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Hashemi virou-se e olhou para o homem de rosto esperto, Suliman al Wiali, o líder do Grupo Quatro que tinha colocado o carro-bomba de hoje — o mesmo homem que apanhara Sayada Bertolin no quarto de Teymour.

— Dentro de poucos minutos estarei partindo para Tabriz. Estarei de volta amanhã ou depois. Um inglês alto, Robert Armstrong, estará comigo. Designe um dos seus homens para segui-lo, certifique-se de que o homem saiba onde Armstrong mora, depois faça-o acabar com ele de algum modo, em algum lugar no meio da rua, depois que escurecer. Não o faça você mesmo.

— Sim, Excelência. Quando?

Hashemi tornou a passar em revista o seu plano e não encontrou nenhuma falha.

— No dia seguinte.

— Este é o mesmo homem com quem o senhor quis que Sayada dormisse?

— Sim. Mas agora eu mudei de idéia. — Robert não tem mais nenhum valor, pensou. Mais do que isso, a sua hora chegou.

— O senhor tem algum outro trabalho para ela, Excelência?

— Não, nós destruímos a rede de Teymour.

— Seja como Deus quiser. Posso fazer uma sugestão?

Hashemi estudou-o. Suliman era o seu líder do Grupo Quatro mais eficiente, confiável e perigoso, com uma cobertura de agente do Serviço Secreto ligado diretamente a ele. Suliman dizia que tinha vindo das montanhas ao norte de Beirute depois da sua família ter sido assassinada e ele ter sido expulso de lá por soldados cristãos, e Hashemi o tirara cinco anos mais tarde de uma prisão síria, comprando a sua liberdade, pois ele fora condenado à morte por assassinato e banditismo dos dois lados da fronteira, e sua única defesa era: "Eu só matei judeus e infiéis conforme Deus ordenou, logo eu faço o trabalho de Deus. Eu sou um vingador."

— Que sugestão? — perguntou

— Ela é uma mensageira comum da OLP, nem é muito boa e atualmente é perigosa e pode representar uma ameaça. É fácil de ser controlada por judeus ou agentes da CIA e de ser usada contra nós. Como bons fazendeiros, nós deveríamos plantar sementes onde poderemos ter uma boa colheita. — Suliman sorriu. — O senhor é um fazendeiro inteligente, Excelência. A minha sugestão é dizer a ela que está na hora de voltar para Beirute, que nós, os dois que a apanhamos se prostituindo, queremos agora que ela trabalhe para nós lá. Nós a deixamos ouvir uma conversa particular entre nós e fingimos fazer parte de uma célula de milícia cristã do sul do Líbano, agindo sob ordens dos israelenses para os seus senhores da CIA. — O homem riu silenciosamente, ao ver a surpresa do seu patrão.

— É então?

— O que transformaria uma palestina copta medíocre, anti-Israel, numa fera fanática, com sede de vingança? — Hashemi olhou para ele

— O quê?

— Digamos que alguns desses mesmos soldados da milícia cristã, agindo sob ordens de Israel para os seus senhores da CIA, ferissem propositalmente o seu filho, o ferissem gravemente, na véspera dela chegar, e depois desaparecessem, isso não a Tornaria uma inimiga fanática dos nossos inimigos?

Hashemi acendeu um cigarro para disfarçar o seu nojo.

— Eu só concordo que a utilidade dela acabou — ele disse e viu um Iampejo de irritação.

— Que valor tem o filho dela, e que futuro? Suliman disse com desprezo. — Com uma mãe dessas e vivendo com parentes cristãos ele vai continuar sendo cristão e irá para o inferno

— Israel é nosso aliado. Fique fora das questões do Oriente Médio ou eles vão comê-lo vivo. Está proibido!

— Se o senhor diz que está proibido, está proibido, mestre. — Suliman curvou-se e balançou a cabeça, concordando. — Juro pelos meus filhos.

— Ótimo. Você trabalhou muito bem hoje. Obrigado. — Ele foi até o cofre e apanhou um maço de notas usadas de dólares do estoque que mantinha lá. Viu o rosto de Suliman iluminar-se. — Aqui está uma gratificação para você e seus homens.

— Obrigado, obrigado, Excelência, que Deus o proteja! Este homem, Armstrong, pode considerar-se morto. — Cheio de gratidão, Suliman fez uma mesura e saiu.

