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Meu pobre amigo, Jean-Luc pensou tristemente. Graças a Deus eu nunca terei que me ajoelhar para nenhuma mulher — que sorte tem Marie-Christine por estar casada comigo que posso zelar sabiamente pela sua fortuna!

Os últimos artigos que ele guardou na mala foram os seus instrumentos de vôo e meia dúzia de pares de óculos escuros. Ele tinha guardado todas as suas roupas num armário trancado. É claro que eu serei indenizado pela companhia e comprarei roupas novas. Quem é que precisa de roupas velhas?

Agora ele já tinha acabado, estava tudo bem arrumado. Olhou para o relógio. Só tinha levado 22 minutos. Perfeito. A La Doucette que estava na geladeira estava gelada, apesar dos cortes de eletricidade, a geladeira ainda estava funcionando. Ele abriu a garrafa e experimentou-a. Perfeita. Três minutos mais tarde alguém bateu na porta. Perfeito.

— Sayada, chérie, como você está linda — disse afetuosamente e beijou-a, mas estava pensando, você não está com uma aparência nada boa, parece cansada e desanimada. — Como vai você, chérie?

— Eu tive um resfriado, nada de sério — respondeu. Naquela manhã, ela tinha visto as suas olheiras e as rugas de preocupação no espelho e sabia que Jean-Luc notaria. — Nada sério e agora já estou boa. E você, chérP.

— Hoje estou bem. Amanhã? — E deu de ombros, ajudou-a a tirar o casaco, levantou-a nos braços com facilidade e atirou-se no sofá. Ela era muito bonita e ele estava triste por deixá-la. E por deixar o Irã. Como a Argélia, pensou.

— Em que está pensando, Jean-Luc?

— Em 1963, quando fui obrigado a sair da Argélia. De certa forma, igual ao Irã. Nós estamos sendo forçados a sair do mesmo jeito. — Ele a sentiu estremecer nos seus braços. — O que foi?

— O mundo às vezes é tão horrível. — Sayada nunca lhe contara nada sobre a sua vida real. — Tão injusto — disse enojada, lembrando-se da guerra de 1967 em Gaza e da morte dos seus pais, depois da sua fuga. A história dela era muito parecida com a dele. Lembrando-se também do horror da morte de Teymour e deles. Ela sentiu uma onda de náusea ao pensar no jovem Yassar e no que eles fariam com o seu filho caso ela não se comportasse. Se ao menos eu conseguisse descobrir quem são eles...

Jean-Luc estava servindo o vinho que tinha posto na mesa.

— Não é bom ficarmos sérios, chérie, não temos muito tempo. Saníél O vinho estava gelado e delicioso.

— Quanto tempo? Você não vai ficar?

— Eu tenho que partir dentro de uma hora.

— Para Zagros?

— Não, chérie, para o aeroporto, e depois para Kowiss.

— E quando você volta?

— Eu não voltarei — ele disse e sentiu-a retesar-se. Mas ele a abraçou com firmeza e, um instante depois, ela tornou a relaxar, e ele continuou. Não havia motivo para não confiar nela. — Só entre nós, Kowiss é temporário, extremamente. Nós estamos saindo do Irã, a companhia toda. É óbvio que não somos desejados, não podemos mais operar livremente, a companhia não está sendo paga. Nós fomos expulsos de Zagros, um dos nossos mecânicos foi morto por terroristas há poucos dias e o jovem Scot Gavallan escapou de ser morto por um milímetro. Então só vamos dar o fora. Cestfini.

— Quando?

— Em breve. Não sei exatamente.

— Eu... eu vou sentir... vou sentir saudades de você, Jean-Luc — ela disse e chegou mais perto.

— E eu vou sentir saudades de você, chérie — ele respondeu gentilmente, notando as lágrimas silenciosas que corriam pelo seu rosto. — Quanto tempo você vai ficar em Teerã?

— Eu não sei. — Ela disfarçou a tristeza. — Vou lhe dar um endereço em Beirute, eles saberão onde me encontrar.

— Você pode me encontrar através de Aberdeen.

Eles ficaram sentados no sofá, ela deitada nos braços dele, o relógio sobre a lareira, que geralmente batia tão baixinho, agora estava batendo tão alto, com ambos conscientes do tempo que estava passando e do fim que tinha chegado, não por vontade deles.

