carregada de preocupação. — Aqueles que ocupam postos importantes, pessoas como o senhor, são os alvos mais procurados.
— Sim... sim... nós sabemos. Malditos terroristas...
McIver foi sorrindo até o carro. Então Kia quer ir para Kowiss. Vou providenciar para que ele chegue lá e o Turbilhão vai continuar conforme o planejado.
Dobrando a esquina, a rua principal, lá na frente, estava parcialmente bloqueada com destroços, um carro ainda estava pegando fogo, outros já estavam queimados, e havia um buraco no asfalto no lugar em que o carro-bomba explodira, destruindo a frente de um restaurante e o banco estrangeiro que ficava ao lado, e vidros espalhados por toda parte. Havia muitas pessoas feridas, alguns mortos e outros morrendo. Pânico, agonia e o fedor de borracha queimada.