Agora que estava sozinho, Hashemi destrancou uma gaveta e serviu-se de um uísque. Mil dólares são uma fortuna para Suliman e seus três homens, mas são um bom investimento, pensou satisfeito. Oh, sim. Estou satisfeito por ter tomado uma decisão a respeito de Robert. Ele sabe demais, suspeita de muita coisa — não foi ele quem deu o nome aos meus grupos?

— Os times do Grupo Quatro devem ser usados para o bem e não para o mal, Hashemi — ele tinha dito naquele tom de voz de quem sabe tudo. — Quero apenas alertá-lo, o poder deles pode ser embriagador e voltar-se contra você. Lembre-se do Velho da Montanha, hein?

Hashemi tinha rido para disfarçar o choque por Robert ter lido o que se passava no fundo da sua mente.

— O que tem al-Sabbah e seus assassinos a verem comigo? Nós estamos vivendo no século XX e eu não sou um fanático religioso. E o que é mais importante, Robert, eu não tenho um castelo Alamut!

— Mas ainda existe haxixe., e coisas melhores.

— Eu não quero viciados nem assassinos, apenas homens em quem eu possa confiar.

A palavra assassino derivou-se de hashshashin, aqueles que tomavam haxixe. A lenda diz que no século XI, em Alamut — a fortaleza inexpugnável de Hasan ibn al-Sabbah nas montanhas perto de Qazvin — ele tinha mandado construir jardins secretos iguais aos Jardins do Paraíso descritos no Corão, onde vinho e mel jorravam das fontes e onde viviam lindas raparigas. Os devotos do haxixe eram levados secretamente para lá e desfrutavam de uma amostra da felicidade eterna e erótica que os aguardava no Paraíso depois da morte. Então, depois de um, dois ou três dias, o 'Abençoado' era 'trazido de volta para a terra', com a promessa de voltar para lá em breve — em troca de obediência total à sua vontade.

Vindo de Alamut, o bando fanático de viciados em haxixe de Hasan ibn al-Sabbah — os Assassinos — aterrorizou a Pérsia e, logo depois, todo o Oriente Médio. Isso continuou por quase dois séculos. Até 1256. Então um neto e Gengis Khan, Hulugu Khan, foi para a Pérsia e lançou as suas hordas contra Alamut, não deixando pedra sobre pedra da fortaleza do alto da montanha e arrasando com os assassinos.

Os lábios de Hashemi eram uma linha fina. Ah, Robert, como foi que você conseguiu erguer o véu e descobrir o meu plano secreto: modernizar a idéia de al-Sabbah, tão fácil fazer isso agora que o xá partiu e o país está em reboliço. Tão fácil, com drogas psicodélicas, alucinógenos e uma quantidade inesgotável de fanáticos simplórios, já imbuídos do desejo do martírio, que só precisam ser guiados e levados na direção certa — para remover quem quer que eu escolha. Como Janan e Talbot. E você.

Mas com que carniça eu tenho que lidar para maior glória do meu feudo. Como podem as pessoas ser tão cruéis? Como podem se divertir com tanta crueldade gratuita, como arrancar os órgãos genitais de um homem ou maltratar uma criança? Será que é só porque vêm do Oriente Médio, vivem no Oriente Médio e não se adaptam a nenhum outro lugar? Que coisa terrível não poderem aprender conosco, não poderem se beneficiar da nossa antiga civilização. O império de Ciro e Dario tem que voltar, nisto o xá tinha razão. Os meus assassinos mostrarão o caminho, até mesmo para Jerusalém.

E tomou o uísque, muito satisfeito com o seu dia de trabalho. Estava muito bom. Ele o preferia sem gelo.

QUINTA-FEIRA

1 de marco55

 

 

 

 

 

 

 

 

NA ALDEIA PERTO DA FRONTEIRA SETENTRIONAL: 5:30H. Sob a luz do falso amanhacer, Erikki calçou as botas. Depois vestiu a jaqueta, sentindo o couro macio e gasto, tirou a faca da bainha e enfiou-a na manga. Abriu a porta da cabana. A aldeia estava adormecida sob o manto de neve. Ele não viu nenhum guarda. O abrigo do helicóptero também estava silencioso, mas ele sabia que o aparelho estava muito bem guardado. Ele tinha verificado várias vezes durante o dia e de noite. Em cada uma das vezes, os guardas que ficavam nas cabines tinham apenas sorrido para ele, alerta e educados. Não havia nenhuma maneira de lutar contra os três e decolar. A sua única chance era a pé, e ele vinha planejando isso desde que se confrontara com o xeque Bayazid há dois dias.