— Vamos fazer amor — ela murmurou, sem vontade, mas sabendo que aquilo era esperado dela.

— Não — ele disse galantemente, fingindo ser forte, sabendo que era esperado que ele fosse para a cama e que depois eles se vestissem e fossem franceses e sensatos a respeito do fim do seu caso. Ele olhou para o relógio. Restavam 43 minutos.

— Você não me quer?

— Mais do que nunca. — Ele acariciou-lhe os seios e roçou-lhe o pescoço com os lábios, seu perfume era leve e agradável, pronto para começar.

— Fico contente — ela murmurou com a mesma voz doce — e mais contente ainda por você ter dito não. Eu quero você, mas não por alguns minutos —, Não agora. A pressa estragaria tudo.

Por um momento, ele ficou perdido, sem esperar aquele lance no jogo que estavam jogando. Mas agora que tinha sido dito, ele também ficou satisfeito. Como ela era corajosa em renunciar a tanto prazer, pensou, amando-a profundamente. Era muito melhor recordar os bons momentos do que fazer as coisas apressadamente. Isso realmente me poupa um bocado de esforço e eu não verifiquei se havia água quente. Agora nós podemos sentar, conversar e apreciar o vinho, chorar um pouco e nos sentir felizes.

— Sim, eu concordo. — Mais uma vez ele roçou-lhe o pescoço com os lábios. Ele a sentiu tremer e por um momento ficou tentado a provocá-la. Mas decidiu não fazê-lo. Pobrezinha, por que atormentá-la?

— Como é que vocês todos vão partir, querido?

— Nós vamos voar juntos. Vinho?

— Sim, sim, por favor, está tão bom. — Ela tomou o vinho, enxugou as lágrimas e conversou com ele, investigando essa extraordinária retirada. Tanto eles quanto a Voz achariam tudo isso extremamente interessante, talvez isso até a fizesse descobrir quem eles eram. Enquanto eu não souber, não poderei proteger o meu filho. Oh, Deus, ajude-me a encurralá-los.

— Eu o amo tanto, chéri — ela disse

NO AEROPORTO DE TEERÃ: 18:05H. Johnny Hogg, Pettikin e Nogger olharam para McIver sem entender.

— Você vai ficar? Não vai partir conosco? — Pettikin gaguejou.

— Não. Já disse — McIver respondeu bruscamente. — Tenho que acompanhar Kia a Kowiss amanhã. — Eles estavam ao lado do carro dele no estacionamento, longe de ouvidos estranhos, o 125 estava no pátio, operários embarcavam as últimas peças, com o inevitável grupo de Faixas Verdes observando. E um mulá.

— Nós nunca vimos esse mulá antes — disse Nogger, nervosamente, tentando disfarçar como todos os outros.

— Ótimo. Está todo mundo pronto para embarcar?

— Sim, Mac, exceto Jean-Luc. — Pettikin estava muito inquieto. — Você não acha melhor esquecer Kia?

— Isto seria loucura, Charlie. Não há nada com que se preocupar. Você pode organizar tudo no aeroporto de Al Shargaz com Andy. Eu estarei lá amanhã. Vou embarcar no 125 amanhã, em Kowiss, junto com o restante dos rapazes.

— Mas pelo amor de Deus, todos eles têm autorizações, você não — disse Nogger.

— Pelo amor de Deus, Nogger, nenhum de nós está autorizado a sair daqui — disse McIver, rindo. — Como vamos ter certeza dos nossos rapazes de Kowiss até que eles estejam voando e fora do espaço iraniano? Não há motivo para preocupações. Vamos cuidar de uma coisa de cada vez, nós temos que mandar ao ar esta parte do espetáculo — Ele olhou para o táxi que estava parando. Jean-Luc saltou, entregou ao motorista a outra metade da nota e se aproximou carregando uma mala.

— Alors, mes amis — disse com um sorriso satisfeito. — Ça marchei — McIver suspirou.

— Muito leal de sua parte anunciar que está saindo de férias, Jean-Luc

— O quê?

— Deixa pra lá. — McIver gostava de Jean-Luc pela sua habilidade, sua cozinha e sua sinceridade. Quando Gavallan contara a Jean-Luc a respeito do Turbilhão, Jean-Luc dissera imediatamente: